Atualizado em 02/03/2008
A segunda quinzena de fevereiro de 2008 parece querer ser aquele curto período da História recheado de de eventos significativos. Desta vez, Fidel renuncia após 49 anos no poder! A revolução e o líder mais pop do planeta desde o princípio até o fim foram notícias.
Conexões da temática com a coleção História em Projetos: Volume 8ª série/9º ano, Unidade 3 "Guerra Fria, descolonização da África e da Ásia e conflitos no Oriente Médio", capítulo 9: No calor da Guerra Fria: o que significa ser capitalista ou socialista?
Opiniões
NEW YORKER DEFENDE O FIM DO EMBARGO AMERICANO CONTRA CUBA
Atualizado em 02 de março de 2008 às 07:07 | Publicado em 02 de março de 2008 às 07:02
de Alma Guillermoprieto, Revista New Yorker
Tradução Luiz Carlos Azenha
Que fosse terminar de forma tão inglória! Não houve batalha até o último homem, rendição de um mártir à bala de um assassino - apenas um rangido na saída pela porta do ambulatório, com o roupão do hospital esvoaçante. Estamos a menos de um ano da marca de meio século de uma maratona surpreendente, mas mesmo esse artista da resistência deve se curvar ao destino e reconhecer que é hora de ir. Vamos, Fidel: ninguém está em seu caminho.
E assim ele deixa o campo: Fidel Castro Ruz, filho de um rico fazendeiro espanhol com uma lavadeira cubana; brigão de rua e líder estudantil; político de audácia incontrolável; ícone revolucionário de perfil nobre; socialista tropical que se inventou; inimigo épico dos Estados Unidos. Em 1953, a extraordinária força de sua convicção persuadiu mais de 100 homens (e duas mulheres) a se juntar a ele em um ataque a um dos principais quartéis militares do ditador Fulgencio Batista. Quase metade dos homens morreram no malogrado ataque; ele escapou sem ferimentos e emergiu como herói. Em dezembro de 1956, depois de um período de prisão e exílio, liderou outro ataque - desta vez pelo mar - contra Batista. De novo, perdeu quase todos os seus homens mas sobreviveu, junto a seu irmão, o menino Raúl, e a um desajeitado argentino chamado Ernesto Guevara. Washington tinha se cansado do repugnante Batista e abandonou o ditador para seus inimigos. No dia 8 de janeiro de 1959, Fidel - em Cuba ele seria sempre conhecido pelo primeiro nome - entrou em Havana em triunfo, prometendo aos cubanos uma alternativa ao que parecia ser o inescapável destino de uma ilha caribenha. Não seria mais a terra da prostituição ou das cantoras de cha-cha, da morte ou cegueira por falta dos remédios mais simples, dos sorrisos de servidão aos turistas e clientes, nada de mendigagem.
Em retrospectiva, é surpreendente o quanto foi curto o período das grandes conquistas da revolução. A campanha de alfabetização estava completa em 1961; o programa de saúde e o de racionamento (que, apesar de odiado, garantiu a todo cubano sua cota de calorias) estavam implantados em 1962. Tudo feito com dinheiro soviético, mas ninguém mais tinha feito isso, e o direito à educação e a uma vida saudável foi uma promessa mais do que suficiente para milhões de pobres do mundo, que permaneceram fiéis à idéia de Cuba durante as décadas do colapso em câmera lenta da revolução. O casario da ilha se desfez; o transporte público se desintegrou; a indústria açucareira foi destruída; o racionamento tornou-se uma forma constante de tortura; dedurar vizinhos suspeitos se tornou um ideal; pensamento e comportamento incorretos foram punidos com ostracismo e prisão; o jornalismo foi sumindo; a arte congelou; e ainda assim o líder de Cuba encontrou em si os recursos dramáticos para incorporar um sonho, um objetivo, um propósito para uma audiência do tamanho do mundo.
E o que vai ser agora? Ninguém deixou de notar que o substituto oficial de Fidel, Raúl, não está, como o irmão, na primavera da juventude. Fidel, em suas despedidas da semana passada, sugeriu que era hora de abrir caminho para líderes "que ainda eram bem jovens no primeiro estágio da revolução." Quem vai dizer quanto tempo os novos ocupantes dos vários cargos que Fidel preencheu vão permanecer no poder?Há indubitável conflito no círculo de poder, formado pela nomenklatura do Partido Comunista e da Forças Armadas Revolucionárias, sobre como uma transição delicada deve ser coreografada e gerenciada. A essa altura da transição, no entanto, não parece haver qualquer resistência à idéia de que mudanças estão a caminho - idealmente de forma gradual, provavelmente rápida e necessariamente profunda.
As palavras "modelo chinês" são ditas com entusiasmo, mas a pequena Cuba não tem, entre outras coisas, um bilhão de pessoas para dar combustível a um mercado interno. O que Cuba tem, inevitavelmente e, até agora, para seu infortúnio histórico, são os Estadfos Unidos, e o que os Estados Unidos não têm é uma política para Cuba. O estúpido embargo comercial, imposto em 1962 - que impõe grande sofrimento a um povo orgulhoso numa tentativa de fazê-lo apoiar os interesses dos Estados Unidos - não serve. Nove presidentes sucessivamente aprovaram o embargo; além de fazer famosos no mundo os mecânicos da ilha que consertam velhos carros americanos, o único efeito recente é o de negar aos cubanos remédios baratos, comida, livros, equipamento industrial, peças de reposição, sistemas de comunicação e razões para boa vontade em relação aos americanos.
A única outra iniciativa política significativa em relação a Castro, como ele sempre foi chamado neste país, foi a Baía dos Porcos e, como o embargo, serviu apenas para fortalecer a revolução. A Baía dos Porcos foi um presente digno dos céus; permitiu a Fidel e Raúl, o eterno cabeça das forças armadas da revolução, destroçar 1.400 cubanos anticastristas, armados e treinados pela CIA (rima como see ya, te vejo), e forneceu a Fidel o perfeito cenário para, durante a operação, declarar Cuba um estado socialista. Quando a crise dos mísseis cubanos aconteceu a armadura de Castro já exibia um polimento brilhante.
Depois de cinquenta anos, é difícil argüir que houve um dia o desejo do povo cubano de detonar seu líder com um charuto explosivo ou dar as boas vindas a uma invasão terceirizada. A política dos Estados Unidos não encorajou uma revolta em massa contra Fidel mesmo durante os anos em que centenas de milhares de cubanos desesperados arriscaram suas vidas para fugir da ilha. Hoje, mesmo a oposição mais veemente em Cuba tem poucas ilusões de que Washington vai tomar um caminho informado, esclarecido, não-intervencionista e generoso em relação à transição cubana. Ainda assim há sinais de esperança, começando pelos pedidos de Raúl Castro para conversar com Washington. No início do debate democrata da última quinta-feira, Barack Obama se ofereceu para encontrar com a liderança cubana sem pré-condições - um rompimento com o passado que seus rivais deveriam muito bem considerar. Imagine que o próximo presidente dos Estados Unidos declare que o embargo vai continuar até que os cubanos derrubem o governo atual. Agora imagine que o próximo presidente ofereça não-intervenção na política interna de Cuba, assistência financeira para enfrentar furacões e o sistema de saúde e uma mediação no difícil diálogo que certamente acontecerá entre a comunidade exilada na Flórida e os ilhéus. Qual dessas políticas vai ajudar a estabilidade em Cuba e conquistar maior boa vontade para os Estados Unidos?
*************Professor Luis Felipe Alencastro (historiador e autor entre outras obras de O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo:Companhia das letras.)
Frei Beto (teoólogo brasileiro da Teologia da Libertação, autor do livro "Fidel e a religião")
Professor Laurindo Leal Filho (sociólogo e professor da USP)
Professora Cristina Peccequilo (professora de relações internacionais da Unesp (Universidade do Estado de São Paulo)
19/02/2008 - 04h59
Em carta, Fidel Castro anuncia renúncia à Presidência
Da Redação *
São Paulo: O líder cubano Fidel Castro anunciou nesta terça-feira que não voltará a ocupar a presidência do país. A renúncia foi divulgada por meio de uma carta publicada no jornal oficial do país, o "Granma".
Fidel discursa em Havana, em maio de 2006, pouco antes de passar o comando do país ao seu irmão Raúl; ao fundo, imagem do líder revolucionário Che Guevara |
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Encontro com Lula
No dia 14 de janeiro deste ano, o presidente Lula teve um encontro com Fidel Castro em Havana. Os dois conversaram durante aproximadamente duas horas e meia e, ao final da reunião, Lula afirmou aos jornalistas que a saúde de Fidel estava "impecável" e que o líder cubano estaria "pronto para assumir o seu papel político".
Convidado a visitar o Brasil, Fidel disse que o faria "pelo menos com o pensamento", em texto publicado no diário comunista no dia 1º de fevereiro.
Na carta desta terça, o líder cubano cita outro brasileiro, o arquiteto Oscar Niemeyer. Ao reproduzir trechos de cartas enviadas a Randy Alonso, diretor do programa "Mesa Redonda" da Televisão Nacional e amigo pessoal de Fidel, ele sublinha: "Penso como Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final."
A mensagem já tinha sido lida no programa de TV no dia 18 de dezembro, quando Fidel pela primeira vez considerou a hipótese de abrir mão de seu posto formal de liderança no país. O que se concretizou nesta terça-feira.
No dia 29 de janeiro deste ano, uma escultura de Niemeyer foi inaugurada em Havana. A imagem de 15 metros representa a luta cubana contra o monstro imperialista, na definição do arquiteto que, por medo de avião, não compareceu à cerimônia.
*Folha com CNN e BBC
19/02/2008 - 06h44
O líder cubano Fidel Castro teve uma trajetória política semelhante à de líderes latino-americanos do século 19, como José de San Martín e Símon Bolívar, na opinião do historiador argentino Jose García Hamilton. Assim como os dois "libertadores da América", Fidel tentou se eternizar no poder depois de ter liderado uma campanha de libertação, diz Hamilton."
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