Cidade Limpa tira arte da rua, critica grafiteira
“Aos nossos olhos”, trabalho de Nina Pandolfo na galeria Leme, em que, no detalhe, a artista aplica cristais Swarovski e peças de crochê.
O 3º elemento
Uma das pioneiras da cena do grafitti brasileiro, a artista Nina Pandolfo, (casada com Otávio Pandolfo – um d’Osgemeos), está fazendo sua primeira exposição individual , a “Aos nossos olhos” na galeria Leme, em São Paulo.
Aproveitando o tema, o Repique conversou com a moça sobre grafitti, artes nas ruas e em galerias e a política do Cidade Limpa que vem apagando algumas obras desses artistas.
Como é para você grafitar nas ruas e fazer telas para galerias?
Tem bastante diferença. Quando pinto nas ruas sei que o meu trabalho estará sendo visto por todos, independente de classe social ou idade. O que monta o cenário são os edifícios, os cachorros de rua, as pessoas, os carros, isto tudo compõe o meu trabalho.
Na rua tenho certeza de que mesmo as pessoas que não são acostumadas a ver uma exposição, ou que até mesmo nunca estiveram em uma galeria de arte ou museu irão ver o que pintei.
Já nas telas, tenho que fazer toda a ambientação da tela e algumas vezes da galeria. Atinge um número bem menor de pessoas. Só que nas telas tenho mais opções, posso aplicar cristais, como fiz na Leme, e não serem arrancadas no dia seguinte, posso aplicar crochê que não sofrerão com a chuva ou o sol...
O que você acha desse movimento da Street Art ir para as galerias?
Sabe o que é engraçado, antes de pintar graffiti nas ruas, eu fazia telas, e via o graffiti (que na época nem sabia o nome) como uma arte alternativa, totalmente social, assim como os grupos de teatro que fazem apresentações nas ruas. Achei que era a mesma coisa com a pintura.
Não vejo nada de errado, porque o street art não pode estar também nas galerias?
Como você explica que São Paulo tenha tanto destaque em grafitti?
A cidade de São Paulo é um grande suporte para se fazer arte, temos muros enormes e vários, temos muitas pontes e viadutos, temos mais paredes do que qualquer coisa, nem sequer temos um horizonte.
São tantos prédios, tantos muros altos, tantas construções que nem vemos o horizonte, se quisermos ver o céu temos que olhar pra cima.
Fora do Brasil, pintar nas ruas é visto como crime. E aqui, de um modo geral as pessoas gostam, admiram. Acontece muito de pessoas me agradecerem por estar pintando, deixando a cidade com mais vida.
Também acho que pelo fato de algumas informações chegarem atrasadas aqui, pelo fator financeiro, de que o material custa caro, as pessoas acabaram descobrindo um estilo próprio para pintar, um estilo próprio de desenho que tem feito com que as pessoas olhassem mais para o Brasil nesta área.
E sobre esse episódio da Prefeitura ter apagado o grafitti d'Osgemeos?
Então, neste mural, não estava somente "Osgemeos", tinha trabalho meu, do Nunca, Herbert e Vitché.
Estamos em contato com a prefeitura, eles reconheceram o erro.
Acho que no caso do mural, já esta sendo resolvido, pois quem apaga são empresas terceirizadas, e quase nunca as pessoas que apagam conseguem compreender um mural.
A cidade de SP sempre foi vista pelos estrangeiros como uma cidade onde a arte está por toda a parte. Só que com este negócio de Cidade Limpa, não estão somente tirando a poluição visual, mas também estão tirando as artes.
Até que ponto a arte é sujeira? As pessoas que estão nas ruas limpando os graffitis tinham que ter um treinamento, para poder entender melhor o que estão apagando.
Um trabalho super valorizado lá fora...
É difícil compreender. Como que outros países nos chamam para fazer trabalhos de graffiti nas cidades e em nosso país apagam nossos trabalhos?
Já fui convidada para pintar na rua - sem contar galerias e museus, no Japão, na Suécia, na Espanha, na França... O mais absurdo foi que pintamos (eu, Nunca e Osgemeos) um castelo na Escócia de 800 anos, onde a nossa bandeira esta estiada acima da bandeira escocesa na torre do castelo, só pra se ter uma noção de como nosso trabalho e país estava sendo valorizado lá fora.... Chega a ser irônico.
(01.08.08)O 3º elemento
Uma das pioneiras da cena do grafitti brasileiro, a artista Nina Pandolfo, (casada com Otávio Pandolfo – um d’Osgemeos), está fazendo sua primeira exposição individual , a “Aos nossos olhos” na galeria Leme, em São Paulo.
Aproveitando o tema, o Repique conversou com a moça sobre grafitti, artes nas ruas e em galerias e a política do Cidade Limpa que vem apagando algumas obras desses artistas.
Como é para você grafitar nas ruas e fazer telas para galerias?
Tem bastante diferença. Quando pinto nas ruas sei que o meu trabalho estará sendo visto por todos, independente de classe social ou idade. O que monta o cenário são os edifícios, os cachorros de rua, as pessoas, os carros, isto tudo compõe o meu trabalho.
Na rua tenho certeza de que mesmo as pessoas que não são acostumadas a ver uma exposição, ou que até mesmo nunca estiveram em uma galeria de arte ou museu irão ver o que pintei.
Já nas telas, tenho que fazer toda a ambientação da tela e algumas vezes da galeria. Atinge um número bem menor de pessoas. Só que nas telas tenho mais opções, posso aplicar cristais, como fiz na Leme, e não serem arrancadas no dia seguinte, posso aplicar crochê que não sofrerão com a chuva ou o sol...
O que você acha desse movimento da Street Art ir para as galerias?
Sabe o que é engraçado, antes de pintar graffiti nas ruas, eu fazia telas, e via o graffiti (que na época nem sabia o nome) como uma arte alternativa, totalmente social, assim como os grupos de teatro que fazem apresentações nas ruas. Achei que era a mesma coisa com a pintura.
Não vejo nada de errado, porque o street art não pode estar também nas galerias?
Como você explica que São Paulo tenha tanto destaque em grafitti?
A cidade de São Paulo é um grande suporte para se fazer arte, temos muros enormes e vários, temos muitas pontes e viadutos, temos mais paredes do que qualquer coisa, nem sequer temos um horizonte.
São tantos prédios, tantos muros altos, tantas construções que nem vemos o horizonte, se quisermos ver o céu temos que olhar pra cima.
Fora do Brasil, pintar nas ruas é visto como crime. E aqui, de um modo geral as pessoas gostam, admiram. Acontece muito de pessoas me agradecerem por estar pintando, deixando a cidade com mais vida.
Também acho que pelo fato de algumas informações chegarem atrasadas aqui, pelo fator financeiro, de que o material custa caro, as pessoas acabaram descobrindo um estilo próprio para pintar, um estilo próprio de desenho que tem feito com que as pessoas olhassem mais para o Brasil nesta área.
E sobre esse episódio da Prefeitura ter apagado o grafitti d'Osgemeos?
Então, neste mural, não estava somente "Osgemeos", tinha trabalho meu, do Nunca, Herbert e Vitché.
Estamos em contato com a prefeitura, eles reconheceram o erro.
Acho que no caso do mural, já esta sendo resolvido, pois quem apaga são empresas terceirizadas, e quase nunca as pessoas que apagam conseguem compreender um mural.
A cidade de SP sempre foi vista pelos estrangeiros como uma cidade onde a arte está por toda a parte. Só que com este negócio de Cidade Limpa, não estão somente tirando a poluição visual, mas também estão tirando as artes.
Até que ponto a arte é sujeira? As pessoas que estão nas ruas limpando os graffitis tinham que ter um treinamento, para poder entender melhor o que estão apagando.
Um trabalho super valorizado lá fora...
É difícil compreender. Como que outros países nos chamam para fazer trabalhos de graffiti nas cidades e em nosso país apagam nossos trabalhos?
Já fui convidada para pintar na rua - sem contar galerias e museus, no Japão, na Suécia, na Espanha, na França... O mais absurdo foi que pintamos (eu, Nunca e Osgemeos) um castelo na Escócia de 800 anos, onde a nossa bandeira esta estiada acima da bandeira escocesa na torre do castelo, só pra se ter uma noção de como nosso trabalho e país estava sendo valorizado lá fora.... Chega a ser irônico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário