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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Do site Memória Lélia Gonzalez

A democracia racial exige uma militância "Você tem que estar atento a esse processo global e atuar no interior dele para poder efetivamente desenvolver estratégias de luta.

... Só na prática é que se vai percebendo e construindo a identidade, porque o que está colocado em questão é justamente uma identidade a ser construída, reconstruída, desconstruída, num processo dialético realmente muito rico."

Gonzalez - entrevista à revista SEAF, republicada por UAPÊ REVISTA DE CULTURA N. 2 - Editora Uapê, mar. 2000.

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1 - a Prefeitura Municipal de Salvador-BA foi a primeira a implantar, em toda a rede escolar, a Lei 10.639 (em 2005), durante a gestao da Secretaria de Educação e Cultura Olívia Santana.

2 - no Rio de Janeiro, a escola que já fez seu Projeto Pedagógico com base na Lei 10.639 é o Colégio Estatual Professor Sousa da Silveira, em Quintino - em 2005. Carla Lopes é a Pedagoga responsável pela iniciativa e implementação.


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Vidas lusófonas dedica-se a recontar biografias de personagens históricas, em especial as de personagens do mundo lusófono em forma de entrevistas jornalísticas ou outros gêneros.
É uma dica interessante avaliar forma e conteúdo pra desenvolver projetos propostos na coleção História em Projetos como aqueles que sugerem escrever histórias de vida de personalidades negras e de sujeitos da história que raramente mereceram destaque na história.
Retiramos de lá a biografia da Rainha Nzinga

RAINHA JINGA

Soberana de Angola: 1582 – 1663

Fernando Correia da Silva


Representação da rainha Nzinga

Abaixo a escravidão!

QUANDO TUDO ACONTECEU...

1582: Nasce a futura Rainha Jinga. – 1617: Morre Ngola Kiluangi, pai de Jinga; Mbandi, o filho de Kiluangi, toma o poder, desterra Jinga e manda assassinar o filho desta. – 1621: Jinga tenta negociar a paz com os portugueses; é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais..– 1624: No porto de Luanda os holandeses afundam seis navios portugueses; Ngola Mbandi morre envenenado, talvez por ordem de Jinga; – 1641: Os holandeses voltam a Luanda, capturando frota de vinte navios portugueses; a Rainha Jinga faz aliança com eles. – 1648: Vindo do Brasil chega a Luanda o novo governador Salvador Correia de Sá comandando forte esquadra que expulsa os holandeses de águas angolanas; ele tenta convencer Jinga a prestar vassalagem à coroa portuguesa, mas não o consegue. – 1663: Morte da Rainha Jinga..



QUIMBUNDO E PORTUGUÊS


Corre o ano de 1663. Junto à sua palhoça, uma preta velha, muito velha. Dizem-me que tem 81 anos porque nasceu cerca de 1582. Mas sempre altiva e parece que está à minha espera. Meto conversa. Em quimbundo pergunto-lhe:

- Avó, tu falas português?

E em português ela responde:

- Rapaz, tu falas quimbundo?

Largamo-nos a rir e começamos a conversar, ora em quimbundo, ora em português. Para que todos os meus patrícios bem me entendam, da primeira à última frase vou passar toda a conversa para português.



NZINGA MBANDI NGOLA


Luanda, século XVII

- Avó, o teu nome completo é Nzinga Mbandi Ngola, não é?

- Pois é! Mas como os portugueses não falam bem quimbundo, em vez de Nzinga dizem Jinga, e em vez de Ngola dizem Angola.

- E Ngola ou Angola quer dizer rei ou rainha, não é?

- Sim, rapaz, quer dizer rei ou rainha. E não sei por que é que o nome de Ngola ou Angola foi dado a estas terras que sempre foram chamadas de Ndongo e Matamba.

- Não sabes tu mas sei eu. É porque esta região é a rainha entre as várias que os portugueses conquistaram na África ocidental. Percebes?

- Estou a ver...

- E mais, Avó: quando eu digo Rainha Jinga, todos sabem que é de ti que estou a falar.

- Uf, estou mais descansada...



NGOLA MBANDI


Enquanto esgrimimos alfinetadas recordo o muito que sei a teu respeito. O teu pai, Ngola Kiluangi, rei do Ndongo, manteve a paz com os portugueses de Luanda. Porém falece cerca de 1617. Entre os africanos a sucessão é por linha materna. O teu irmão antecipa-se, desterra-te, manda assassinar o teu filho, toma o poder, passa a chamar-se Ngola Mbandi.

Abre depois hostilidades contra os portugueses porque estes não desistem de caçar populações que exportam como escravos para o Brasil, de Luanda a Recife e Salvador e Rio de Janeiro um navio negreiro atrás do outro.

Mas uma coisa é abrir hostilidades, outra é ganhar a guerra. Mbanda não ganha, é até empurrado com os seus guerreiros para as ilhas de difícil acesso do rio Quanza.

Porém a guerrilha generalizada prejudica os portugueses de Luanda, não só no tráfico de escravos, como também no aprovisionamento de víveres. Por isso estão dispostos a assinar um tratado de paz com os aristocratas negros.

Mbanda acha que, pela sua forma de estar e presença de espírito. a grande negociadora pode ser Jinga. Esta engole em seco, finge esquecer as afrontas do seu irmão e predispõe-se às negociações.



UM MISSIONÁRIO CONTA COMO FOI


Representação da Rainha Jinga negociando

com os portugueses

Cavazzi, missionário capucho, comenta:

- Entre os negros com quem tive ocasião de conversar, não encontrei nenhum que superasse esta rainha pela generosidade de alma ou sabedoria de governação... ela revelava grande destreza nos assuntos políticos, perspicácia e prudência nos assuntos de família.

Cavazzi conta depois como foi o encontro com os portugueses:

- Quando o vice-rei lhe concedeu audiência, ela, ao entrar na sala, notou que lá estava no lugar mais nobre apenas uma poltrona de veludo, ornada de ouro que se destinava ao vice-rei, havendo do lado oposto um riquíssimo tapete e umas almofadas de veludo destinados a soberanos africanos. Sem se atrapalhar e sem dizer uma única palavra, ela fez sinal a uma das suas damas para que se ajoelhasse e fizesse de cadeira. Sentou-se em cima das suas costas e ali permaneceu sentada até ao fim da audiência.

Foi essa a forma, ó Jinga, de ficares ao mesmo nível do vice-rei e assim mostrares que não eras súbdita de Portugal. Mais: ficam todos atordoados com a fluência do teu discurso em português, a paz é vantajosa para ambos os lados que estão em guerra. Aceitam o acordo que propões. Convidam-te à conversão ao catolicismo e tu prontamente renuncias aos orixás (espíritos da selva) para receberes Jesus Cristo. És baptizada com o nome de Ana Sousa, em homenagem à esposa do governador português que participa na cerimónia e se assume como tua deslumbrada madrinha.


ARRAIA-MIÚDA PRETA

No século XVII os portugueses exportam
escravos e mais escravos angolanos para o Brasil. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo. Consulta a TÁBUA CRONOLÓGICA

Os portugueses interpretam assim o acordo de paz: jamais hostilizar a aristocracia africana para não afrontar aqueles que mandam. Porém a arraia-miúda preta continua e continuará a ser caçada, escravizada e exportada para o Brasil.

Ngola Mbandi não mexe uma palha, deixa rolar o lusitano desacato. Acaba por morrer envenenado e estou em crer, ó Jinga, que foste tu a padroeira do envenenamento. Mais que não seja porque, logo a seguir à morte do teu irmão, tomas decididamente as rédeas do poder para lutar contra os portugueses. Abjuras o cristianismo e outra vez invocas os teus antigos orixás.


QUARENTA ANOS DE GUERRA


Estátua da Rainha Jinga em Luanda

Ultrapassas as sempre latentes rivalidades tribais e consegues armar, com vários povos vizinhos de Ndongo e Matamba, uma aliança contra a escravidão. São eles os dos territórios do Congo, do Kassanje, de Dembos e Kissama. Mas há sempre quem esteja disposto a trair a aliança, desde que possa fazer bons negócios com os portugueses. E entre os “bons negócios” está, obviamente, o tráfico de escravos...

Em 1621 é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais. E logo em 1624 uma esquadra holandesa queima e afunda seis navios portugueses no porto de Luanda. Aproveitas a súbita desorientação dos portugueses para libertares escravos, já concentrados em campos e à espera de embarque para o Brasil. Prometes-lhes a liberdade desde que integrem as tuas forças. Eles gritam abaixo a escravidão, abaixo a escravidão! e estão contigo.

Em 1641 os holandeses voltam a Luanda, capturando frota de vinte navios portugueses. Tu, Jinga, fazes um pacto com eles e acabas por chefiar trezentos dos seus guerreiros e assim consegues controlar a maior parte do litoral e do interior do país, também as principais rotas de comércio.

Em 1648 chega do Brasil, comandando poderosa esquadra, o novo governador Salvador Correia de Sá, o qual expulsa os holandeses das águas angolanas. Ele também tenta que tu prestes vassalagem à coroa portuguesa, mas não consegue, és um osso muito duro de roer...

A guerra entre brancos e pretos continua durante cerca de quarenta anos; tu, Jinga, a comandares a guerrilha e o ataque aos fortes militares.

As coisas só sossegam um pouco porque, no Brasil, os escravos reproduziram-se em cativeiro e por isso a mão de obra já é quase a suficiente para as necessidades dos senhores de engenho, senhores de escravos. Os portugueses chegam mesmo a libertar a tua irmã Cambu detida em Luanda durante dez anos.

A propósito: no Brasil, perto de Recife, há um filho de angolanos, ZUMBI DOS PALMARES, que lidera a revolta contra os portugueses como tu a lideras em Angola.

Ao sentires que chega a velhice, referes-te aos guerreiros jaga (teus primeiros aliados) e confessas ao missionário Antoine Gaete:

- Agora estou velha, padre, e mereço indulgência. Quando eu era jovem, nunca ficava atrás de qualquer jaga na rapidez de andar e na habilidade da mão. Havia tempos em que não hesitava em fazer frente a 25 soldados brancos armados. É verdade, não sabia manejar fuzil mas, para desfechar golpes de espada, também são necessárias a coragem, a audácia e o juízo.

Com 81 ou 82 anos faleces em 1663. O teu nome é reverenciado não só em Angola, mas também entre os negros do Brasil.

Outros sites de biografias sobre a rainha Nzinga:
Wikipédia
DEC.UFCG
Black History Pages

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