Bem-vindo/a ao blog da coleção de História nota 10 no PNLD-2008 e Prêmio Jabuti 2008.

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Coleção História em Projetos é finalista do Prêmio Jabuti, 2008

Caros professores, é com imensa alegria que informo que nossa coleção História em Projetos está entre os 10 primeiros colocados do Prêmio Jabuti 2008.

Nesses 50 anos de prêmio Jabuti tive o prazer de ser agraciada com o jabutizinho em 2005 pela coleção Paratodos História, tomara que a História em Projetos fique na segunda fase entre os três primeiros colocados.


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O fim da era pós-Guerra Fria

por M. K. Bhadrakumar [*]

O dia em que a China mostrava a sua potência e estabelecia novas fronteiras para a celebração global, com cerca de 80 líderes mundiais a assistirem a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão da China, deveria ter sido a notícia principal de sexta-feira. Mas os acontecimentos no Cáucaso determinaram que isso não se verificasse.

A morte de milhares de pessoas da separada região georgiana da Ossétia do Sul acabou por ser um momento memorável nas relações da Rússia pós soviética com o ocidente. O ataque georgiano de sexta-feira à Ossétia do Sul foi concebido como uma provocação. O ataque matou 13 soldados russos, feriu 150 e ceifou a vida de 2000 civis, a maior parte cidadãos russos. A capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, foi totalmente arrasada. Mais de 30 mil refugiados cruzaram a fronteira russa.


A crise no Cáucaso do Sul havia estado a construir-se vagarosamente desde que o Kosovo, província em ruptura da Sérvia, declarou independência em Fevereiro. Em Agosto, 45 países haviam sido persuadidos pelos Estados Unidos a conceder reconhecimento ao Kosovo, incluindo as maiores potências europeias: França, Alemanha e Grã-Bretanha. Esperava-se que a Rússia retaliasse com a promoção do secessionismo na Geórgia e na Moldova, mas, ao contrário das expectativas, a Rússia adoptou uma política perspicaz de mobiizar a opinião pública mundial contra o separatismo político.

Tacticamente, satisfazia Moscovo que a Geórgia abrigasse a esperança de que, com a "boa vontade" russa, pudesse ser concluído um entendimento com as suas províncias em ruptura. Por outras palavras, Moscovo esperava trabalhar no plano diplomático conseguindo que a Geórgia correspondesse à "boa vontade" russa e ao seu espírito de acomodação. Colocado de forma simples, Moscovo esperava que em compensação Tíflis seria sensível aos interesses da Rússia no Cáucaso.

Sempre existiu dentro do Kremlin o corpo de opinião significativo de que a Geórgia nunca esteve irrevogavelmente perdida para os EUA a seguir à "revolução colorida" de Novembro de 2003, e que com paciência e tacto e um jogo criterioso dos factores da história, da cultura e dos laços económicos, Tíflis podia ser levada a apreciar que relações amistosas com Moscovo eram vantajosas a longo prazo. Na verdade, também existia em Tíflis a tendência de opinião semelhante – embora de uma forma muda – de que o futuro da Geórgia não pode ser antagónico em relação à Rússia e que uma correcção de rota pelo regime do presidente Mikheil Saakashvili era adequada.

Quando uma crise económica e a ilegalidade aumentavam na Geórgia, no passado recente, a diplomacia russa começou a mudar as marchas em Tíflis, encorajando os elementos que apoiavam melhores relações com Moscovo. Até um certo ponto, Moscovo estava correcta em fazer isso. Mas ela deixou de ver que da perspectiva de Saakashvili, quando o seu regime autoritário se tornava cada vez mais impopular e o entulho da má governação, corrupção e venalidade começou a acumular-se, valia a pena incitar à xenofobia. A Rússia era o alvo melhor, pois nada inflama mais as paixões georgianas do que a questão da integridade do país.

Eis porque Moscovo protestou quando se começou a saber que, com encorajamento dos Estados Unidos, Tíflis estava a embarcar num plano para aumentar dramaticamente o seu orçamento militar em 30 vezes. Este movimento georgiano verificou-se em conjunto com a crescente assistência dos EUA no treino do exército georgiano. Moscovo começou a perguntar a questão pertinente de com quem Tíflis encarava entrar em guerra.


Moscovo propôs então um acordo comprometendo todos os protagonistas a não utilizarem a força para dirimirem as suas diferenças. Mas Tíflis não aceitou tal acordo. Nem tão pouco Washington convenceu Tíflis a aceitar um acordo deste tipo. Não só isso: Washington fechou os olhos quando fornecimentos clandestinos de armas começaram a ser entregues em Tíflis. Em Julho, o Departamento da Defesa dos EUA financiou um exercício militar com a Geórgia. Em retrospectiva, o ponto de viragem deu-se quando a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, visitou Tíflis no mês passado.

Saakashvili buscou inspiração nas declarações de Rice que endossavam o pedido da Geórgia de ser tornar membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e de apoio aberto à posição da Geórgia no seu impasse com a Rússia. É um ponto discutível se Saakashvili retirou unilateralmente conclusões do gesto diplomático de Rice ou se um entendimento tácito Washington-Tíflis teve lugar.

De qualquer modo, Saakashvili soltou os cães da guerra um mês após a visita de Rice a Tíflis. E ele actuou com um cronograma imaculado – quando o presidente russo Dmitry Medvedev estava em férias de Verão e o primeiro-ministro Vladimir Putin havia deixado Moscovo para comparecer à cerimónia de abertura das Olimpíadas. No cômputo geral, é inconcebível que Washington estivesse às escuras acerca de como a cabeça de Saakashvili estava a funcionar.

Ficamos com uma sensação de estar numa máquina do tempo, de volta à Guerra Fria. Os mestres conspiradores em Washington agora observarão intensamente como a liderança de Medvedev no Kremlin manuseia a crise. Eles procurarão por pistas para saber se tem o punho de ferro e os nervos de aço de Putin. Quando Putin tomou posse em 2000, um teste semelhante aguardava-o na Chechenia. Ele começou a fazer o que a Rússia tinha de fazer. Mas os tempos haviam mudado. Ventos gélidos haviam começado a soprar nas relações Leste-Oeste.


Na verdade, subsiste a questão: o que são as opções da Rússia? Uma enorme catástrofe humanitária precisa ser evitada quando muitos milhares de civis ossetianos jazem enterrados nas ruínas deixadas pela ofensiva em grande escala da Geórgia, apoiada por tanques, aviões de combate, artilharia pesada e infantaria. Enquanto isso, a Rússia deve actuar com uma mão amarrada atrás das costas. A propaganda ocidental está ansiosa por avançar.

O think tank Stratfor, que muitas vezes reflecte a comunidade americana de inteligência, já descreveu isto como a chegada do "momento de definição" na era pós Guerra Fria e que o mundo está a testemunhar "a primeira grande intervenção russa desde a queda da União Soviética [em 1991]". O Stratfor considerou que as antigas repúblicas soviéticas que fazem fronteira com a Rússia estariam agora "terrificadas quanto ao que enfrentam no longo prazo".

Tíflis também comutou para a retórica. O presidente georgiano, educado nos EUA, disse: "Isto não é mais acerca da Geórgia. É acerca da América, dos seus valores". Lá longe, em Pequim, o presidente George W. Bush concordou imediatamente.

Bush disse estar "profundamente preocupado" e que a intervenção russa é uma "escalada perigosa" ... perigando a paz regional". E acrescentou: "Apelamos a um fim nos bombardeamentos russos, e a um retorno das partes ao status quo de 6 de Agosto".

Mas ao estalar a violência, a Rússia tentou fazer com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitisse uma declaração apelando à Geórgia e à Ossétia do Sul para deporem armas. Contudo, Washington desinteressou-se. Como disse o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, havia uma "ausência de vontade política" dentro do Conselho de Segurança. Parece que Washington esperava que pudesse ser trabalhada uma permuta (quid pro quo) também com uma nova resolução do Conselho de Segurança a impor sanções mais duras ao Irão, a qual os EUA tinham estado a pressionar, e a Rússia até então a resistir.

O que é o plano de jogo dos EUA? Para começar, Saakashvili é um rebento da "revolução colorida" na Geórgia, a qual foi financiada, encenada e administrada pelos EUA em 2003. A Geórgia e o Cáucaso do Sul constituem uma região criticamente importante para os EUA uma vez que assenta uma movimentada rota de transporte para energia – como o Oceano Índico ou o Golfo Pérsico. Ela pode ser utilizada como um ponto de obstrução (choke point). Dito simplesmente, mantê-la sob controle como uma esfera de influência é altamente vantajoso para atingir os interesses geopolíticos dos EUA na região euroasiática. Uma reversão da influência russa torna-se portanto um objectivo desejável.

A geopolítica da energia está no núcleo do conflito no Cáucaso. Os EUA sofreram uma série de grandes reveses nos últimos dois anos no grande jogo da energia do Cáspio. O êxito de Moscovo em conseguir que o Turquemenistão comprometesse virtualmente toda a sua produção de gás para exportação junto ao gigante Gazprom foi uma pancada estonteante para a diplomacia americana da energia. Analogamente, os EUA fracassaram em conseguir que o Casaquistão jogasse fora os seus estreitos laços com a Rússia, especialmente o acordo para encaminhar suas exportações de petróleo primariamente através de oleodutos russos.

. Em consequência, há incertezas acerca da viabilidade do muito falado projecto de oleoduto Baku-Tíflis-Ceyhan, o qual foi contratado em 2005 com financiamento e apoio político aberto dos EUA. Analogamente, o projecto South Stream da Rússia destinado a transportar gás russo e do Cáspio para os Balcãs e os países ao Sul da Europa e o fracasso do projecto do gasoduto Nabucco patrocinado pelos EUA (o qual em termos gerais tem a mesma orientação do South Stream) surgiram como derrotas para Washington.

Em termos geopolíticos, um ponto explosivo no Cáucaso nessa conjuntura satisfaz Washington. Uma furiosa barragem de propaganda contra a Rússia já começou. Ela já está num tom estridente. Declarações estado-unidenses virtualmente ignoraram a carnificina georgiana na Ossétia do Sul e o ataque às forças russas de manutenção da paz. O foco é sobre a resposta russa à provocação georgiana. Começou uma tentativa de retratar a Rússia como o agressor. Washington está a cultivar cuidadosamente nas capitais ocidentais a opinião de que Moscovo está a "intimidar" Tíflis.

Esta propaganda é destinada a fortalecer a argumentação de Washington para introduzir a Geórgia na NATO. Na cimeira da NATO em Abril, ficou evidente que apesar das suas fortes tentativas durante meses, Washington precisava ultrapassar a resistência interna da NATO quanto à incorporação da Geórgia, especialmente da Alemanha, França e Itália. Os países europeus cuidam-se de provocar Moscovo e criar novas barreiras Leste-Oeste, especialmente num momento em que os imperativos de segurança energética estão nas cabeças de toda a gente.

Foi portanto trabalhada uma fórmula de compromisso na cimeira na Roménia no sentido de que os ministros de Negócios Estrangeiros da NATO na sua reunião de Dezembro revisitarão a questão do pedido de adesão da Geórgia. Rice tornou claro na Roménia que os EUA não estavam em vias de desistir e afastar-se, mas que insistiriam na questão. Agora, a reunião de Dezembro também será o último grande evento da NATO na era Bush. A Geórgia tem sido um projecto acarinhado da administração Bush, e a sua admissão na NATO seria uma herança requintada da era Bush. A guerra no Cáucaso nesta conjuntura foi conveniente para a administração Bush pressionar a introdução da Geórgia (e da Ucrânia) na NATO.

O ingresso da Geórgia na NATO tem implicações estratégicas de extremo alcance. Com introdução da Geórgia, a NATO transpõe a região do Mar Negro e aproxima-se da Ásia. Isto constitui um grande salto em frente para a aliança, a qual até recentemente nem mesmo estava certa – ostensivamente, pelo menos – do seu destino pós Guerra Fria no século XXI.

O ingresso da Geórgia na NATO assegura que o arco de envolvimento da Rússia pelos EUA é fortalecido. Ligações à NATO facilitam a instalação do sistema de defesa de mísseis estado-unidense na Geógia. Os EUA pretendem ter uma cadeia de países amarrados a "parcerias" com a NATO para servir o seu sistema de defesa de mísseis – estendendo-se desde os seus aliados no Báltico e na Europa Central, Turquia, Geórgia, Israel, Índia e indo até à Ásia-Pacífico.

Na perspectiva de Washington, não há nada como conseguir que a Rússia se atole no Cáucaso se isto sapa a capacidade da Rússia de desempenhar um papel efectivo no cenário mundial. Isto tudo é tão evidente que Moscovo temia uma guerra total a irromper no Cáucaso e estava desesperadamente ansiosa por evitá-la.

Moscovo é fundamentalmente adversa a qualquer confrontação com o ocidente. Sua política externa dá prioridade principal à integração da Rússia com a Europa. Mas a melhor esperança de Washington é que com algum grau de "isco para urso", em algum momento Moscovo perderá a paciência e atacará, mesmo que isso possa afectar a imagem da Rússia na Europa.

Na verdade, se Moscovo se concordar com o antigo pedido da Ossétia do Sul para se tornar parte da Federação Russa, isto será transformado em ração para a crítica ocidental de que um Kremlin "revanchista" anexa territórios. Mas se Moscovo permanecer passiva, o Cáucaso poderia tornar-se a "ferida sangrenta" da Rússia e o prestígio de Moscovo no espaço pós-soviético diminuiria.

Em suma, isto camufla a lógica de que Saakashvili actuou impulsivamente. Os georgianos têm uma reputação de serem coléricos, mas ele também é um jurista – treinado nos EUA. Não é possível que ele seja tão ingénuo acerca dos factos da vida e da certeza de que ficaria com o nariz sangrento se tentasse enfrentar o exército russo.

O que são os factos? De acordo com a Jane's, a Geórgia tem 26.900 militares contra 641 mil da Rússia; 82 tanques de batalha contra 6.717; 139 veículos blindados para transporte contra 6.388; e sete aviões de combate contra 1.206. Mais: há indicações de que na segunda-feira a Geórgia retomou o bombardeamento de Tshhinvali e de posições russas na região, matando mais três russos da força de manutenção da paz. As perdas militares russas elevaram-se agora a 18 mortos, 14 desaparecidos e mais de 50 feridos.

No domingo aviões militares dos EUA transportaram 800 tropas georgianas que serviam no Iraque, juntamente com "cerca de 11 toneladas de carga, de volta à Geórgia". A visão convencional levar-nos-ia a acreditar que os EUA mal podem permitir-se um "abandono" georgiano do Iraque. O contingente de 2000 georgianos estava envolvido na tarefa sensível de impedir que milicianos xiitas contrabandeassem armas através da fronteira iraniana. Como disse um académico americano, "Uma ponte aérea americana de 2000 tropas georgianas para combater tropas russas nesta conjuntura não parece amistosa para com Moscovo".

A questão é que a administração Bush não se pode permitir fracassar nesta aventura caucasiana. Ela será vista como tendo sangue desnecessário nas suas mãos a menos que a diplomacia dos EUA tenha êxito em mudar as coisas a seu favor e levar o assunto à sua conclusão fria e lógica – a introdução da Geórgia na NATO.

Washington tem escassos quatro meses para alcançar este objectivo. Mas não é uma exigência absurda. Se a administração Bush tiver êxito, uma página da história será escrita. Poderemos conclusivamente dizer adeus à era pós Guerra Fria. As relações da Rússia com a Europa e os EUA nunca poderão ser as mesmas outra vez. Foi derramado sangue, afinal de contas. A significância das Olimpíadas de Pequim, em comparação, empalidece.

[*] Diplomata de carreira do Indian Foreign Service. Suas missões incluíram a União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.

O original encontra-se em a Times Central Ásia


Este artigo encontra-se em Resistir Info

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Exposição "Negros Pintores" no Museu Afro Brasil

Museu Afro Brasil exibe obras de pintores negros brasileiros

"Cena de Candomblé", trabalho de Wilson Tibério (1923-2005), uma das obras que o museu Afro Brasil exibe na mostra "Negros Pintores"

Até novembro o Museu Afro Brasil, em São Paulo, exibe 140 obras de dez artistas negros brasileiros, atuantes entre os séculos 19 e 20. Os trabalhos são do acervo do próprio museu e de colecionadores.

Intitulada "Negros Pintores", a exposição ocupa a maior parte do térreo do Museu Afro Brasil com óleos sobre tela e madeira, guaches, desenhos, fotografias, documentos da época e uma recriação de ateliê do século 19.

"Retrato de Mulher", obra de Benedito José Tobias (1894-1963)

Com curadoria de Emanoel Araújo, a mostra reúne obras dos seguintes artistas: Antônio Firmino Monteiro (1855 - 1888), Antônio Rafael Pinto Bandeira (1863-1896), Arthur Timótheo da Costa (1882-1922), Benedito José Tobias (1894-1963), Benedito José de Andrade (1906-1979), Emmanuel Zamor (1840-1917), Estevão Silva (1845-1891), João Timótheo (1879-1932), Horácio Hora (1853-1890) e Wilson Tibério (1923-2005).

"Feiticeira" (1890), óleo sobre tela de Antônio Rafael Pinto Bandeira (1863-1896)

Atualmente, o Museu Afro Brasil está com outras quatro exposições em cartaz, "Bijagós - A Arte dos Povos de Guiné Bissau", "Benin Está Vivo Ainda Lá - Ancestralidade e Contemporaneidade", "Formas e Pulos: o Saci no Imaginário", "Itinerarium - Pelo Caminho de Santiago Castilla e Leon", além de trabalhos do acervo do museu.

Grafite e aquarela sobre papel de Wilson Tibério (1923-2005)


A exposição "Negros Pintores" pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 17h.


"NEGROS PINTORES"
Quando: de 24/8 a novembro de 2008
Onde: Museu Afro Brasil (av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 10, Parque Ibirapuera. Tel.: 0/xx/11 5579-0593)
Quanto: entrada gratuita
Mais informações: www.museuafrobrasil.com.br

Paulo Freire e a flor dente-de-leão

Este blog vem há algum tempo celebrando Paulo Freire a despeito de seus detratores como Veja e outros equivocados. Em várias postagens reproduzi e redigi artigos sobre o maior e mais importante educador brasileiro do século XX.

O blog ativista Pimenta Negra abriu inúmeros posts sobre Paulo Freire e sua obra, vale a pena conferir. É de lá que trago os textos (copydesquei alguns) e vídeos e esta metáfora que considero muito adequada à pedagogia freireana:



"A Flor Dente-de-Leão como símbolo do Fórum Paulo Freire

Após longo processo de pesquisa sobre elementos que pudessem traduzir graficamente os muitos significados e sentidos do Fórum Paulo Freire, deparamo-nos com uma imagem curiosa: a flor Dente-de-leão
Assim como a educação libertadora, a flor Dente-de-leão não estimula a posse, o apego. Simboliza a liberdade. Ao assoprá-la as pessoas desejam ver suas pétalas se desprendendo e voando livremente. Quando entramos em contato com ela, queremos compartilhar, interagir uns com os outros, experienciá-la. Tal como o ser humano descrito por Freire, a dente-de-leão nos remete às idéias de inconclusão, incompletude e inacabamento. Suas pétalas são sempre irregulares, desfazendo-se com um simples assopro. A exemplo da pedagogia freireana cujas sementes se espalham com extrema facilidade, levada pelo vento, germina e adapta-se a inúmeras realidades geográficas no mundo, o que a torna extremamente popular. Em algumas tradições culturais, significa união, tolerância, esperança."

CONFIRAM OS POSTS DO PIMENTA NEGRA:

Os 40 anos da publicação do livro «Pedagogia do Oprimido» de Paulo Freire




Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. É considerado um dos grandes pedagogos da atualidade e respeitado mundialmente. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários países, entre as quais se conta a Pedagogia do Oprimido (1968), e a Pedagogia da Autonomia (2000). O seu método de alfabetização para adultos é seguido em muitas partes do globo. As suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Participou ativamente do MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife. A partir de 1964 exila-se por 14 anos no Chile e, posteriormente, vive como cidadão do mundo. Em 1968 publica a sua obra que teve um impacto mundial de maior alcance e que o tornou mundialmente conhecido: A Pedagogia do Oprimido.


Contra a Educação Bancária; Por uma Educação Problematizadora


Para Paulo Freire, vivemos em uma sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns, impedem que a maioria, usufrua dos bens produzidos e, coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar o vocação humana de ser mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população do Terceiro Mundo.

Refere-se então a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação surgiria como prática da liberdade

O movimento para a liberdade, deve surgir e partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente será " aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade". Vê-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata-se de um trabalho de conscientização e politização.

A pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de educação, (predomina o discurso e a prática, na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos, como vasilhas a serem enchidas; o educador deposita "comunicados" que estes, recebem, memorizam e repetem), da qual deriva uma prática totalmente verbalista, dirigida para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos, numa relação vertical, o saber é dado, fornecido de cima para baixo, e autoritária, pois manda quem sabe.

Dessa maneira, o educando em sua passividade, torna-se um objeto para receber paternalisticamente a doação do saber do educador, sujeito único de todo o processo. Esse tipo de educação pressupõe um mundo harmonioso, no qual não há contradições, daí a conservação da ingenuidade do oprimido, que como tal se acostuma e acomoda no mundo conhecido (o mundo da opressão)- -e eis aí, a educação exercida como uma prática da dominação.

Na concepção de Paulo Freire a educação tem de ser problematizadora, uma vez que o conhecimento não pode advir de um ato de "doação" que o educador faz ao educando, mas sim, de um processo que se realiza no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua.

Baseada numa outra concepção de homem e de mundo, pretende-se a superação da relação vertical, para se estabelecer a relação dialógica. O diálogo supõe troca, os homens educam-se em comunhão, mediatizados pelo mundo.

"...e educador já não é aquele que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa ...".

Desse processo, advém um conhecimento que é crítico, porque foi obtido de uma forma autenticamente reflexiva, e implica em ato constante de desvelar a realidade, posicionando-se nela. O saber construído dessa forma percebe a necessidade de transformar o mundo, porque assim os homens se descobrem como seres históricos.

O Educar para Paulo Freire

Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas pelos educandos antes de chegar à escola, o processo será inoperante, somente meras palavras despidas de significação real.


A educação é ideológica, mas dialogante, pois só assim pode se estabelecer a verdadeira comunicação da aprendizagem entre seres constituídos de almas, desejos e sentimentos.

A concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo

Esta autonomia está presente na definição de vocação ontológica de ‘ser mais’ que está associada com a capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí que o homem se diferencia do animal. Por viver num presente indiferenciado e por não perceber-se como um ser unitário distinto do mundo, o animal não tem história.
A educação problematizadora responde à essência do ser e da sua consciência, que é a intencionalidade.

A intencionalidade está na capacidade de admirar o mundo, ao mesmo tempo desprendendo-se dele, nele estando, que desmistifica, problematiza e critica a realidade admirada, gerando a percepção daquilo que é inédito e viável.
Resulta em uma percepção que elimina posturas fatalistas que apresentam a realidade dotada de uma determinação imutável.

Por acreditar que o mundo é passível de transformação a consciência crítica liga-se ao mundo da cultura e não da natureza.
O educando deve primeiro descobrir-se como um construtor desse mundo da cultura.

Essa concepção distingue natureza de cultura, entendendo a cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo, ou como o resultado do seu trabalho, do seu esforço criador. Essa descoberta é a responsável pelo resgate da sua auto-estima, pois, tanto é cultura a obra de um grande escultor, quanto o tijolo feito pelo oleiro.

Procura-se superar a dicotomia entre teoria e prática, pois durante o processo, quando o homem descobre que sua prática supõe um saber, conclui que conhecer é interferir na realidade, percebe-se como um sujeito da história.

Para ele "não se pode separar a prática da teoria, autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender".

Consultar:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

http://www.paulofreire.org/Capa/WebHome

http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/principal.jsp

http://www.paulofreire.org.br/asp/Index.asp

http://www.pucsp.br/paulofreire/

www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/pecas_culturais/index.jsp


Sobre o Método Paulo Freire : aqui

Sobre a Pedagogia da Autonomia : aqui



Última Entrevista de Paulo Freire (1997)

1° parte


2ª parte



PAULO FREIRE REFLEXÕES

Em 1983 o Grupo Banzo registrou na PUCC de São Paulo uma série de aulas do educador Paulo Freire sobre seu método, sua vida e experiências com povos indígenas.



Pedagogia do Oprimido




Escola é ( texto-poema de Paulo Freire que mostra quais são as suas principais idéias sobre a educação)


Escola é


... o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

Programas, horários, conceitos...

Escola é sobretudo, gente

Gente que trabalha, que estuda

Que alegra, se conhece, se estima.

O Diretor é gente,

O coordenador é gente,

O professor é gente,

O aluno é gente,

Cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

Na medida em que cada um se comporte

Como colega, amigo, irmão.

Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”

Nada de conviver com as pessoas e depois,

Descobrir que não tem amizade a ninguém.


Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,

É também criar laços de amizade,

É criar ambiente de camaradagem,

É conviver, é se “amarrar nela”!

Ora é lógico...

Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer,

Fazer amigos, educar-se, ser feliz.

É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.

(de Paulo Freire)



A partir do poema de Freire podem-se observar as idéias mais importantes sobre a sua concepção educativa:

1. Mostra e defende uma escola democrática centrada no educando através de uma prática pedagógica.

2. Postula que a comunicação entre cada um dos integrantes é uma necessidade para alcançar a liberdade do homem.

3. Reflete uma filosofia da educação que se perspectiva "pensar como oprimido".

4. Estabelece uma relação em que o que ensina reconhece que pode aprender com aquele a quem vai ensinar.

5. Todas as pessoas implicadas no processo educativo, educam e são simultaneamente educadas.

6. O método fundamental para educar é o diálogo aberto, tendo em conta as necessidades do indivíduo.

7. O estudante é visto como protagonista do processo de aprendizagem, enquanto que o professor atua como facilitador.

8. Defende uma perspectiva humanista da educação, em que impera o absoluto respeito pelo ser humano.

Nesta concepção a aprendizagem está no que fazer, pois ensinar não está na pura transferência mecânica de conteúdos que torna o aluno em agente passivo e dócil.

A educação libertadora problematiza e desmistifica a realidade.



" ÍNDIO NÃO CONSOME E QUEM NÃO CONSOME NÃO É GENTE"

LUIZ CARLOS AZENHA

27 de agosto de 2008 às 12:08 | Publicado em 26 de agosto de 2008 às 20:28

Índio não compra jornal. Índio não compra anúncio na televisão. Índio não compra propaganda na rádio. Índio não vota. Índio não patrocina campanha eleitoral. Índio não consome. Não consumir dá nisso: você não vale nada numa sociedade como a brasileira.

Isso ajuda explicar o motivo pelo qual índio está f..... na mídia.

Querem um exemplo? Desde que a disputa por terra na Raposa Serra do Sol começou, nos anos 80, 21 indígenas foram mortos. Sobre quantos casos você ouviu falar no rádio, na televisão, nos jornais?

Por outro lado, quantas vezes a mídia corporativa brasileira abriu espaço para falar do perigo dos "índios imperialistas", que manipulados por estrangeiros vão retalhar o Brasil?

Fiquem com a transcrição aproximada da entrevista que fiz com a advogada Joênia Wapixana, que representa os indígenas no Supremo Tribunal Federal.

A entrevista foi feita em Boa Vista, Roraima.

Fiquem tranqüilos que a Joênia não vai aparecer nas páginas amarelas da Veja:

O Paulo Quartiero, em uma entrevista que a gente gravou com ele, falou que aqui na região o desenvolvimento se dará da mesma forma que em outras regiões do Brasil e não tem como mudar isso...

Olha, essa palavra desenvolvimento para nós tem outro significado que o meramente capitalista, meramente econômico e individual. O desenvolvimento que trabalhamos é numa perspectiva de respeito. Primeiro, ao próprio costume e à própria cultura indígena. Para mim, desenvolvimento é você ter água com qualidade e você manter um ambiente saudável, ter saúde, educação. O desenvolvimento que se prega é muito diferente dos valores indígenas. É lógico que nós usamos tecnologia para benefício próprio. Mas o desenvolvimento dos arrozeiros é puramente individual e nele só tem importância a cobiça, a ganância e a exploração dos recursos naturais. Os rios Surumu, Tacutu e Cotingo são os principais rios que abastecem as comunidades [da reserva]. É onde se toma banho, de onde se consome para afazeres domésticos, onde tem os peixes. É a principal fonte de sobrevivência da biodiversidade. Qual é o tratamento que se dá a esses rios? Eles tiram água para a irrigação, desviam o curso do rio através de valas e não há qualquer controle sobre a utilização. Há quantos anos eles fazem isso? O que se faz ali na plantação de arroz é a pulverização, que contamina as águas! Com o que? Com agrotóxicos. O desenvolvimento que ele [arrozeiro] trouxe para Roraima é o que destrói, o que degrada, que ocupa ilegalmente terra de comunidades que têm direitos coletivos. Então queremos um desenvolvimento onde as comunidades indígenas tenham suas criações conforme os manejos tradicionais, onde tudo é discutido coletivamente, onde há respeito ao meio ambiente, onde ninguém sai jogando agrotóxico. A gente utiliza tecnologia nos cursos de preparação para lidar com reflorestamento -- por exemplo, de buritizais, de madeira -- mas para as próprias comunidades indígenas. Essa é a nossa forma de desenvolvimento, que contribui com o meio ambiente, não que acabe com ele. Desenvolvimento, sim, mas com respeito, não de qualquer jeito.

Foi feito um estudo de impacto ambiental para retirar a água dos rios e irrigar as plantações de arroz?

Claro que não, eles nem sequer têm licença do Ibama, conseguiram uma licença ilegal dada por um órgão estadual. Judicialmente nós cobramos uma posição dos órgãos fiscalizadores. Inclusive duas semanas atrás eles foram multados em 30 milhões de reais, uma multa que inclui não só retirada de água mas por terem fechado [aterrado] um lago. Acho que inclui aquelas bombas, que foram lacradas.

Mas as bombas estão funcionando, a gente viu...

Pois é, mas é justamente isso que a gente não entende. O Supremo suspendeu a retirada dos arrozeiros e de outros não-índios mas não deveria fechar os olhos para os crimes que são cometidos dentro da terra indígena.

Ouça outros trechos da entrevista na Rádio Vi o Mundo:

JOÊNIA: ESTADO DE RORAIMA É RACISTA

JOÊNIA: A BUSCA DE APOIO NO EXTERIOR
Joênia: IML DISSE QUE ÍNDIO ASSASSINADO TEVE MORTE NATURAL

Em Israel há mais de 11 mil palestinos padecendo nas prisões.

Charge enviada pelo autor Carlos Latuff (clique na imagem para ampliar)

Professora Nurid Peled, da Universidade de Tel Aviv:

"Milhares de israelenses que serviram no Exército têm as mãos manchadas de sangue de palestinos e não foram julgados e nem mesmo interrogados"


A libertação dos 198 prisioneiros palestinos dos calabouços israelenses está gerando polêmica.

“Dois dos prisioneiros libertados têm as mãos manchadas de sangue” proclama a mídia servil.

Leiam a seguir a opinião da professora de Literatura da Universidade de Tel Aviv Nurit Peled Elhanan que perdeu sua filha, Smadar, de 14 anos, em um atentado suicida cometido em Jerusalém em 1997.

“Esse discurso contra libertar prisioneiros com as “mãos manchadas de sangue” é um absurdo".

"Milhares de israelenses que serviram no Exército têm as mãos manchadas de sangue de palestinos e não foram julgados e nem mesmo interrogados", disse.

"Tenho uma amiga palestina, Salwa Aramin, que está em uma situação intolerável", contou. "Sua filha, Abir, de 10 anos, foi morta por um soldado israelense há um ano."

"Abir foi assassinada, com um tiro na cabeça, quando saía da escola, em Anata (Jerusalém Oriental). O soldado nem foi interrogado, a queixa da família foi arquivada", disse.

"No nosso caso, o assassino de Smadar se suicidou, mas no caso de Abir, o assassino continua livre, impune. Tanto nós, as mães israelenses que perderam seus filhos, como as mães palestinas somos vitimas da ocupação."

"Nós, os civis, somos todos vítimas dessa política cínica", afirmou Elhanan.

Em Israel há mais de 11 mil palestinos padecendo nas prisões. Eles não foram presos, mas seqüestrados, já que viviam em Território palestino.

Ninguém sabe qual é o estado de saúde deles. Entre os prisioneiros
há centenas de mulheres, idosos e crianças.

Novas trincheiras da Guerra Fria

(Enviado pelo autor Carlos Latuff. Clique na imagem para ampliar)

PILAR BONET, do El Pais

Moscou - 25/08/2008

Para os quatro conflitos congelados desde os tempos da União Soviética são novos tempos. Graças ao apoio militar de Moscou, a Ossétia do Sul e a Abkhazia começam a alimentar sérias esperanças de serem reconhecidas como estados independentes da Geórgia, o país ao qual pertencem formalmente. Os outros dois enclaves separatistas - a Transnístria (na Moldávia) e o Alto Karabakh (enclave armênio tomado do Azerbaijão) tratam de tirar partido deste novo capítulo em um processo que foi detonado pela independência de Kosovo. Mas, além de seu peso territorial e demográfico conjunto (21 mil quilômetros quadrados, equivalentes às províncias de Sevilha e Cádiz, e um milhão de habitantes), eles se converteram no cenário de uma nova guerra fria entre a Rússia e a OTAN.

Nos últimos anos, o Kremlin tem ajudado os territórios não reconhecidos a se coordenar para que respondam conjuntamente às atividades da GUAM (Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldávia), a associação de países vizinhos da Rússia fundada em 1997 sob patrocínio dos Estados Unidos. A GUAM, cujo objetivo é diminuir a dependência de Moscou, sobretudo das rotas de abastecimento energético, aborda com crescente empenho os conflitos congelados que afetam a três de seus sócios. A organização levou o debate do problema às Nações Unidas e pediu a formação de contingentes internacionais para substituir os soldados da paz russos. Eles atuam em todos os territórios, com exceção do Alto Karabakh.

Em junho de 2006, os líderes da Transnístria, Ígor Smirnov; da Ossétia do Sul, Eduardo Kokoiti e da Abkhazia, Serguéi Bagapsh, fundaram a Associação pela Democracia e Direitos dos Povos, estrutura à qual depois se uniu o Alto Karabakh como observador. Esse clube dos não reconhecidos adotou um secretariado em Moscou e tenta estender a seus representados a ajuda econômica que o estado russo oferece em seu próprio território. Mas a coordenação rápida entre eles é complicada, inclusive fisicamente. Em nenhum dos quatro enclaves há aeroportos civis e, para viajar, os separatistas têm primeiro que se deslocar para países vizinhos. Se os dirigentes da Transnístria querem voar para a Rússia devem fazê-lo por Odessa, na Ucrânia, e com passaportes válidos, já que os documentos da Transnístria só servem em casa.

A Rússia colocou três dos quatro territórios não reconhecidos em uma mesma liga, deixando o Alto Karabakh como um caso à parte entre o Azerbaijão (como país parcialmente ocupado) e a Armênia (como ocupante). Mas em março a Duma estatal (Parlamento russo) invocou o precedente de Kosovo e exortou o Kremlin a corrigir sua política em relação à Abkhazia, Ossétia do Sul e Transnístria. A Duma pediu ao Executivo que examinasse "a conveniência de reconhecer a independência da Abkhazia e da Ossétia do Sul" e, ao omitir a Transnístria da lista de candidatos à independência, colocou esta região em uma categoria de separatistas suscetíveis a um acordo com sua metrópole.

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Durante a perestroika, a Transnístria, de população majoritariamente eslava (russos e ucranianos) se opôs à política de união com a Romênia, defendida pelos nacionalistas moldavos. Desde então, os partidários de unir-se com a Romênia perderam força, mas os líderes da Transnístria temem dissolver-se em um projeto de estado que seja alheio. Para convencê-los e à Rússia o presidente moldavo, Vladímir Voronin -- diferentemente de Mikheil Saakashvili, da Geórgia -- prometeu um estado neutro e desmilitarizado e inclusive se reuniu com o líder da Transnístria, Smirnov, em abril. Depois, a Moldávia e a Transnístria começaram a criar grupos de trabalho conjuntos. Agora, esses contatos foram congelados pela Transnístria, que desconfia de Voronin e quer convencer-se de que não se trata de um Saakashvili disfarçado de cordeiro. Para isso, os separatistas pedem que a Moldávia saia da GUAM e condene a agressão da Geórgia à Ossétia do Sul. Indicando que tem outras prioridades, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, suspendeu uma reunião com Smirnov prevista para agosto.

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O conflito do Alto Karabakh, um enclave armênio em território do Azerbaijão, foi o primeiro a explodir durante a perestroika e causou centenas de milhares de refugiados.

Depois do cessar-fogo, em 1994, o chamado grupo de Minsk busca um acordo. O grupo opera no âmbito da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa, do qual a Rússia é co-presidente com Estados Unidos e França. Os armênios controlam o Alto Karabakh, do qual expulsaram toda a população do Azerbaijão, e também sete distritos vizinhos ao enclave, alegando razões de segurança.

O conflito está suspenso mas, graças ao petróleo, o Azerbaijão ganhou peso econômico e seu investimento militar já é maior do que todo o orçamento da Armênia. Devido ao Alto Karabakh, a Armênia foi marginalizada de todas as novas rotas de transporte de petróleo como o oleoduto que une Baku (Azerbaijão) com o porto turco de Ceyhan através da Geórgia, e também ficou à margem de novas rotas de comunicação como a ferrovia entre Kars, na Turquia, e Baku, via Geórgia, que substituiu uma rota através da Armênia. Hoje, a principal preocupação de Yerivan (a capital da Armênia) é impedir que a crise da Geórgia aumente seu isolamento. O presidente armênio, Serzh Sargsian, iniciou uma tímida aproximação da Turquia e insiste na expansão da rede de transporte de combustível.

Os problemas da Geórgia com a Rússia evidenciaram ao Azerbaijão a vulnerabilidade do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan. O presidente Iljam Alíev não caiu na tentação de imitar Saakashvili e tratar de reconquistar o Alto Karabakh pelas armas. Além disso, abriu mão das alusões à via militar para recuperar o território perdido. Alíev, que mantem um equilíbrio entre Rússia e Estados Unidos, não quer conflitos que desvalorizem o oleoduto, o projeto mais querido de seu pai, Gueidar Alíev.

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Leia também:
Nacionalismo, separatismo, recursos naturais, de volta à guerra fria?
Ainda Cuba e Kosovo
Outra crise nos Bálcãs?

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A revista Veja e a educação como mercadoria


Os meios de comunicação em geral têm dado uma contribuição relevante ao debate sobre o processo de melhoria da qualidade do ensino. Ao apontar falhas e mazelas no sistema de ensino e mostrar o que resultou de positivo nas mudanças que têm sido introduzidas nos últimos tempos, eles participam, de algum modo, do mutirão nacional que empolga a todos.

À onda de boas notícias parece à primeira vista ter-se juntado também a revista Veja, que dedica uma matéria de capa ao tema (edição de 20/08/2008), a pretexto de chamar atenção para os “primeiros sinais de inflexão para cima na curva da qualidade”. Na verdade, o objetivo da matéria é denunciar, com base em pesquisa realizada pela CNT/Sensus, “a mediocridade que se perpetua”, mediocridade que a revista vai identificar na orientação pedagógica atual, de que estaria imbuída a maioria dos professores, e em alguns textos de livros didáticos, de reconhecida inadequação.

A matéria de Veja não mereceria nossa atenção não fosse o fato de que ela não se inscreve na linha de melhoria da qualidade que tem orientado os analistas da educação. A revista Veja não pretende melhorar o que está aí. Muito longe disso, o que pretende é demolir em seus fundamentos o sistema de educação brasileiro, ao agredir frontalmente o conceito de educação pública, nos termos em que esta é concebida na Constituição Federal, assim como nos inúmeros documentos da UNESCO, sem falar das várias declarações sobre direitos humanos firmadas ao longo das décadas pelo conjunto das nações. Veja vai ainda mais longe: investe contra o conceito de educação que acompanha a história humana desde os primórdios civilizatórios até aos mais recentes documentos da ONU, a saber, a educação como capacitação para a vida em sociedade.

De forma oportunista, a matéria não investe diretamente contra os resultados educacionais obtidos no governo Lula, amplamente aprovados pelos pais. Ela visa, na empreitada de sua desqualificação, a fulminar o conceito de educação como tal, ou seja, educação como construção da cidadania e como escola da democracia - conceitos que se constituem em fundamento de todos os sistemas defendidos pelos grandes pensadores da Educação - de Platão a Rousseau, de John Dewey a Pestalozzi, de Rudolf Steiner a Paulo Freire.

Inspirada na proposta educacional do economista Milton Friedman - cujas idéias estão na base do pensamento neoliberal e do projeto tucano de educação para o Brasil, assim como praticado no governo FHC - a revista Veja, desta vez, parece ter conseguido superar-se a si mesma no desserviço que tem prestado aos leitores brasileiros, ao se alinhar à mais tosca, individualista e perniciosa proposta de organização da sociedade, se é que à “educação para o mercado” corresponde algo dotado dos atributos da “educação”, “organização” ou “sociedade”.

Em lugar de escola para a construção da cidadania, Veja propõe a educação como mercadoria, que exigiria como ambiente para a realização das transações apenas o mercado, a única ‘disciplina social” reconhecida. Nada além disso. Somente o mercado seria capaz de assegurar a liberdade, para o desempenho individual e profissional dos indivíduos, além de se apresentar como única medida da eficiência e garantia da eficácia.

Nenhuma referência à sociedade, instituição desprovida de sentido, no dizer de Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha e prócer do oportunismo neoliberal. A referência à sociedade, como princípio e diretriz do ensino, segundo sugere a matéria de Veja presta-se apenas a desviar a atenção dos alunos do essencial (que seria o acúmulo quantitativo de conhecimento e a submissão à ordem instituída), doutriná-los com ideologias retrógradas e tornar a escola dependente do Estado, instituição inimiga da liberdade individual.

Por isso, o Estado precisa ser reduzido à impotência, como condição para que possam florescer - em lugar das virtudes cívicas, inúteis e prejudiciais ao curriculum produtivista - as virtudes mercantis de compradores e vendedores. Assim, a revista Veja sonha com alunos desprovidos da mais leve nesga de consciência social, dispostos a aprender somente português e matemática, deixando-se aos cuidados dos proprietários da revista - e, por extensão, dos demais proprietários dos meios de produção em geral - a questão de dispor sobre o que fazer deles. O aluno como objeto, ou como produto, eis o ideal de Veja para a educação. Ou, como mostrava o diálogo entre pai e filho numa charge de jornal: O pai pergunta: “Filho, o que você vai ser quando crescer?” O filho responde: “O que a televisão quiser”.

A revista Veja ignora que, divorciada da referência à sociedade, a escola deixaria de existir, ao sucumbir sob os efeitos devastadores do mercado, que tem como única referência a vitória sobre o concorrente numa disputa encarniçada, desprovida de qualquer consideração moral. Nisso, a publicação peca por falta de originalidade. Joseph Townsend, um político inglês do século dezoito, ao argumentar contra a Lei dos Pobres, apontava como exemplo a ser seguido pela sociedade humana (que identificava com o mercado) o “equilíbrio natural” resultante da luta pela sobrevivência entre espécies animais. Por “equilíbrio natural”, Townsend entendia o espetáculo de carnificina universal oferecido por hienas contra zebras, cães contra ovelhas, chacais contra antílopes e cascavéis contra ratos e assim por diante.

É dizer que o ideal de educação pelo mercado preconizado por Veja faz-nos recuar para aquém do Humanismo Renascentista ou do Iluminismo, atirando-nos a todos numa nova idade das trevas, da qual se tenham abolido - em nome do individualismo autista do “homo oeconomicus”, - as regras da convivência humana, tão penosamente construídas ao longo de milênios. Lança-nos a todos num estado de primitivismo que não é próprio sequer dos animais. Como afirma o grande educador norte-americano John Dewey, “mesmo os cães e os cavalos têm o seu comportamento modificado em contato com seres humanos”. Por que, então, não fazer da educação um instrumento de mudança social? - sugere Dewey.

É nesse contexto que precisa ser compreendida a investida contra Paulo Freire, educador de renome internacional, reduzido por Veja ao “autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”. Veja desrespeita a inteligência do leitor, ao fazer questão de ignorar que Paulo Freire, ao lado de Josué de Castro e de Milton Santos encontra-se entre os brasileiros acadêmicos mais conhecidos no exterior. O sistema de busca do Google registra 1,65 milhão de ocorrências de Paulo Freire, número somente comparável, entre os grandes nomes de educação no Ocidente, a John Dewey, com 1,63 milhão; Pestalozzi, com 1,75 milhão; e Rudolf Steiner, com 2,52 milhões.

Na Wikipédia, Paulo Freire recebe o mesmo tratamento. É considerado “um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial”, segundo informa a versão em espanhol da enciclopédia eletrônica; ou como “um dos mais influentes pensadores da educação do século vinte”, segundo a versão em inglês. Aí pode ler-se que a Pedagogia Crítica de Paulo Freire inspirou a criação de dois institutos de educação na América do Norte: um no departamento de Educação na Universidade da Califórnia, um dos mais prestigiados no ranking da revista US News & World Report, e outro na Universidade McGill no Canadá. O verbete Paulo Freire ocorre no Wikipédia nas versões francesa, italiana, inglesa e espanhola entre outras, destacando-se a extensão de sua ocorrência na versão alemã, que lhe reserva um artigo de 21.400 caracteres, o dobro destinado ao cientista e político norte-americano Benjamin Franklin.

A Paulo Freire atribui-se o mérito - universalmente reconhecido pelos vários prêmios internacionais que recebeu, entre os quais o de Educação para a Paz, da UNESCO - de avançar no pensamento educacional, ao promover uma síntese das idéias de seus predecessores, como John Dewey. Para todos eles, o aluno está longe de ser um recipiente passivo no qual os professores depositam o seu estoque de conhecimento. Os alunos são os sujeitos ativos da educação - e o que deles se espera é que comecem por fazer as perguntas, que certamente lhes ocorrem da experiência de sua imersão no ambiente familiar e social. As respostas serão procuradas num exercício de imersão social semelhante, exercício praticado pela humanidade desde que se constitui em sociedade organizada, responsável pelas conquistas da cultura e civilização.

Isso significa dizer que a pedagogia de Paulo Freire - ou de Dewey, a quem Veja covardemente não ousa desqualificar - define a educação como o lugar onde indivíduo e sociedade se constroem, capacitando-se mutuamente para a mudança social, nos termos também definidos no “Relatório da UNESCO sobre Educação para o Século XXI” (1996), onde se assinala que a educação não somente deve promover as competências básicas tradicionais, mas também proporcionar os elementos necessários para se exercer plenamente a cidadania, contribuir para uma cultura de paz e para a transformação da sociedade, para o que se propõem quatro pilares para a aprendizagem: “aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos”.

A escola não pode reduzir-se a um adestramento para a conversão do aluno em mercadoria. O desenvolvimento humano não é sinônimo de mercado nem de crescimento econômico. O mercado ou o crescimento, por si só, não promovem a equidade nem reduzem a pobreza. Desenvolvimento implica eqüidade como resultado do exercício dos direitos sociais - e a promoção da eqüidade é uma tarefa pública, por excelência. Não é possível promover a equidade sem a democracia - e a democracia, longe de ser apenas um método de eleger os governantes, é o modo de se construir e exercitar a vida em comum, em proveito recíproco, a despeito das diferenças. Por isso, como dizia Paulo Freire, “estudar não é um ato de consumir idéias”. A democracia exige cidadãos capazes de criá-las e recriá-las.

Rui Falcão, jornalista e advogado, é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Foi deputado federal, presidente do PT e secretário de governo na gestão Marta Suplicy.

Leia também:

A tecnocracia desvairada de Veja

E quem nos livrará do jornalismo das trevas de Veja

domingo, 24 de agosto de 2008

Arte, tecnologia e solidariedade: Latuff em Gazza



Dia 22 recebi do Carlos Latuff o cartum ao lado, feito para marcar a viagem dos ativistas dos barcos Liberty e Free Gaza que saíram de Chipre em direção à Gaza.

Os ativistas seguem para prestar solidariedade ao povo palestino e levar aparelhos auditivos para as crianças que tiveram sua audição prejudicada devido
ao barulho contínuo de explosões e choques ultra-sônicos causados por caças israelenses que sobrevoam freqüentemente a região.

Hoje, Latuff mandou-me as fotos feitas pelos ativistas na chegada em Raffah.

Nas fotos podemos ver a artista plástica palestina Laila Shaheen e o ativista israelense Jeff Halper com o cartum feito por Latuff.




Essa junção da arte a serviço da solidariedade entre os povos em tempo real só é possível com a tecnologia.


Bacana quando a tecnologia é usada para a paz e as ações solidárias, maravilhoso quando a arte não está alheia à vida.

Viva o Latuff, viva a Laila e o Halper, viva o povo palestino e a solidariedade de brasileiros e israelenses.


Veja também no site oficial de libertação de Gaza: Free Gaza

Conheça mais sobre este cartunista brasileiro clicando aqui

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Direitos humanos
(Da BBC- Brasil)

Ativistas tentam romper bloqueio à Gaza de barco

Quarenta e seis ativistas de direitos humanos, de 18 países, saíram nesta sexta-feira do Chipre, a bordo de dois barcos, em direção à Faixa de Gaza, com a intenção de romper o bloqueio decretado por Israel há mais de um ano.

Os ativistas, que estão nos barcos Free Gaza e Liberty e fazem parte do Movimento pela Libertação de Gaza, planejam chegar à Faixa de Gaza na tarde de sábado.

Em entrevista à BBC Brasil, o ativista israelense Jeff Halper disse que a viagem "não tem fins humanitários, mas sim objetivos políticos".

"Nossos barcos não estão levando alimentos ou medicamentos, mas sim ativistas de 18 países que protestam contra o cerco decretado à população da Faixa de Gaza há mais de um ano", disse Halper uma hora depois que os barcos tinham saído de Chipre e ainda estavam nas águas territoriais da ilha.

De acordo com Halper, que é professor de Antropologia da Universidade de Jerusalém e fundador do Comitê Israelense contra a Destruição de Casas, a viagem do Chipre até a Faixa de Gaza deverá durar cerca de 30 horas.

Bloqueio israelense

"Esses barcos são bastante primitivos e não muito rápidos, mas acredito, que, se tudo der certo, chegaremos à Faixa de Gaza na tarde de sábado", afirmou.

Halper disse à BBC Brasil que a única coisa que os ativistas estão levando para Gaza são aparelhos de audição para crianças.

"Nossos amigos de Gaza nos pediram para trazer 9 mil aparelhos de audição para crianças, mas conseguimos trazer apenas 2 mil", disse Halper.

"Na Faixa de Gaza existe um problema sério, muitas crianças ficaram surdas em decorrência do barulho contínuo de explosões e choques ultra-sônicos causados por caças israelenses que sobrevoam freqüentemente a região", afirmou.

Halper também disse que não acredita que o Exército israelense vá permitir a entrada dos ativistas em Gaza.

"Tenho certeza de que Israel vai impedir a nossa entrada na Faixa de Gaza", disse, "mas acho que, do ponto de vista da lei internacional, não tem o direito de fazê-lo".

"Eles podem revistar nossos barcos e procurar armas, que obviamente não vão achar, mas não podem nos impedir de entrar na região".

"Se impedirem, vai ficar claro que o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza não é apenas militar, mas sim civil", concluiu Halper.

Resistência

Halper afirmou que, caso as tropas israelenses tentem prender os ativistas, eles vão "resistir de maneira passiva".

"A vantagem de uma ação não-violenta é que de qualquer maneira se ganha. Se conseguirmos quebrar o cerco, ganharemos e mesmo se formos presos ganharemos, pois estaremos expondo a cara da ocupação e o fato de que Israel ainda está ocupando Gaza", concluiu o ativista.

Entre os participantes do protesto também se encontra a israelense Hedy Epstein, de 84 anos, Lauren Booth, que é parente de Cherie, esposa de Tony Blair, o escritor americano Ramzi Kysia e a jornalista americana Yvonne Ridley.

Os ativistas são dos Estados Unidos, Alemanha, Grécia, Israel, Territórios Palestinos e outros países.

O Movimento pela Libertação de Gaza obteve o apoio de Jimmy Carter e de Desmond Tutu.

Para mais notícias, visite o site da BBC Brasil

Ativistas chegam a Gaza e dizem ter 'rompido cerco'
Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil



Barco
Ativistas chegaram a Gaza depois de viajar 32 horas desde o Chipre
Dois barcos transportando 46 ativistas de direitos humanos, que saíram na sexta feira do Chipre, foram recebidos por milhares de pessoas neste sábado na Faixa de Gaza.

O acesso dos barcos Liberty e Free Gaza não foi impedido pelas tropas isralenses, que impõem um bloqueio à região há 14 meses.

As autoridades israelenses, que haviam advertido os ativistas contra a viagem à Faixa de Gaza, optaram por não impedir a passagem dos barcos.

De acordo com o porta voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, Aviv Shiron, o governo decidiu evitar qualquer contato entre os barcos da Marinha israelense e os barcos dos ativistas.

“Nós sabemos o que há nos barcos e quem são os passageiros, portanto decidimos não impedir sua entrada”, afirmou o porta-voz.

Pane eletrônica

O Liberty e o Free Gaza saíram do Chipre na manhã da sexta-feira, com o objetivo de romper simbolicamente o bloqueio imposto por Israel desde que o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza, em junho de 2007.

A viagem durou cerca de 32 horas. Na manhã deste sábado, todos os sistemas eletrônicos dos dois barcos, tanto de comunicação como de navegação, teriam entrado em colapso.

Os ativistas a bordo enviaram uma mensagem de emergência, por um telefone por satélite, dizendo terem sido "vítimas de sabotagem eletrônica".

Os barcos teriam ficado incomunicáveis por 5 horas e sofrido problemas com o sistema de navegação.

A porta-voz do movimento, Angela Godfrey-Goldstein, culpou as autoridades israelenses pela pane nos sistemas dos barcos.

"Nessas circunstâncias, a própria vida dos ativistas a bordo ficou seriamente ameaçada", disse Goldstein à BBC Brasil.

No entanto, o Exército israelense negou qualquer envolvimento no episódio.

'Objetivo político'

Os ativistas a bordo, pertencentes ao movimento Liberdade para Gaza, são de 17 países diferentes, entre eles Estados Unidos, Grã Bretanha, Alemanha, Grécia, Israel e Territórios Palestinos.

O ativista israelense, Jeff Halper, disse nesta sexta-feira à BBC Brasil que o objetivo da viagem “não é humanitário, mas sim político”.

“Não estamos levando alimentos ou medicamentos, mas ativistas de direitos humanos que querem protestar contra o cerco imposto à população de Gaza há mais de um ano”, disse Halper.

Segundo Paul Larudee, que é um dos fundadores do movimento, se trata de “uma luta por um direito humano básico, o direito dos palestinos de ir e vir, de sair e entrar na Faixa de Gaza”.

Godfrey-Goldstein disse neste sábado que “agora o governo israelense deve ficar ciente que sim, o mundo se importa, a sociedade civil tem uma voz e esta voz está dizendo ‘não’.”

'Prisão chamada Gaza'

“Os seres humanos têm direitos que são sagrados, e as pessoas estão dispostas a defendê-los, onde quer que estejam, até na prisão chamada Gaza”, afirmou Goldstein.

Vinte barcos de pescadores palestinos que tinham tentado sair para receber o Liberty e o Free Gaza no mar, tiveram que retornar, depois que navios da Marinha israelense dispararam tiros de advertência.

O líder do Hamas na Faixa de Gaza, Ismail Hania, expressou satisfação com a chegada dos barcos e chamou “mais ativistas a virem protestar contra o bloqueio injusto imposto à população da Faixa de Gaza”.

De acordo com a Agência de Refugiados das Nações Unidas, a população da Faixa de Gaza, de cerca de 1,5 milhão de habitantes, sofre falta de produtos básicos, inclusive alimentos, medicamentos e combustíveis.

Circo ou hospício? Ainda o debate sobre a lei da Anistia

(Quadrinho de Carlos Latuff, clique na imagem para ampliar)

Leandro Fortes, na CARTA CAPITAL

22/08/2008


Na tarde de 7 de agosto, a voz pastosa do general Gilberto Barbosa de Figueiredo pairou sobre a platéia de 600 espectadores espremidos no Salão Nobre do Clube Militar, no Rio de Janeiro. Presidente da entidade, Figueiredo havia organizado um ato em protesto contra a possibilidade de contestação da Lei da Anistia e abertura de processos contra os repressores da ditadura. Poucos dias antes, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, haviam defendido a punição a torturadores a serviço do Estado.

A primeira parte do convescote, com a apresentação do tema da discussão e a íntegra das falas de três palestrantes convidados, foi gravada pela direção do Clube Militar e, posteriormente, registrada em um CD com 133 minutos de duração. CartaCapital teve acesso a este material. Entre cômicas e trágicas, as intervenções ecoam aquele espírito que precedeu as casernas às vésperas do golpe de 1964.
(Cartum de Carlos Latuff)

Foi um festival de louvores ao autoritarismo, defesa explícita do golpismo e os mais rotos chavões a respeito do “perigo comunista”. Os palestrantes – um general, um pecuarista e um ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça – conseguiram transformar a centenária confraria militar, instalada no número 251 da avenida Rio Branco, numa espécie de hospício para traumatizados da Guerra Fria.

Confira agora alguns trechos selecionados do discurso dos militares, que mostram o que a caserna brasileira pensa realmente sobre a abertura dos arquivos da ditadura e a punição aos torturadores.

“A anistia de 1979 não era para idealistas que rompiam com a legalidade na esperança de um país melhor. Era anistia para marxistas, marxistas-leninistas, revolucionários maus, perversos, que não perdoam a derrota”. (General Sérgio Augusto Coutinho, ex-chefe do CIE)

“O coronel Brilhante Ustra é o alvo enigmático (sic) da tortura no Brasil”. (General Coutinho)

“O revanchismo não é só um prazer de quem faz, porque esse prazer é de uma pessoa que é um revolucionário, que é um marxista-leninista, e, portanto, ele tem ainda um sonho, o sonho do socialismo do proletariado”. (General Coutinho, provavelmente se referindo ao ministro Tarso Genro ou ao presidente Lula)

“Mudar a cabeça dos nossos oficiais, acostumá-los a conviver com o contraditório, a adquirir o senso comum, a um passo, portanto, de fazer o consenso com a revolução socialista”. (General Coutinho, ao revelar o plano da esquerda, em andamento, para “permear” ideologicamente os militares brasileiros)

“O revanchismo satisfaz o ego do revanchista, mas, na verdade, está abrindo o caminho da revolução (socialista). Há, no Brasil, um processo revolucionário socialista em curso, sutil e mascarado, com aparência democrática, espalhando a violação dos princípios básicos do Direito”. (General Coutinho, ressurgido da Guerra Fria)

“Eleições são meros mecanismos de escolha, o Vaticano e o Comando Vermelho (organização criminosa dos morros cariocas) têm os seus. Eleições, isoladamente, não garantem a democracia”. (Antônio José Ribas Paiva, advogado da UDR, porta-voz civil do golpe, na reunião do Clube Militar)

“O pessoal que hoje se insurge contra a lei que os beneficiou estava fora do País, não estava nem trabalhando. Estavam (sic) vivendo às custas de dinheiro da conspiração internacional”. (Ribas Paiva, sobre o que ele alega ser a ingratidão da esquerda com a Lei da Anistia)

“A nação brasileira estava trabalhando e pensou neles: ‘será que esses brasileiros, (será) que talvez tenham se emendado?’. Talvez seja interessante a pacificação, a exemplo do que fazia Caxias. Mas hoje estão no Congresso nacional e não aprenderam nada. Desprezam o benefício que a nação lhes concedeu”. (Ribas Paiva, sobre os anistiados, atualmente, com mandato parlamentar)

“Quem coordenou a guerrilha e o terrorismo foi o ETA, único grupo terrorista especializado em guerrilha urbana; quem explodiu a sede do Ministério Público foi o IRA, que tem conhecimento de engenharia militar com nitroglicerina; e as Farc executaram as pessoas, as concentrações de tiros com armas automáticas evidenciam a experiência de combate. A esquerda radical e revolucionária no poder sentiu-se ameaçada por algum motivo, e lançou o terrorismo, novamente”. (Ribas Paiva, corrigindo a informação oficial de que, em maio de 2006, foi o governo federal, e não o PCC, o responsável pelos ataques à cidade de São Paulo)

“Ou ele desapeia do cavalo, ou monta direito, porque senão vamos tirá-lo de lá. Ou sai pelo voto, ou sai porque nós vamos para a praça pública, em frente ao Palácio do Planalto, fazer comício lá também, não é só sem-terra não. Vou levar o Rotary (Club), vou levar a maçonaria e gritar ‘fora com os golpistas, fora com os golpistas!’”. (Waldemar Zveiter, ex-ministro do STJ, sobre como pretende convencer o ministro da Justiça, Tarso Genro, a não mexer na Lei da Anistia)

“Na Polônia, elegeram um metalúrgico, fez (sic) a experiência. Mas os poloneses tiveram inteligência suficiente de elegê-lo uma única vez e nunca mais! Aqui, demos um exemplo magnífico para a história dos povos e elegemos um metalúrgico, inclusive com o charme de falar (sic) com quatro dedos. Não tivemos a sabedoria dos poloneses e o reelegemos. A culpa é nossa, temos que aturar. Mas o mandato é certo, no final, vão sair. O presidente, o ministério e toda a turma que subiu com ele vai ficar (sic) nos seus devidos lugares. Ele será, sem dúvida nenhuma, um excelente presidente de sindicato, isso, provavelmente, dos metalúrgicos. Se for dos professores, vai meter os pés pelas mãos, como está metendo no governo”. (Zveiter, tropeçando no português, zombando da deficiência física do presidente Lula e insuflando o preconceito de classe, sob aplausos e gargalhadas, no Clube Militar)