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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A polêmica da Viradouro

A emoção do futebol que arrepia; o frio e o terror diante da intolerância humana, o arrepio do cabelo, da pele... foram algumas das temáticas da Viradouro.


"Os arrepios do terror" que incluiu alas sobre Inquisição, forca, guilhotina (com um mestre-sala-sem-cabeça) e cadeira elétrica foi um tour pela História e também espaço de polêmica e protestos antes e durante o desfile.

A polêmica anterior à avenida foi parar na imprensa com o pedido da Federação Israelita do Rio de Janeiro acatado pela Justiça que a proibiu de colocar na avenida um carro que faria menção ao Holocausto, com bonecos representando corpos dos judeus mortos.

Segundo o carnavalesco Paulo Barros nunca houve a idéia de vestir um destaque de Adolf Hitler, como foi divulgado na imprensa nos últimos dias. "Quem inventou isso foi extremamente irresponsável."

Durante o desfile, em resposta à proibição de Justiça, a Viradouro substituiu o carro vetado, por uma montanha branca cercada de pás, vários integrantes com mordaças, um Tiradentes de destaque e placas em que se liam "Liberdade Ainda que Tardia" e "Não É Enterrando o Passado que se Constrói a História".


No site oficial da escola o protesto por escrito que vale a pena ser lido e discutido:

A EXECUÇÃO DA LIBERDADE

A Viradouro subverte a tristeza e desnuda o horror da intolerância. O cerceamento da liberdade de expressão é o terreno mais fértil para que proliferem a violência, o desrespeito, a brutalidade, o extermínio.

Nem os algozes, nem as vítimas da trágica história da humanidade têm o direito de ocultar os fatos, entorpecer a memória. A proibição sumária da expressão artística é o primeiro passo em direção ao precipício: queimar livros, censurar filmes, destruir alegorias. Por trás de toda arbitrariedade, se esconde a mediocridade, a impossibilidade de vencer a força das idéias, e o que resta é dizimá-las. A "execução da liberdade" é a quinta alegoria da Escola e percorre a avenida para lembrar que o extermínio pode ser a conseqüência do preconceito, da intolerância, do desrespeito à diversidade.

Inicialmente concebida para representar um dos maiores genocídios da humanidade, o holocausto, o carro foi impedido de desfilar por mandato judicial da Federação Israelita do Rio de Janeiro no dia 31 de janeiro de 2008. Algumas reações de organismos nacionais e internacionais deixam clara a incompreensão de que o desfile das escolas de samba é um poderoso instrumento de divulgação de idéias, de sensibilização de corações e mentes de todo o planeta.

O carnaval foi apontado como "espaço inapropriado, em seu ambiente festivo", "desfile com música, mulheres e homens semi desnudos dançando alegremente face a recordação das vítimas do Holocausto", "um espetáculo abominável para os sobreviventes e suas famílias". É claro que houve a compreensão das intenções da escola, ou seja, alertar contra o genocídio de milhares de seres humanos. A alegoria enquanto escultura, se exposta em uma bienal de arte seria aceita. Na avenida, se torna inadequada.

Outras formas de arte retratam o holocausto, como o cinema, o teatro e as artes plásticas. As salas de cinema e os salões dos museus são os espaços mais adequados para que o povo reflita sobre as barbaridades do homem? Considerar "escárnio" desfilar como tema tão contundente na Marquês de Sapucaí é descredenciar uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras. Palco de lutas pela liberdade, a Avenida mostrou, ao longo de anos de desfile, a opressão contra negros e índios, a resistência dos migrantes nordestinos contra a miséria, a saga de heróis que foram mártires nas batalhas pela democracia. O holocausto atingiu não apenas aos judeus, marcando a vida de comunistas, homossexuais, ciganos, deficientes mentais e físicos, intelectuais que discordavam do regime de Hitler, homens, mulheres e crianças que morreram brutalmente, vítimas do nazi-fascismo. A execução do direito de liberdade e a intolerância para com a diversidade cultural, ideológica e religiosa assassinou negros, índios, alquimistas, visionários. A quinta alegoria da Viradouro, passará na Sapucaí representando um protesto contra todo o tipo de extermínio da vida e da liberdade. Não se conta a verdadeira história do homem só com poesia e prazer. As cicatrizes da alma são a melhor forma de proteção contra novas feridas.

O carro abre-alas tinha uma grande rampa de esqui que consumiu 26 toneladas de gelo e contou com esquiadores descendo a rampa durante todo o desfile. Também representando o frio, a Viradouro tinha baianas vestidas de iglu, mas a chuva danificou as fantasias, tornando-as pesadas e dificultando a evolução da ala.


O carnavalesco surpreendeu na bateria, que homenageava o artilheiro do Brasil na Copa de 70 Jairzinho. Os instrumentistas chutaram bolas de futebol para a arquibancada e levantaram a sua rainha, a atriz Juliana Paes, em referência à taça Jules Rimet. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira era formado por Raphael Rodrigues e Simone Pereira.

O cinema foi citado várias vezes. A primeira foi na comissão de frente, com Mr. Freeze, inimigo de Batman no filme "Batman & Robin" (1997). Quando o assunto foi cabelo, chamou atenção uma ala só de Edwards, o "Mãos-de-Tesoura" do filme de Tim Burton de 1990. Os filmes "Alien" e "Chucky - O Boneco Assassino" ganharam alas e um carro alegórico trazia as duas versões de "O Exorcista".

O "arrepio do parto" foi citado com um boneco que se movimentava e o "da sedução" estava no carro "Kama Sutra", com casais nus pintados de dourado simulando as posições do livro indiano. Aranha, cobra e lagarto e baratas representaram os "arrepios de repugnância".

Por fim, a escola dedicou alas a "Carnavais clássicos" e fez uma homenagem a Cartola --que pode ser interpretada como uma provocação à Mangueira. A Viradouro trouxe ainda Beth Carvalho, que se desentendeu com a verde-e-rosa em 2007, como destaque do carro e incluiu trechos de "As Rosas Não Falam" em seu samba-enredo.

Roteiro dos setores e suas alas:

1º SETOR – ARREPIO DO FRIO - Comissão de Frente - QUEBRANDO O GELO

Aqui um comentário à parte a tecnologia das escolas de samba é surpreendente, quem dera todo empreendimento no Brasil fosse assim, esquiadores, esquiando em pista de gelo real em plena avenida!


1º Casal de MS e PB - Raphael e Simone Pereira - A AURORA BOREAL E O ESQUIMÓ
Ala 01 - VELHA-GUARDA
Ala 02 – Comunidade - PINGÜINS

Alegoria 01 - FRIO
Ala 03 – Baianas - IGLU

2º SETOR – ARREPIO DO CABELO
Ala 04 – Magia - MOICANOS
Ala 05 – Vida Bandida - PUNKS
Ala 06 – Comunidade - EDWARD MÃOS DE TESOURA

Alegoria 02 - FAZENDO A CABEÇA
3º SETOR – ARREPIO DA PAIXÃO
Ala 07 – Amizade - MÃOS
Ala 08 – Beijo na Boca - LÍNGUAS
Ala 09 – Paixão Vermelha e Branca - BOCAS
Ala 10 – Comunidade - GUEIXA

Alegoria 03 - NASCIMENTO

4º SETOR – ARREPIO DAS ARTES
Ala 11 – Tá Rindo Por Quê? - LEONARDO DA VINCI (ESCAFANDRO)
Ala 12 – Crianças - VILLA-LOBOS (TRENZINHO CAIPIRA)
Ala 13 – Artistas - LAMPIÃO
Rainha da Bateria - Juliana Paes - SALVE A SELEÇÃO!
Ala 14: Bateria - FURACÃO DA COPA


CARRO DE SOM
Intérprete Oficial: Nego
Cavaco: Hamilton do Cavaco e Davidson Auxiliares: Lima de Andrade, Julinho, Tiãozinho, Sandro Botafogo, Talarico, Pitty Violão 07 Cordas: Rodrigo, Tan tan: Beloba, Pandeiro: Esguleba

Ala 15 – Passistas - MÉXICO (COPA DE 70)
Ala 16 – Comunidade - ORSON WELLES - (A GUERRA DOS MUNDOS)
Ala 17 – Disse Me Disse - PORTINARI (ESPANTALHO)

Alegoria 04 - “CAMA SUTRA”
5º SETOR – ARREPIO DA EXECUÇÃO
Ala 18 – Comunidade - FOGUEIRA


Ala 19 – Comunidade - FORCA
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira - Marcinho Simpatia e Patrícia - CABEÇAS VÃO ROLAR!

Ala 20 – Comunidade - GUILHOTINA
Ala 21 – Comunidade - CADEIRA ELÉTRICA
Alegoria 05 - HOLOCAUSTO

6º SETOR – ARREPIO DA REPUGNÂNCIA
Ala 22 – Escola - RATOS
Ala 23 – Comunidade - ARANHAS
Ala 24 – Comunidade - COBRAS
Ala 25 – Comunidade - LAGARTOS
Alegoria 06 - O BANQUETE
Ala 26 – Comunidade - BARATAS - (GRUPO DE APOIO À ALEGORIA 06)

7º SETOR – ARREPIO DO TERROR
Ala 27 – Comunidade - FRED KRUEGER
Ala 28 – Vip - CHUCKY
Ala 29 – Comunidade - MOSCA
Ala 30 – Sol da Minha Vida - ALIEN
Alegoria 07 - EXORCISTA

8º SETOR – ARREPIO DA SAUDADE
Ala 31 – Arrepiando - ITA NO NORTE
Ala 32 – Sul é Dez - KIZOMBA
Ala 33 – Escola - RATOS E URUBUS
Ala 34 – Escola - MANGUEIRA
Ala 35 – Compositores - COMPOSITORES
Alegoria 08 - AS ROSAS NÃO FALAM

Histórico da escola
Site oficial da escola

O samba enredo original

CARNAVAL 2008

É DE ARREPIAR!

Começou o desfile. Sente o frio?
Esse vento que passa provoca arrepios.
Esfregue as mãos, cubra o corpo, chegue mais perto de mim.
Não deixe que o sangue congele. Se embole, se agite.

Nunca vi nada assim.
Grite! Procure saber de onde vem o vento, a ventania.
Esfria, arrepia, me esquenta.
Ouça o samba. Mexa o corpo, requebre, me agüenta.
Quero fazer sua vontade. Te arrepiar na folia.

Quer fazer a cabeça? Enrolado, arrepiado, embolado, colorido.
Qual é o seu estilo? Arrumadinho, despenteado, espetado, transviado.
De qualquer jeito, a gente se vira e desvira, desvia.

Desperte o meu desejo, num beijo.
O seu corpo estremece no meu.
Vem comigo, vem pro mundo,
mas traz no seu grito a alegria
de quem já é poesia
somente porque nasceu.

Para mudar o sentido da vida,
reescrever a história,
recompor a memória, a cena, a música.
Criar uma mesma emoção.

Está tremendo? Mas amor, o que passa agora?
Me abraça, que também sinto o coração disparar.
O horror a me turvar a mente: desolação.
A vida que se deixa num fio, no fogo, no jogo do poder.
O fim consentido, provocado, executado.
Centenas, milhares, milhões de vidas perdidas.

E o que mais ainda arrepia? Essa não! Que nojo!!!
Não quero decepcionar. A gente está só se conhecendo.
Mas chama alguém corajoso, de vassoura ou de chinelo,
que com esses seres eu me pelo.

Veja só o que vai passar! Sente um calafrio?
Esses monstros terríveis, que provocam pesadelos,
pulam da tela e vêm aqui te assustar?
Mas me abraça, que, mesmo apavorado, com você aqui do lado,
já me dá outro arrepio!

Por tudo o que já se viu,
a Viradouro vai arrepiar.
Mas nem pense que é o fim.
Porque o maior arrepio
virá de um vento tardio.

Daqueles que sopram na memória.
Um vento sem frio,
um tempo de aquecer as lembranças
e sentir arrepios de emoção e saudade!
Não fale. Simplesmente exale
o perfume que roubam de ti!




E o samba enredo pós- proibição do carro do terror do holocausto:

G.R.E.S. Unidos do Viradouro - Samba-Enredo 2008
Gusttavo Clarão, Gilberto Gomes, Nando E Dominguinhos Do Estácio
"É de arrepiar"

Amor, olha só quem vem lá
É de arrepiar, com tanto frio
Vem cá me abraçar
Sentir o meu arrepio
Mexa, remexa, sacode a cabeça me faz delirar
Vou no fricote, dou-lhe um beijo no cangote
Eu quero ver... A semente germinar

O show da bateria alucina
Traz numa corrente a emoção
É arte, é criação que me fascina
Faz vibrar meu coração

Porém nem tudo são flores
Há dissabores, infelicidades
Vidas perdidas nesse mundo de maldade
Eu sou sincero com esses seres eu me pelo
De vassoura ou de chinelo, chame alguém pra ajudar
Na tela, uma cena de terror
De arrepio e calafrio, você vai se assustar
Peguei o Ita no Norte, gostei tive sorte e kizombei
Mesmo proibido, desfilei
Em versos e poesias, menestrel
Vou cumprindo o meu papel

Bate outra vez, o meu coração
"Pois já vai terminando o verão"
As rosas não falam, na Viradouro exalam
O perfume de uma canção
Trecho de o Globo:
"RIO - Ele roubou a cena mais uma vez. No primeiro dia de desfile das escolas de samba do Grupo Especial, o carnavalesco Paulo Barros, da Viradouro, levou para Avenida, na noite de domingo e madrugada de segunda, um desfile instigante, que gera discussões sobre o lado positivo e negativo da sua parte plástica e inicia um processo de quebra de tabus do carnaval, que sempre é visto como fonte de alegria e desde década de 90 até o desfile de 2008 dificilmente é encarado como forma de questionamento e desabafos pesados ou não.

Com suas alegorias e fantasias, Paulo Barros mexeu com a cabeça do público. Uns sentiram arrepios de prazer e outros náuseas pelas imagens chocantes, como o segundo mestre-sala com a "cabeça cortada", pessoas fantasiadas de baratas dentro de um banquete, integrantes sofrendo de cabeça para baixo no carro do exorcista (...). É válido? A resposta sairá na quarta-feira de cinzas ou no próximo ano, quando será possível ver se algum carnavalesco irá copiar o "novo estilo" de Paulo Barros, como muitos fizeram com as alegorias humanas.

link para as fotos de O Globo


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