Bem-vindo/a ao blog da coleção de História nota 10 no PNLD-2008 e Prêmio Jabuti 2008.

Bem-vindos, professores!
Este é o nosso espaço para promover o diálogo entre as autoras da coleção HISTÓRIA EM PROJETOS e os professores que apostam no nosso trabalho.
É também um espaço reservado para a expressão dos professores que desejam publicizar suas produções e projetos desenvolvidos em sala de aula.
Clique aqui, conheça nossos objetivos e saiba como contribuir.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

NA GUERRA DA INFORMAÇÃO, INDÍGENAS SÃO O "INIMIGO INTERNO"

Luiz Carlos Azenha

Atualizado em 11 de agosto de 2008 às 15:39

Vivemos um momento extraordinário, em que a produção, a disseminação e o controle da informação são utilizados tanto por estados quanto por entes privados para a produção de "consensos". Não é exatamente uma novidade. É que, na presença de múltiplas fontes de informação, os canhões midiáticos se multiplicam e atiram sobre nós incessantemente. Atiram mentiras, informação manipulada, cuidadosamente selecionada ou deturpada.

Na Bolívia, a delegação do Mercosul que acompanhou o referendo revogatório notou: assim que as urnas foram fechadas, a mídia corporativa passou a destacar não a vitória nacional de Evo Morales com 63%, mas o NÃO majoritário nos estados da Meia Lua. Não notou que Evo, eleito com 53%, saltou para 63% de aprovação, mas o SIM majoritário dos governadores que se opõem a Evo. Quando o presidente discursava em La Paz a mídia boliviana mostrava entrevistas com os governadores de oposição.

No Brasil, Eduardo Guimarães analisou como a mídia corporativa brasileira atacou duas pesquisas, uma da FGV e outra do IPEA, que demonstraram o crescimento da classe média e a redução da pobreza no Brasil. É óbvio que é preciso desmoralizar as pesquisas, já que elas contradizem o discurso segundo o qual tudo o que aconteceu de bom no país nos últimos vinte anos foi resultado da presença abençoada de FHC, uma narrativa essencial para eleger José Serra em 2010.

E eu me espanto ao notar que o metralhar da mídia é muito eficaz, especialmente quando combina com um preconceito existente na população. Durante meses a mídia brasileira bombardeou o público com a idéia de que os indígenas representam uma ameaça à soberania do Brasil na Amazônia, um discurso que serve exclusivamente ao agronegócio e às mineradoras. A mídia não diz:

1) Que as terras indígenas são da União e, portanto, nunca deixam de ser do Brasil; apenas o usufruto é dos indígenas;

2) Que a Polícia Federal e o Exército são livres para atuar em terras indígenas;

3) Que o Exército tem bases em todas as reservas situadas em área fronteiriça;

4) Que são os brasileiros que estão invadindo outros países (Bolívia, Paraguai, Venezuela e Guiana, por exemplo) e não vice-versa;

5) Que dezenas de indígenas foram mortos desde o início da campanha pela demarcação da Raposa/Serra do Sol em múltiplos incidentes violentos.

Ao divulgar apenas os fatos que justificam a tese dos "índios imperialistas", a mídia brasileira contribui para distorcer o debate sobre esta e outras demarcações e para o desprezo histórico dos brasileiros brancos pelos indígenas. O roubo de terras com violência é justificável: "eles" são o inimigo interno.

Nenhum comentário: