tag:blogger.com,1999:blog-77727007922715951232024-03-13T14:40:11.283-03:00História em Projetos"O mundo é um mosaico de pontos de vista. Aprendemos muito com os pontos de vista dos outros, e perder nem que seja um pedaço desse mosaico é uma perda para todos nós. David Crystal (A revolução da linguagem,2004:69).éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.comBlogger663125tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-35733798284190844092014-04-19T18:48:00.004-03:002014-04-19T18:50:37.997-03:00Onde registrávamos o conhecimento da humanidade antes da era digital?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">Onde e como está registrado o conhecimento da humanidade? Hoje podemos falar em zilhões de terabytes, em servidores superpotentes que buscam comprimir cada vez mais o conhecimento humano em nuvens virtuais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">Mas as histórias contadas neste novo lançamento da MBooks volta um pouco atrás e vale a leitura. O livro é bem escrito, bem ilustrado e com um tema que desperta o interesse das crianças e adolescentes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">A temática da história da escrita no papel e da revolução que ela possibilitou para a humanidade nesse novo suporte, antes da era digital.</span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<b>4 PEQUENAS HISTÓRIAS QUE JUNTAS MUDARAM O MUNDO</b></blockquote>
<a href="https://picasaweb.google.com/lh/photo/L0lMlh9jNViT94veyGfdsdMTjNZETYmyPJy0liipFm0?feat=embedwebsite"><img height="775" src="https://lh6.googleusercontent.com/-ACsrDLI2CGU/U1LuC5XUkII/AAAAAAAAB1U/tpVE355iSfQ/s800/capa%25204%2520pequenas%2520historia%2520que%2520justas%2520mudaram%2520o%2520mundo%2520alta.JPG" width="541" /></a>
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Livro conta a trajetória da escrita do papel e da gravura em uma narrativa surpreendente</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
“O conhecimento da história enriquece a criança em seu aprendizado e fortalece o adulto em suas ações. Todos se beneficiam igualmente do conhecimento, pois é ele que proporciona o progresso da civilização e dos indivíduos que a compõe”.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Fabio Mestriner e a editora M Books lançam o livro <b>4 pequenas histórias que mudaram o mundo</b>, uma surpreendente narrativa que conta a trajetória da escrita do papel e da gravura e seu importante papel na evolução da humanidade.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Afinal, a maioria das pessoas que recebem uma formação educacional conhece a história da escrita e das letras. Muitas conhecem também a história do papel, material tão presente na vida atual e onde são impressos os livros que possibilitam conhecimento, estudo e cultura.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Já a história da gravura, é conhecida apenas e principalmente por aqueles que trabalham com alguma forma de impressão. Estes sabem que a gravura é a mãe das artes gráficas e de todas as formas de impressão dela derivadas.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
O que quase ninguém conhece e a história de como a escrita, surgida na Mesopotâmia em 3300 antes de Cristo, o papel que surgiu na China no ano 105 e a gravura, criada no século VII pelos monges budistas, se espalharam pelo mundo, indo se fundir na prensa de Gutemberg na cidadezinha de Mainz na Alemanha no ano de 1455.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;">Para escrever o livro Fabio estudou e pesquisou exaustivamente a jornada da escrita, do papel e da gravura, partindo da Mesopotâmia e da China imperial em anos remotos, cruzando caminhos difíceis e perigosos onde não faltaram batalhas, personagens heroicos e acontecimentos extraordinários. </span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Para Fabio, está é uma saga que merece ser conhecida, pois quando estas histórias se fundiram na prensa de Gutemberg deram início a uma grande revolução. </blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Segundo o Professor,"estas são realmente as “4 pequenas Histórias que juntas mudaram o mundo” pois quando a escrita, o papel e a gravura se fundiram na prensa de Gutemberg, criaram a plataforma e a ponte por onde passou a maior parte do conhecimento da humanidade".</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<br />
Ficha técnica<br />
4 pequenas histórias que mudaram o mundo<br />
Editora: M Books<br />
Autor: Fabio Mestriner<br />
Páginas:144<br />
Formato:21 x 27cm<br />
Preço sugerido: 68,00<br />
Lançamento: novembro de 2013<br />
ISBN:978857680228-0</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Venda on-line e mais informações:www.mbooks.com.br/<br />
http://www.4historia.com.br<br />
Site: http://www.mbooks.com.br/<br />
Facebook: https://www.facebook.com/mbookseditora</blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<b>Sobre o autor: Fabio Mestriner</b><br />
Um dos mais renomados profissionais de design do país, Fabio Mestriner é professor Coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem da ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing e professor do MBA de Marketing da Fundace USP.<br />
Com 39 anos de experiência profissional, Mestriner é responsável por alguns cases icônicos do design de embalagem brasileiro. Entre eles está o formato curvilíneo da lata do Leite Moça, que chegou a ser patenteado pela Nestlé devido ao sucesso que causou.<br />
Foi também curador setorial de embalagem na 1º Bienal de Design, Presidente da ABRE Associação Brasileira de Embalagem e representante do Brasil no Board da WPO World PackagingOrganization entre 2002 e 2006. Como designer de embalagem, conquistou vários prêmios internacionais.<br />
Como autor publicou importantes livros sobre design de embalagem como Design de Embalagem – Curso Básico, Design de Embalagem – Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.</blockquote>
</div>
éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-62630768922372187012014-04-19T18:25:00.003-03:002014-04-19T18:25:53.380-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;"><b>SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
VITÓRIA
NO PACÍFICO</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">Lançamento para os professores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">O livro é indicado ao ensino médio ou para o público não especialista que tem interesse no tema da Segunda Guerra Mundial.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000;">Ele aborda aspectos dessa temática que não costuma ser muito detalhado nos livros didáticos.</span></div>
<b><br /></b>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<b>Do Ataque a Pearl Harbor
à Vitória em Okinawa </b></blockquote>
<br />
<br />
<a href="https://picasaweb.google.com/lh/photo/lKe-0L2eIefvFIrjKHHu8tMTjNZETYmyPJy0liipFm0?feat=embedwebsite"><img height="634" src="https://lh4.googleusercontent.com/-fDY3BmYPj-M/U1LokeR4hII/AAAAAAAAB00/KvnfWcNDhQ0/s800/1-%2520Capa%2520Vit%25C3%25B3ria%2520no%2520Pac%25C3%25ADfico.JPG" width="443" /></a><br />
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O lançamento da M.books deste mês conta
como a tentativa de conquista japonesa foi frustrada e como os Aliados lutaram por toda a Birmânia, ilha por ilha, rumo à vitória final no Oriente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 7 de dezembro de 1941, a marinha japonesa atacou Pearl Harbor. Simultaneamente, o exército japonês lançou ataques maciços na Malásia, Hong Kong e nas Filipinas.</div>
<div style="text-align: justify;">
A esfera de influência dos japoneses se espalhou num ritmo fenomenal.
À medida que as nações da Ásia caíam uma a uma e as tropas britânicas e americanas na região eram rapidamente subjugadas, parecia que o sonho do império japonês estava para se tornar realidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Da luta selvagem pelas ilhas do Pacífico à reconquista da Birmânia, contra todas as chances, pelo “esquecido” 14º Exército, Vitória no Pacífico conta toda a história de como a guerra contra os
japoneses no Extremo Oriente foi finalmente vencida.</div>
<b><div style="text-align: justify;">
<b>SOBRE A AUTORA</b>: <b>Karen Farrington</b> - é escritora e ex-jornalista do Fleet Street, que se especializou no estudo de conflitos ao longo do século XX.</div>
</b><div style="text-align: justify;">
Ela marcou o 50º aniversário do final da Segunda Guerra Mundial com a publicação de Eyewitness to World War II, compilado de várias entrevistas com veteranos ao redor do mundo, sendo que muitos deles contribuíram para a Vitória no Pacífico.</div>
<b><div style="text-align: justify;">
<b>Onde adquirir</b>:</div>
</b></blockquote>
<blockquote>
M. Books do Brasil Editora Ltda.<br /><div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="text-align: justify;">Atendimento ao Cliente: 11 3645-0409 / 0410 - Fax: 11 3832-0335
Emails:</span></blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
marketing@mbooks.com.br/</div>
divulgação@mbooks.com.br<br />mkt@mbooks.com.br<br />Site da editora: http://www.mbooks.com.br<br />Twitter: @mbooks_<br />Facebook: facebook/mbookseditora
</blockquote>
</div>
éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-50916157879855692022014-03-21T07:37:00.001-03:002014-03-21T07:37:45.564-03:00Da necessidade de manter a cabeça fria<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
Por Luiz Carlos Azenha, <b><a href="http://www.viomundo.com.br/humor/da-necessidade-de-manter-a-cabeca-fria.html" target="_blank">Viomundo</a></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
27/05/2011</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Temos tido uma temporada de intensos debates entre os comentaristas, neste e em outros espaços digitais. Evidencia de que temos muitas opiniões e que, quase sempre, elas são divergentes. Em defesa da cabeça fria, ainda que discordemos, ofereço a vocês um interessante texto, traduzido do capítulo 9 do livro <b>Africa</b>, <b>A Biography of the Continent</b>, de John Reader, o melhor livro generalista que já li sobre a África. Divirtam-se:</div>
<b><br /></b>
<b>Cool Systems</b><br />
<br />
<h1 style="background-color: white; color: #526881; font-family: Tahoma, Geneva, sans-serif; font-size: 35px; line-height: 43px; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: black; font-size: 13px; font-weight: normal; line-height: 20px; text-align: justify;">A forma humana é sólida e suficientemente substancial para projetar uma longa sombra por toda a face da Terra, mas as pessoas — como a superfície do próprio planeta — são mais de 70% líquidas. A água é o maior componente estrutural do corpo humano; os ‘encanamentos’ constituem a maior porção da carcaça humana: no total, as veias sanguíneas e os sistemas urinário e linfático de um único ser humano são suficientemente longos para dar a volta ao mundo — duas vezes. O conteúdo de água de um humano saudável de 65 quilos é de 50 litros — o suficiente para encher 150 latinhas de Coca Cola. Tanta água, mas não mais que o essencial para o transporte de nutrientes e a eliminação dos detritos.</span></h1>
<div id="post" style="background-color: white; color: #354353; float: left; font-family: Tahoma, Geneva, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 20px; width: 620px;">
<div class="text" style="color: black; text-align: justify;">
A pessoa média, em condições de temperatura médias, precisa consumir e excretar cerca de dois litros e meio de líquido por dia (uma taxa de substituição de cerca de 5% do conteúdo total de água), e seja qual for o consumo o conteúdo total de água no corpo permanece consistente, se desviando menos de 1% da norma. A pele e os pulmões são responsáveis por uma proporção da perda de água, mas o conteúdo total é mantido em um nível consistente primariamente pelos rins — a urina se torna mais diluída quando o consumo de água é alto, e mais concentrada quando o consumo é baixo. Mas há limites. Uma descarga diária de urina de cerca de meio litro é essencial, já que menos que isso não será suficiente para descartar todos os produtos potencialmente tóxicos do corpo.<br />
Na verdade, manter o conteúdo de água do corpo em níveis adequados é tão crítico que desvios relativamente pequenos da norma podem se tornar extremamente perigosos. Um perda absoluta de perto de 5% do conteúdo total de água afetará muitas funções, inclusive a capacidade do cérebro de processar informação; a morte quase certamente resultará de uma perda de mais de 5%. Para a pessoa média, em condições de temperatura médias, 5% do conteúdo total de água equivale ao consumo líquido médio de um dia: 2,5 litros, o equivalente a 7,5 latas de Coca. As pessoas podem viver semanas sem comer, mas sem beber morreriam em alguns dias.<br />
Em condições tropicais, os requisitos de água são maiores, já que os humanos precisam suar para manter a temperatura. Aqui naturalmente é a manutenção da temperatura do corpo que é crítica — tão crítica quanto a manutenção do conteúdo de água no corpo. O corpo humano mantém uma temperatura básica de 37 graus centígrados, e enquanto a maior parte dos tecidos do corpo é relativamente tolerante de pequenas variações da norma, o sistema nervoso central é particularmente sensível ao aumento da temperatura. O funcionamento normal do cérebro se torna progressivamente prejudicado por elevações da temperatura acima dos 37 graus e mesmo uma temperatura de 40,5 graus centígrados pode ser fatal.<br />
O simples fato de estar vivo queima energia e, assim, gera calor. Uma pessoa descansando, lendo este livro por exemplo, equivale a um motor ou uma lâmpada de cerca de 75 watts. Quando a temperatura ambiente está abaixo da temperatura básica do corpo, o calor produzido pelo motor humano é perdido no ambiente, mas mecanismos adicionais de resfriamento são necessários em ambientes com temperaturas mais altas que as do corpo. Nós coramos e suamos. A evaporação tira o calor do sangue bombado através das veias capilares da superfície da pele, o sangue resfriado corre de volta para o centro do corpo, e uma temperatura estável de 37 graus centígrados é mantida.<br />
A eficiência do sistema de resfriamento do corpo humano (sem mencionar sua necessidade) foi demonstrada a mais de 200 anos pelo Dr. Charles Blagden, então secretário da Sociedade Real. Acompanhado por um grupo de amigos e um pedaço de carne, Blagden passou 45 minutos em um quarto que tinha sido aquecido a uma temperatura de 126 graus centígrados. Blagden e os amigos emergiram suados do quarto, mas fora disso não foram afetados. A carne saiu de lá cozida. Os dados não registram quanto líquido aqueles senhores beberam antes que o conteúdo de água de seus corpos fosse restaurado aos níveis normais, mas as quantidades devem ter sido consideráveis. Estudos modernos de campo anotaram taxas de suor de até 4 litros por hora entre pessoas que passaram pequenos períodos de tempo em temperaturas extremas. Um homem jovem e em forma caminhando 5 quilômetros em temperaturas de cerca de 40 graus perde 1,5 litro de suor por hora, e vários estudos demonstraram uma perda de água de 8 litros por dia, em média, para jovens que tenham atividade moderada em desertos.<br />
Num clima quente e seco a evaporação de um litro de suor pode na teoria dissipar 2.500 kJ de calor (o que é energia suficiente para tocar um refrigerador padrão por três horas e meia), deixando clara a eficácia do suor como mecanismo de resfriamento. Mas o custo também fica aparente. Toda gota precisa ser reposta. O fracasso em repor as perdas de água em um ciclo de 24 horas produz desidratação séria e incapacitação; a morte é inevitável caso um segundo dia de grande carga de calor for experimentado.<br />
Nas savanas abertas da África Oriental, onde as condições se aproximam daquelas experimentadas pelo ancestral humano 200 mil anos atrás, um estudo do fisiologista Pete Wheeler marcou temperaturas do ar próximas do solo regularmente excedendo 35 graus centígrados para sete das doze horas do dia. Elas atingiram 30 graus pouco depois das 9 da manhã e subiram a um pico de 45 graus à uma da tarde. O período mais quente do dia foi das 11 da manhã às 4 da tarde. Mesmo no cair do sol, às seis da tarde, as temperaturas do ar excediam os 30 graus.<br />
Manter o frescor em tais regimes de temperatura pede pródigas quantidades de suor. Uma pessoa pesando 65 quilos suaria (e precisaria repor) pelo menos 7 litros por dia, se ativa sob tais condições. Os ancestrais humanos, 200 mil anos atrás, devem ter pesado menos e provavelmente estavam melhor adaptados às condições da savana, tanto em termos físicos quanto de comportamento. Eles provavelmente requeriam menos água. Ainda assim, precisariam beber água todos os dias e apenas este fato imporia limites estritos na distância que poderiam se distanciar de fontes conhecidas de água. Assim sendo, acesso regular à água deve ter sido uma determinante primária da evolução e do comportamento humanos; mais fundamentalmente que acesso à comida.<br />
Os humanos não foram, naturalmente, os únicos mamíferos a confrontar os problemas do stress do calor nas savanas da África Oriental durante sua história de evolução. Animais de pasto passam os dias expostos ao impacto total do sol tropical. Em algumas espécies de antílope, a temperatura básica do corpo chega aos 45 graus centígrados durante as horas mais quentes do dia. Eles sobrevivem apenas porque desenvolveram formas elaboradas de manter o cérebro resfriado, ao mesmo tempo em que os corpos se tornam muito quentes.<br />
Os focinhos longos são chave para a estratégia de sobrevivência dos mamíferos da savana. Nos focinhos compridos, o calor se perde na evaporação da água a partir da superfície úmida das cavidades nasais. Essa evaporação remove calor do sangue que flui sob as membranas nasais, e o sangue resfriado segue para perto da base do crânio, numa seção expandida da veia jugular, chamada seio nasal. O sangue relativamente resfriado do seio nasal retira algum calor diretamente do cérebro; mais importante, também age como resfriador do sangue que abastece o cérebro. O cérebro é abastecido pelas artérias carótidas, que passam pelo seio nasal, onde elas se abrem numa rede de veias finas. Quando o sangue arterial passa através dessa rede, o calor excessivo é transferido para o sangue venoso resfriado do seio nasal, e o cérebro recebe sangue na temperatura certa.<br />
Com um “radiador” no nariz e um “resfriador” no crânio, a maioria dos mamíferos consegue manter os cérebros resfriados mesmo quando os tecidos do corpo estão muito quentes. Quando o rosto se alargou e a mandíbula encolheu no curso da evolução dos primatas (como consequência de mudanças na dieta), o focinho da espécie encolheu a ponto de não funcionar mais como radiador. Os humanos nem mesmo resfolegam quando sentem calor. Além disso, os primatas (incluindo os humanos) não dispõem de um “resfriador” de sangue equivalente ao dos antílopes. Esses fatores entregam nossa ancestralidade em ambiente de floresta, frio e sombreado, onde nossos primos mais próximos ainda são encontrados. Os chimpanzés, por exemplo, são muito mal equipados para o superaquecimento. Mesmo na sombra, sem receber sol direto, temperaturas ambientais de mais de 40 graus causam stress considerável nos chimpanzés. Eles suam e respiram pesadamente quando as temperaturas sobem, mas sem efeito. Somente o frescor das noites traz alívio.<br />
Se os ancestrais imediatos dos hominídeos tiveram semelhança com os modernos chimpanzés, enfrentaram considerável pressão para manter a temperatura [do cérebro] quando se aventuraram das florestas em direção às planícies abertas da África tropical. As planícies ofereciam um espectro mais amplo de oportunidades — tubérculos, sementes, nozes, carniça — mas essas comidas usualmente estavam espalhadas, não distribuídas uniformemente; os forrageadores bem sucedidos precisavam buscar num espaço amplo durante o dia e precisavam se manter ativos mesmo quando o sol estava a pino. Este foi o nicho ecológico que os hominídeos ancestrais exploraram.<br />
Obviamente que não fizeram isso da noite para o dia; as adaptações que mantiveram os corpos hidratados e os cérebros resfriados em condições quentes e secas evoluiram com o tempo, e nossa própria fisiologia é testamento vivo de nosso sucesso. Os humanos são extremamente bem adaptados à atividade energética durante o dia em ambientes quentes e secos. Nós temos o sistema mais eficaz de resfriamento do corpo de todos os mamíferos.<br />
As evidências fósseis conclusivamente demonstram que os ancestrais da linhagem do hominídeo existiram apenas na África; assim sendo, nosso sistema de resfriamento foi uma resposta de adaptação ao stress ambiental da África tropical. E assim o fato fisiológico moderno está indisputavelmente ligado às evidências fósseis antigas. A significância dessa conjunção foi explorada por Pete Wheeler em pesquisa para uma tese de doutorado.<br />
Wheeler investigou os aspectos fisiológicos da evolução humana de um ponto-de-vista funcional, avaliando as capacidades básicas e os requerimentos essenciais dos ancestrais dos hominídeos, numa tentativa de definir as pressões seletivas e as adaptações que moldaram as características ancestrais na forma humana moderna. A pesquisa dele levou a uma série de publicações que demonstraram que a termorregulação está na base de todas as coisas humanas.<br />
Ele começou com avaliações dos atributos fisiológicos básicos — mesmo quando óbvios — da forma humana. Por exemplo, já que os passos de um bípede são pouco vantajosos em termos de locomoção eficaz, será que a postura ereta é funcionalmente vantajosa em termos de carga de calor e resfriamento do corpo? Claramente, um animal que anda ereto expõe menos da superfície do corpo aos raios do sol que um animal que anda sobre quatro patas, mas que diferença isso faz?<br />
Wheeler fez modelos de hominídeos que poderiam ser colocados em modo bípede ou quadrúpede e mediu a área da superfície do corpo que ficaria exposta diretamente à radiação solar ao longo de um dia na África tropical. Os resultados demonstraram que enquanto o quadrúpede teria cerca de 20% da superfície do corpo exposta ao sol durante todo o dia, o bípede começava com 20% mas isso declinava rapidamente, acompanhando o ‘movimento’ do sol. Ao meio-dia, quando o sol está diretamente sobre a cabeça e a radiação é mais intensa, apenas 7% da superfície do corpo de um bípede fica exposta. Isso significa que pelo mero fato de ficar em pé, os hominídeos bípedes evitaram 60% da radiação solar direta aos quais ficariam expostos se fossem quadrúpedes.<br />
Além disso, como a velocidade do vento sobe e as temperaturas caem com a distância do solo, a posição bípede expõe uma maior proporção do corpo a condições sob as quais fica mais fácil remover calor da pele. Wheeler mediu os efeitos resfriadores da elevação em relação ao solo e descobriu que um bípede parado em uma planície perde calor 33% mais rapidamente que um quadrúpede no mesmo lugar. E este benefício é turbinado pelo fato de que o ar mais próximo do solo é mais úmido, por causa da água liberada pela vegetação transpirante. Consequentemente, mesmo que o quadrúpede sue tanto quando o bípede, o suor não evapora tão rapidamente e seu efeito resfriador, portanto, fica diminuído.<br />
Então há o fator da pele descoberta dos humanos a ser considerado. Os pelos servem aos quadrúpedes da savana como um escudo, refletindo e diminuindo o calor antes que ele chegue à pele. Se os quadrúpedes tivessem perdido o pelo, a melanina os teria protegido da radiação UV-B, mas isso teria diminuído a reflexividade da pele, causando ganho maior de calor. Juntos, esses fatores evitaram a evolução de grandes superfícies peladas em quadrúpedes da savana, mas um bípede poderia dispensar a maior parte do escudo, retendo cabelo apenas na cabeça e nos ombros, mas tirando benefício do resfriamento causado pela transpiração mais farta no resto do corpo. As vantagens, em termos de termorregulação, são consideráveis.<br />
Os humanos tem tantos pelos por centímetro quadrado quanto os chimpanzés, mas são cabelos mais curtos e finos. Essa nudez funcional, em conjunto com glândulas sudoríparas bem desenvolvidas, permite a nós perder calor na taxa pródiga de 700 watts por metro quadrado de pele, uma taxa da qual não se aproxima nenhum outro mamífero existente. Outras espécies da savana tem glândulas sudoríparas, mas a pelagem inibe a livre circulação de ar sobre a pele molhada e o suor evapora, em vez disso, da pelagem, dependendo do calor do ar para a vaporização. Nas pessoas, quase toda a energia necessária para evaporar o suor vem do próprio corpo, tornando todo o processo mais eficiente.<br />
Wheeler avaliou todos estes fatores e publicou resultados que convicentemente demonstraram que a posição ereta e a pele descoberta permitiram a um hominídeo bípede permanecer ativo sob temperaturas que levariam um primo quadrúpede à beira de um colapso. Mas o almoço nunca foi de graça; e o preço para esta habilidade única de buscar comida sob o sol tropical era uma fonte segura de água — algo que nem sempre se encontra nas savanas da África. Desidratação é um problema sério, com risco de incapacitação mesmo em níveis baixos, por isso deve ter havido sempre um ponto em que os efeitos debilitantes da perda de água pesavam mais que os benefícios de estender a procura por comida.<br />
Os dados reunidos por Wheeler mostram que se o hominídeo ancestral (Lucy, por exemplo, que tinha 1,2 metro e pesava 30 quilos) pudesse tolerar desidratação de até 4% do total da massa corporal (que é próximo do limite de segurança para humanos modernos), poderia viajar apenas 11,5 quilômetros entre fontes de água para procurar comida durante um dia. Os hominídeos se tornaram maiores com o passar do tempo. Hominídeos maiores precisam de mais água, mas as vantagens de uma relação menor entre superfície-volume significam que eles desidratam mais vagarosamente que indivíduos menores e podem viajar relativamente mais longe. Na verdade, como Wheeler demonstrou, dobrando a massa (daquela de Lucy) para os humanos modernos (70 quilos) mais que dobrou a distância para buscar comida, para 25 quilômetros entre as fontes de água, multiplicando o potencial de encontrar comida por um fator de 4,73.<br />
Embora a postura ereta e a pele nua tenham permitido aos hominídeos forragear nas savanas abertas e tropicais da África sob temperaturas mais altas e por distâncias mais longas que virtualmente qualquer outro mamífero, em termos de fisiologia básica eles eram apenas elementos funcionais de um sistema de resfriamento do corpo que protegia o cérebro do stress do calor. O sistema mantinha um extraordinário grau de estabilidade da temperatura do corpo. Evoluiu enquanto o cérebro humano era ainda relativamente pequeno, e assim coincidentemente estabeleceu as condições precisas para a característica humana mais definitiva: o grande cérebro cognitivo. Isso não é o mesmo que dizer que as estratégias de controle de temperatura causaram a evolução de um cérebro grande, meramente que removeram certas barreiras fisiológicas e, assim, tornaram o crescimento do cérebro possível.<br />
As barreiras fisiológicas em questão, presentes em todos os outros mamíferos que evoluiram para viver na savana aberta da África, são o “radiador” e o “resfriador”; ou seja, o longo focinho e o sistema interno de resfriamento do sangue que abastece o cérebro, por exemplo, dos antílopes. Eles permitiram que os animais da savana resfriassem o sangue seletivamente, mantendo o cérebro resfriado mas o corpo quente. Mas o resfriamento seletivo tem os seus limites. A estratégia depende da quantidade de sangue que o sistema pode manter em temperatura adequada para abastecer o cérebro. Cérebros maiores dependem de um maior abastecimento de sangue resfriado e, assim, o sistema interno precisa ser maior. No entanto, como o sistema depende de bombear sangue através de uma rede de finos vasos sanguíneos, o tamanho máximo dele é determinado pela pressão e volume de sangue que precisa ser acomodado.<br />
Os cálculos de Wheeler mostram que se a quantidade de sangue que abastece o moderno cérebro humano fosse resfriada por um sistema interno como o dos quadrúpedes da savana, o sistema de resfriamento teria, no homem, o mesmo diâmetro do pescoço. Claramente, o sistema de resfriamento do corpo apoiado na postura ereta e na pele descoberta foi uma estratégia muito mais adequada.<br />
Mas enquanto as estratégias de termorregulação que evoluiram nos hominídeos removeram barreiras fisiológicas ao alargamento do cérebro, a evolução de um cérebro maior criou em si demandas físicas de magnitude considerável.<br />
O cérebro é um ‘tecido caro’. O cérebro humano moderno é seis vezes maior que o de um mamífero de tamanho comparável e embora, na pessoa média, represente apenas 2% do peso, consome cerca de 16% do orçamento de energia. Por comparação, os músculos, onde a energia é obviamente gasta, consomem 15% do orçamento, apesar de constituirem 41,5% do peso do corpo humano.<br />
Além disso, o cérebro usa energia nove vezes mais rapidamente que a média para o resto do corpo, e como não tem formas de estocar energia para uso futuro, precisa ser abastecido continuamente por altos níveis de combustível e oxigênio. A evolução de um sistema de resfriamento excepcionalmente eficaz facilitou a evolução do grande cérebro nos hominídeos, mas logo abastecer o cérebro se tornou tão importante quanto mantê-lo resfriado. Em termos fisiológicos, o consumo de comida teve de aumentar para acompanhar o crescimento do cérebro e, logo, o estômago e o trato digestivo também, relativamente ao tamanho do corpo. Mas, na verdade, o tamanho da barriga humana é quase exatamente a metade do que se previa para acompanhar o cérebro maior, uma deficiência fisiológica que a evolução equilibrou com algumas características de comportamento.<br />
Os hominídeos aprenderam a buscar comidas nutritivas que precisavam ser consumidas apenas em pequenas quantidades. Não eram para nós as grandes barrigas através das quais outros primatas processam grandes quantidades de folhas ou grama, com o consumo apenas ocasional de algo mais nutritivo. Nossa pequena barriga funciona exclusivamente com alimentos de alta qualidade, principalmente o rico núcleo reprodutivo de outros organismos — sementes, nozes, tubérculos e ovos — acrescidos de quantidades significativas de proteína na forma de carne.<br />
Paradoxalmente, satisfazer as demandas dietéticas de um cérebro grande pediu um esforço cognitivo da parte do próprio cérebro. O sucesso dessa relação interativa é evidente; está sob todas as conquistas e comportamentos humanos: tecnologia, linguagem e cultura. As características fundamentais da humanidade evoluiram para manter o cérebro funcionando e o cérebro grande só surgiu quando adaptações aos ambientes quentes e secos retiraram as barreiras que limitaram o potencial de crescimento do cérebro em todos os outros mamíferos terrestres. “Provavelmente não é coincidência”, Wheeler concluiu, “que o mamífero com o cérebro e o comportamento social mais desenvolvidos é da espécie que possui o sistema de resfriamento mais elaborado”.</div>
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éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-65096605367401827602013-08-07T16:39:00.001-03:002013-08-07T16:39:27.795-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<b>Para além do oficialismo e do esquerdismo no movimento anti-racista</b></div>
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Por Dennis Oliveira, <b><a href="http://revistaforum.com.br/quilombo/2013/05/" target="_blank">Revista Fórum</a></b></div>
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20/05/2013</div>
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No sábado, dia 18 de maio, foi realizado na Universidade de São Paulo, o seminário “10 anos da Lei 10639/03 – Balanço e Perspectivas”. Participaram do evento cerca de 120 pessoas, a esmagadora maioria profissionais de educação. O seminário compôs-se de mesas redondas e ateliês de práticas pedagógicas nas áreas de literatura, artes, história, gestão de conflitos, entre outros.</div>
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Mas o que chamou a atenção nos debates de sábado foi a presença de uma questão de fundo que permeia os movimentos sociais no momento em que vivemos. Como se deve dar a relação entre movimentos sociais e governo, principalmente quando se trata de governos com um cunho mais progressista. Discussão semelhante ocorreu na sexta-feira, durante um outro seminário que participei como expositor sobre “movimentos sociais na contemporaneidade”, organizado pelo IEA (Instituto de Estudos Avançados) e a EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) na USP campus zona Leste.</div>
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Na questão específica do movimento anti-racista, um autor citado na mesa redonda de sábado foi o sociólogo Clóvis Moura (autor de “Dialética radical do Brasil negro” e “Rebeliões da senzala”). Moura é, constantemente, desqualificado na academia e até por alguns dirigentes do movimento negro. Cobram dele uma “maior precisão nas informações e nos dados” (uma pessoa em uma banca de qualificação da qual participei na FFLCH-USP questionou, por exemplo, a ênfase dada por Moura para o Quilombo dos Palmares dizendo que se ele foi tão importante porque hoje não há “remanescentes como de outros quilombos”, esquecendo ou fingindo desconhecer que Palmares foi massacrado).</div>
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A qualificação de Moura não está, necessariamente, na precisão ou não das informações e dados. Isto é uma leitura superficial da obra dele. Quando Moura fala que a abolição que se faz em 13 de maio de 1888 tem um caráter inconcluso por não prever medidas de inclusão dos ex-escravizados e escravizadas no sistema social porque a luta “saiu dos quilombos e foi para a dimensão parlamentar” quis enfatizar os limites da ação institucional.</div>
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Outro pensador importante brasileiro, Jacob Gorender, defende que o escravismo colonial existente no Brasil era um modo de produção original, porque a utilização de mão de obra escravizada de africanos produzia valores que eram incorporados no sistema capitalista mercantil de então. Isto significa que há uma articulação na formação social capitalista nascente do modo de produção do escravismo colonial brasileiro.</div>
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Fazendo uma interpretação marxiana destas posições, tem-se que o Estado brasileiro foi formatado para possibilitar a vigência desta tipologia de acumulação de riquezas e de relações sociais de classe. As modulações do aparelho de Estado nos diversos momentos conjunturais não significam uma mudança estrutural na sua lógica, até porque se manteve o modo de produção local e sua articulação com a formação social capitalista global.</div>
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É exatamente este o raciocínio de Clóvis Moura quando identifica a opção de passagem do sistema escravista para o capitalista dependente (ver em “Sociologia do negro brasileiro” e “Dialética radical do Brasil negro”) como <strong style="margin: 0pt; padding: 0pt;">os limites estruturais de ação por dentro do aparelho institucional</strong>. Em outras palavras, a forma de abolição obtida em 13 de maio de 1888 foi o limite possibilitado pelo aparelho de Estado brasileiro voltado para a manutenção daquela ordem – patrimonialista, capitalista dependente e racista. E é também o aspecto que diferencia do projeto abolicionista dos movimentos abolicionistas radicais, como a Revolta dos Alfaiates, em que se desenhava uma outra perspectiva de sociedade e também de Estado.</div>
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Por isto, os eventuais espaços de participação nos aparelhos de Estado que tem crescido no Brasil nos últimos anos tem que ser observados dentro dos seus limites institucionais. O professor Juarez Tadeu de Paula Xavier, da Unesp, lembrou na sua fala no dia 18 de maio, da lógica do falecido pensador negro Milton Santos: os processo sociais tem a dimensão da fábula, da perversidade e da possibilidade. O que se percebe é que há uma ilusão com a fábula na perspectiva institucional de parcela da militância ou da repetição estéril da perversidade por parte de uma frustração esquerdista. Ambas, embora aparentemente opostas, se aproximam por partirem da ilusão das possibilidades da ação institucional (só se frusta quem um dia se iludiu). Ora, uma ação política pela transformação se situa na dimensão das possibilidades.
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A contribuição epistêmica de Clóvis Moura é fundamental para se entender os limites e possibilidades de transformação com a aprovação de diversas leis importantes para o movimento anti-racista, como a Lei 10639/03. O diagnóstico da presença desta lei não é dos mais animadores. Problemas vários acontecem nas escolas e muitas vezes são identificados unica e exclusivamente como decorrentes de má formação ou incompreensão dos profissionais da educação. Esquece-se da natureza do Estado brasileiro – que vai além dos ocupantes pontuais dos cargos de governo, pois se espraia nas tradições e formatações institucionais consolidadas – já dito por vários pensadores: patrimonialista, excludente e racista.
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éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-50716570931062183802013-08-07T15:56:00.003-03:002013-08-07T15:56:35.162-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<b>Historiador critica projeto de lei que garante exclusividade para o exercício da profissão</b></div>
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Por: Francisco Marshall*, no<a href="mailto:Historiador e arque%C3%B3logo, professor do Departamento de Hist%C3%B3ria do IFCH-UFRGS." style="color: #333333; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;" title="Historiador e arqueólogo, professor do Departamento de História do IFCH-UFRGS."> </a><a href="http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/08/historiador-critica-projeto-de-lei-que-garante-exclusividade-para-o-exercicio-da-profissao-4222548.html">Zero Hora</a></div>
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03/08/2013</div>
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'O teor do projeto em discussão vai produzir uma casta cartorial e tecnocrática para controlar a produção livre do conhecimento'</div>
<img alt="Historiador critica projeto de lei que garante exclusividade para o exercício da profissão Marie-Lan Nguyen/Wikimedia Commons" src="http://zerohora.rbsdirect.com.br/imagesrc/15414690.jpg?w=620" style="border: 0px; list-style: none; margin: 0px; max-width: 624px; padding: 0px;" title="Historiador critica projeto de lei que garante exclusividade para o exercício da profissão Marie-Lan Nguyen/Wikimedia Commons" /><br />
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Heródoto, o pai da História, em relevo esculpido por Jean-Guillaume Moitte em uma das paredes do Museu do Louvre. Foto: Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons</div>
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Ora tramita em regime de urgência no Congresso Nacional o PL 4.699/2012, do senador Paulo Paim (PT), que trata da profissionalização do historiador. O projeto assegura aos historiadores diplomados prerrogativas exclusivas e interdições que atingirão a pesquisa e a difusão do conhecimento histórico. O privilégio pretendido encaminha conflitos com os historiadores temáticos, que tratam da História da Arte, das Ciências ou da Literatura, entre muitas especialidades de consistente tradição e relevância. Estes conflitos, decorrentes da luta corporativa por reserva de mercado, já motivaram protestos até da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC, e abrem questões de interesse amplo e grave: há benefício social na regulamentação da profissão de historiador, e riscos reais em sua inexistência? Caso existam, estes riscos são tais que justifiquem os transtornos prometidos pelo exclusivismo? Deve a memória histórica ser atribuição exclusiva de certo segmento técnico? Com que vantagens e desvantagens? Qual a cientificidade da História, e quais os usos deste saber? Eis, portanto, ocasião para discutirmos a relação entre História, historiador e sociedade, e para pensarmos algo sobre trabalho, ciência e liberdade.</div>
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A questão central é sobre a natureza e a potência do conhecimento histórico. Há um método que se aprende apenas tirando diploma? A posse deste método assegura grau superior e exclusivo para o exame do passado? Esta exclusividade resulta em bem social? Pode o desenvolvimento da investigação histórica ser tolhido de toda a parcela da sociedade não diplomada, e confiada a uma guilda de fornecedores do conhecimento? </div>
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Os gregos inventaram a História e logo suas pretensões de cientificidade e de utilidade. Heródoto (484 a.C.? – 425 a.C.) usou o termo <em style="list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;">historíe</em> (história) para designar as enquetes que fez junto aos povos que visitou, sobre mito, memória, fatos e costumes. Uma geração após, Tucídides (460 a.C.? – 395 a.C.) descreveu metodologia rigorosa para a obtenção do conhecimento sobre os eventos recentes e as causas da guerra; reagindo a Heródoto, Tucídides não adotou a palavra “história”, mas foi neste gênero de pesquisa e narrativa que se situou; o historiador quis legar à humanidade um “tesouro para sempre” (<em style="list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;">ktêma eis aei</em>): o conhecimento das razões que levam à guerra e, logo, referências para que a prudência política evite este flagelo. A humanidade, porém, seguiu guerreando, pois, como anotou G.W.F. Hegel (1770 – 1831) no prefácio à <em style="list-style: none; margin: 0px; padding: 0px;">Filosofia do Direito</em> (1820), “a coruja de Minerva começa a voar apenas quando cai o crepúsculo”, e a História segue tão inútil quanto o voo tardio da coruja. Sofisticada, apurada, pretensiosa e inútil. </div>
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A escrita da História aprimorou-se na erudição de autores como Giambattista Vico (1668 – 1744) e Edward Gibbon (1737 – 1794), e no rigorismo cientificista do século 19. Leitor de Hegel, Karl Marx (1818 – 1883) quis converter a História em ciência prospectiva e identificou nas tensões das relações de produção a real causa da dialética; esta ciência até hoje ilumina a compreensão histórica, mas sua principal utilidade foi justificar dezenas de milhões de assassinatos, obra dos regimes totalitários socialistas que, nutridos por “ciência” histórica, aceitavam quaisquer meios pelo fim maior de redimir o proletariado rumo ao comunismo e, sobretudo, preservar o poder. Pouco antes, um tirano austríaco quase destruiu a Europa, nutrido por várias ciências, entre as quais a História, alma do nacionalismo suprematista. Quando a História vira autoridade, com o nome usurpado de ciência, a opinião torna-se verdade, cegueira e violência. Não pode um indivíduo, partido ou corporação deter o monopólio da verdade, da memória ou da narrativa histórica, sob risco de perder-se a liberdade e a ciência da complexidade do mundo. </div>
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No século 20, com os aportes da Antropologia, da Arqueologia, das Ciências Econômicas, da Ciência Política, da Filosofia, da História da Arte, da Linguística, da Psicologia, da Semiótica, da Sociologia, e de outras disciplinas, a História transformou-se e por fim superou a pretensão de hegemonia de um certo tipo de explicação histórica, materialista. Hoje, o historiador tem ao seu dispor um bom repertório de teorias e vocabulários; não há o menor consenso metodológico, e é bom que assim seja. Talvez o núcleo metodológico da disciplina siga sendo aquele herdado de Tucídides e aperfeiçoado em 1898 por Langlois e Seignobos: a crítica documental rigorosa e a determinação das fontes e fatos, princípios compartilhados com o Jornalismo e outras ciências, pouco ensinados nos cursos de História atuais. A História é uma expressão das Ciências Humanas, em diálogo com áreas correlatas e aberta à sociedade, que deve ser capaz de historiar, como cada um de nós deve ter memória; a pretensão de monopólio é um insulto à sua natureza interdisciplinar, bem como ao convívio harmônico com as demais disciplinas e a sociedade. </div>
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Chegamos, pois, ao ponto: a quem e para que serve a pretensão de monopólio corporativo que pauta esta regulamentação profissional? Além da finalidade medíocre e insustentável de garantir reserva de mercado, vai-se produzir outra casta cartorial, controlando um ofício livre e inofensivo, dando ilusão de poder a tecnocratas improdutivos, burocratizando o ofício, perturbando e ofendendo profissionais dignos, inibindo a evolução acadêmica, sem qualquer ganho social. A sociedade, caso conceda esta reserva de mercado, abrirá mão de parte importante da liberdade e fomentará litígios desnecessários nas ciências patrimoniais, hoje, aliás, muito mais complexas do que o imaginam os arautos do oficialismo historiográfico. A ABC e a SBPC, em carta de 10 de julho deste ano, em que pedem a imediata suspensão da tramitação do projeto de lei 4.699/2012, argumentam, corretamente, que “existem diversas áreas de pesquisa e ensino cujo nome inclui “História” e que, no Brasil e no exterior, são atividades que podem ser desenvolvidas por profissionais de outras áreas que não tenham diploma em História.” Isto inclui todas as histórias temáticas, que não são ensinadas nem como assunto nem como metodologia de pesquisa nos cursos de História no Brasil, e, especialmente, a área de História da Arte, em franco desenvolvimento e titular de tradição acadêmica própria e importante. A ANPUH (Associação Nacional de História), em documento dirigido à Sesu/MEC, postulou que as áreas de “História da Arte e História, Teoria e Crítica da Arte devam convergir para a denominação História – Bacharelado e História – Licenciatura”, mas estes assuntos, todavia, não compõem os currículos de ensino universitário de História no Brasil; eis indício preocupante dos fins a que pode se prestar esta regulamentação, provocando conflitos ilegítimos com outras áreas acadêmicas e com ameaças ao sentido de liberdade necessário à vida social e ao progresso da humanidade.
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Francisco Marshall* <a href="mailto:Historiador e arque%C3%B3logo, professor do Departamento de Hist%C3%B3ria do IFCH-UFRGS." style="color: #333333; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;" title="Historiador e arqueólogo, professor do Departamento de História do IFCH-UFRGS.">Historiador e arqueólogo, professor do Departamento de História do IFCH-UFRGS</a>
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éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-31688747417820956092013-08-02T07:46:00.002-03:002013-08-02T07:50:10.110-03:00 História de Palmares ganha nova cronologia com análise de fontes originais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<img src="http://www.agencia.fapesp.br/fotos/2013/31/foto_dentro17644_2.jpg" style="border: 0px;" /><br />
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Pesquisadora da Unicamp se debruça sobre documentos históricos que permaneciam inéditos desde o século XVII para entender as formas de dominação no período colonial</div>
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<b>História de Palmares ganha nova cronologia com análise de fontes originais</b></div>
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Por Frances Jones, <a href="http://agencia.fapesp.br/17644"><b>Agência FAPESP</b></a>
01/08/2013</div>
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Em 1678, o então rei dos Palmares firmou um acordo de paz com o governador de Pernambuco, a autoridade máxima sobre um território que englobava os atuais estados da Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, além de Pernambucano.</div>
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A negociação durou alguns meses e envolveu intérpretes, envio de embaixadas, presentes e libertação de prisioneiros. De um lado, Ganazumba (ou Gangazumba), tio de Zumbi, séculos depois apontado como símbolo da resistência contra a escravidão; de outro, dom Pedro de Almeida, governador prestes a voltar para Portugal.
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Até agora pouco estudado e comentado pela historiografia, o episódio vem ganhando contornos mais definidos sob a luz de documentos originais, boa parte deles inéditos. O material, manuscrito, inclui cartas, despachos de conselheiros do regente português, crônicas e até rascunhos encontrados em Portugal pela historiadora Silvia Hunold Lara, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em pesquisa realizada no âmbito do Projeto Temático<b><a href="http://bv.fapesp.br/pt/auxilios/880/trabalhadores-no-brasil-identidades-direitos-e-politica-seculos-xvii-a-xx" style="color: #6c8dbe; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">“Trabalhadores no Brasil: identidades, direitos e política (séculos XVII a XX)”</a></b>.</div>
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A documentação tem permitido que Lara e outros historiadores tracem uma nova cronologia sobre Palmares. “Em geral, a historiografia periodizou a história palmarina a partir das guerras feitas contra eles. Procuro me concentrar na formação dos mocambos [<i>os</i> <i>assentamentos de fugitivos</i>] e entender como eles se organizavam em termos políticos e militares”, disse Lara à<b>Agência FAPESP</b>.
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“A década de 1670 é importante porque marca o reconhecimento por parte das autoridades portuguesas e coloniais desse sobado (estado africano) em Palmares.<br />
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Os termos do acordo negociado em 1678 constituem a maior evidência disso”, disse a historiadora.
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Em seus estudos, Lara retoma teses de uma vertente da historiografia que dá ênfase às raízes africanas de Palmares, na qual se incluem os brasileiros Nina Rodrigues (1862-1906) e Edison Carneiro (1912-1972) e os norte-americanos Raymond Kent (1929-2008), Stuart B. Schwartz e John Thornton.
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De acordo com Lara, um documento-chave para entender Palmares é uma crônica anônima, com data atribuída a 1678, escrita logo depois do acordo de paz selado entre Ganazumba e o governo de Pernambuco, quando d. Pedro de Almeida volta a Portugal e vai mostrar seus feitos às autoridades portuguesas.
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“É uma crônica extensa, que faz uma história de Palmares, desde o seu início até 1678. Dá nome aos mocambos, descreve as relações entre os chefes militares e os chefes dos mocambos, conta as expedições feitas e equipara a uma conquista militar a vitória [<i>parcial</i>] obtida em 1677 por uma expedição que destrói os mocambos e está na origem do acordo de paz”, disse.
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O grande ponto, segundo a professora titular do Departamento de História da Unicamp, é que essa crônica sempre havia sido lida pelos estudiosos a partir de uma publicação na <i><b><a href="http://www.ihgb.org.br/publi1.php" style="color: #6c8dbe; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro</a></b></i> de 1859 – feita quase 200 anos após ser redigida.
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“As pessoas não viram o original, que estava perdido nos arquivos. Quando você olha o original, pode ver que houve transcrições incorretas”, disse Lara. Um bom exemplo é o dos nomes das lideranças palmarinas e dos principais mocambos ali descritos – com diferenças em relação aos consagrados pela historiografia.
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“A maior parte de quem lidou com Palmares trabalhou com uma documentação impressa. E quem transcreveu e publicou fez uma seleção. Ao ir às fontes e aos arquivos, localizei uma quantidade muito grande de fontes ao redor desses documentos transcritos, muitas nunca publicadas”, disse.
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Os achados estavam no Arquivo Histórico Ultramarino e no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, e na biblioteca pública da cidade de Évora, interior de Portugal.
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<b>Saindo da trilha dos Imbangala</b>
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Lara também parte de um trabalho publicado em 2007 por Thornton e pela historiadora Linda Heywood, da Boston University, nos Estados Unidos, sobre a história das guerras na África Central para estudar quem eram os africanos escravizados e trazidos para o Brasil que fugiram e acabaram se organizando em agrupamentos em vários pontos de uma extensa região nordestina ao norte do Rio São Francisco, caracterizada por matas de palmeiras.
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“Hoje conseguimos saber com um pouco mais de precisão quem eram as pessoas trazidas para cá: muito provavelmente eram falantes de kimbundu, língua africana da região do então reino de Ndongo, que ocupava o que hoje é uma região de Angola”, disse.
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Dos vários assentamentos de fugitivos – todos conhecidos nessa época como palmares –, um deles em especial se consolidou durante o período da ocupação holandesa (entre 1630 e 1654), formando uma rede de mocambos que se tornou conhecida depois como Palmares. Nove mocambos chegaram a abrigar no total cerca de 11 mil habitantes, de acordo com algumas fontes.
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“Todo mundo diz quilombo dos palmares, mas a palavra ‘quilombo’ é empregada deslocadamente nesse contexto e é anacrônica para designar Palmares. A palavra empregada naquele período para designar ‘assentamentos de fugitivos’ é mocambo”, afirmou Lara.
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Segundo a historiadora, “kilombo” é uma palavra africana que significa “acampamento de guerra”, usada pelos grupos nômades guerreiros Imbangala, da África Central. Historiadores como o norte-americano Stuart Schwartz, da Yale University, consideraram que a formação dos quilombos nas Américas estava relacionada a esses acampamentos guerreiros – daí a origem do termo.
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“Mas acho que essa não é uma matriz da formação dos assentamentos dos fugitivos no Brasil. Os kilombos Imbangala tinham rituais específicos, com morte de crianças, serragem de dentes e canibalismo. Como eram nômades, não tinham uma ligação territorial nem as linhagens que davam a legitimidade do poder, diferentemente do que ocorreu nos mocambos do interior de Pernambuco, onde se formou um reino linhageiro”, disse Lara.
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Os mocambos se organizavam segundo uma gramática política centro-africana, explicou a pesquisadora. Como nos sobados centro-africanos (os potentados locais da África), os chefes políticos dos mocambos do Nordeste mantinham relações de parentesco entre si e todos estavam subordinados a Ganazumba, conhecido como rei dos Palmares. “Esse sobado que se formou no interior de Pernambuco foi reconhecido pelas autoridades coloniais como um poder político independente, com o qual se podia negociar”, disse.
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<b>Mudança para Cucaú</b>
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A pesquisadora conta que a ideia de as autoridades coloniais fazerem acordos com fugitivos sempre existiu – e não apenas no Brasil. O de 1678, porém, foi o que mais progrediu. Boa parte dos habitantes dos mocambos de Palmares mudou-se para uma aldeia criada especialmente para recebê-los, Cucaú, e eles foram considerados livres.
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A paz, no entanto, não durou mais do que dois anos. Uma parte dos mocambos, liderada por Zumbi, rejeitou o acordo e ficou em Palmares. Seguidores de Ganazumba, como seu irmão Ganazona, participaram de buscas para trazer os que haviam permanecido no mato. Ganazumba termina assassinado e Cucaú, destruída, provavelmente por tropas coloniais. As pessoas que moravam lá voltaram à condição de escravos.
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“A história contada até hoje sobre Palmares é uma história militante e toda ela converge para o enaltecimento da figura de Zumbi como a grande liderança que jamais se curvou e resistiu à escravidão até ser morto em 1695; as pessoas reiteram e usaram a mesma documentação para dizer mais ou menos a mesma coisa”, ressaltou Lara. “Essa história passa muito rápido pelo acordo de paz. Tão rápido que os termos do acordo nunca foram publicados nas coletâneas de documentos feitas sobre Palmares.”
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Interessada em discutir as formas de dominação nesse período e o modo como africanos e indígenas lidaram com o domínio colonial, Lara recupera de todas as formas o acordo. “A história de Palmares, da maneira como a estamos estudando, ajuda a entender como a dominação colonial foi enfrentada e modificada pela ação dos índios e dos africanos na África e no Brasil.”
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Com o auxílio do Projeto Temático FAPESP, Lara e sua equipe montaram uma base de dados sobre Palmares, organizada de forma a ser disponibilizada para consulta pública on-line. Cerca de 2 mil documentos foram digitalizados e aos poucos estão sendo transcritos. “Espero que, dentro de dois anos, tudo esteja aberto para o público”, disse.
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Diversos bolsistas também produziram trabalhos relacionados à produção da base de dados. Um deles foi a monografia de graduação "Guerras contra Palmares: um estudo das expedições realizadas entre 1654 e 1695", de Laura Peraza Mendes, que ganhou prêmio de melhor monografia de graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp em 2011.
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Mendes defenderá sua dissertação de mestrado, que contou com Bolsa FAPESP ( <b><a href="http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/127403/as-expedicoes-contra-os-mocambos-de-palmares-e-os-dilemas-do-governo-colonial-em-pernambuco-1654-169">Expedições contra os mocambos de Palmares e os dilemas do governo colonial de Pernambuco, 1654-1695</a></b>), em agosto de 2013.
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Lara agora trabalha para transformar em livro a tese “Palmares; Cucaú: o aprendizado da dominação”, com a qual se tornou professora titular.
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éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-3520365090373627632011-04-19T17:31:00.002-03:002011-04-19T17:33:10.554-03:00Política indigenista no Brasil<div style="text-align: justify;"><b>Dia do Índio</b></div><div style="text-align: justify;">Ricardo Barros Sayeg, texto enviado pelo autor por mail</div><div style="text-align: justify;">19/04/2011</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estima-se que na época da descoberta do Brasil pelos portugueses, existiam cerca de cinco milhões de índios no território nacional, divididos em mil povos diferentes. Hoje em dia, são apenas 227 povos e sua população está em torno de 400 mil. As razões do extermínio dos povos nativos são muitas e estão ligadas às doenças trazidas pelos colonizadores, ao uso de armas a fim de conquistar seus territórios, à dominação cultural, entre tantas outras formas de dominação.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">No século XIX, com os avanços da biologia, em especial da epidemiologia, foi comum o homem branco utilizar-se de doenças como ferramenta de conquista de território. Um caso clássico se deu no Maranhão, na vila de Caxias. De acordo com o antropólogo Mércio Pereira Gomes, em 1816 fazendeiros da região, com o objetivo de apossarem-se de mais terras, resolveram “presentear” os índios locais com roupas de pessoas infectadas com a varíola (geralmente essas peças eram queimadas para se evitar a transmissão da doença). Os indígenas levaram essas roupas para suas aldeias e muitos acabaram morrendo, deixando muitas áreas livres para que os fazendeiros pudessem criar gado. Casos semelhantes ocorreram na região Amazônica e em toda América do Sul. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A fim de se redimir do extermínio causado aos povos nativos, o Brasil nomeou o Dia do Índio, comemorado em 19 de abril. A data foi instituída pelo presidente Getúlio Vargas por meio do Decreto-Lei 5540 de 1943 e celebra a mesma data em que, em 1940, várias lideranças indígenas do continente organizaram o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Muitos representantes das nações indígenas não participaram do Congresso temendo não serem ouvidas pelos homens brancos. Durante esse encontro foi criado o Instituto Indigenista Interamericano. O organismo, também com sede no México, tem como objetivo principal defender os interesses dos povos nativos da América em todo o continente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Brasil só aderiu à nova instituição devido à intervenção do Marechal Rondon. O militar foi um ardoroso defensor dos povos indígenas. Ele nasceu na cidade de Mimoso, no interior do estado do Mato Grosso. Seu pai era descendente de portugueses e sua mãe, de índios Bororós. Inicialmente foi professor e, em 1881, matriculou-se na Escola Militar do Rio de Janeiro. Foi indicado componente da Comissão Construtora das Linhas Telegráficas, explorando os sertões do Mato Grosso, no ano de 1892. Sua tese era: “matar nunca, morrer se necessário”. Foi ele o criador da primeira instituição de cuidados com os índios: o Serviço de Proteção ao Índio. Em 1967, foi então criada a FUNAI - Fundação Nacional do Índio. Esse organismo, vinculado ao Ministério da Justiça, tem como objetivo principal promover políticas de desenvolvimento sustentável das populações indígenas, aliar a sustentabilidade econômica à sócio-ambiental e implementar medidas de vigilância, fiscalização e de prevenção de conflitos em terras indígenas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesse 19 de abril devemos refletir, e muito, sobre o futuro dos povos indígenas no Brasil e no mundo. Afinal, temos muito a aprender com eles e devemos respeitá-los em sua cultura e suas características.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">*Ricardo Barros Sayeg é Professor de História do Colégio Paulista, Mestre em Educação pela Universidade de são Paulo, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.</div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-54476694535860235652011-04-19T14:42:00.004-03:002011-04-19T14:49:18.433-03:00dia do índio: quem é mesmo o selvagem?<b>Dia do Índio. Qual sociedade é composta por selvagens?</b><br /><br /><div>Por Leonardo Sakamoto, em seu <b><a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/04/19/dia-do-indio-qual-sociedade-e-composta-por-selvagens/">Blog</a></b><br /><br /></div><div>19/04/2011<br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Criança branca pintada de índio em escola de classe média alta é hype. Criança índia desterrada esmolando no semáforo é kitsch. Índio só é fofo se vem embalado para consumo.</div><p></p><div style="text-align: justify;">Hoje, 19 de abril, é Dia do Índio. Data boa para lembrar qual sociedade é, de fato, composta por selvagens. Vamos celebrar:</div><p></p>Dia do Índio se tornar escravo em fazenda de cana no <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2009/11/21/como-adestrar-indigenas-e-cana-neles-desde-cedo/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">Mato Grosso do Sul</a><p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio ser convencido que precisa dar sua cota de sacrifício pelo PAC e não questionar quando chega a nota de despejo em nome de hidrelétricas com estudo de impacto ambiental meia-boca</div><p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio armar um barraco de lona na beira da estrada porque foi expulso de sua terra por um grileiro</div><p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio ver seus filhos desnutridos passarem fome porque a área em que seu povo produziria alimentos foi entregue a um fazendeiro amigo do rei</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dia do Índio ser queimado em banco de ponto de ônibus porque foi confundido com um mendigo</div><p></p>Dia do Índio ser chamado de indolente<p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio ter ignorado o direito sobre seu território porque não produz para exportação</div><p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio ter negado o <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/05/07/a-luta-de-uma-indigena-pelo-corpo-de-seu-filho/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">corpo de filhos assassinados </a>em conflitos pela terra porque o Estado não faz seu trabalho</div><p></p><div style="text-align: justify;">Dia do Índio se tornar exposição no <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/02/28/lugar-de-indio-e-no-zoologico/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">Zoológico</a> da maior cidade do país como se fosse bichinho</div><p></p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Dia do Índio ser retratado como praga em outdoor no <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/02/24/indios-sao-agredidos-no-sul-da-bahia-de-novo/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">Sul da Bahia </a>por atravancar o progresso</p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Dia do Índio tomar porrada na <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2009/02/05/imagens-de-violencia-contra-indigenas-bolivianos/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">Bolívia</a>, no Paraguai, na Colômbia, no Peru, no Equador, no Chile, na Argentina, na Venezuela porque é índio</p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Dia do Índio ser motivo de <a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/2009/05/19/regina-duarte-tem-medo-de-indio/" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; ">medo de atriz de TV</a>, que acha que um direito de propriedade fraudulento está acima de qualquer coisa</p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Dia do Índio entender que a invasão de nossas fronteiras é iminente e, por isso, ele precisa deixar suas terras para dar lugar a fazendas</p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Dia do Índio sofrer preconceito por seus olhos amendoados, sua pele morena, sua cultura, suas crenças e tradições</p><p style="text-align: justify;margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; line-height: 19px; ">Enfim, Dia do Índio se lembrar quem manda e quem obedece e parar com esses protestos idiotas que pipocam aqui e ali. Ou será que nós, os homens de bem, vamos precisar de outros 511 anos para catequisar e amansar esse povo?</p></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-23385000738494530222011-01-30T12:58:00.004-02:002011-01-30T13:13:27.744-02:00O QUE ACONTECE NO EGITO? MELHOR NÃO PERGUNTAR PARA A VEJA.<div style="text-align: justify;">Por Francisco Bicudo, do blog do <b><a href="http://oblogdochico.blogspot.com/2011/01/o-que-acontece-no-egito-melhor-nao.html">Chico</a></b></div><div style="text-align: justify;">30/01/2011</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pode ser que eu seja o problema, muito chato, crica ou exigente. Mas as revistas semanais de informação brasileiras parecem definitivamente ter perdido pé da realidade e revelam-se cada vez mais distantes e desinteressadas de acontecimentos importantíssimos e que estão ajudando a recontar a história contemporânea. Neste final de semana, quem aguardava análises e relatos de fôlego sobre Tunísia, Egito e afins deu com os burros n'água.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto as ditaduras árabes no norte da África e no Oriente Médio são tensionadas, chacoalhadas e algumas até derrubadas por gigantescas manifestações de rua e revoltas populares, sabem qual a capa da <b><a href="http://veja.abril.com.br/020211/pop_up_capa.html">Veja</a></b> que está nas bancas? Uma instigante e imperdível "matéria" sobre a "renovação do bom-mocismo", estrelando os globais Angélica e Luciano Huck (segundo a revista, formam "um casal celebridade perfeito para um mundo politicamente correto"). Durma-se com um barulho desses. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outras duas não ficam muito atrás. Na <b><a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMT1171-15210,00.html">Época</a></b>, destaque para "O guia essencial dos imóveis"... <b><a href="http://www.istoe.com.br/capa">Isto É</a></b> abriu espaço principal para "O novo astro da fé", contando a trajetória de um ex-lavrador que agora comanda a igreja evangélica que mais cresce no país. Apenas <b><a href="http://www.cartacapital.com.br/tag/edicao-631">Carta Capital</a></b>, honrando os bons critérios jornalísticos e sintonizada com o interesse público, trouxe na capa "A convulsão árabe". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse descaso ajuda a explicar ao menos em parte o nosso profundo desconhecimento a respeito do que se passa em uma região estratégica e mais do que relevante do planeta. Estamos considerando não apenas sua dimensão histórica (berço das grandes civilizações antigas), mas também interesses e disputas políticas atuais (apoio dos Estados Unidos às ditaduras como forma de combater o que norte-americanos chamam de "eixo do mal", Irã e Hamas incluídos na lista, além do intuito de estabelecer um cinturão de proteção a Israel), variáveis econômicas (comércio, petróleo e área de passagem entre ocidente e oriente) e religiosas (presenças representativas das três grandes crenças monoteístas, com óbvio destaque para o islamismo). Mais recentemente, é preciso registrar ainda a cobiça pela água, bem raro e portanto valiosíssimo na região, que deve inclusive ser protagonista, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), de boa parte dos conflitos e guerras que darão o tom da segunda metade do século XXI. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Apenas essas razões - e, reconheço, o alcance da análise é limitado - já seriam suficientes para exigir uma cobertura midiática mais próxima, atenta e periódica da região. Mas como não é assim que acontece (o espelho do próspero colonizado lança olhares respeitosíssimos e de reverência ao norte desenvolvido, mas se recusa a focar o sul pobre, não raro abandonado e ignorado), somos invariavelmente pegos de surpresa. Estamos agora nos perguntando: o que está acontecendo no Egito? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É honesto admitir também que não sou especialista no assunto - muito longe disso, minha postura é muito mais de um curioso jornalista, professor e cidadão do mundo - e que não tenho assim a pretensão de pautar o debate ou de formular ou construir análises originais. Nada disso. O que procuro fazer neste post é muito mais sistematizar uma espécie de guia de leituras, a partir das pesquisas que fiz, trazendo à tona a contribuição de alguns textos e autores que, estes sim, me foram muito úteis e podem oferecer respostas bem mais precisas e profundas à questão acima colocada. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Jovens, desemprego, corrupção e liberdades</b></div><div style="text-align: justify;">Tomo a liberdade de recomendar que esse percurso comece com a reportagem de capa de Carta Capital (versão impressa, nas bancas, não disponível na internet). O jornalista Antonio Luiz Costa desenvolve uma espécie de viagem panorâmica mais aberta sobre o tema, analisando as diferentes manifestações de inquietações sociais nos países árabes (Tunísia, Argélia, negociatas da Autoridade Palestina com o governo de Israel) até pousar a lente de análise no Egito. Escreve ele que "afirma-se que o exército egípcio é mais poderoso que o da Tunísia e está ao lado do regime, mas mais poderosos e leais eram, supostamente, os do xá do Irã e da União Soviética. Diz-se também que há menos participação da classe média nos protestos, mas se isso for verdade, pode significar apenas que a reviravolta, se vier, será mais drástica e violenta". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em texto publicado no blog Viomundo, Luiz Carlos Azenha ressalta que os principais agentes mobilizadores das manifestações no Egito são os jovens desempregados, que não conseguem sequer se aproximar dos padrões de consumo que lhes são apresentados diariamente, pelas emissoras de televisão a cabo e via satélite. Para ele, "democracia nos países árabes resultaria em governos menos submissos aos Estados Unidos, mais 'antenados com as ruas' e, portanto, muito mais agressivos em defesa dos direitos e dos interesses dos palestinos".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para além do desemprego, jovens lutam também por liberdades e contra uma ditadura corrupta e sanguinária, encastelada no poder há 30 anos (Hosni Mubarak foi "eleito" presidente pela primeira vez em 1981). O jornalista britânico Robert Fisk, profundo conhecedor da realidade do mundo árabe, destaca em <b><a href="http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/fisk-no-egito-o-dia-do-acerto-de-contas.html">artigo</a></b> originalmente publicado pelo The Independent e reproduzido pelo Viomundo que "a sujeira das ruas e das favelas, os esgotos a céu aberto e a corrupção de todos os funcionários do Estado, as prisões sobrecarregadas, as eleições risíveis, o vasto, esclerosado edifício do poder, tudo isso, afinal, arrastou os egípcios para as ruas das cidades". Fisk afirma que o levante no Egito ainda não representa uma revolta islâmica, embora não descarte essa possibilidade. O jornalista, aliás, manifesta preocupação justamente com o vácuo de poder que pode surgir com uma eventual queda de Mubarak, já que a oposição organizada no Egito foi destroçada. "Onde estão as vozes de liderança?", pergunta.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A hipocrisia dos EUA e o silêncio da mídia</b></div><div style="text-align: justify;">Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), nos brinda com dois textos riquíssimos. No primeiro, mais precisamente uma <b><a href="http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4917499-EI6580,00-Egito+Falta+apoio+de+paises+a+movimento+diz+especialista.html">entrevista</a></b> publicada pelo portal Terra, o especialista lembra que por enquanto as manifestações concentram-se nas grandes cidades e que o medo de Estados Unidos e Israel é justamente que se espalhem como rastilho de pólvora por todo o país, a exemplo da Revolução Iraniana de 1979. Para Nasser, ainda falta apoio internacional aos jovens egípcios que tomam conta das ruas. Ele critica duramente o papel hipócrita desempenhados pelos Estados Unidos, duros nas críticas dirigidas ao Irã, mas condescendentes com as violações de direitos cometidas pelo regime tirano de Mubarak. "O Egito é a grande peça do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio, uma garantia contra os movimentos chamados radicais". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No segundo texto, <b><a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17333">artigo</a></b> publicado pela Agência Carta Maior, o professor da PUC/SP resgata indicadores demográficos e socioeconômicos do país. Atualmente, 80 milhões de pessoas vivem no Egito. Dois terços são jovens com menos de 30 anos - e 90% deles estão desempregados. 40% da população vive com menos de dois dólares por dia. E o país ocupa a trágica 101ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. "As mobilizações populares na Tunísia, no Egito, no Iêmen e em outros lugares são um alerta para o chamado mundo desenvolvido e seria um grande avanço para a democracia se esta região que permanece imersa na violência, em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio internacional nesse momento", reforça. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Diferenças importantes entre os levantes na Tunísia e no Egito são apontadas pelo articulista Gilles Lapouge, no jornal <b><a href="http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110129/not_imp672653,0.php">O Estado de São Paulo</a></b>. Segundo ele, a primeira nação pretendia-se moderna, laica e tolerante; por lá, a educação é notável, com jovens muito cultos. "Na Tunísia, são os jovens universitários que estão na origem dos tumultos. No Egito, quase não se veem estudantes. Estão lá, mas na espera". Mesmo reconhecendo afastamentos, no entanto, Lapouge admite as semelhanças entre os dois processos históricos. "Tanto no Cairo quanto na Tunísia, as ações são conduzidas por jovens e o fundamentalismo islâmico se mantém discreto". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O jornalista Raphael Tsavkko Garcia pondera, em <b><a href="http://tsavkko.blogspot.com/2011/01/protestos-no-egito-e-mobilizacao.html?utm_source=feedburner&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed:+Tsavkko+(Blog+do+Tsavkko+-+The+Angry+Brazilian)&utm_content=Twitter">texto</a></b> postado no blog dele, que um governo, ainda que uma ditadura, só consegue mesmo se sustentar enquanto o povo o considera legítimo. "Somente a legitimidade popular garante a sobrevivência de um regime. Chega um momento em que a pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases desse mesmo Estado". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com duras críticas ao silêncio da nossa mídia, que acaba por transformar o Egito quase em um ilustre desconhecido para todos nós, o também jornalista e blogueiro Eduardo Guimarães avalia, em seu <a href="http://www.blogcidadania.com.br/2011/01/brasil-descobre-o-egito/">Blog da Cidadania</a>, que "os choques entre população egípcia e as forças de repressão da ditadura estão sendo de um grande didatismo para a humanidade, ao deixarem claras as hipocrisias americana e midiática, que mantêm regimes contrários aos EUA sob fogo cerrado, enquanto silenciam sobre os regimes simpáticos à potência decadente do Norte, por mais criminosos que sejam". Pelas razões acima apontadas por Nasser, a mão que bate no Irã é a mesma que acaricia o Egito...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Redes sociais</b></div><div style="text-align: justify;">Termino o post sugerindo algumas reflexões e saudáveis provocações sobre o papel que as redes sociais estão desempenhando nas revoltas que se alastram pelo mundo árabe. Não são poucos os que afirmam que "as revoluções estão sendo tuitadas". (aliás, sobre o tema, sugiro a leitura de <b><a href="http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=620ENO002">artigo</a></b> escrito por Malcolm Gladweel e recentemente publicado pelo caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Reconheço a enorme importância e o caráter libertário dos blogues, do twitter, do facebook e de outras tantas ferramentas e a contribuição de todas para o desenrolar dos acontecimentos. Mas penso que é preciso relativizar o protagonismo a elas atribuído. Há uma certa sensação de "salvadores da pátria" no ar, quando, penso, a rede aparece fundamentalmente em dois momentos que, sim, são cruciais e estão diretamente conectados: comunicação (saber o que está acontecendo) e mobilização (capacidade de juntar as pessoas). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas, se o povo não estivesse nas ruas, o que afinal poderia ser tuitado? Será que se os manifestantes apenas permanecessem acomodados diante das telas de seus computadores e celulares, disparando fotos e mensagens, o governo da Tunísia teria de fato caído? Mubarak, todo-poderoso, estaria seriamente ameaçado? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Revolução ainda se faz na rua. Foi assim na França de 1789, na Rússia de 1917. Está sendo assim na Tunísia e no Egito de 2011. Ditadores têm mesmo é medo do povo gritando, enfrentando os tanques e as forças de repressão e chacoalhando os portões e as grades dos palácios. Tiranos tremem quando o povo assume sua condição de protagonista da História, ocupando espaços públicos. É nesse momento - quando o "extraordinário se torna cotidiano", como bem definiu Ernesto Che Guevara - que as revoluções acontecem. E, insisto, o extraordinário se concretiza nas ruas.</div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-53956012507074861122010-12-20T15:44:00.004-02:002010-12-20T15:48:55.443-02:00Conheça a história da participação feminina no processo eleitoral brasileiro<span class="Apple-style-span" style="border-collapse: separate; color: rgb(0, 0, 0); font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;font-family:'Times New Roman';font-size:medium;" ><span class="Apple-style-span" style=";font-family:Verdana,Geneva,sans-serif;font-size:12px;" ><div id="exibicao_video" class="span-72 last" style="width: 791px; float: left; margin-right: 0px; margin-top: 25px; background-image: none; height: 320px; text-align: center;"><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/js/player.swf" id="videoContainer" style="visibility: visible;" height="320" width="480"></object></div><div class="rodape_direitos span-72 last" style="width: 791px; text-align: center; font-size: 9px; color: rgb(102, 102, 102); margin-top: 5px; float: left; margin-right: 0px;">Todos os direitos autorais deste vídeo são reservados ao TSE. Cópias e edição são proibidas.</div></span></span><br /><br /><br /><br />Descrição do vídeo em destaque:<br /><br /><div style="text-align: justify;">Da década de 30 para cá, quando a mulher exerceu pela primeira vez o voto diante das urnas, a participação feminina na vida política do país vem ganhando espaço paulatinamente. Celina Guimarães Viana, a primeira eleitora, deu o passo inicial para alavancar de vez a democracia brasileira: atualmente há cinco milhões a mais de eleitoras, se comparado ao número do eleitorado masculino. Passados 80 anos, desde a participação feminina nas urnas, o Brasil elege a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da República. Acompanhe na reportagem de Sônia Campos a evolução das mulheres no processo eleitoral brasileiro.<br /></div>Informações sobre o vídeo:<br /><br />Categoria : Reportagens ( 553 vídeos )<br />Data: 16 de dezembro de 2010<br />Duração: 03:02 min<br />Tamanho: 8.6 MB<br />Produzido por: <a href="http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=get&id=1350485&toAction=VIDEO_HOT_VIEW">TSE</a>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-80060394910345423062010-12-20T15:44:00.000-02:002010-12-20T15:45:37.645-02:00Conheça a história da participação feminina no processo eleitoral brasileiro<span class="Apple-style-span" style="border-collapse: separate; color: rgb(0, 0, 0); font-family: 'Times New Roman'; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana,Geneva,sans-serif; font-size: 12px;"><div id="exibicao_video" class="span-72 last" style="width: 791px; float: left; margin-right: 0px; margin-top: 25px; background-image: none; height: 320px; text-align: center;"><object type="application/x-shockwave-flash" data="http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/js/player.swf" id="videoContainer" style="visibility: visible;" height="320" width="480"></object></div><div class="rodape_direitos span-72 last" style="width: 791px; text-align: center; font-size: 9px; color: rgb(102, 102, 102); margin-top: 5px; float: left; margin-right: 0px;">Todos os direitos autorais deste vídeo são reservados ao TSE. Cópias e edição são proibidas.</div><div id="informacoesVideos" class="span-72 last" style="width: 791px; float: left; margin-right: 0px;"><h2 style="margin: 30px 0px 0px; padding: 0px; font-size: 13px;">Descrição do vídeo em destaque:</h2><p class="MsoNormal" style="font-size: 12px; margin: 0cm 0.55pt 0pt 0cm; vertical-align: top; line-height: normal;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size:100%;">Da década de 30 para cá, quando a mulher exerceu pela primeira vez o voto diante das urnas, a participação feminina na vida política do país vem ganhando espaço paulatinamente. Celina Guimarães Viana, a primeira eleitora, deu o passo inicial para alavancar de vez a democracia brasileira: atualmente há cinco milhões a mais de eleitoras, se comparado ao número do eleitorado masculino. Passados 80 anos, desde a participação feminina nas urnas, o Brasil elege a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da República. Acompanhe na reportagem de Sônia Campos a evolução das mulheres no processo eleitoral brasileiro.<o:p></o:p></span></span></p><h2 style="margin: 30px 0px 0px; padding: 0px; font-size: 13px;">Informações sobre o vídeo:</h2><p style="font-size: 12px; margin: 0px;">Categoria :<b><span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=searchSimple&menu=tv&tipoOrigemMateriaId=3&toAction=VIDEO_HOT_LIST&tipoDestaqueId=101" style="color: rgb(0, 0, 0);">Reportagens ( 553 vídeos )</a><span class="Apple-converted-space"> </span></b><br />Data: 16 de dezembro de 2010<span class="Apple-converted-space"> </span><br />Duração: 03:02 min<span class="Apple-converted-space"> </span><br />Tamanho: 8.6 MB<span class="Apple-converted-space"> </span><br />Produzido por: <a href="http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=get&id=1350485&toAction=VIDEO_HOT_VIEW">TSE</a></p></div></span></span>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-22477360222412288912010-12-16T21:48:00.003-02:002010-12-16T22:10:56.994-02:00Brasil Condenado pela Corte da OEA pelo desaparecimento de 62 militantes do PCdoB<div style="text-align: justify;">Maria Inês Nassif: Corte da OEA fez o que o STF deixou de fazer</div><div style="text-align: justify;">16/12/2010</div><div style="text-align: justify;">por Maria Inês Nassif no Valor Econômico, via <b><a href="http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maria-ines-nassif-corte-da-oea-fez-o-que-o-stf-deixou-de-fazer.html">Viomundo</a></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fatalmente isso iria acontecer: a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pelo desaparecimento de 62 militantes do PCdoB, durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974. A decisão da Corte faz o que o Supremo Tribunal Federal (STF) não fez, em abril, quando teve oportunidade: reconheceu que os crimes dos agentes de Estado não são políticos, mas contra a humanidade.</div><p style="text-align: justify;">A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que questionava a anistia a representantes do Estado acusados de torturar e matar opositores políticos durante o regime militar (1964-1985), foi derrubada, no final de abril, por sete votos a dois.</p><div style="text-align: justify;">Prevaleceu a opinião do relator da matéria, ministro Eros Grau, de que não cabia ao Judiciário rever um “acordo político” que teria resultado no perdão para “crimes políticos” e “conexos”. Os fatos históricos não convalidam a tese de “acordo político”, e sequer a de “crime político”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Da mesma forma, é possível contestar os argumentos do presidente do Supremo, Cezar Peluso, que falou em “generosidade”, no “princípio da igualdade” e da “legitimidade” das partes que fizeram o suposto acordo. O princípio da igualdade é altamente duvidoso: a própria OAB apresentou ao STF o caso de 495 integrantes da FAB que não foram beneficiados pela anistia. Da “legitimidade” mais ainda, pois quem impôs a lei foi o último governo militar, que tinha o poder das armas e uma bancada governista manietada. Aliás, aprovou a lei com os votos de uma maioria obtida artificialmente nas urnas, graças a mudanças na legislação eleitoral e partidária impostas seguidamente pelo regime, à medida em que a oposição ameaçava sua hegemonia no Legislativo.</div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com sua decisão, o STF legitimou a anistia à tortura, considerada crime hediondo pela Constituição de 1988 – portanto imprescritível e inafiançável – , mesmo sabendo que os familiares dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia demandavam a condenação do país por esses crimes na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Anteriormente, a Corte havia anulado as auto-anistias dos regimes autoritários do Peru, da Argentina e do Chile. Era inevitável que fizesse o mesmo com o Brasil, na primeira ação relativa à ditadura militar no país julgada no âmbito da OEA. O risco de que uma decisão dessas do STF resultasse num constrangimento diplomático era evidente. O Brasil, afinal, é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos.</div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal; "><b>Judiciário faz parte do Estado que deve cumprir Convenção</b></span></div></b><p></p><div style="text-align: justify;">O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, disse ontem que a decisão da Corte não obriga o Supremo a rever o seu julgamento. Se não havia a intenção do Estado de cumprir um acordo internacional — e o Judiciário faz parte do Estado –, não existiriam razões para que assinasse a Convenção. Peluso jogou a responsabilidade para outras instâncias: nada impede ao Executivo indenizar ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, como tem feito; também é possível resgatar o passado. De resto, a decisão da Corte é só “sinalização”. Não interfere na decisão do STF.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O resgate histórico desse período negro, que é a bandeira de instituições comprometidas com os direitos humanos e familiares de mortos e desaparecidos do regime militar, não é uma questão pessoal. Essa reivindicação tem sido tratada como uma vingança dos opositores da ditadura, contrária à “generosidade” expressa por uma lei de anistia ampla. Não foi por falta de generosidade que países vizinhos abandonaram leis que anistiavam agentes de Estado que torturaram e mataram. Foi pela convicção – expressa pela Corte Interamericana — de que a democracia no continente apenas se consolidará se houver um acerto com o passado. É preciso, no mínimo, consolidar a cultura de que o passado não é um exemplo a ser seguido.</div><p></p><div style="text-align: justify;">O aparelho policial e militar foi altamente prejudicado pela presença de agentes que se acostumaram a viver à sombra e acima da lei. Quando se fala em abuso policial e do poder das milícias nas favelas do Rio, por exemplo, ninguém se lembra que a origem dessa autonomia policial diante das leis e perante o resto da sociedade remonta ao período em que o aparelho de repressão tinha licença para sequestrar, matar e torturar sem se obrigar sequer a um registro policial. E que a manutenção da tortura como instrumento de investigação policial existe, atinge barbaramente os setores mais vulneráveis da população e continua não sendo punido. A anistia a agentes do Estado tem se estendido, sem parcimônia, até os dias de hoje.</div><p></p><div style="text-align: justify;">Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras</div><p></p></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-8943202704818696352010-12-16T21:48:00.002-02:002010-12-16T22:09:04.312-02:00Brasil Condenado pela Corte da OEA pelo desaparecimento de presos políticos<div style="text-align: justify;">Maria Inês Nassif: Corte da OEA fez o que o STF deixou de fazer</div><div style="text-align: justify;">16/12/2010</div><div style="text-align: justify;">por Maria Inês Nassif no Valor Econômico, via <b><a href="http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maria-ines-nassif-corte-da-oea-fez-o-que-o-stf-deixou-de-fazer.html">Viomundo</a></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fatalmente isso iria acontecer: a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pelo desaparecimento de 62 militantes do PCdoB, durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974. A decisão da Corte faz o que o Supremo Tribunal Federal (STF) não fez, em abril, quando teve oportunidade: reconheceu que os crimes dos agentes de Estado não são políticos, mas contra a humanidade.</div><p style="text-align: justify;">A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que questionava a anistia a representantes do Estado acusados de torturar e matar opositores políticos durante o regime militar (1964-1985), foi derrubada, no final de abril, por sete votos a dois.</p><div style="text-align: justify;">Prevaleceu a opinião do relator da matéria, ministro Eros Grau, de que não cabia ao Judiciário rever um “acordo político” que teria resultado no perdão para “crimes políticos” e “conexos”. Os fatos históricos não convalidam a tese de “acordo político”, e sequer a de “crime político”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Da mesma forma, é possível contestar os argumentos do presidente do Supremo, Cezar Peluso, que falou em “generosidade”, no “princípio da igualdade” e da “legitimidade” das partes que fizeram o suposto acordo. O princípio da igualdade é altamente duvidoso: a própria OAB apresentou ao STF o caso de 495 integrantes da FAB que não foram beneficiados pela anistia. Da “legitimidade” mais ainda, pois quem impôs a lei foi o último governo militar, que tinha o poder das armas e uma bancada governista manietada. Aliás, aprovou a lei com os votos de uma maioria obtida artificialmente nas urnas, graças a mudanças na legislação eleitoral e partidária impostas seguidamente pelo regime, à medida em que a oposição ameaçava sua hegemonia no Legislativo.</div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com sua decisão, o STF legitimou a anistia à tortura, considerada crime hediondo pela Constituição de 1988 – portanto imprescritível e inafiançável – , mesmo sabendo que os familiares dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia demandavam a condenação do país por esses crimes na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Anteriormente, a Corte havia anulado as auto-anistias dos regimes autoritários do Peru, da Argentina e do Chile. Era inevitável que fizesse o mesmo com o Brasil, na primeira ação relativa à ditadura militar no país julgada no âmbito da OEA. O risco de que uma decisão dessas do STF resultasse num constrangimento diplomático era evidente. O Brasil, afinal, é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos.</div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal; "><b>Judiciário faz parte do Estado que deve cumprir Convenção</b></span></div></b><p></p><div style="text-align: justify;">O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, disse ontem que a decisão da Corte não obriga o Supremo a rever o seu julgamento. Se não havia a intenção do Estado de cumprir um acordo internacional — e o Judiciário faz parte do Estado –, não existiriam razões para que assinasse a Convenção. Peluso jogou a responsabilidade para outras instâncias: nada impede ao Executivo indenizar ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos, como tem feito; também é possível resgatar o passado. De resto, a decisão da Corte é só “sinalização”. Não interfere na decisão do STF.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O resgate histórico desse período negro, que é a bandeira de instituições comprometidas com os direitos humanos e familiares de mortos e desaparecidos do regime militar, não é uma questão pessoal. Essa reivindicação tem sido tratada como uma vingança dos opositores da ditadura, contrária à “generosidade” expressa por uma lei de anistia ampla. Não foi por falta de generosidade que países vizinhos abandonaram leis que anistiavam agentes de Estado que torturaram e mataram. Foi pela convicção – expressa pela Corte Interamericana — de que a democracia no continente apenas se consolidará se houver um acerto com o passado. É preciso, no mínimo, consolidar a cultura de que o passado não é um exemplo a ser seguido.</div><p></p><div style="text-align: justify;">O aparelho policial e militar foi altamente prejudicado pela presença de agentes que se acostumaram a viver à sombra e acima da lei. Quando se fala em abuso policial e do poder das milícias nas favelas do Rio, por exemplo, ninguém se lembra que a origem dessa autonomia policial diante das leis e perante o resto da sociedade remonta ao período em que o aparelho de repressão tinha licença para sequestrar, matar e torturar sem se obrigar sequer a um registro policial. E que a manutenção da tortura como instrumento de investigação policial existe, atinge barbaramente os setores mais vulneráveis da população e continua não sendo punido. A anistia a agentes do Estado tem se estendido, sem parcimônia, até os dias de hoje.</div><p></p><div style="text-align: justify;">Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras</div><p></p></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-50954823643735299902010-12-07T11:54:00.002-02:002010-12-07T11:58:23.646-02:00Iraque o país com mais desaparecidos no mundo<span style="font-weight: bold;">Siempre la madre o el padre de alguien, siempre el hijo de alguien: las personas desaparecidas de Iraq</span><br /><br />Por: Dirk Adriaensens<br />Tribunal BRussells<br />Traducido por Paloma Valverde<br /><br /><b>Desapariciones forzosas y personas en paradero desconocido</b><br /><br /><div style="text-align: justify;">Una desaparición forzosa (o bajo el auspicio de la ley) está definida en el artículo 2 de la Convención sobre la protección de personas frente a las desapariciones auspiciadas por ley, adoptada por la Asamblea General de Naciones Unidas el 20 de diciembre de 2006, al igual que el arresto, la detención, el secuestro o cualquier otra forma de privación de libertad llevada a cabo por miembros del Estado o por personas o grupos que actúan bajo la autorización, el apoyo o el consentimiento del Estado tras lo cual se produce la negativa a reconocer esta privación de libertad o a ocultar el destino o el paradero de la persona desaparecida, lo que la sitúa fuera de la protección de la ley. A menudo, las desapariciones forzosas suponen el asesinato; en tales casos, la víctima primero es secuestrada, después detenida ilegalmente y, con frecuencia, torturada; después es asesinada y el cuerpo se oculta. Típicamente, suele ser un asesinato secreto; se intentará que el cuerpo no se descubra de forma que parezca que la persona se ha desvanecido. Quien ha cometido el asesinado tiene presunción de inocencia, puesto que al no existir cuerpo no se puede demostrar que la víctima en realidad haya fallecido [1].El artículo 1 de la Convención señala además que “[…] no existe ningún tipo de circunstancias especiales, ya se trate de un estado de guerra o de amenaza de guerra, inestabilidad política interna o cualquier otro tipo de situación pública extraordinaria, que pueda invocarse como justificación para la desaparición forzosa” [2]. Ni Iraq ni Estados Unidos han ratificado esta convención [3]. Estados Unidos se ha negado a firmarla al aducir: “no cumple nuestras expectativas”, sin dar ninguna explicación [4]. Nuevamente, Estados Unidos se ha colocado por voluntad propia fuera de la legalidad internacional humanitaria.<br /><br />Según el Estatuto de Roma de la Corte Penal Internacional, que entró en vigor el 1 de julio de 2001, cuando la desaparición forzosa se lleva a cabo como parte de un ataque generalizado o sistemático dirigido contra cualquier población civil, se califica de crimen contra la humanidad y, por lo tanto, no está sujeta a las limitaciones del Estatuto [5].<br /><br />El 3 de agosto de 2010, a instancias del Consejo de Derechos Humanos, el Comité asesor del Consejo de Derechos Humanos se hizo cargo de los casos de personas desaparecidas. En su informe final, el grupo dio la definición de personas desaparecidas como: “Aquellas cuyas familias no tienen noticias de ellas y aquellas de las que se informa como desaparecidas, basándose en informaciones fiables; personas que han desaparecido como resultado de un conflicto armado, sea internacional o no. Los Estados, según la Ley Internacional Humanitaria como la Ley de Derechos Humanos, están obligados a tomar medidas para evitar que las personas desaparezcan [6].<br /><br />Ocupación, leyes de amnistía y reparaciones de guerra Durante las consiguientes discusiones sobre el asunto, los expertos pusieron de relieve cuestiones de importancia. Miguel D’Escoto Brockmann, relator del Comité Asesor y Curtis Doebbler, letrado especialista internacional en Derechos Humanos, afirmaron que lamentaban la decisión de limitar la definición de personas desaparecidas a los conflictos armados y llamaron la atención sobre las graves omisiones en el texto, incluso dentro de los límites de un conflicto armado. El hecho es que hoy, en un momento de ocupación de Iraq y Afganistán, se producen muchas desapariciones, y cada día más en Honduras.<br /><br />La amnistía fue también un asunto resbaladizo y se arguyó que las leyes de amnistía tienen que prohibirse para quienes hayan violado los Derechos Humanos. Es más, existe el legítimo derecho de reparación y también las familias tienen derecho a cualquier información sobre sus familiares desaparecidos, afirmó D’Escoto.<br /><br />Sea cual sea la definición que se decida para las “personas desaparecidas” o para las “desapariciones forzosas”, el problema en Iraq se puede considerar, desde cualquier punto de vista, como dramático e incluso apocalíptico. Desde que en 2007 Estados Unidos afirmó que aún estaban implicados en un “conflicto armado internacional” [7] las personas desaparecidas y los desparecidos forzosos después de la invasión de 2003 son, sin paliativos, responsabilidad de aquellos que iniciaron la guerra y de hecho siguen ocupando el país: Estados Unidos, Reino Unido y sus aliados y, por extensión, su impuesto gobierno marioneta. Todos ellos tienen la absoluta responsabilidad de los desaparecidos, de los asesinatos extrajudiciales y de la impunidad que ellos mismos han creado. Sus milicias y escuadrones de la muerte han torturado, asesinado brutalmente, enterrado en secreto y lanzado miles de cuerpos a las calles y a los ríos, muchos de ellos sin posibilidad de ser identificados.<br /><br /><b>Más de un millón de desaparecidos en Iraq</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Las estimaciones más burdas calculan que en Iraq han desaparecido un millón de personas. Según los datos de Naciones Unidas, Iraq es el país con mayor número de desaparecidos en el mundo. Las desapariciones en Iraq se han producido en distintos períodos de su historia, empezando por la guerra Irán-Iraq en 1980 y hoy se siguen produciendo de forma cotidiana. En este momento, los implicados más relevantes en las desapariciones son el ejército iraquí, la policía, milicias varias, Al-Qaera y el ejército estadounidense [8]. Paul-Henri Arni, director de la delegación regional de la Cruz Roja en Belgrado, afirmó que Iraq tras tres conflictos —una guerra con Irán en la década de 1980, la primera guerra del Golfo en 1991 y la invasión estadounidense de 2003— probablemente tenía el mayor número de desaparecidos en el mundo [9].<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Las famosas prisiones secretas de Iraq</span><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />La política de ambigüedad mantenida por las fuerzas de ocupación estadounidenses y el creciente fenómeno de las prisiones secretas estadounidenses en Iraq, que incluso las organizaciones internacionales no han sido capaces de localizar, añadido al gran número de prisiones secretas en Iraq —que un diputado del actual parlamento iraquí estimó que superaba el numero de 420— ha llevado a un enorme número de casos, de los que se ha informado o no, de desapariciones forzosas, tal y como han indicado al Alto Comisionado de Derechos Humanos de Naciones Unidas una serie de ONG durante el Control Anual sobre la situación de los Derechos Humanos de Naciones Unidas, en noviembre de 2010[10].<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Cientos de miles de iraquíes han sido objeto de abusos y torturas en las cárceles y en los centros de detención [11]</span><br /><br />. Decenas de miles de iraquíes han desaparecido durante los peores días de la guerra sucia, entre 2005 y 2007. Algunos fueron vistos mientras milicias uniformadas los secuestraban y apilaban en camiones; otros sencillamente parecieron haberse desvanecido. Wijdan Mikhail, ministro iraquí de Derechos Humanos, afirmó que sólo en 2005 y 2006 su Ministerio recibió más de 9.000 quejas de iraquíes que afirmaban que un familiar había desaparecido. Los grupos de Derechos Humanos sitúan el número total en una cifra mucho más alta. El destino de muchos de los iraquíes desaparecidos sigue siendo desconocido. Muchos están languideciendo en una de las famosas cárceles secretas iraquíes [12]. En septiembre de 2010, Amnistía Internacional publicó un informe titulado “New Order, Same Abuses” [“Un orden nuevo, los mismos abusos”] en el que menciona que “varios detenidos habían muerto estando bajo custodia iraquí debido a la tortura o a los abusos perpetrados por los interrogadores iraquíes y por los guardias de la prisión”. El informe dice también que “decenas de miles de iraquíes están encarcelados sin cargos y que los guardias no quieren confirmar el paradero de las personas desaparecidas a sus familiares, lo que para las familias que han perdido a uno de sus miembros ha supuesto uno de los aspectos más devastadores de la ocupación de Estados Unidos” [13].<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Decenas de miles de iraquíes buscan a sus desaparecidos.</span><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Desde la guerra de Iraq en 2003, decenas de miles de personas han buscado a sus familiares desaparecidos. Entre junio de 2006 y junio de 2007 el Instituto Anatómico Forense de Bagdad recibió alrededor de 20.000 cadáveres, menos de la mitad de los cuales se habían identificado, según datos de Cruz Roja. Los cuerpos no reclamados fueron enterrados en los diversos cementerios alrededor de la ciudad [14].<br /><br />Además, el Instituto Anatómico Forense de Bagdad informó que desde 2003 había estado recibiendo un promedio de 800 cadáveres al mes y que se veía incapaz de identificar a una significativa proporción de ellos [15].<br /><br />El 29 de agosto de 2007, el Comité Internacional de la Cruz Roja manifestó que “No saber el paradero de un miembro de la familia desaparecido como resultado de la guerra y la violencia durante la ocupación es una dura realidad para miles de iraquíes. Madres, padres, mujeres, maridos, hijas, hijos y toda la familia están desesperados por saber el paradero o el final de sus seres queridos. Las personas desaparecidas podrían haber sido capturadas, secuestradas o quizás asesinadas y enterradas en fosas comunes o pueden estar en un hospital en una situación crítica o permanecer en un lugar de detención secreto. En el fragor de los conflictos, los miembros de la familia pueden verse separados mientras huyen de las zonas de combate buscando un lugar seguro. A veces nunca vuelven a reunirse. Es responsabilidad de las autoridades asegurar el esclarecimiento del destino de estas personas desaparecidas [16].<br /><br /><b>Cadáveres sin reclamar por temor a las represalias</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />El informe bimensual de la Comisión de Derechos Humanos de Naciones Unidas del 16 de enero de 2007 decía: “La situación es especialmente grave en Bagdad donde los cuerpos no identificados de las personas asesinados mediante ejecución se hallan a diario en gran número. Con frecuencia, las familias de las víctimas son remisas a reclamar los cadáveres en los seis Institutos anatómico forenses del país por temor a las represalias. Las familias de los asesinados necesitan obtener un permiso de la comisaría que deben presentar en el Instituto, pero muchos de ellos están demasiado atemorizados y creen que los policías podrían ser responsables de las desapariciones y los asesinatos […] El Instituto Anatómico Forense de Bagdad informó del transporte semanal a los cementerios de Najaf y Kerbala de unos 200 cadáveres no identificados, cuyos familiares no los reclamaron por temor a las represalias. Además, hay informes de cuerpos que han sido enterrados en fosas comunes y no han sido registrados en las morgues” [17] y [18].<br /><br />“La inexorable violencia sectaria en Bagdad persigue a las víctimas incluso en las morgues”, era el titular del New York Times del 30 de julio de 2006. Las morgues se han convertido en una fuente de peligros, al menos para los árabes suníes. Las milicias chiíes han estado acampadas especialmente ante la morgue central de Bagdad y las autoridades han recibido docenas de informaciones sobre secuestros y asesinatos de árabes sunníes producidos allí [19]. Ni siquiera ir a visitar a un familiar al hospital es seguro [20].<br /><br /><b>2003-2010: ¿Medio millón de iraquíes desaparecidos?</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Las fuerzas ocupantes y las autoridades iraquíes tratan el problema de los desaparecidos y de las personas en paradero desconocido en Iraq con secretismo. Las cifras dadas por Estados Unidos y el gobierno iraquí son a la baja y no tienen la menor fiabilidad.<br /><br />Según el gobierno iraquí, miles de iraquíes están registrados como personas desaparecidas desde el inicio de la ocupación hace siete años, a pesar de que reconocen que esas cifras sean sólo una pequeña fracción del número real. Se cree que la mayoría de los que han desaparecido están muertos, pero incluso aquellos cuyos cuerpos han sido encontrados no siempre se han identificado enseguida; el 25 de mayo de 2009, el Dr. Munjid Salah al-Deen, el director de la morgue central de Bagdad, declaró al New York Times que su equipo trabajaba para identificar 28.000 cuerpos recibidos sólo de 2006 a 2008 [21].<br /><br />El informe de 20 de marzo de 2008 de la Media Luna Roja iraquí afirmaba que nada más iniciarse la guerra contra Iraq se habían registrado 70.000 casos de personas desaparecidas en el país [22]. Ni siquiera la Cruz Roja Internacional es inmune a la anarquía que asola Iraq: el 17 de diciembre de 2006, 30 de sus trabajadores fueron secuestrados de sus oficinas de Bagdad, 13 de los cuales siguen aún en paradero desconocido [23].<br /><br />Según el informe de junio de 2008 de la Cruz Roja Internacional, más del 82 por ciento de las personas desplazadas son mujeres y niños menores de 12 años. Los estudios del Alto Comisionado para los Refugiados de Naciones Unidas (ACNUR) realizados en 2009 afirman que el 20 por ciento de los desplazados y el 5 por ciento de los refugiados retornados denunciaron casos de niños desaparecidos [25]. Este hecho puede atribuirse a la violencia general, lo que incluye secuestros y posibles reclutamientos forzosos, entre otras cosas.<br /><br />En noviembre de 2009, la población total desplazada se calculó en 2,7 millones o 467.517 familias [27]. Si el 20 por ciento de esas familias informan de niños desaparecidos, un simple cálculo indica que han desaparecido más de 93.500 niños miembros de las familias desplazadas en el interior. Es más, muchas comunidades informan de miembros de las familias desaparecidos (el 30 por ciento de familias desplazadas en el interior, el 30 por ciento de familias desplazadas retornadas y el 27 por ciento de refugiados retornados) lo que indica que desaparecieron por raptos, secuestros y detenciones y que no saben lo que les ocurrió a sus familiares [28]. No obstante, un cálculo aproximado podría dar la cifra de 260.000 personas desaparecidas, la mayoría desapariciones forzosas, entre la población refugiada y los desplazados internos tras la operación Conmoción y pavor. El informe de ACNUR de 2009 menciona que la mayoría de los refugiados retornados habría huido por la violencia generalizada (el 51 por ciento), por amenazas o ataques (el 39 por ciento) y por las operaciones militares (el 3 por ciento). Uno de cada cinco iraquíes es refugiado o desplazado interno [29]. Si se extrapolan las cifras de ACNUR al 80 por ciento restante de la población, el número total de personas desaparecidas desde la operación Conmoción y pavor podría ser más de medio millón.<br /><br />El Dr. Muthana Hariz Al-Dari, presidente de la Asociación de Ulemas Musulmanes en Iraq, mencionó hace unos meses en una entrevista realizada a Al-Jazeera que desde 2003 alrededor de 800.000 iraquíes están desaparecidos. Afirmó que la Asociación de Ulemas ha documentado meticulosamente las personas desaparecidas desde 2003 y que podría justificar esta cifra con nombres y hechos.<br /><br />La guerra sucia para subyugar al pueblo iraquí La orgía de asesinatos en Iraq es parte de la estrategia de la guerra sucia de Estados Unidos, descrita por Seymour Hersh el 15 de diciembre de 2003 en el New York Times: “Un asesor estadounidense afirmó que ‘la única forma que tenemos de ganar es utilizar métodos no convencionales. Vamos a tener que jugar su juego. La guerrilla contra la guerrilla. El terrorismo contra el terrorismo. Tenemos que aterrorizar a los iraquíes hasta la sumisión […] la operación propuesta —denominada por uno de los asesores del Pentágono ‘caza preventiva humana’—tiene el potencial de convertirla en otro programa Fénix (de Vietnam) […] Necesitamos de todo punto una respuesta no convencional pero va a ser un caos’.” [30]. Caos… desde luego. Y la prensa occidental no va a informar de ello.<br /><br />Craig Murray, ex embajador británico en Uzbekistán, escribió en octubre de 2006: “[…] La prueba de que Estados Unidos contribuyó directamente a la creación de la actual guerra civil en Iraq mediante su estrategia de seguridad secretista es indiscutible. Históricamente, desde luego, esto no tiene nada de novedoso. Divide y vencerás es una estrategia de los poderes coloniales que ha sobrevivido a la prueba del tiempo. En realidad, ya se utilizó en la ocupación británica de Iraq hace ahora unos 85 años” [31].<br /><br />“Cuando las organizaciones de la Shía apoyadas y financiadas por Estados Unidos asesinan a un sunní no es la Shía la que mata a un sunní; no es la violencia sectaria: es Estados Unidos quien asesina a un sunní. Cuando una milicia Sunní, apoyada y entrenada por Estados Unidos, asesina a un chií, no es un sunní el que mata a un chií, no es la violencia sectaria, es Estados Unidos quien asesina a un chií. Cuando una milicia de seguridad kurda, armada por Israel y apoyada por Estados Unidos, asesina a un árabe, no es un kurdo el que mata a un árabe, no son asesinatos basados en el odio racial, es Estados Unidos e Israel quienes matan árabes. Cuando grupos musulmanes armados por Israel, apoyados y financiados por Estados Unidos, asesinan a un cristiano o grupos de cristianos asesinan a musulmanes no son los musulmanes quienes matan a los cristianos o viceversa, no es la violencia sectaría, es Estados Unidos e Israel quienes asesinan a musulmanes y cristianos […] y cuando el gobierno marioneta shií, apoyado y financiado por Estados Unidos, tortura y asesina a sunníes disidentes, no es la violencia sectaria, es Estados Unidos que apoya el terrorismo de Estado”, escribió Jonathan Azaziah [32]. Esta afirmación es cierta. Estados Unidos y Reino Unido organizaron la caza preventiva humana e Israel y las fuerzas aliadas iraquíes la utilizaron para violar, recluir, torturar y asesinar a millones de iraquíes. Millones de iraquíes fueron expulsados de sus casas, se convirtieron en desplazados internos y salieron al exilio. Estados Unidos, Reino Unido e Israel no son los únicos que llevan a cabo esta política de limpieza étnica. Hay también pruebas de la implicación iraní y su cooperación con las fuerzas ocupantes en actividades de los escuadrones de la muerte en Iraq.<br /><br /><b>Los datos de la morgue: prohibidos</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Iraq afirma que no tiene una base de datos centralizada para intentar relacionar los cadáveres enterrados en fosas comunes en los últimos años con la lista de nombres de personas desaparecidas. Tampoco hay registros de las víctimas de la violencia sectaria que han sido enterrados en lugares sin identificar. ¿De verdad Iraq no posee una base de datos centralizada para los cadáveres no identificados o se trata del gobierno iraquí corrupto que no desea aportar los datos reales porque están implicados hasta el cuello en los llamados asesinatos sectarios?<br /><br />El 7 de septiembre de 2006, The Washington Post informó de que desde el inicio de la guerra contra Iraq, el asunto de las bajas de civiles había sido un tema caliente en el ámbito político. Muy poco después de la invasión, Estados Unidos y los dirigentes iraquíes prohibieron a los responsables médicos de Bagdad dar las cifras de la morgue [33].<br /><br />A IPS se le negó el acceso a la morgue central de Bagdad, y se le dijo a la agencia “que los periodistas tenían prohibido dar información sobre las condiciones en el interior”, escribieron Brian Conley e Isam Rashid el 7 de junio de 2006. “Faik Bakr, el último director de la morgue, recibió amenazas de muerte porque declaró que en los meses anteriores hubo más de 7.000 iraquíes asesinados a manos de los escuadrones de la muerte”, afirmó un empleado a IPS. “La mayoría de los muertos llegan con las manos atadas a la espalda” [34].<br /><br />El 6 de octubre de 2006, Global Security afirmó que “las estadísticas parciales dadas a conocer por el Ministerio del Interior indican que desde agosto a septiembre se ha producido hasta un 42 por ciento de incremento en la tasa de mortalidad de los civiles. Según el ministro, en septiembre murieron 1.089 civiles frente a los 769 que murieron en agosto y los 1.065 en julio. El número aparentemente no incluye los cuerpos sin identificar que pasaron por la morgue de Bagdad en un mes determinado. La morgue ha recibido órdenes de no dar más datos [35]. en ese período Las cifras de la morgue de Bagdad, tal y como informaron los noticiarios como ABC News, fueron mayores que el número oficial de muertos: en junio, 1.595 cuerpos; en julio 1.855 y en agosto 1.535.<br /><br />El gobierno iraquí dio instrucciones a todos los responsables de seguridad y de sanidad para que no se filtrara a los medios de comunicación el número de muertos. A diario y por todo Bagdad se encontraban docenas de cadáveres, “[…] no estamos autorizados a dar las cifras pero le puedo asegurar que aún seguimos recibiendo cadáveres a diario; los hombres no llevan identificación encima”, afirmó, el 19 de febrero de 2008, un médico de la morgue a IPS [37]. En el momento álgido de los asesinatos entre 50 y 180 cadáveres diarios eran arrojados en las calles de Bagdad y muchos llevaban signos de tortura, como perforaciones o quemaduras de cigarrillos [38].<br /><br />La presión política para rebajar las cifras El 10 de agosto de 1006, Reuters mencionó que los ministros iraquíes de Sanidad, Interior y Defensa daban, de manera sistemática, cifras más bajas que las que emitía la morgue [39].<br /><br />El 19 de marzo de 2008, The Guardian informó de que “[…] no hay ausencia de datos, sino que estos varían enormemente. Inicialmente, el ministro de Sanidad intentó mantener una estadística basada en los datos de la morgue pero después dejó de dar cifras por las presiones del gobierno impuesto por Estados Unidos en la Zona Verde. El director de la morgue de Bagdad, ya bajo estrés debido al incremento del horror al que se enfrentaba en su trabajo diario, fue amenazado de muerte porque las estadísticas que publicaba los dejaban en mal lugar. Las familias de los difuntos querían que dijese la verdad pero como otros profesionales se dio cuenta de que tenía que huir de Iraq. El Dr. Salih Mahdi Motlab al-Hasanawi, el ministro de Sanidad nombrado tras la prohibición de dar cifras oficiales de la morgue, dijo que las estadísticas estaban motivadas por la controversia de las cifras de bajas de civiles [40].<br /><br />Un portavoz del Ministerio de Sanidad afirmó que el ministro había requerido a los responsables sanitarios en Bagdad para que no recibieran ningún cuerpo sin identificar y que éstos únicamente podían recibirse en las morgues [41].Un alto cargo internacional en Bagdad afirmó que responsables del Ministerio de Sanidad habían citado una tasa de mortalidad mucho mayor antes de que la tuvieran que reducir en respuesta a lo que definió como presión política. No obstante, el 7 de septiembre de 2006 el ministro de Sanidad confirmó que estaba previsto construir dos nuevas morgues filiales en Bagdad con dotación médica y unidades de refrigeración para aumentar la capacidad a 250 cadáveres diarios. Los planes de expansión de la morgue demuestran de manera dramática el aumento de la violencia en Bagdad desde la invasión de Estados Unidos.<br /><br />En 2002, antes de la entrada de las fuerzas estadounidenses en Iraq, la morgue de Bagdad recibía, según sus responsables, una medida de 15 personas al mes víctimas de disparos. La mayoría de los cuerpos que recoge la morgue de Bagdad no están identificados y permanecen así durante largos períodos de tiempo a la espera de poder ser identificados [42].<br /><br /><b>Los profesionales de los medios advertidos de no escribir sobre los crímenes de la ocupación</b><br /><br />La falta de voluntad de solucionar la desaparición de personas y los cadáveres sin identificar corre paralela a la falta de interés en contabilizar con rigor los muertos. Muchos expertos han dicho que el recuento de los muertos civiles es incompleto. Richard Brennan, que ha realizado las investigaciones sobre mortalidad en Congo y Kosovo, afirmó que los datos de mortalidad en Iraq están “tremendamente por debajo de la realidad” porque muchas muertes se producen en zonas de guerra sobre las que no se informa. Las cifras de Iraq Body Count son aún más incompletas ya que muchos de los asesinatos han ocurrido en zonas de las que los periodistas no tenían siquiera conocimiento o que eran inaccesibles [43]. Medialens mencionó que una investigación sobre los muertos en Guatemala desde 1960 a 1996 concluyó que el número de muertes de las que la prensa informaba decrecía a medida que la violencia aumentaba, lo que coincidía con el asesinato de periodistas [44].Los profesionales de los medios en Iraq han sido amenazados, secuestrados y 355 —de los cuales 325 eran iraquíes— fueron asesinados, según la relación publicada por el Tribunal BRusells: una relación que sobrepasa la tasa media de muertos en cualquier otra zona de guerra en la historia [45]. A los periodistas occidentales empotrados se les permitió informar desde la seguridad de la Zona Verde y a menudo repetían la voz de su amo (Centcoom). ¿Cómo es posible que toda la verdad sobre el número de muertos iraquíes y la limpieza étnica salga a la luz en tales condiciones adversas?<br /><br />Probablemente muchas muertes producidas en las zonas periféricas a Bagdad nunca aparezcan en los registros oficiales, según afirmó el 15 de agosto de 2006 Anthony H. Cordesman, un analista militar del Centro para la Estrategia y los Estudios Internacionales, un grupo de investigación de Washington. Esto ayuda a comprender por qué las muertes en Bagdad suponen un gran porcentaje del número total, según un informe de 2006 [46].<br /><br /><b>Informaciones sobre cadáveres no identificados</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />El 6 de febrero de 2009, Dahr Jamail, uno de los pocos periodistas no empotrados, informaba de que en la zona bagdadí de al-Adhamiya, que antes era un parque, se había convertido en un cementerio con más de 5.500 tumbas. El primer cuerpo fue enterrado el 21 de mayo de 2006. “De la mayoría de los cadáveres enterrados aquí la prensa nunca ha informado”, declaró a Jamail Abú Ayad Nasir Walid, de 45 años y director del cementerio. “La mayor parte de los muertos nunca los registró nadie”, dice Ali, un enterrador, “porque nosotros no comprobamos los certificados de defunción; sólo intentamos enterrar los cuerpos lo más rápidamente posible. Yo anoto los nombres en mi agenda pero nadie del gobierno ha venido jamás a preguntar cuánta gente hay enterrada aquí. Tampoco parecen interesados ni la prensa ni el Ministerio de Sanidad” [47].<br /><br />Estos enterramientos —y hay muchos— ponen de manifiesto las dudas sobre el número ‘oficial’ de desaparecidos forzosos y de personas con paradero desconocido en Iraq.<br /><br />Ya el 17 de agosto de 2005 —medio año antes de los atentados de la mezquita de Samarra— Robert Fisk informó de que se calculaba que la morgue de Bagdad había recibido sólo en julio unos 1.100 cadáveres, la mayoría de ellos ejecutados, con las vísceras arrancadas, acuchillados, apaleados y torturados hasta la muerte. El número es secreto, escribió, pero estas cifras implican un aumento del 85 por ciento si las comparamos con las cifras para el mismo mes antes de la invasión liderada por Estados Unidos. Las últimas cifras muestran una tendencia al aumento: en 2004 y 2003, las cifras de julio fueron de 800 y 700 respectivamente. En comparación con períodos equivalentes para 1997, 1998 y 1999, las cifras no alcanzaron los 200. “Llevaron tantos cuerpos a la morgue que había que apilarlos. Los cuerpos sin identificar se entierran pasados varios días por falta de espacio, pero la municipalidad está tan saturada por el número de asesinatos que ya no pueden dar el servicio de coches ni de personal para trasladar los restos mortales a los cementerios [48] [49].<br /><br />El informe del Comité Internacional de la Cruz Roja del 17 de abril de 2006 calculó que unos 100 civiles morían asesinados a diario, de los que la mitad siguen sin identificar o sin ser reclamados. Así, se han enterrado miles de cuerpos sin identificar en los cementerios de Iraq. Cada tres o cuatro días se enviaban cuerpos a enterrar simplemente para hacer sitio para los cadáveres entrantes en el día, lo que hacía que la identificación fuera inviable en ese lapso de tiempo [50]. Entre tanto, decenas de miles de personas estaban bajo custodia de las autoridades iraquíes y de la fuerza multinacional en Iraq. Al mismo tiempo, decenas de miles de familias seguían sin noticias de sus familiares que habían desaparecido durante los conflictos recientes y pasados [51]. Hoy existe un nuevo trabajo en Bagdad. Por un dinero, algunas personas rebuscan en los vertederos y en las márgenes de los ríos. ¿Cómo puede vivir la gente con tal grado de violencia y no estar permanentemente aterrorizado? [52].<br /><br /><b>Las cifras de la morgue de Bagdad Como en 2006</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />la violencia seguía en aumento en la capital iraquí, la tarea de buscar a los desaparecidos se convirtió en una prueba sombría y espantosa. Las escasísimas agencias de investigación de Iraq estaban mal dotadas para investigar un crimen de tal magnitud, por lo que para las familias buscaban información las morgues a menudo eran las que aportaban la única certeza [53].<br /><br />El 16 de abril de 2006, Munjid al-Rezali, director de la morgue central de Bagdad, afirmó que en 2006 llegaron al menos 30.000 cadáveres a la morgue central tras el pico de violencia sectaria y sólo un tercio han sido identificados. “En 2006, había una media de 3.000 cadáveres al mes. Yo denomino a eso el año del horror [54]. Sólo en 2006, la morgue de Bagdad recibió alrededor de 16.000 cadáveres sin identificar, la mayoría de ellos víctimas de los escuadrones de la muerte y de otro tipo de violencia sectaria, según declaraciones de un trabajador de la morgue realizadas el 14 de enero de 2007 [55].<br /><br />“El 90 por ciento de los cadáveres recibidos en 2006 estaban sin identificar frente al 50 por ciento en 2007 y al 15 por ciento en 2008”, afirmó el Dr. Munjid Salahudin, director del Instituto de Medicina forense el 25 de octubre de 2009 [56]. Naciones Unidas, que cita las cifras del Ministerio de Sanidad iraquí, informó que en septiembre de 2006 se habían encontrado 1.471 cadáveres en Bagdad y 1.782 en octubre del mismo año [57].<br /><br /><b>Desaparición de cuerpos no identificados del cementerio de Wadi a- Salam de Najaf<span class="Apple-converted-space"> </span></b><br /><br />Existen claves para contar el número de cadáveres no identificados, como el número de personas enterradas en el principal cementerio chií de la ciudad sagrada de Najaf. Un gran porcentaje de las personas allí enterradas siguen sin estar identificadas. Pero incluso allí, las muertes están limitadas esencialmente a chiíes que han fallecido tanto por causas naturales como violentas. Amar al-Izari, director de la oficina de estadísticas del cementerio, afirma que el número de enterramientos aumentó de 32.000 en 2004 y 2005 hasta casi 50.000 en 2006 y 54.000 en 2007. El año pasado el número cayó hasta los casi 40.000 como resultado del ligero descenso de la violencia. No hay estadísticas anteriores a la guerra porque los documentos están destruidos por las batallas [58].<br /><br />El 9 de septiembre de 2007, Middle East Online informó que desde que se inició la invasión estadounidense de Iraq se habían enterrado hasta 40.000 cadáveres sin identificar en el cementerio de Wadi al-Salam de Najaf, según los datos aportados por Ahmed Di’aibil, un portavoz del gobierno de Najaf. Todos los cadáveres están numerados y fotografiados y la ubicación de su enterramiento registrada. Los datos están anotados en un registro con la esperanza de que finalmente las familias puedan identificar los cuerpos. Miles de cuerpos más han debido de ser abandonados en los desiertos que rodean Najaf [59]. Antes de la invasión de Iraq, los voluntarios enterraban hasta 40 personas al mes. En los peores meses de la ocupación esta cifra se multiplicó por 50 y los voluntarios llegaron a enterrar a un promedio de más de 2000 víctimas de la ocupación al mes, según informó 15 de septiembre de 2007 Michael Ware, periodista de la CNN [60].<br /><br />Ya el 17 de septiembre de 2004, Robert Fisk escribió: “En Bagdad cada día se llevan a las morgues hasta 70 cadáveres de iraquíes, asesinados por bala. Por ejemplo, en Najaf, las autoridades de los cementerios registran a diario la llegada de hasta 20 cadáveres víctimas de la violencia” [61], una cifra que multiplica por 15 los datos de antes de la guerra y desde 2004 la situación empeoró paulatinamente.<br /><br />Ignoro si ustedes saben que el gobierno marioneta decidió enterrar muchos de los cadáveres no identificados encontrados en Bagdad en el cementerio chií de Najaf (Dar a- Salam) simplemente para dar la impresión de que muchos de los asesinatos se producían entre los shiíes mientras sus milicias asesinaban a sunníes en Bagdad y sus alrededores.<br /><br />Cuando consideramos esas cifras, un sencillo cálculo nos basta para llegar a la conclusión de que desde marzo de 2003, probablemente unos 80.000 cadáveres no identificados hayan sido enterrados en el cementerio de Najaf.<br /><br />El 25 de octubre de 2009 Associated Press mencionó que en el cementerio de Najaf había una nueva zona para “los cadáveres no identificados y no reclamados, alrededor de unos 22.000”, según datos oficiales [62]. Por lo tanto, entre 2007 y 2009, la mitad de los cuerpos no identificados parece que se han desvanecido. ¿Alguien puede explicar qué ha ocurrido con esos cadáveres?<br /><br /><b>Información arbitraria sobre cadáveres no identificados fuera de Bagdad<span class="Apple-converted-space"> </span></b><br /><br />El 17 de julio de 2007, la BBC citó al director del Departamento forense del hospital de Kut (provincia de Wasit) sobre el constante flujo de cadáveres: “Hasta ahora hemos estado recibiendo unos 500 cadáveres, la mayoría de ellos con signos de tortura. Están en avanzado estado de descomposición, por lo que no se puede estar mucho tiempo cerca de ellos”. Tardaron casi tres días en que la corriente los arrastrara desde dónde los habían tirado. La mayoría de ellos siguen sin ser identificados [63].<br /><br />El 8 de febrero de 2008, [la ONG] Voices of Iraq informó de que el número de cadáveres no identificados enterrados en Kerbala desde junio de 2006 alcanzó la cifra de 2.043 [64].<br /><br />Desde diciembre de 2006 hasta febrero de 2007 el número de cadáveres enterrados sin identificar en fosas comunes en la provincia de Wassir, situada a 180 kilómetros de Bagdad, fue de 177 [65].<br /><br />El 17 de julio de 2007, en una información de IPS desde Baquba (en el centro de la provincia de Diyala) se citaba a Nima Jimaa, un responsable de la morgue: “La morgue recibe una media de cuatro o cinco cadáveres al día. Muchos más se lanzan a los ríos y a las granjas o a veces sus asesinos los entierran por diversas razones. Las cifras que registramos aquí son sólo una parte de los asesinatos. Con frecuencia, las familias son incapaces de identificar y recuperar los cadáveres. Es extremadamente peligroso moverse por la ciudad, además muchos cadáveres nunca llegan a la morgue para ser identificados o contabilizados [66].<br /><br />El 11 de noviembre de 2005, Iraqi Monitoring Network for Human Rights (MHRI en sus siglas en inglés) informó de las más de 280 personas desaparecidas de la ciudad de Faluya. Su destino sigue sin conocerse a día de hoy. Esas personas están oficialmente registradas por las autoridades de la ciudad con sus nombres y fotos. Por otro lado, se calcula que el número total de personas desaparecidas en Faluya supera los 500 [67].<br /><br />En cada ciudad y en cada pueblo de Iraq hay historias similares sobre las desapariciones forzosas o las personas en paradero desconocido. No hay información disponible de Mosul, Basora, Ramadi, al-Qaim, Hadiza ni de muchas otras ciudades y pueblos dónde se han producido limpiezas étnicas.<br /><br /><b>Aumento de tropas: aumento de desparecidos y cadáveres sin identificar.</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />En agosto de 2007, IraqSlogger reveló que la presencia de Estados Unidos en Bagdad durante el incremento de tropas [the surge] había demostrado que prácticamente no se había producido ningún progreso en la erradicación de la violencia sectaria de los escuadrones de la muerte que inundaba la capital. Entre el 18 de junio y el 18 de julio de 2007, se encontraron abandonados, por distintos lugares de Bagdad, hasta 592 cadáveres sin identificar [68].La mayoría de los cadáveres encontrados por la policía —en un promedio de 20 al día— estaban atados, con los ojos vendados y habían sido ejecutados de un disparo, víctimas de la violencia sectaria de los escuadrones de la muerte. Además, muchos presentaban signos de tortura o mutilaciones. A pesar de las declaraciones en contra de los dirigentes iraquíes y estadounidenses, las informaciones indicaban que el número de cadáveres sin identificar en la capital había aumentado de nuevo a los niveles anteriores al incremento de tropas en mayo y junio de 2007 [69].<br /><br />Según las estadísticas del Ministerio del Interior iraquí, el número de cadáveres sin identificar encontrados en Bagdad aumentó más del 70 por ciento durante mayo de 2007 respecto a los primeros meses del mismo año, a pesar del absurdo optimismo del gobierno de Bush y del general Petraeus respecto a que “el aumento de tropas funcionaba”. Las cifras, además, demostraron un descenso en el número de muertes de víctimas identificables en Bagdad, de las 495 de abril a las 344 de mayo. Hay que tener en cuenta que normalmente las víctimas de coches bomba, artefactos de fabricación casera o ataques de mortero pueden ser identificadas, pero no así las víctimas que fueron secuestradas, torturadas y asesinadas porque antes de que sus cadáveres sean arrojados a cualquier lugar, les despojan de todo lo que pueda servir para su identificación [70].<br /><br />En el informe del semestre enero-junio de 2008 sobre Derechos Humanos de la UNAMI se afirma que “se ha encontrado un gran número de cuerpos sin identificar en Diyala, Nínive, al-Anbar y Diwaniya, pero especialmente en Bagdad. Muchos de esos cuerpos tenían signos de tortura: algunos llevaban los ojos tapados y otros estaban decapitados” [71].<br /><br />El 6 de febrero de 2009, el informe del Grupo de trabajo sobre desaparecidos, que investiga la situación en Iraq, informaba de que el número de casos al inicio del período estudiado (del 1 de diciembre de 2007 al 30 de noviembre de 2008) fue de 16.387 [72].<br /><br /><b>Desapariciones en los controles militares<span class="Apple-converted-space"> </span></b><br /><br />Según declaró el 6 de junio de 2007 Mujaled al-Aani, portavoz de la ONG iraquí Human Rights Association (HRA en sus siglas en inglés), el número de personas desaparecidas tras ser detenidas en los controles militares en la capital se había incrementado significativamente desde febrero de 2007. El ministro iraquí de Derechos Humanos afirmó que estaban investigando muchos casos de iraquíes desaparecidos después de haber sido detenidos en los controles militares, pero afirmó que “los oficiales de la Policía han demostrado sobradamente que no tienen nada que ver con las desapariciones” [73], lo que contradice los muchos relatos de testigos. Por ello, es perfectamente comprensible que la evidente falta de justicia en Bagdad lleve a muchos de sus residentes a no confiar en las autoridades, ya sea el ejército, la policía o los responsables gubernamentales [74].<br /><br />Un estudio de caso: el Ministerio de Sanidad, una institución muy insana Ali Al-Shimari, ministro de sanidad en 2006, pertenecía al movimiento político de Moqtada as-Sáder, en el mismo momento que su brazo armado, el Ejército del Mahdi, actuaba con impunidad en los hospitales. Enfermos y heridos fueron secuestrados de los hospitales públicos y más tarde asesinados. Como consecuencia, más y más iraquíes evitaban los hospitales. “los hospitales se han convertido en campos de batalla”, afirmó Abú Nasr [75].Ali al-Shimari huyó del país tan pronto como las acusaciones de crímenes sectarios se presentaron contra responsables del ministerio. Estados Unidos dio asilo político a al-Shimari [76]. Después del ataque de la mezquita Askariya de Samarra (también conocida como la Mezquita dorada) el 22 de febrero de 2006 [77], Alí al-Shimari y su lugarteniente Hakim al-Zamili, un comandante del Ejército del Mahdi convirtió el Ministerio de Sanidad en un centro de tortura y asesinatos. En septiembre de 2006, cuando las calles de Bagdad estaban ahogadas por los miles de cuerpos brutalmente asesinados, el primer ministro Nouri al-Maliki ordenó al Ministerio de Sanidad que no aportara más cifras sobre muertes a Naciones Unidas, como habían hecho con anterioridad [78]. El 8 de febrero de 2007, las fuerzas de ocupación asaltaron el Ministerio y detuvieron a Hakim al-Zamili, a quien acusaron de financiar presuntamente a las milicias: utilizaba las ambulancias y los hospitales para llevar a cabo sus asesinatos: fue un sospechoso clave en el secuestro y (presunto) asesinato de su colega Ammar al-Saffar, que era además el segundo del Ministerio de Sanidad [79]. Después de dos días de un juicio deslucido por las acusaciones de intimidación por parte de los testigos, los cargos se retiraron y Zamili quedó en libertad tras un año bajo custodia estadounidense [80]. Según fuentes fiables iraquíes, Hakim al-Zamili asesinó a 160 personas, entre ellas al Dr. Raad al-Mahdawy, sunní, director general del Departamento de Salud en Diyala. Según algunos testigos, la puesta en libertad en 2009 de al-Zamili, fue parte del trato para la devolución de los cinco británicos que una oscura milicia, conocida como Resistencia Islamica Chií en Iraq, mantuvo secuestrados durante dos años. Este grupo de británicos fueron secuestrados en mayo de 2007 por un grupo de unos 40 hombres “disfrazados” de policías iraquíes mientras estaban instalando un software anti-corrupción en el Ministerio iraquí de Finanzas [81]. Las autoridades iraquíes actuaron como los principales negociadores y agentes en el trato [82]. “Lo primero que Hakim al-Zamili hizo después de su puesta en libertad fue asesinar a Hassan Aziz, un juez que tomó parte en su juicio. Ahora este criminal es diputado del nuevo Parlamento iraquí”, según declaró una fuente anónima iraquí.<br /><br />Hakim al-Zamili, recientemente elegido parlamentario del bloque Sadrista, es ahora uno de los más fervientes defensores de la pena de muerte contra el ex viceprimer ministro Tareq Aziz [83]. Esta es hoy la tristísima realidad en la sangrienta democracia iraquí.<br /><br />Deportar refugiados es delito Mientras que a esos criminales, culpables de los peores crímenes cometidos bajo la mirada del ocupante estadounidense, se les permita participar en el proceso político, la resistencia política continuará; las ejecuciones sumarias continuarán, las desapariciones continuarán, diga lo que diga el gobierno de Obama. El 19 de octubre de 2010, una encuesta de ACNUR sobre iraquíes que han regresado a Bagdad desde países vecinos, daba a conocer que los retornados se han encontrado con tal grado de inseguridad física, dificultades económicas y carencia de servicios públicos básicos que la mayoría de ellos había lamentado su decisión de regresar a Iraq. Durante el transcurso de esas entrevistas, los retornados informaron al personal de la Comisión de numerosas explosiones, acosos, operaciones militares y secuestros acaecidos en las zonas de retorno. Muchos entrevistados aseguraron que se vieron obligados a regresar a Iraq porque no podían permitirse el alto coste de vida en los países de asilo [84]. El 26 de noviembre de 2010, el New York Times afirmaba: “Aquí se ha iniciado un segundo éxodo de iraquíes que regresan tras huir de la carnicería acaecida durante el punto más álgido de la guerra, pero ahora se encuentran con que la violencia y la gravísima falta de empleo los están empujando otra vez a abandonar sus casas […] Esta nueva migración demuestra lo lejos que se encuentra la nación de ser estable y segura” [85]. En este contexto, es un crimen que muchos países europeos deporten a los refugiados iraquíes a su país.<br /><br /><b>El trauma de los refugiados iraquíes</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Según los datos revelados el 22 de enero de 2008 por ACNUR, los refugiados iraquíes en Siria están padeciendo traumas extremos, mucho mayores que los que sufren otros refugiados de conflictos recientes en cualquier parte del mundo. Las cifras revelan que el 89,5 por ciento sufren depresión, el 81,6 por ciento ansiedad y el 67,6 por ciento estrés postraumático [86]. Una de cada cinco personas registradas en ACNUR—más de 19.000 desde enero de 2007 — fueron registradas como “víctimas de tortura o violencia” en Iraq. El 77 por ciento de los refugiados iraquíes relataron estar afectados por los bombardeos aéreos y los ataques con mortero o con misiles. El 80 por ciento ha sido testigo de disparos; el 68 por ciento ha sido interrogado o ha sufrido acoso, lo que incluye haber recibido amenazas de muerte por parte de las milicias u otros grupos; el 16 por ciento ha sido torturado; el 72 por ciento ha sido testigo de la explosión de un coche bomba y el 75 por ciento conoce a alguien al que han asesinado. El informe también pone de manifiesto las diversas formas de tortura padecida por los iraquíes refugiados, entre las que se cuenta las palizas, las descargas eléctricas, la introducción de objetos bajo las uñas, quemaduras y violaciones [87]. Datos abrumadores. Realidades estremecedoras.<br /><br /><b>Conclusiones Primera.-</b><br /><br />Los simples cálculos realizados y las proyecciones que hemos hecho, basadas en informes oficiales y en fuentes dignas de confianza, son más fiables que las cifras manipuladas dadas a conocer por Estados Unidos y su gobierno marioneta iraquí. Hay que ser conscientes de que las cifras representan personas y de que la negativa a dar datos reales sobre las personas desaparecidas es un crimen contra la humanidad. Una incomprensible falta de respeto por los seres humanos los deja en el olvido porque Estados Unidos y sus secuaces así lo quieren. También debemos recordar que las personas sin identificar y los desaparecidos o las personas en paradero desconocido o como los queramos denominar, siempre son el padre, la madre o el hijo de alguien. Cada uno de ellos tenía una cara antes de que fuera desmembrado, desfigurado, quemado con ácido, agujereado, abrasado, golpeado, pateado y después su cadáver fuera lanzado a las calles o enterrado en una fosa común con otros cadáveres igualmente sin identificar. Cara uno de ellos tenía una cara que podemos ver, oír, reír y llorar, hablar y sentir antes de que fuera eliminado. La vida y la dignidad han sido sacrificadas en el altar del beneficio y la avaricia de las corporaciones.<br /><br /><b>Segundo.-</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />Muy raras veces un ejército invasor y ocupante ha solucionado los problemas de un país. La ocupación es la forma más extrema de dictadura; la ocupación es saqueo, es el robo de los recursos de un país en lugar de pagar por ellos; ocupación es asesinar personas en lugar de salvar sus vidas; la ocupación da a los psicópatas los medios para poder asesinar con impunidad. Los ejemplos de Yugoslavia durante la Segunda Guerra Mundial [88], las guerras sucias de Vietnam y Centroamérica deben abrirnos los ojos.<br /><br />Sólo la total y absoluta retirada de las tropas extranjeras de suelo iraquí puede garantizar el inicio de un proceso democrático genuino en Iraq. Únicamente la retirada total y absoluta de las tropas extranjeras puede ser el comienzo de una investigación profunda y justa sobre las personas desaparecidas en Iraq. Sólo la total y absoluta retirada de las tropas extranjeras puede poner fin al caos que la invasión anglo-estadounidense ha creado.<br /><br /><b>Algunos interrogantes</b><span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br />¿ Despertará por fin el Consejo de Derechos Humanos de Naciones Unidas y nombrará un relator especial para los Derechos Humanos en Iraq, para investigar en profundidad una de las peores crisis del planeta respecto a los Derechos Humanos?<br /><br />¿Conoceremos alguna vez las revelaciones de WikiLeaks sobre la guerra sucia en Iraq?<br /><br />¿Conoceremos alguna vez el número real de personas desaparecidas en Iraq, torturadas y después asesinadas por los famosos escuadrones de la muerte y las milicias, organizadas, financiadas, equipadas, entrenadas y desplegadas por los “defensores” de los Derechos Humanos: Estados Unidos y Reino Unido?<br /><br />¿Exigirá Naciones Unidas alguna vez la retirada de todas las tropas extranjeras de suelo iraquí y devolverá la soberanía a su pueblo, representado por la legítima resistencia iraquí?¿Naciones Unidas establecerá, por fin, una comisión para exigir las reparaciones de guerra que las fuerzas ocupantes e invasoras tienen que pagar por las pérdidas causadas durante la invasión y ocupación ilegal de Iraq?<span class="Apple-converted-space"> </span><br /><br /><b>Notas<span class="Apple-converted-space"> </span></b><br /><br />[1] http://wapedia.mobi/en/Forced_disappearances<br /><br />[2] http://en.wikipedia.org/wiki/International_Convention_for_the_Protection_of_All_Persons_from_Enforced_Disappearance ...<br /><br />[3] http://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=IV-16&chapter=4〈=en<br /><br />[4] http://english.aljazeera.net/news/europe/2007/02/200852513385877874.html<br /><br />[5] http://www.amazon.co.uk/Forced-Disappearance-International-Criminal-limitations/dp/6130247583<br /><br />[6] http://www.unog.ch/unog/website/news_media.nsf/(httpNewsByYear_en)/3EAF9F2278C39977C12577740040BA50?OpenDocument ...<br /><br />[7] http://www.uniraq.org/documents/UNAMI_Human_Rights_Report_January_June_2008_EN.pdf<br /><br />[8] http://www.aimforhumanrights.org/latest/news/newsitem/article/irak-takes-steps-to-combat-disappearances/ ...<br /><br />[9] http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900SID/MUMA-7XS4PY?OpenDocument<br /><br />[10] http://www.brusselstribunal.org/pdf/NGOs_FULL_REPORT_UPR.pdf<br /><br />[11] http://lib.ohchr.org/HRBodies/UPR/Documents/session9/US/JS25_JointSubmission25.pdf<br /><br />[12] http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LJ13Ak03.html<br /><br />[13] http://www.mcclatchydc.com/2010/09/14/100580/amnesty-international-slams-iraq.html<br /><br />[14] http://www.redcross.int/en/mag/magazine2008_1/4-9.html<br /><br />[15] http://www.ic-mp.org/icmp-worldwide/middle-east/iraq/<br /><br />[16] http://www.icrc.org/eng/resources/documents/feature/iraq-feature-290807.htm<br /><br />[17] http://www2.ohchr.org/SPdocs/Countries/bimonthly_16012007.doc<br /><br />[18] http://newstrust.net/stories/345840/reviews/115878<br /><br />[19] http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9507E4DB133FF933A05754C0A9609C8B63&pagewanted=all<br /><br />[20] http://www.reliefweb.int/rw/RWB.NSF/db900SID/EVOD-76JGPZ?OpenDocument<br /><br />[21] http://www.nytimes.com/2009/05/25/world/middleeast/25missing.html<br /><br />[22] http://ibnlive.in.com/news/missing-iraqis-nearly-impossible-to-trace/61622-2.html<br /><br />[23] http://www.reliefweb.int/rw/lib.nsf/db900sid/AMMF-74ABRC/$file/fmr-idp-jun2007.pdf?openelement<br /><br />[24] http://www.internal-displacement.org/idmc/website/countries. nsf/(httpEnvelopes)/B6C0B024031DFA0F802570B8005A74D6?OpenDoc ...<br /><br />[25] http://www.uniraq.org/documents/UNHCR%20Iraq%20Protection%20Monitoring%20%20Jan-Oct%202009.pdf<br /><br />[26] http://www.internal-displacement.org/idmc/website/countries. nsf/(httpEnvelopes)/7496912B0BCE583BC1257520004DBA96?OpenDoc ...<br /><br />[27] http://www.internal-displacement.org/idmc/website/countries. nsf/(httpEnvelopes)/B6C0B024031DFA0F802570B8005A74D6?OpenDoc ...<br /><br />[28] http://www.uniraq.org/documents/UNHCR%20Iraq%20Protection%20 Monitoring%20%20Jan-Oct%202009.pdf<br /><br />[29] http://www.ird-dc.org/how/PDFs/Iraq%20refugees%20policy%20brief_final.pdf<br /><br />[30] http://www.newyorker.com/archive/2003/12/15/031215fa_fact<br /><br />[31] http://www.craigmurray.org.uk/archives/2006/10/civil_war_in_ir.html<br /><br />[32] http://www.maskofzion.com/2010/11/baghdad-cathedral-massacre-zionist.html<br /><br />[33] http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/09 /07/AR2006090700768_pf.html<br /><br />[34] http://ipsnews.net/news.asp?idnews=33521<br /><br />[35] http://www.globalsecurity.org/wmd/library/news/iraq/2006/10/iraq-061006-rferl01.htm<br /><br />[36] http://blogs.abcnews.com/theworldnewser/2006/09/what_dropoff_au.html<br /><br />[37] http://www.alternet.org/world/77602/<br /><br />[38] http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900sid/MWAI-7R74BB?Ope nDocument&query=disappeared%20iraq&cc=irq ...<br /><br />[39] http://www.nzherald.co.nz/world/news/article.cfm?c_id=2&objectid=10395546<br /><br />[40] http://www.guardian.co.uk/world/2008/mar/19/iraq<br /><br />[41] http://www.nytimes.com/2006/07/05/world/middleeast/05iraq.html<br /><br />[42] http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/09 /07/AR2006090700768_pf.html<br /><br />[43] http://warisacrime.org/node/41987<br /><br />[44] http://www.medialens.org/alerts/07/071003_iraq_body_count.php<br /><br />[45] http://www.brussellstribunal.org/JournalistKilled.htm<br /><br />[46] http://www.nytimes.com/2006/08/15/world/middleeast/15cnd-iraq.html<br /><br />[47] http://ipsnews.net/news.asp?idnews=32896<br /><br />[48] http://en.wikipedia.org/wiki/Baghdad<br /><br />[49]http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/secrets-of-the-morgue-baghdads-body-count-503223.html ...<br /><br />[50] http://warisacrime.org/node/15509<br /><br />[51] http://www.icrc.org/eng/resources/documents/statement/irak-statement-170407.htm<br /><br />[52] http://www.reliefweb.int/rw/lib.nsf/db900sid/AMMF-74ABRC/$fi le/fmr-idp-jun2007.pdf?openelement<br /><br />[53] http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9507E4DB133FF 933A05754C0A9609C8B63&pagewanted=all<br /><br />[54] http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900sid/MWAI-7R74BB?Ope nDocument&query=disappeared%20iraq&cc=irq ...<br /><br />[55] http://gulfnews.com/news/region/iraq/morgue-took-16-000-unidentified-bodies-in-2006-1.155117<br /><br />[56] http://www.newsvine.com/_news/2009/10/25/3422581-iraqi-searc hes-for-brothers-in-ancient-cemetery<br /><br />[57] http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/05 /23/AR2007052301780.html<br /><br />[58] http://warisacrime.org/node/41987<br /><br />[59] http://www.uruknet.info/?p=m36110&hd=&size=1&l=e<br /><br />[60] http://www.youtube.com/watch?v=P0JRzdCWR3g<br /><br />[61] http://www.zcommunications.org/secret-slaughter-by-night-lies-and-blind-eyes-by- day-by-robert-fisk.pdf<br /><br />[62] http://www.newsvine.com/_news/2009/10/25/3422581-iraqi-searches-for-brothers-in-ncient-cemetery<br /><br />[63] http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/6902024.stm<br /><br />[64] http://www.democraticunderground.org/discuss/duboard.php?az=view_all&address=389x159667<br /><br />[65] http://admin.iraqupdates.net/p_articles.php/article/15021<br /><br />[66] http://www.worldproutassembly.org/archives/2007/07/iraq_mass_grave.html<br /><br />[67] http://brussellstribunal.org/survey111105.htm<br /><br />[68] http://www.iraqslogger.com/index.php/post/3703/Patterns_of_Sectarian_Violence_in_Baghdad<br /><br />[69] http://thinkprogress.org/2007/07/24/baghdad-sectarian/<br /><br />[70] http://www.nytimes.com/2007/06/02/world/middleeast/02iraq.ht ml<br /><br />[71] http://www.uniraq.org/documents /UNAMI_Human_Rights_Report_January_June_2008_EN.pdf<br /><br />[72] http://www.reliefweb.int/rw/RWFiles2009.nsf/FilesByRWDocUnid Filename/EGUA-7PZLN5-full_report.pdf/$File/full_report.pdf ...<br /><br />[73] Read http://www.brussellstribunal.org/Newsletters/Newsletter7EN.htm<br /><br />[74] http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900sid/EVOD-73WGAN?Ope nDocument&query=disappeared%20iraq&cc=irq ...<br /><br />[75] http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/08<br /><br />/29/AR2006082901680.html<br /><br />[76] http://weekly.ahram.org.eg/2008/885/re82.htm<br /><br />[77] http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/02<br /><br />/22/AR2006022200454.html<br /><br />[78]http://www.iraqanalysis.org/mortality/438<br /><br />[79] http://www.washingtontimes.com/news/2007/feb/8/20070208-115125-4889r/<br /><br />[80] http://www.nytimes.com/2010/03/04/world/middleeast/04baghdad.html?_r=1&ref=world<br /><br />[81] http://www.newstatesman.com/politics/2008/03/iraq-british-oil-corruption<br /><br />[82] http://peteinfoshare.blogspot.com/2009/09/iraq-body-confirmed-as-uk-hostage.html<br /><br />[83] http://www.japantoday.com/category/world/view/iraq-president-opposes-tariq-azizs-death-sentence<br /><br />[84] http://www.unhcr.se/en/news/press10/press_101019-iraq.html<br /><br />[85] http://www.nytimes.com/2010/11/27/world/middleeast/27refugees.html<br /><br />[86] http://www.irinnews.org/Report.aspx?ReportId=76360<br /><br />[87] http://gorillasguides.com/2008/01/22/syria-un-research-indicates-high-levels-of-trauma-among-iraqi-refugees/ ...<br /><br />[88] http://en.wikipedia.org/wiki/Ante_Pavelić#Usta.C5.A1e_regime<br /><br />*Este texto es una adaptación de la conferencia que el autor pronunciará en Londres durante la Sexta Conferencia Internacional contra las Desapariciones, celebrada del 9 al 12 de diciembre de 2010.<br /><br /><b>Fuente: h</b><a href="http://ttp//www.brussellstribunal.org/pdf/Disappearances_missing_persons_in_Iraq.pdf" target="_blank" style="font-size: 9pt; text-decoration: none; color: rgb(0, 85, 238);"><b>ttp://www.brussellstribunal.org/pdf/Disappearances_missing_persons_in_Iraq.pdf</b></a></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-6938786495240942632010-12-02T12:01:00.003-02:002010-12-02T12:04:42.595-02:00Lançamento: O Alufá Rufino<span style="font-weight: bold;">Especialistas na história da escravidão juntos</span><br />30/11/2010<br />João José Reis, Marcus J. M. de Carvalho e Flávio dos Santos Gomes se juntaram para compor 'O alufá Rufino' sobre um africano que teve uma trajetória de vida sui generis<br /><br /><img src="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/images/nada.gif" height="10" width="10" /><div style="text-align: justify;"><img alt="" src="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/docs/image/aluf%C3%A1_rufino1.jpg" align="left" height="506" hspace="10" vspace="5" width="350" />Três dos maiores especialistas na história da escravidão – João José Reis, Marcus J. M. de Carvalho e Flávio dos Santos Gomes – se juntaram para compor "O alufá Rufino" sobre um africano que teve uma trajetória de vida<span class="Apple-converted-space"> </span><em>sui generis</em>. Rufino José Maria, nascido Abuncare no antigo reino de Oyó, foi escravizado na adolescência por grupos rivais e levado para Salvador, já adulto ele consegue chegar ao posto de alufá, guia espiritual dos muçulmanos no Recife.<br /></div><span id="tx4"><p><br />Leia um trecho do livro<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13033.pdf" target="_blank">aqui</a>.<br /><br /></p></span><div style="text-align: justify;">O livro, que terá lançamento nesta sexta-feira (3) em Salvador, leva o foco para os três autores, que já passaram pela RHBN.</div><div style="text-align: justify;">Reis, por exemplo, é membro do conselho editorial da “Revista de História da Biblioteca Nacional” e professor titular do departamento de História da Universidade Federal da Bahia. Nascido em 1952, em Salvador, tem um doutorado em Historia pela Universidade de Minnesota. Já recebeu um prêmio Jabuti (de melhor ensaio) pelo livro “A morte é uma festa”. Na RHBN, publicou em agosto de 2008 um artigo sobre<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1904">um motim em Salvador em 1858</a><span class="Apple-converted-space"> </span>por conta do aumento do aumento do preço dos alimentos. Também escreveu sobre como os<a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1296">quilombolas assombravam o dia-a-dia de senhores e funcionários da colônia</a>. E de como a trajetória dos líderes e devotos do candomblé do século XIX revela que a história das religiões afro-brasileiras é, sobretudo, a de<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=847">crescente mistura étnica e social</a>.<br /></div><span id="tx4"><p><br /></p></span><div style="text-align: justify;">Gomes também é professor da UFBA. Seu livro “A hidra e o pântano: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil” ganhou o Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa. No livro,<a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=325">resenhado pela RHBN</a>, ele resgata histórias da resistência escrava, tendo como cenário as comunidades de fugitivos dos séculos XVII e XIX no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e principalmente Grão-Pará e Maranhão. “No Labirinto das Nações: africanos e identidades no Rio de Janeiro, século XIX”, que ele escreveu com Juliana Barreto Farias, Carlos Eugênio Líbano Soares,<a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1003">esmiúça detalhes de vidas esquecidas e traça um panorama diverso dos africanos no Rio de Janeiro do período</a>.<br /></div><span id="tx4"><p><br /></p></span><div style="text-align: justify;">Já Carvalho é professor da UFPE e escreveu três artigos para a RHBN. O primeiro, ainda em 2006, é sobre Insurreição Praieira de 1848, em Pernambuco “<a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1015">um movimento com muitas faces e significados</a>”. Em 2008, ele escreve sobre outra revolta, a Cabanada, que juntou negros e índios em sangrentas batalhas pela terra no Nordeste pedindo, entre outras coisas,<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2139">a volta de D. Pedro I</a>. O terceiro texto, já deste ano, mostra uma seita cristã que, no Recife do século XIX,<span class="Apple-converted-space"> </span><a href="http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2943">contestava a dominação dos brancos</a>e, para temor das autoridades, ainda ensinava seus seguidores a ler.</div><span id="tx4"><p><strong>Serviço</strong><br />Lançamento de "O alufá Rufino" em Salvador<br />Sexta-feira, 3 de dezembro, das 18h às 21h<br />Livraria LDM<br />Rua Direita da Piedade 22 - Piedade<br />Telefones: 71-2101-8007 / 8000</p></span>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-39676077427545886212010-11-11T12:40:00.004-02:002010-11-12T08:44:56.486-02:00Caçadas de Pedrinho e parecer do CEN, a falsa polêmicaPor Sônia Aranha, em seu <a href="http://blog.centrodestudos.com.br/2010/11/03/cacadas-de-pedrinho-e-o-cne/"><span style="font-weight: bold;">blog</span></a><br /><p class="MsoNormal" style="margin: 14.4pt 0cm; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><span style="font-size:100%;">Anda circulando pela imprensa que o Conselho Nacional de Educação quer banir as aventuras do Sítio do Pica-pau Amarelo das salas de aula.<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin: 14.4pt 0cm; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><span style="font-size:100%;">Será que é isso mesmo que o CNE está pliteando ?<o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Antes de uma análise ligeira e uma conclusão precipitada é importante que leiamos o <a href="http://ead.sitescola.com.br/arquivo/documento/Parecer%20Lobato.pdf"><span style="color: rgb(0, 190, 178);">Parecer CNE/CEB n°.15/2010</span><span style="color: rgb(0, 190, 178); text-decoration: none;"> </span></a>(aguardando homologação pelo Ministério de Educação), relatado por Nilma Lino Gomes, cujo assunto <i>“orientações para que a Secretaria de Educação do Distrito Federal se abstenha de utilizar material que não se coadune com as políticas públicas para uma educação antirracista”</i> foi originado em 30 de junho de 2010, por uma denúncia de autoria do <b>Sr. Antônio Gomes da Costa Neto</b>, mestrando da UNB cujos estudos concentram-se na área de Gênero, Raça/Etnia e Juventude, na linha de pesquisa em Educação das Relações Raciais.</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><br />Histórico:</span><b><span style=""> </span></b><span style="font-size:100%;">o Sr. Antonio ao ler <b>Caçadas de Pedrinho</b> verificou que o conteúdo do livro é racista, sobretudo, no trato com a personagem Tia Nastácia. Diante desta constatação ele observou também que no livro (3ª edição, 1ª reimpressão, de 2009) já consta a nova ortografia de acordo com o Decreto nº 6.583/2008 e um texto de apresentação alertando os leitores sobre a época na qual o livro foi escrito em relação a lei que protege os animais silvestres. Concluiu que os editores tiveram cuidado de adaptar o livro (ortografia e problemas ambientais) ao novo contexto histórico, mas negligenciaram <i>“em relação aos estereótipos raciais presentes na obra, mesmo que estejamos em um contexto no qual têm sido realizados uma série de estudos críticos que analisam o lugar do negro na literatura infantil, sobretudo, na obra de Monteiro Lobato e vivamos um momento de realização de políticas para a Educação das Relações Étnico-Raciais pelo MEC, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.” </i>(<a href="http://http/ead.sitescola.com.br/arquivo/documento/Parecer%20Lobato.pdf"><span style="color: rgb(0, 190, 178);">p.3 do Parecer</span></a>) O solicitante , portanto, quer que a Secretaria de Educação do Distrito Federal se prive do uso do livro Caçada de Pedrinho, e de todos os demais que <i>“contenham expressões de prática de racismo cultural, institucional ou individual na Educação Básica e na Educação Superior do Distrito Federal”.<br /><br /></i><o:p></o:p></span></div> <div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">De modo que, o <b>Sr. Antonio Gomes da Costa Neto</b> encaminhou denúncia para a Ouvidoria da SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - mas antes de ser protocolado no Conselho Nacional de Educação, a denúncia passou pela chefia de gabinete do Ministro da Educação, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e ainda pelo Conselho Estadual do Distrito Federal, além da Coordenação Geral de Material Didático do MEC.</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Cada um desses órgãos ponderou a favor do solicitante sem, no entanto, deixar de ressaltar a importância da leitura da obra com a supervisão do professor que saberá discutir os processos históricos que geram o racismo no Brasil. Desta forma o processo chegou até o CNE.</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">O CNE à luz da legislação vigente: Constituição Federal de 1988, que prevê no seu artigo 5º, inciso XLII, que a prática do racismo é crime inafiançável e imprescritível. Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), são orientadas legalmente, tanto no artigo 26 quanto no artigo 26A (alterado pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008), a implementarem nos currículos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio o estudo das contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente as matrizes indígena, africana e européia, assim como a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Diretrizes Curriculares Nacionais emanadas do Conselho Nacional de Educação, tais como: o Parecer CNE/CP nº 3/2004 e a Resolução CNE/CP nº 1/2004, que instituem e regulamentam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, aprovado em 13 de maio de 2009, o qual apresenta atribuições elencadas por ente federativo, aos sistemas educacionais e instituições envolvidas, necessárias à implementação de uma educação adequada às relações étnico-raciais.</span><br /><br />E à luz dos estudos recentes sobre a representação do negro na literatura infantil :Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica de Maria Cristina Soares. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, nº 1, p.77-89, janº/abr.2005; A figura do negro em Monteiro Lobato de Marisa Lajolo. Presença Pedagógica. vol. 4, nº 23, p. 23-31, set/out. 1998; de Zinda Maria Carvalho de Vasconcelos.<br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">Considerou que <i>“ as ponderações feitas pelo Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, conquanto cidadão e pesquisador das relações raciais, devem ser consideradas (…) coerentes . A partir delas, algumas ações deverão ser desencadeadas” </i></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><br />“a) a necessária indução de política pública pelo Governo do Distrito Federal junto às instituições do ensino superior – e aqui acrescenta-se, também, de Educação Básica – <b>com vistas a formar professores que sejam capazes de lidar pedagogicamente e criticamente com o tipo de situação narrada pelo requerente, a saber, obras consideradas clássicas presentes na biblioteca das escolas que apresentem estereótipos raciais. (grifo meu</b> – <a href="http://ead.sitescola.com.br/arquivo/documento/Parecer%20Lobato.pdf">leia mais no Parecer);</a></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"><br />b) cabe à Coordenação-Geral de Material Didático do MEC cumprir com os critérios por ela mesma estabelecidos na avaliação dos livros indicados para o PNBE, de que os mesmos primem <b>pela ausência de preconceitos, estereótipos</b>, não selecionando obras clássicas ou contemporâneas com tal teor;</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">c) caso algumas das obras selecionadas pelos especialistas, e que componham o acervo do PNBE, ainda apresentem preconceitos e estereótipos, tais como aqueles que foram denunciados pelo Sr. Antônio Gomes Costa Neto e pela Ouvidoria da SEPPIR, a Coordenação-Geral de Material Didático e a Secretaria de Educação Básica do MEC <b>deverão exigir da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante. (grifo meu</b>– leia mais no Parecer <a href="http://ead.sitescola.com.br/arquivo/documento/Parecer%20Lobato.pdf"><b><span style="color:blue;">aqui</span></b></a></span>;<br /><br />d) Secretaria de Educação do Distrito Federal deverá orientar as escolas a realizarem avaliação diagnóstica sobre a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, inserindo como um dos componentes desta avaliação a análise do acervo bibliográfico, literário e dos livros didáticos adotados pela escola, bem como das práticas pedagógicas voltadas para a diversidade étnico-racial dele decorrentes;<br /><br />e) <b>que tais ações sejam realizadas como cumprimento do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (grifo meu–</b>leia mais no Parecer <a href="http://ead.sitescola.com.br/arquivo/documento/Parecer%20Lobato.pdf"><b><span style="color:blue;">aqui</span></b><span style="color: rgb(0, 190, 178);">)</span></a><br /><br />“A literatura pode ser vista como uma das arenas mais sensíveis para que tomemos providências a fim de superar essa situação. Portanto, <b>concordando</b> com Marisa Lajolo (1998, p. 33) analisar a representação do negro na obra de Monteiro Lobato, além de contribuir para um conhecimento maior deste grande escritor brasileiro, pode renovar os olhares com que se olham os sempre delicados laços que enlaçam literatura e sociedade, história e literatura, literatura e política e similares binômios que tentam dar conta do que, na página literária, fica entre seu aquém e seu além”<br /><br />O Parecer termina constatando a necessidade de <i>“formulação de orientações mais específicas às escolas da Educação Básica e aos sistemas de ensino na implementação da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos. Estas deverão ser formuladas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Portanto, uma das atribuições do CNE deverá ser a elaboração das Diretrizes <b>Operacionais </b>para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.”</i><br /><br /><i>O Parecer foi aprovado por unanimidade, mas ainda está aguardando homologação pelo Ministério de Educação.</i><br /><br /><i>Após o exposto, dá para ser leviano , como a imprensa tem sido ultimamente, e concluir que o Conselho Nacional de Educação banirá as aventuras do Sitio do Pica-Pau Amarelo ou especificamente o livro Caçadas de Pedrinho das salas de aula Não, não dá.</i><br /><i>Vejam as manchetes:<o:p></o:p></i><i> </i></div><p class="MsoNormal" style="margin-left: 24pt; text-indent: -18pt; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><!--[if !supportLists]--><span style="color: rgb(51, 51, 51);font-size:100%;"><span style=""><i>·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></i></span></span><!--[endif]--><span style="font-size:100%;"><i>As Caçadas de Pedrinho censuradas pelo MEC – O Globo<o:p></o:p></i></span></p><div style="text-align: justify;"><i> </i></div><p class="MsoNormal" style="margin-left: 24pt; text-indent: -18pt; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><!--[if !supportLists]--><span style="color: rgb(51, 51, 51);font-size:100%;"><span style=""><i>·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></i></span></span><!--[endif]--><span style="font-size:100%;"><i>Livro de Lobato pode ser banido por racismo – O Dia- Online-Rio<o:p></o:p></i></span></p><div style="text-align: justify;"><i> </i></div><p class="MsoNormal" style="margin-left: 24pt; text-indent: -18pt; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><!--[if !supportLists]--><span style="color: rgb(51, 51, 51);font-size:100%;"><span style=""><i>·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></i></span></span><!--[endif]--><span style="font-size:100%;"><i>Caçadas de Pedrinho na Mira – Gazeta do Povo<o:p></o:p></i></span></p><div style="text-align: justify;"><i> </i></div><p class="MsoNormal" style="margin-left: 24pt; text-indent: -18pt; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><!--[if !supportLists]--><span style="color: rgb(51, 51, 51);font-size:100%;"><span style=""><i>·<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></i></span></span><!--[endif]--><span style="font-size:100%;"><i>Reinações do CNE – Folha de São Paulo em editorial<o:p></o:p></i></span></p><div style="text-align: justify;"><i> </i></div><p class="MsoNormal" style="margin: 14.4pt 0cm; line-height: 18pt; text-align: justify;font-family:times new roman;"><span style="font-size:100%;"><i>Retomando:<o:p></o:p></i></span></p><div style="text-align: justify;"><i> </i><span style=";font-family:";font-size:100%;"><span style=";font-family:times new roman;"><i>O CNE acatou uma denúncia por ser pertinente e legal e prescreveu ações que atendem a legislação brasileira sem, no entanto, eliminar do acervo literário infantil de nossas escolas autor da importância de Monteiro Lobato.</i></span></span></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-88348155986729658392010-11-11T11:52:00.002-02:002010-11-11T11:59:05.600-02:00O Parecer do CNE sobre o livro Caçadas de Pedrinho<div style="text-align: justify;">MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO<br />CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO<br /><br />INTERESSADA: Presidência da República/Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR)<br />UF: DF<br />ASSUNTO: Orientações para que a Secretaria de Educação do Distrito Federal se abstenha de utilizar material que não se coadune com as políticas públicas para uma educação<br />antirracista.<br />RELATORA: Nilma Lino Gomes<br />PROCESSO Nº: 23001.000097/2010-26<br />PARECER CNE/CEB Nº: 15/2010<br />PARECER CNE/CEB Nº: 1º/9/2010<br /> <br /><br />I – RELATÓRIO<br /><br />1. Histórico<br /><br />Em 30 de junho de 2010, foi protocolado no Conselho Nacional de Educação (CNE), pela Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da (SEPPIR/PR), o Ofício nº 041761.2010-00, relativo ao Processo 00041.000379/2010-51.<br /><br />Trata-se de processo formalizado por aquela Ouvidoria, mediante denúncia de autoria do Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, brasileiro, Técnico em Gestão Educacional da Secretaria do Estado da Educação do Distrito Federal, matrícula nº 68.586-0, atualmente lotado na EAPE, em razão de afastamento para estudos por interesse da Administração, no Mestrado em Educação, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (UnB), na área de concentração em Educação e Políticas Públicas: Gênero, Raça/Etnia e Juventude, na linha de pesquisa em Educação das Relações Raciais.<br /><br />O solicitante encaminha denúncia no sentido de se abster a Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal de utilizar livros, material didático ou qualquer outra forma de expressão que, em tese, contenham expressões de prática de racismo cultural, institucional ou individual na Educação Básica e na Educação Superior do Distrito Federal. Por se tratar de questão envolvendo interesse público, a Ouvidoria da SEPPIR solicita que sejam procedidas consultas de estilo, bem assim enviadas as providências adequadas por parte do Conselho<br /><br />Nacional de Educação.<br /><br />Em 22 de julho de 2010, foi protocolado no CNE o Ofício nº 047217.2010-63, contendo cópia da resposta encaminhada pelo presidente do Conselho de Educação do Distrito Federal, Sr. Luiz Otávio da Justa Neves, ao Sr. Antônio Gomes Costa Neto referente ao mesmo processo administrativo. Considerando-se que a temática em questão envolve interesse público, a Ouvidoria da SEPPIR novamente solicitou que sejam procedidas, também, consultas de estilo, bem assim envidadas as providências adequadas por parte do Conselho Nacional de Educação.<br /><br />2. Análise<br /><br />O Ofício nº 041761.2010-00, de 30/6/2010, relativo ao processo 00041.000379/2010- 51, e encaminhado pela Ouvidoria da SEPPIR ao CNE, apresenta, no seu conjunto, resposta da chefia de gabinete do Ministro da Educação, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), encaminhada por meio do Ofício nº 1552-2010-GAB/SECAD/MEC, de 4/6/2010, acompanhado pela Nota Técnica nº 044/2010, subscrita pela técnica Maria Auxiliadora Lopes e aprovada pelo Diretor de Educação para a Diversidade, Sr. Armênio Bello Schimdt.<br />De acordo com a Nota Técnica, “as colocações instadas pelo solicitante da consulta, Senhor Antônio, são coerentes”. A nota ainda adverte:<br /><br />Sendo assim, é necessária a indução dessa política pública, pelo Governo do Distrito Federal, junto às instituições de ensino superior, com vistas a formarem professores que sejam capazes de lidar com esse tipo de situação no cotidiano escolar.<br /><br />A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro.<br /><br />A postulação do requerente, que resultou em tal resposta, se deu em razão de utilização do livro intitulado Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato, o qual se encontra como referência em escola do sistema de ensino particular do Distrito Federal e conforme se infere das informações catalogadas da obra em comento, trata-se de “edição (..) como base a publicação das Obras Completas de Monteiro Lobato da Editora Brasiliense de 1947”. De acordo com o Sr. Antônio Gomes Costa Neto, a sua denúncia baseia-se em análise da obra tão somente em relação à temática das relações étnico-raciais na escola, que se constitui na sua área de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Educação da UnB, já citado neste relatório.<br /><br />O Sr. Antônio Gomes Costa Neto apresenta no processo análise da situação do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, destacando que a edição referida (3ª edição, 1ª reimpressão, ano de 2009), contém 71 (setenta e uma) páginas com ilustrações de Pedro Borges e, inclusive, informação em sua capa de que a mesma já se mostra adaptada à nova ortografia da Língua Portuguesa (Decreto nº 6.583/2008). A crítica realizada pelo requerente foca de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas. Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado. A crítica feita pelo denunciante baseia-se na legislação antirracista brasileira, a partir da promulgação da Constituição de 1988, na legislação educacional em vigor e em estudos teóricos que discutem a necessidade e a importância do trabalho com uma literatura antirracista na escola superando a adoção de obras que fazem referência ao negro com estereótipos fortemente carregados de elementos racistas.<br /><br />Segundo o requerente, a publicação em análise toma alguns cuidados em relação à contextualização da obra de Monteiro Lobato diante de alguns avanços e das mudanças sociais acontecidas ao longo da nossa história. Como exemplo, cita o cuidado da editora ao destacar na capa da publicação a adoção da nova ortografia da língua portuguesa, bem como de esclarecimentos em relação ao contexto em que a obra foi produzida e os atuais avanços políticos e sociais da preservação do meio ambiente constantes do texto de apresentação.<br /><br />Nesta, Márcia Camargos e Valdimir Sacchetta apresentam a seguinte explicação transcrita do processo:<br /><br />Caçadas de Pedrinho teve origem no livro A caçada da onça, escrito em 1924 por Monteiro Lobato. Mais tarde resolveu ampliar a história que chegou às livrarias em 1933 com o novo nome. Essa grande aventura da turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje. (p. 19).<br /><br />Todavia, o mesmo cuidado tomado com a inserção de duas notas explicativas e de contextualização da obra não é adotado em relação aos estereótipos raciais presentes na obra, mesmo que estejamos em um contexto no qual têm sido realizados uma série de estudos críticos que analisam o lugar do negro na literatura infantil, sobretudo, na obra de Monteiro Lobato e vivamos um momento de realização de políticas para a Educação das Relações Étnico-Raciais pelo MEC, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.<br /><br />Em prosseguimento, foi encaminhado pela Ouvidoria da SEPPIR um segundo ofício ainda referente ao tema. Este último de nº 047217.2010-63 apresenta cópia da resposta encaminhada pelo presidente do Conselho de Educação do Distrito Federal, Sr. Luiz Otávio da Justa Neves, ao Sr. Antônio Gomes Costa Neto referente ao processo administrativo nº 00041.000379/2010-51 Ouvidoria/SEPPIR/PR.<br /><br />Segundo a resposta, o processo foi encaminhado ao gabinete da Secretaria de Educação do Distrito Federal, com vistas à Subsecretaria de Gestão Pedagógica e Inclusão Educacional/SEDF, para conhecimento e correção de fluxo. Como forma de subsidiar o setor competente da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal, a assessoria do referido Conselho efetuou pesquisas relativas ao teor da denúncia e anexou ao processo parecer pedagógico de especialistas referente à obra Caçadas de Pedrinho, objeto de questionamento.<br /><br />Considerando-se que a análise e a avaliação de obras de literatura indicadas às escolas públicas brasileiras é de competência do Ministério da Educação, o ofício transcreve a informação enviada por e-mail, pela Coordenação Geral de Material Didático do MEC, como resposta à consulta feita pelo referido Conselho. De acordo com a Coordenação Geral, a avaliação das obras é feita por especialistas de maneira cuidadosa:<br /><br />(...) naturalmente, como toda leitura escolar, o livro será lido sob a supervisão de um professor que, como leitor maduro, saberá mostrar que trechos isolados não compõem uma obra e que na literatura não é a soma das partes que fazem o todo. Também não deixará de aproveitar para discutir com os seus alunos os aspectos da realidade que a obra busca representar, articulando a leitura do livro com outras leituras e com o próprio cotidiano da escola, do bairro, da cidade e do país. São critérios de avaliação: a qualidade textual, a adequação temática, a ausência de preconceitos, estereótipos ou doutrinações, a qualidade gráfica e o potencial de leitura considerando o público-alvo.<br /><br />Afirma ainda que:<br /><br />...a obra Caçadas de Pedrinho, da Global Editora, faz parte da coleção selecionada para o Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE/2003 – Literatura em minha casa. Também foi selecionada para compor o acervo do PNBE/98 editada pela Editora Pallotti. Ambas as edições foram distribuídas às escolas públicas de ensino fundamental.<br /><br />Diante do exposto, conclui-se que as discussões pedagógicas e políticas e as indagações apresentadas pelo requerente ao analisar o livro Caçadas de Pedrinho estão de acordo com o contexto atual do Estado brasileiro, o qual assume a política pública antirracista como uma política de Estado, baseada na Constituição Federal de 1988, que prevê no seu artigo 5º, inciso XLII, que a prática do racismo é crime inafiançável e imprescritível. É nesse contexto que se encontram as instituições escolares públicas e privadas, as quais, de acordo com a Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), são orientadas legalmente, tanto no artigo 26 quanto no artigo 26A (alterado pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008), a implementarem nos currículos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio o estudo das contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente as matrizes indígena, africana e européia, assim como a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.<br /><br />Além disso, as instituições escolares públicas e particulares de todo o país já possuem, hoje, orientações e Diretrizes Curriculares Nacionais emanadas do Conselho Nacional de Educação, tais como: o Parecer CNE/CP nº 3/2004 e a Resolução CNE/CP nº 1/2004, que instituem e regulamentam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. No caso dos sistemas de ensino e do próprio Ministério da Educação, estes são orientados pelo Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, aprovado em 13 de maio de 2009, o qual apresenta atribuições elencadas por ente federativo, aos sistemas educacionais e instituições envolvidas, necessárias à implementação de uma educação adequada às relações étnico-raciais.<br /><br />Entende-se que a escolha do livro Caçadas de Pedrinho, dentre a vasta obra literária de Monteiro Lobato, como parte integrante do Programa Nacional Biblioteca da Escola segue a tradição de colocar os estudantes e professores em contato com obras consideradas clássicas da literatura infantil. Todavia, sendo coerentes com a própria Coordenação-Geral de Material Didático do MEC, quando consultada pelo Conselho de Educação do Distrito Federal sobre o tema da denúncia, deve-se considerar se a adoção de tal livro é coerente com os critérios de avaliação que orientam a escolha das obras: (...) a qualidade textual, a adequação temática, a ausência de preconceitos, estereótipos ou doutrinações, a qualidade gráfica e o potencial de leitura considerando o público-alvo.<br /><br />Não se pode desconsiderar todo um conjunto de estudos e análises sobre a representação do negro na literatura infantil (Gouveia, 2005; Lajolo, 1998; Vasconcelos, 1982; entre outros)1, os quais vêm apontando como as obras literárias e seus autores são produtos do seu próprio tempo e, dessa forma, podem apresentar por meio da narrativa, das personagens e das ilustrações representações e ideologias que, se não forem trabalhadas de maneira crítica pela escola e pelas políticas públicas, acabam por reforçar lugares de subalternização do negro.<br />____________________________________________________<br />GOUVEIA, Maria Cristina Soares de. Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, nº 1, p.77-89, janº/abr.2005.<br /><br />LAJOLO, Marisa. A figura do negro em Monteiro Lobato. In: Presença Pedagógica. vol. 4, nº 23, p. 23-31, set/out. 1998.<br /><br />SOUZA, Ana Lucia, SOUSA, Andréia Lisboa e PIRES, Rosane de Almeida. Afro-literatura brasileira: o que é? Para quê? Como trabalhar? In: http://www.gruhbas.com.br/publicacoes, extraído da internet em 19-out-2005.<br /><br />VASCONCELOS, Zinda Maria Carvalho de. O universo ideológico da obra infantil de Monteiro Lobato. São Paulo: Traço, 1982.<br /><br /><br />Portanto, as ponderações feitas pelo Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, conquanto cidadão e pesquisador das relações raciais, devem ser consideradas. A escola, a rede pública e privada de educação do Distrito Federal e a Secretaria de Educação devem considerar que as críticas aos estereótipos raciais presentes no livro Caçadas de Pedrinho e apontadas pelo requerente não se referem a trechos isolados. Antes, fazem parte da análise do todo, do contexto histórico e social da obra e vivido pelo autor, da ideologia racial, das representações negativas sobre a cultura popular, o negro e o universo afro-brasileiro presentes não só no livro Caçadas de Pedrinho, mas, também, em outras publicações de Monteiro Lobato.<br /><br />Conforme alertam estudiosos do campo da literatura, é possível utilizar autores da literatura brasileira que tratam direta ou indiretamente da temática racial, porém, deve-se tomar cuidado com os textos que podem reforçar preconceitos, e que dão a possibilidade de interpretações negativas. É importante que o professor tenha criatividade para destacar os pontos interessantes do texto e trabalhar a intertextualidade (Souza, Sousa e Pires, 2005)2.<br /><br />O alerta e a denúncia em relação à adoção desse livro e de outras obras que apresentem estereótipos raciais devem ser entendidos como parte do processo democrático e integra o debate público e o exercício do controle social da educação realizado pela comunidade escolar em relação à política e às práticas educacionais adotadas, quer seja nos níveis federal, estadual, municipal ou distrital.<br /><br />Diante do exposto, e concordando com a Nota Técnica da SECAD, a denúncia do Sr. Antônio Gomes Costa Neto deve ser considerada coerente. A partir dela, algumas ações deverão ser desencadeadas:<br /><br />a) a necessária indução de política pública pelo Governo do Distrito Federal junto às instituições do ensino superior – e aqui acrescenta-se, também, de Educação Básica – com vistas a formar professores que sejam capazes de lidar pedagogicamente e criticamente com o tipo de situação narrada pelo requerente, a saber, obras consideradas clássicas presentes na biblioteca das escolas que apresentem estereótipos raciais. Nesse caso, serão sujeitos dessas políticas não só os docentes da rede pública de ensino, mas, também, aqueles que atuam narede particular. É importante lembrar que, de acordo com o requerente, a obra literária em questão está sendo adotada por uma escola da rede particular de ensino e, de acordo com a Coordenação-Geral de Material Didático do MEC, o mesmo título faz parte do acervo distribuído pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola;<br /><br />b) cabe à Coordenação-Geral de Material Didático do MEC cumprir com os critérios por ela mesma estabelecidos na avaliação dos livros indicados para o PNBE, de que os mesmos primem pela ausência de preconceitos, estereótipos, não selecionando obras clássicas ou contemporâneas com tal teor;<br /><br />c) caso algumas das obras selecionadas pelos especialistas, e que componham o acervo do PNBE, ainda apresentem preconceitos e estereótipos, tais como aqueles que foram denunciados pelo Sr. Antônio Gomes Costa Neto e pela Ouvidoria da SEPPIR, a Coordenação-Geral de Material Didático e a Secretaria de Educação Básica do MEC deverão exigir da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante. Tal procedimento está de acordo com o Parecer CNE/CP nº 3/2004 e a Resolução CNE/CP nº 1/2004, que instituem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, as quais afirmam:<br /><br />...os sistemas de ensino e os estabelecimentos da Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos, Educação Superior, precisarão providenciar edição de livros e de materiais didáticos para diferentes níveis e modalidades de ensino que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao disposto no art. 26A da LDB, e para tanto, abordem a pluralidade cultural, e a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já publicadas sobre história, cultura, a identidade dos afrodescendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC – Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE). (p. 25);<br /><br />d) a Secretaria de Educação do Distrito Federal deverá orientar as escolas a realizarem avaliação diagnóstica sobre a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, inserindo como um dos componentes desta avaliação a análise do acervo bibliográfico, literário e dos livros didáticos adotados pela escola, bem como das práticas pedagógicas voltadas para a diversidade étnico-racial dele decorrentes;<br /><br />e) que tais ações sejam realizadas como cumprimento do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, o qual reza como uma das atribuições dos sistemas de ensino da educação brasileira a incorporação de conteúdos previstos nas referidas Diretrizes Curriculares em todos os níveis, etapas e modalidades de todos os sistemas de ensino. Portanto, deverão ser discutidas e realizadas em conjunto com o corpo docente e com a comunidade escolar.<br />A literatura pode ser vista como uma das arenas mais sensíveis para que tomemos providências a fim de superar essa situação. Portanto, concordando com Marisa Lajolo (1998, p. 33) analisar a representação do negro na obra de Monteiro Lobato, além de contribuir para um conhecimento maior deste grande escritor brasileiro, pode renovar os olhares com que se olham os sempre delicados laços que enlaçam literatura e sociedade, história e literatura, literatura e política e similares binômios que tentam dar conta do que, na página literária, fica entre seu aquém e seu além.<br /><br />Diante do exposto, constata-se a necessidade de formulação de orientações mais específicas às escolas da Educação Básica e aos sistemas de ensino na implementação da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos.<br /><br />Estas deverão ser formuladas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Portanto, uma das atribuições do CNE deverá ser a elaboração das Diretrizes Operacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.<br /><br />II - VOTO DA RELATORA<br /><br />Nos termos deste parecer, à vista do disposto no Parecer CNE/CP nº 3/2004 e na Resolução CNE/CP nº 1/2004, é essencial considerar o papel da escola no processo de educação e (re)educação das (e para as) relações raciais, a fim de superar o racismo, a discriminação e o preconceito racial. A despeito do importante caráter literário da obra de Monteiro Lobato, o qual não se pode negar, é necessário considerar que somos sujeitos da nossa própria época, porém, ao mesmo tempo, somos responsáveis pelos desdobramentos e efeitos das opções e orientações políticas, pedagógicas e literárias assumidas no contexto em que vivemos. Nesse sentido, a literatura em sintonia com o mundo não está fora dos conflitos, das tensões e das hierarquias sociais e raciais nas quais o trato à diversidade se realiza. São situações que estão presentes nos textos literários, pois estes fazem parte da vida real. A ficção não se constrói em um espaço social vazio.<br /><br />Responda-se ao requerente, a saber, a Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR), nos termos deste Parecer, com cópia ao denunciante, Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, ao Conselho de Educação do Distrito Federal, à Secretaria de Educação do Distrito Federal, à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e à Coordenação Geral de Material Didático do MEC.<br /><br />Brasília, (DF), 1º de setembro de 2010.<br /><br />Conselheira Nilma Lino Gomes – Relatora<br /><br />III – DECISÃO DA CÂMARA<br /><br />A Câmara de Educação Básica aprova por unanimidade o voto da Relatora.<br /><br />Sala das Sessões, em 1º de setembro de 2010.<br /><br />Conselheiro Francisco Aparecido Cordão – Presidente<br /><br />Conselheiro Adeum Hilário Sauer – Vice-Presidente<br /></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-66402852983301851372010-11-08T17:38:00.006-02:002010-11-12T08:45:50.841-02:00Vladimir Aras: sobre Mayra Petruso e Monteiro Lobato<b>Quase uma “Emília”</b><br /><br />por Vladimir Aras, em seu<b><a href="http://blogdovladimir.wordpress.com/2010/11/07/quase-uma-emilia/"> blog</a></b><br /><a href="http://blogdovladimir.files.wordpress.com/2010/11/emilia_e_monteiro_lobato.jpg" style="text-decoration: none; color: rgb(119, 33, 36); font-weight: bold; "><img class="size-full wp-image-2240 " title="emilia_e_monteiro_lobato" src="http://blogdovladimir.files.wordpress.com/2010/11/emilia_e_monteiro_lobato.jpg?w=239&h=229" alt="" width="239" height="229" style="border-top-style: solid; border-right-style: solid; border-bottom-style: solid; border-left-style: solid; border-width: initial; border-color: initial; border-width: initial; border-color: initial; border-top-width: 1px; border-right-width: 1px; border-bottom-width: 1px; border-left-width: 1px; border-top-color: rgb(238, 238, 238); border-right-color: rgb(238, 238, 238); border-bottom-color: rgb(238, 238, 238); border-left-color: rgb(238, 238, 238); " /></a><br />"Mas a partir do momento que aprendeu a andar, Emília tomou uma pílula e tagarelou, tagarelou a falar" (Baby Consuelo). Desenho: Google Imagens<p></p><p style="font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">A <strong>boneca de pano </strong>Emília é muito desaforada. “Esperta e atrevida”, diria Baby Consuelo, que compôs uma divertida canção infantil em sua homenagem. Mas, quem estudou a fundo a literatura de Monteiro Lobato (1882-1948) crê que Emília foi utilizada mais de uma vez para vocalizar o racismo de Lobato. É o caso de Marisa Lajolo. Em certo trecho do livro “<strong>Histórias de Tia Nastácia</strong>” (1937), vem este revelador diálogo, por ela pinçado:</p><blockquote style="margin-top: 20px; margin-right: 0px; margin-bottom: 20px; margin-left: 0px; padding-top: 20px; padding-right: 20px; padding-bottom: 10px; padding-left: 45px; display: block; font-style: italic; font-size: 14px; color: rgb(20, 19, 16); background-image: url(http://s1.wp.com/wp-content/themes/pub/vigilance/images/blockquote.gif); background-attachment: initial; background-origin: initial; background-clip: initial; background-color: rgb(231, 230, 226); background-position: 0% 0%; background-repeat: no-repeat no-repeat; "><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><em>“Pois cá comigo – disse Emília- só aturo estas histórias como estudos da ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. <strong>Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras – coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia</strong>. Não gosto, não gosto, e não gosto !”.</em></p></blockquote><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><span style="font-size: small; ">Por esta e outras, há poucos dias (out/2010), o Conselho Nacional de Educação (CNE), classificou de racista o livro “<strong>Caçadas de Pedrinho</strong>” (1933), do mesmo autor, e, por meio do Parecer CNE/CEB 15/2010, pediu que o MEC o enquadre num <em>index livrorum prohibitorum </em>para os fins do Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE). A Academia Brasileira de Letras (ABL) foi contra a rotulação. <strong>Na verdade,</strong> o CNE pretende impedir a inclusão de tal obra no PNBE ou, alternativamente, contextualizá-la para que não induza crianças ao racismo. Nesta hipótese, este objetivo seria alcançado mediante a inserção de nota explicativa do editor sobre os estereótipos raciais na literatura.</span></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Muda o século, muda o meio, mas a mensagem discriminatória é a mesma. Do século XX para o XXI; dos livros para a Internet; de Lobato para Mayara Petruso. Quem? Mayara, vocês sabem, aquela estudante de Direito nascida em Bragança Paulista que disse no <em>Twitter</em> que “<strong><em>Nordestisto</em></strong><strong><em> não é gente”</em></strong> (sic) e incitou:<strong><em> “Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!</em></strong>“</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Não satisfeita com sua “produção literária” no microblog, a Srta. Petruso publicou seus pensamentos também no <em>Facebook</em>: “<em>Afunda Brasil. Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar os vagabundos que fazem filhos pra ganhar o<strong>bolsa 171</strong></em>”. Somos todos uns estelionatários…</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Essa jovem se referia à eleição de Dilma Roussef e aos programas sociais do governo federal. Os culpados pelas desgraças do Brasil seriam os nordestinos. Sem querer, Mayara Petruso tornou-se conhecida em todo o País. Sua tagarelice rendeu-lhe fama repentina, muitos tendo visto em suas falas explícitas manifestações de <strong>preconceito contra os brasileiros do Nordeste.</strong></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Aprendemos uma coisa com Mayara. Ao navegar na <strong>internet com a boca muito aberta</strong>, corre-se o risco de morrer afogado num oceano de críticas. Foi o que lhe sucedeu. A tuiteira<strong>@MayaraPetruso</strong> foi vítima de seu próprio desconhecimento. Uma mensagem na rede social<em>Twitter</em> tem um efeito multiplicador que muitos ignoram. Um pequeno grupo de seguidores (os<em>“followers</em>”) pode multiplicar uma despretensiosa mensagem (“tuíte” para os familiarizados)<strong>milhares de vezes</strong>, difundindo-a de tal modo a ponto de transformá-la num <em>trend topic (TT),</em>isto é, num dos assuntos mais comentados na rede. Ela conseguiu! Foi matéria até no jornal <em>The Telegraph</em>, de Londres. Veja <a href="http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/8111046/Brazilian-law-student-faces-jail-for-racist-Twitter-election-outburst.html" style="text-decoration: none; color: rgb(119, 33, 36); font-weight: bold; ">aqui</a>. Depois disso, a moça teve de deletar seu avatar, sumiu do Facebook e seu contrato de estágio foi rescindido.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">É uma pena que uma candidata a bacharel, – e potencialmente uma futura advogada, promotora, juíza ou delegada -, <span style="text-decoration: underline; ">aparentemente</span> tenha incorrido na legislação penal. Não a julgo. Todos são inocentes… Isto tudo vai ser apurado. Mas, teoricamente falando, quem age assim pode praticar o crime de discriminação previsto no art. 20, §2º, da Lei 7.716/89, uma das formas de racismo. Este crime é <strong>inafiançável e imprescritível</strong>, segundo o art. 5º, inciso XLII, da Constituição de 1988.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Conforme a lei de 1989, quem pratica discriminação de raça, cor, etnia, religião ou “procedência nacional” comete crime e sofre pena de 1 a 3 anos de reclusão, e multa. A sanção penal pode chegar a 5 anos de reclusão e multa, se a infração for cometida “<strong><em>por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza</em></strong>”.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><strong>Primeiro problema.</strong> O preconceito manifestado pela estudante atingiu os nordestinos de maneira geral. A ofensa não teve em mira uma raça, etnia, cor ou religião em particular. Quando o legislador referiu-se a “<strong>procedência nacional</strong>” pretendeu <span style="text-decoration: underline; ">apenas</span> reprimir a <strong>xenofobia</strong> em sentido estrito, ou seja, o preconceito contra estrangeiros (cidadãos de outras nações), <span style="text-decoration: underline; ">ou também</span> incluiu entre as possíveis vítimas os brasileiros de outras regiões da nossa própria nação? Se a resposta for restritiva, a conduta da estudante será atípica, não constituindo crime.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><strong>Segundo problema</strong>. A conduta poderia ser enquadrada no art. 140, §3º, do CP, que prevê a chamada injúria racial ou por preconceito? Não. O agir da universitária só poderia ser amoldado a esta norma, se o seu alvo fosse uma <strong>pessoa determinada</strong>. “<em>Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, <strong><span style="text-decoration: underline; ">origem</span></strong> ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão de 1 a 3 anos, e multa</em>”, com a causa de aumento de um terço, prevista no art. 141, inciso III, do CP.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Contudo, este dispositivo não é aplicável neste caso. Em out/2006, ao julgar o RHC 19.166/RJ, a 5ª Turma do STJ decidiu que “<em>O crime do art. 20, da Lei nº 7.716/89, na modalidade de praticar ou incitar a discriminação ou preconceito de procedência nacional, <strong>não se confunde</strong> com o crime de injúria preconceituosa (art. 140, §3º, do CP). <strong>Este tutela a honra subjetiva da pessoa</strong>. Aquele, por sua vez, é um sentimento em relação a toda uma coletividade em razão de sua origem (nacionalidade)</em>”.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><strong>Terceiro problema</strong>. O <em>Twitter</em> e o <em>Facebook</em> podem ser considerados “meios de comunicação social”? Ou podem ser tidos como “publicações de qualquer natureza”. Aparentemente a resposta é afirmativa e tem relevância para verificar a maior ou menor gravidade da conduta. Tanto pior será o crime quanto maior for sua “audiência”.</p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><strong>Quarto problema</strong>. A quem cabe julgar o suposto delito? Segundo o STJ, no caso de <strong>racismo pela Internet</strong>, a competência é da Justiça Federal, cabendo ao juízo do local de onde foram enviadas as manifestações racistas julgar a causa (STJ, 3ª Seção, CC 102.454/RJ, rel. ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, julgado em 25/03/2009). A ser assim, o MPF em São Paulo deverá cuidar do caso. Contudo, há controvérsias. Qual o interesse federal atingido (art. 109, CF)? É de se esperar um pingue-pongue processual, entre a Justiça Federal e a Estadual.</p><p style="font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><strong><span style="font-size: small; "><a href="http://blogdovladimir.files.wordpress.com/2010/11/lobato.gif" style="text-decoration: none; color: rgb(119, 33, 36); font-weight: bold; "><img class="size-full wp-image-2239 alignleft" title="lobato" src="http://blogdovladimir.files.wordpress.com/2010/11/lobato.gif?w=105&h=170" alt="" width="105" height="170" style="text-align: justify;border-top-style: none; border-right-style: none; border-bottom-style: none; border-left-style: none; border-width: initial; border-color: initial; float: left; border-width: initial; border-color: initial; margin-top: 0px; margin-right: 15px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; " /></a></span></strong></p><div style="text-align: justify;"><strong><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal; font-size: 13px; "><strong><span style="font-size: small; ">Semelhanças e coincidências</span></strong></span></strong></div><p></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><span style="font-size: small; ">Não conheço outras ideias de Mayara Petruso, mas todo mundo sabe que o genial Monteiro Lobato, o criador de Emília, tinha pretensões <strong>eugênicas</strong>; queria tornar o Brasil uma nação racialmente pura, pelo seu branqueamento progressivo. Em um trecho do seu romance de ficção científica, “<strong><em>O Choque das raças ou o</em><em> presidente negro</em></strong>” (1926), um exercício de futurologia sobre o primeiro afroamericano a ser eleito presidente dos Estados Unidos no longínquo ano de 2228, Lobato pontifica: “<em>A nossa solução foi medíocre. Estragou as duas raças, fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável penhora de caráter</em>”.</span></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><span style="font-size: small; ">Numa carta ao médico paulista <strong>Renato Kehl </strong>(1889-1974), fundador do Comitê Central de Eugenismo e da Sociedade Eugênica de São Paulo, Lobato escreveu: “<em>Renato. Tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo […] Precisamos lançar, vulgarizar essas idéias.<strong>A humanidade precisa de uma coisa só: poda</strong>. É como a vinha. Lobato</em>”</span></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; "><span style="font-size: small; ">Coincidentemente, o escritor paulista defendeu algo semelhante ao que essa sua conterrânea enunciou em menos de 140 caracteres. Segundo o antropólogo Edgar Smaniotto, também em “<strong><em>O presidente negro</em></strong>”, Lobato sonha que no futuro as regiões Sul e Sudeste se uniriam ao Uruguai e à Argentina para formar a “grande República Branca do Paraná”, enquanto as regiões Norte e Nordeste seriam entregues aos índios, aos negros e aos mestiços.</span></p><p style="text-align: justify;font-size: 1em; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 0px; padding-top: 0px; padding-right: 0px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; ">Será que Mayara Petruso leu Lobato? “Reinações de Narizinho” ou “Memórias da Emília”, um desses aí. Sei não! Vai ver o Conselho Nacional de Educação tem razão. Daqui a pouco alguém vai querer colocar “<strong><em>O presidente negro</em></strong>” na lista negra. E nada disso é politicamente correto.<span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 102, 102); font-size: 11px; font-style: italic; "> </span></p>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-29517806290853604542010-11-08T11:58:00.005-02:002010-11-08T12:12:53.085-02:00Enem da homofobia ao trabalho escravo<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium; color: rgb(102, 0, 0); ">Acho impressionante as críticas que a mídia velha e algumas webcelebrities fazem ao ENEM sem nenhuma responsabilidade, sem nenhum compromisso.</span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify; font-size: medium; "><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(102, 0, 0); ">Lendo a blogosfera sobre as temáticas do exame e ouvindo relatos de alunos que o prestaram vejo o quão distante a mídia grande e velha é da realidade.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></span></span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" >Este ano até mesmo uma questão sobre a homofobia foi tema, veja </span></span></span></span></span><a href="http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/enem-2010-inclui-questao-sobre-homofobia.html" style="font-weight: bold; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" >aqui</span></span></span></span></a></span></div></span></span></span><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></span></div><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" >Fiquem com o belíssimo texto do Leonardo Sakamoto, em seu </span></span></span></span></span><b style="font-weight: bold; "><a href="http://blogdosakamoto.com.br/2010/11/07/enem-uma-camisa-furada-e-um-passarinho/"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" >blog</span></span></span></span></a></b></div></span></span><br /><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold; "><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;">ENEM: uma camisa furada e um passarinho</span></span><br /><br /><div style="text-align: justify;">O Enem usou um texto da Repórter Brasil (parte de uma explicação antiga sobre escravidão contemporânea), para fomentar a reflexão sobre o trabalho na construção da dignidade humana – tema da redação deste ano. Para ilustrar, publicou uma imagem também: a de um senhor de costas, de cabelos brancos, com a camisa esburacada pelo excesso de tempo e a falta de recursos, que fingia proteger suas costas de um escaldante sol amazônico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="http://blogdosakamoto.uol.com.br/wp-content/uploads/2010/11/Garimpeiro-libertado-do-trabalho-escravo-em-fazenda-de-gado-em-Eldorado-dos-Caraj%C3%A1s-e1289169503249.jpg" style="color: rgb(83, 83, 83); text-decoration: none; border-bottom-color: rgb(83, 83, 83); border-bottom-width: 1px; border-bottom-style: dotted; font-size: 15px; font-weight: bold; "><img src="http://blogdosakamoto.uol.com.br/wp-content/uploads/2010/11/Garimpeiro-libertado-do-trabalho-escravo-em-fazenda-de-gado-em-Eldorado-dos-Caraj%C3%A1s-e1289169806292.jpg" alt="" title="Garimpeiro libertado do trabalho escravo em fazenda de gado em Eldorado dos Carajás" width="300" height="450" class="alignleft size-full wp-image-8320" style="float: left; border-top-color: rgb(144, 144, 144); border-right-color: rgb(144, 144, 144); border-bottom-color: rgb(144, 144, 144); border-left-color: rgb(144, 144, 144); border-top-width: 1px; border-right-width: 1px; border-bottom-width: 1px; border-left-width: 1px; border-top-style: dashed; border-right-style: dashed; border-bottom-style: dashed; border-left-style: dashed; margin-top: 10px; margin-right: 10px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; padding-top: 5px; padding-right: 5px; padding-bottom: 5px; padding-left: 5px; background-color: rgb(240, 240, 240); " /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;">Ainda lembro de quando bati aquela foto. Era dezembro de 2001 e eu estava fazendo uma reportagem sobre uma operação do governo federal que verificava denúncias de trabalho escravo em Eldorado dos Carajás, Sul do Pará. O nome não é estranho porque esse é o mesmo município onde cinco anos antes ocorrera o massacre de 19 trabalhadores rurais sem-terra em confronto com a polícia militar. Garimpeiro, passava uma parte do ano remexendo a terra e outra roçando-a, para limpar o pasto do patrão – desenvolvendo o Estado na pata do boi, como gostam de dizer por lá. Assim como ele, havia vários na região. Cada um com a mesma história.</div><br /><div style="text-align: justify;">“A água parecia suco de abacaxi, de tão suja, grossa e cheia de bichos.” / “Se não tivesse me defendido com a mão, o golpe [de facão, do capataz da fazenda] tinha pegado no pescoço” / “Todo mundo viu, mas não pôde fazer nada. Macaco sem rabo não pula de um galho para outro.” / “Em Serra Pelada é melhor [do que ma fazenda] porque a gente tem nosso barraquinho.” / “Com terra para plantar não teria ido embora. Além disso, pessoa bem estudada não precisa sair, arruma emprego. Os outros têm de ir para o machado mesmo”. E depois dizem que dezembro é mês de festa.</div><br /><div style="text-align: justify;">De lá para cá, a legislação foi alterada e o conceito sofreu mudanças. O cerceamento de liberdade não precisa mais estar presente para ser configurada uma situação análoga à de escravo. Há casos em que o trabalhador está submetido a condições tão degradantes de serviço ou é levado aos limites físicos de sua vida que, alijado de sua dignidade, acaba transformado em coisa, mero instrumento descartável. Nesse momento, mesmo que tenha liberdade de sair e possa receber alguma remuneração, isso acaba não fazendo diferença. Muita gente reclama, diz que é injusto com o empregador, que condições de trabalho obscenas e desumanas são coisa normal. Querem ver correntes prendendo mãos ou similares para ter o crime atestado. Mal sabem eles que as amarras que não existem são aquelas que mais apertam.</div><br /><div style="text-align: justify;">Toda essa discussão, na verdade, é uma grande confusão que não passava pela lógica simples e direta do senhor de camisa rasgada e dos seus amigos que ganharam a liberdade por aqueles dias. Um dos resgatados, Raimundo Nonato, após nove meses sem receber, me mostrou uma gaiola de madeira vazia, pendurada em uma árvore ao lado do apertado alojamento na fazenda. Contou que um rapaz havia capturado um passarinho na roça.</div><br /><div style="text-align: justify;">- Um galo-de-campina. Mas ele não cantava. Quando está solto, ele canta. Mas passarinho preso não canta, não – acrescentou Joel Mourão Costa, três meses sem salário.- Se está preso, não tem liberdade. Todos têm de viver livres – retrucou, na hora, Nonato.</div><br /><div style="text-align: justify;">E, depois de uma rápida deliberação entre os trabalhadores, abriram a gaiola e o passarinho voou para longe, bem longe.</div><p></p>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-55265150640257933402010-11-05T16:41:00.003-02:002010-11-05T17:17:03.217-02:00Heloísa Pires e a polêmica MEC versus Lobato<span style="font-weight: bold;">Lobato e a caçada ao racismo verde-amarelo</span><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><br /></strong></em></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><span style="font-weight: normal;">Por:</span><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><span class="Apple-converted-space"> </span>Heloisa Pires Lima* no <a href="http://www.clicabrasilia.com.br/site/blogs/identidade/">Cicla Brasília </a><br /></em></strong></em><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><br /></em></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato.png" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="128" width="226" /><br /></em></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">"A polêmica em torno das personagens lobatianas, após o parecer emitido pelo Conselho Nacional de Educação (set 2010), ganha qualidade se considerar os vários ângulos dessas construções. Primeiramente, o contexto original criador dos enredos. O escritor nascido em 1882 cresceu numa fazenda de café do Vale do Paraíba, na província de Taubaté. Quando moço é para lá que voltaria, durante os estudos na faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na capital.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato2.jpg" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="132" width="226" /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">O guri branco vivenciou as dinâmicas escravistas pouco alteradas na República que engatinhava. Nesse tempo, esteve exposto aos argumentos racialistas que ganharam status de ciência para a vida intelectual e artística da qual se tornou freqüentador. Suas biografias não deixam de mencionar a importância do pensamento eugenista de Le Bon, como lentes para ele rever o ambiente rural onde encontra, inclusive, seus Jeca Tatus. E foi como colaborador da Revista do Brasil que Lobato levou o empurrão do folclore, das lendas, dos mitos populares para suas aventuras junto ao setor editorial.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato3.jpg" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="166" width="112" /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Ele descobre uma fonte rica de temas que afirmará como particularidade nacional frente ao incômodo com a excessiva presença de figuras da mitologia européia oferecidas às crianças do país.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato4.jpg" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="225" width="320" /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">E é para o Saci, que em 1917, ele desenvolve um questionário e um concurso de pintura como tarefa em busca de uma nova mentalidade nacional, nos seus termos. Mais tarde transformado em livro, lá estarão o tio Barnabé dando voz às lendas de origem africana que, segundo ele, povoavam o imaginário popular.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato5.jpg" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="166" width="127" /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Da mesma forma, a tia Nastácia com seu inventário culinário. Por um lado, a condução de Lobato dá status e integra personagens negros que a sociedade excluía deixando uma peculiar presença negra no universo da literatura infanto-juvenil. O mote também é uma crítica à literatura estrangeira e à produção elitista disponibilizada, na época. Por outro, o material é testemunha ocular de uma espécie de abordagem na arquitetura de figuras negras e o lugar onde foram posicionadas na lógica interna das narrativas. As imagens dos tipos ficcionais, sempre carregadas de sinais, embutem modelos de humanidade que por sua vez, constroem identidades sociais.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><img src="http://www.clicabrasilia.com.br/site/imagens/blogs/lobato6.jpg" alt="" style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;" height="166" width="118" /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">O ponto de vista de Lobato pode ser acompanhado na redação das histórias que ele assina. Mas também nos desenhos que as interpretam e que acabaram selecionadas para as publicações produzidas em seus poços literários e que continuam a abastecer bibliotecas, videotecas, acervos de brinquedos e brincadeiras no país. A perspectiva dos ilustradores dos livros de Lobato facilita observar o tema racismo, de modo mais distanciado. Ou seja, é uma estratégia para diminuir a resistência característica para a questão em obras consagradas. O treino minucioso pode começar delimitando a postura corporal das personagens, a expressão facial, o tratamento na cor da pele, o relacionamento entre demais figuras em cena, a qualificação atribuída ao cenário das quais participam. Estes, entre outros, são fios a compor o ponto de vista que o analista quer conhecer.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Por exemplo, o assunto tratado em Narizinho Arrebitado (1920) aparece implicado às noções de saberes, o erudito e o popular, encarnados em duas mulheres representadas pelo traço de Voltolino (figura 1, de cima para baixo). Desta primeira edição dá até para afirmar a existência de uma relativa equanimidade de tratamento para ambas o que pode ser observado na forma como ele vestiu as mulheres, moldou a expressão da face, a hierarquia na estatura, a composição que comunique afetividade. Isto se acompanharmos o que ocorreu, posteriormente, com interpretações de alguns outros ilustradores da mesma redação.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">A Nastácia pode se tornar monstrenga ou suja como nas seguintes versões (figura 4 - Villin, 1934 e figura 6 - André Blanc, 1955). Na figura 5, elaborada por Manoel Victor Filho em Trabalhos de Hércules (1972), a estrutura do rosto da mulher negra aparece co-relacionada com a do porco Rabicó. Contraposta aos demais personagens insuflados de humanidade, sua Nastácia recebe uma expressão facial mais idiotizada a acompanhar a bestialização a ela imposta. Portanto, nessas páginas nem mesmo como modelo de humanidade ela é oferecida ao leitor. O que a desumaniza também a coloca mais próxima da chacota. Se o resultado perfila a hierarquia social entre os personagens, a vertente negra africana que ela representa, também estará sendo desqualificada e ridicularizada.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">O narrador da visualidade julga e desvaloriza a origem social com o tratamento que dá ao tema. Estas breves ocorrências relacionadas à Lobato seriam suficientes para ponderar acerca das imagens que circularam para leitores juvenis d´outros tempos. Os sinais positivos ou negativos que acompanham as ilustrações fizeram parte de uma rede simbólica que atingiu diretamente a percepção não apenas das pessoas reais de outrora. Tais identidades espelhadas nessa descendência repercutem até os dias atuais. Oras o passado! O que foi atrás vivenciado desapareceu ou permanece em algum lugar do imaginário social? Lá, nem sempre tão lá atrás assim, as formas lúdicas sustentaram criadouros de correntes de pensamento a identificar parcelas da população.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">O aparato simbólico para a origem européia que valoriza positivamente os traços fenotípicos não deixa de informar como contraponto, uma origem africana. A composição foi uma arma a fomentar estigmas. A representação do Saci lobatiano pode ser explorada para demonstrar os vínculos entre a resposta particular numa autoria e o circuito cultural que a gerou. O detalhe da primeira capa do livro O Saci pererê: resultado de um inquérito, com ilustrações internas de Voltolino, expõe a interpretação do desenhista para o qual poderiam caber inúmeras leituras.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Talvez o barrete com o qual vestiu a cabeça da figurinha preta pudesse estar associado aos ícones revolucionários radicais europeus ou ao trickster africano símbolo de dinamismos e liberdade irrestrita. É mais provável que um brasileirinho lesse a demonização da figura recolhida do folclore. Lá estão os chifres e a ferocidade estampada no rosto assustador com dentes vampirescos. O próprio Lobato assina a obra com o pseudônimo de Um Demonólogo Amado. O discurso visual com o Saci poderia ter a intenção de resgate cultural (figuras 2 e 3 - capa assinada por J. Wash Rodrigues, 1918). No entanto, hoje, o saci preto e imbricado às idéias cristãs de maldade é material que promove desqualificações culturais associativos à origem negra. Cada elemento visual ou seu conjunto sintetiza e emaranha crenças no momento de sua criação. Todavia, não há leitura única na recepção da mensagem.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Se num contexto a capa pode significar ruptura e avanço, noutro pode facilitar desvalorização e conservadorismo. E haveria diferença ou tanto faz a capa ser percebida por um adulto ou uma criança a partir da simples exposição do livro numa prateleira? Seria possível levantar fatores para como cada qual processaria a instauração do recado valorativo e suas conseqüências de ordem afetiva nessa comunicação? Portanto, toda a busca de compreensão da obra infantil ou juvenil como espelho para elaborações de ordem emocional presume o fato de ali haver um espaço para o leitor reconhecer a si mesmo ou o outro.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">O apreço auxilia na promoção da auto-estima e a dos afetos a elaborar alteridades. Por isso há de haver sensibilidade para considerar o poder de difusão de preconceitos e estereotipias que uma imagem pode conter. Para a habilidade do analista, se já foi lançada a hipótese do leitor das imagens ser uma criança, acrescentemos a circunstância social de ser ela uma criança negra em processo de elaborar sua origem numa escola da época de Lobato. A via literária estaria fornecendo elementos para uma auto- percepção e de suas raízes negras. Além do mais, esse leitor negro teria que lidar com outras crianças, que o perceberiam com o auxílio de uma biblioteca que o constrangeria.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">A exposição a tamanha violência, nesse caso simbólica, faz saltar aos olhos o destrato hipotético de um preceito educacional e de alto valor nos nossos dias: a eliminação de constrangimentos para o pleno desenvolvimento das personalidades em formação. Os preceitos educacionais atuais responsabilizariam o dos velhos tempos pelo incômodo imposto ao educando. As Nastácias desqualificadas lá atrás trazem para cá nuanças que dizem respeito, às idéias associadas de superioridade e inferioridade racial.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">A figura feminina boçalizada e o saci demonizado serviriam perfeitamente para qualquer manual de nossos tempos que discorresse a respeito de como se formam os pensamentos xenófobos. O mesmo exercício de leitura dos trechos visuais renderia caso o alvo fosse as imagens construídas por meio da escrita de Lobato. Todavia, vale deslocar a ênfase nos textos pioneiros do autor. Para não correr o risco de etiquetar toda a obra por um de seus aspectos, mais importante é fazer notar o leitor inserido numa e outra sociedade. É o ambiente social que promove ou impede a circulação de fórmulas racistas para a geração a ser formada. Por sua vez, um público com pouca maturidade. O jovem exposto à agressão é quem merece destaque.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Pouca idade e poucos elementos para se defender do ataque violento. É ao adulto e à sociedade madura a quem cabe a proteção e a responsabilidade frente a circulação desatenta do ataque físico ou moral da pessoa jovem. O treino de perceber a particularidade de um jovenzinho negro submetido à agressões inclui a singular via literária. A questão atinge em cheio o setor editorial com a demanda vinda dos meios educacionais, sobretudo a partir da conquista histórica da Lei 10639/2003 que integra o tema racismo no debate pedagógico maior. Pois embora algumas teorias racistas tenham sido banidas do mundo adulto e refutadas por acadêmicos maduros, veja que podem adquirir, nos aparentemente ingênuos formatos de livro infantis, canais para fixar preconceitos, estimular estereotipias e evocar atitudes discriminatórias.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Todo projeto editorial tem seus propósitos. Quando relançam obras do passado surge a pergunta implacável: O que significa reaplicá-las hoje para um público juvenil? Se mostrar alheio ao fato de algumas obras se aliarem à condenação da religiosidade de matriz africana, ou à facilitação de apelidos promovidos pelos compêndios é reificar a invisibilidade, por que não dizer a irrelevância da recepção racista para o leitor negro.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Caso propuséssemos ao adulto de hoje que buscasse a memória de personagens que habitaram a literatura a qual teve acesso, aqueles que preencheram afetivamente, sua infância seria uma chave para dimensionar o que ocorre com a criança de hoje. Da mesma forma que esse percurso pessoal, a sociedade acumula repertórios assentados como camadas de um imaginário coletivo a intervir na identidade histórica que esta imagina para si. Vale alertar, ainda, para a desproporção entre referências oferecidas ao leitor numa e noutra origem continental, seja asiática, indígena americana, do oriente, dos pólos da terra oferecidos nas antigas bibliotecas dos brasileiros.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Sobretudo ao cotejarmos com universos temáticos que esbanjam a origem européia. Isto quer dizer que a presença negra nas foi rara e quando ocorreu foi marcada por abordagens ficcionais pouco positivas para elaboração de identidades acerca da parcela negra da população real. Perceber o racismo verde-amarelo em sua dimensão editorial talvez seja a oportunidade que a polêmica em torno de Lobato ofereça para escaparmos de uma armadilha reflexiva.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Evocar a época da produção não pode se tornar autorização para fecharmos os olhos às agressões que ela possa conter. Se eliminar o passado é inviável enquanto historia do livro no país, também o é reconhecer a estrutura criativa dos textos. Todavia, a visão parcial elege as exaltações que o mundo literário confere ao consagrado Lobato e promove uma espécie de impedimento para a compreensão da obra em sua totalidade. E nega a presença de estereótipos. Ao invés do temor, de transformar em tabu qualquer análise, voltar aos Lobatos do passado pode propiciar ângulos inéditos a enriquecer a relação atual com essa literatura.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">Significa apostar no dinamismo da leitura que uma obra propicia e viabilizar a crítica sadia. Se realidade e representação são faces de uma mesma moeda, se uma influencia a outra e vice-versa ao contrário, poderia dizer uma personagem desse cenário, o fato é que há uma demanda educacional interlocutora da produção editorial. Se o diagnóstico sobre o excesso de representações pejorativas desqualificando insistentemente as referências à população negra no Brasil o que fazer quando estas voltam ao futuro? Como entraremos nessa aventura? Caçadas de Pedrinho (original de1933) é o título analisado com a responsabilidade que o Conselho Nacional de Educação chama para si.</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">A relatora Nilma Gomes perfila a questão do racismo na Educação Nacional para o parecer que atrela uma série de medidas cautelares para a circulação da obra. O objetivo de promover uma educação anti-racista prevê a formação do educador para a introdução de tais conteúdos. Há de se aplaudir a iniciativa. Pois quando o inquestionável, aquilo que sempre passou despercebido cessa de sê-lo, quando a agressão deixa de ser naturalizada e a negação perde força para assumir enfrentamentos temos uma pista de saúde social e uma chance para conviver com a arte de outros tempos. Pois um dos limites à liberdade irrestrita dessa circulação é o racismo dirigido à tenra idade. A caça é aos racismos ignorados e não à obra ou seu autor. O desafio está colocado para a sociedade. E sobretudo, aos circuitos editoriais que terão que encontrar formas de respondê-lo".<br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;">*Heloísa Pires Lima é Antropóloga doutora titulada pela USP, criou e foi editora da Selo Negro Edições e é autora, entre outros, de Histórias da Preta (1998, Cia das letrinhas) e Lendas da África Moderna (2010, Elementar).</p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><br /></p><p style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px; text-align: justify;"><em style="margin: 0px; padding: 0px; border-width: 0px;"><br /></em></p>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-28909800064474031852010-11-02T22:47:00.008-02:002010-11-05T16:41:49.932-02:00Sobre intolerâncias, Mec e Monteiro Lobato<span style="font-weight: bold;">O equivocado ataque ao MEC por causa do Monteiro Lobato</span><br /><br />Por Sérgio Leo, em seu <a href="http://verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/10/o-equivocado-ataque-ao-mec-por-causa-do-monteiro-lobato.html"><span style="font-weight: bold;">blog</span></a><br /><br /><span class="mt-enclosure mt-enclosure-image" style="display: inline;"><img alt="TIA NASTACIA NO CEU.JPG" src="http://verbeat.org/blogs/sergioleo/TIA%20NASTACIA%20NO%20CEU.JPG" class="mt-image-none" style="border-width: 0px;" height="490" width="368" /></span><div class="asset-content entry-content" style="margin: 5px 0px; padding: 0px; position: static; clear: both; text-align: justify;"><div class="asset-body" style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px; clear: both; height: 1039px;"><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">Foi tópico de sucesso no Twitter: "MEC veta livro de Monteiro Lobato". E centenas de tweets indignados falavam em obscurantismo, babaquice políticamente correta, exagero.</span></p><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">Suspeito que grande parte sequer leu as obras de Lobato; conheceu o gênio pela adaptação do Sítio do Picapau Amarelo na TV. Perderam as delciiosas ilustrações de André Le Blanc, o texto maravilhoso do autor e...</span><span class="Apple-converted-space" style="font-size:100%;"> </span><span style="font-size:100%;"><a href="http://verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/10/o-racismo-de-monteiro-lobato-e-o-primarismo-dos-fas.html" style="text-decoration: none; outline-style: none; color: rgb(38, 80, 96);">seu mórbido racismo</a>. Na adaptação da obra para a TV, caparam o texto de Lobato para eliminar o racismo (e não só isso), e ninguém reclamou.</span></p><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">O que o MEC diz: o livro distribuído tem até um prefácio alertando para as impropriedades ambientais de Pedrinho, mas nada para alertar sobre o racismo. Só deve ir para as escolas se ese tema for tratado com a atenção que merece. Alguém contra isso por aí? Caramba, essa obra é para educar as crianças!</span></p><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">(Vi depois, claro,</span><span class="Apple-converted-space" style="font-size:100%;"> </span><span style="font-size:100%;"><a href="http://is.gd/gtYsr" style="text-decoration: none; outline-style: none; color: rgb(38, 80, 96);">os críticos de sempre aproveitando o escândalo para apontar "jequice" no governo</a>. É hilariante ver gente citando o Jeca Tatu de Lobato, outro fruto do preconceito do autor. Esse, Lobato corrigiu ainda em vida: num texto posterior ao Urupês, pede desculpas ao jeca, porque seu texto original e preconceituoso o culpava pelo atraso e, depois, o escritor descobnriu que sua aparente indolência era doença, resultado do péssimo sistema de saúde pública)</span></p><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">Do racismo, falei no post anterior. Vamos falar de outra coisa que mencionaram sem ler, o parecer do MEC. Muito lidas foram as matérias de jornal, que simplificaram ao ponto de desfigurar o parecer. Ele recomendou não incluir o livro "Caçadas de Pedrinho" entre as obras distribuídas à rede escolar, ou, distribuindo, acrescentar textos chamando atenção para o racismo embutido no texto, explicável pelas circunstãncias da época em que foi escrito.</span></p><p style="margin: 0px 0px 0.75em; padding: 0px;"><span style="font-size:100%;">Não é um arrazoado medieval o parecer do MEC, pelo contrário. Está repleto de referências elogiosas ao Lobato, e há comentários sobre como não se trata de banir seus livros das bibliotecas. Diz a nota técnica, segundo o parecer do MEC:</span><br /></p>"A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro."<br /><br />Mas tem mais.<br /><br />O parecer nota, ainda, que a edição bem cuidada do livro incluiu até uma introdução para chamar atenção sobre os avanços da legislação ambiental _ que já não permitiria Pedrinho nem seus fãs sairem caçando animais silvestres por aí. Mas sobre os estereótipos preconceituosos do negro e da África, não há nada. Está no livro:<br /><br />"Caçadas de Pedrinho teve origem no livro A caçada da onça, escrito em 1924 por Monteiro Lobato. Mais tarde resolveu ampliar a história que chegou às livrarias em 1933 com o novo nome. Essa grande aventura da turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje. (p. 19)."<br /><br />Nota o parecer:<br /><br />Todavia, o mesmo cuidado tomado com a inserção de duas notas explicativas e de contextualização da obra não é adotado em relação aos estereótipos raciais presentes na obra, mesmo que estejamos em um contexto no qual têm sido realizados uma série de estudos críticos que analisam o lugar do negro na literatura infantil, sobretudo, na obra de Monteiro Lobato e vivamos um momento de realização de políticas para a Educação das Relações Étnico-Raciais pelo MEC, Secretarias Estaduais e Municipais de Educação."<br /><br />Segue o texto:<br /><br /><br /><br /><br /><br /><p><br /></p><p><br /><br /><br /></p></div>"Não se pode desconsiderar todo um conjunto de estudos e análises sobre a representação do negro na literatura infantil (Gouveia, 2005; Lajolo, 1998; Vasconcelos, 1982; entre outros)1, os quais vêm apontando como as obras literárias e seus autores são produtos do seu próprio tempo e, dessa forma, podem apresentar por meio da narrativa, das personagens e das ilustrações representações e ideologias que, se não forem trabalhadas de maneira crítica pela escola e pelas políticas públicas, acabam por reforçar lugares de subalternização do negro."<br /><br />A questão foi levantada por um pesquisador da UnB que trata da temática racista em obras literárias. Não duvido que haja exageros na crítica do pesqusiador; reclamar contra o tratamento dado aos "animais da África" nos textos é ir um pouco além do combate ao racismo. Mas o fato é que há, sim, racismo nas obras de Lobato, e o drama do MEC é como lidar com isso. Não se pode simplesmente derramar o racismo de um fazendeiro paulistano genial dos anos 30 sobre a cabeça das crianças negras, brancas e pardas do século XXI.<br /><br />Pela lei Afosno Arinos, aliás, se Emília dissesse as barbaridades que diz dos "beiços" e da feiúra de "preta" de tia Nastácia, ela iria para a cadeia de Taubaté com a velocidade de quem cheira pó de pirlimpimpim. (Aliás, o bom senso impediu até hoje que se perseguissem os livros de Lobato como incentivadores do uso da droga. mas ninguém reclamou também que a versão da TV tenha expurgado o pó mágico que dá charme à narrativa lobatiana: não tem crianças cheirando nada para viajar nas Reinações de Narizinho televisivas).<br /><br />Mais parecer:<br />"<br />b) cabe à Coordenação-Geral de Material Didático do MEC cumprir com os critérios por ela mesma estabelecidos na avaliação dos livros indicados para o PNBE, de que os mesmos primem pela ausência de preconceitos, estereótipos, não selecionando obras clássicas ou contemporâneas com tal teor;<br /><br />c) caso algumas das obras selecionadas pelos especialistas, e que componham o acervo do PNBE, ainda apresentem preconceitos e estereótipos, tais como aqueles que foram denunciados pelo Sr. Antônio Gomes Costa Neto e pela Ouvidoria da SEPPIR, a Coordenação-Geral de Material Didático e a Secretaria de Educação Básica do MEC deverão exigir da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante."<br /><br />E, ainda:<br /><br />"A literatura pode ser vista como uma das arenas mais sensíveis para que tomemos providências a fim de superar essa situação. Portanto, concordando com Marisa Lajolo (1998, p. 33) analisar a representação do negro na obra de Monteiro Lobato, além de contribuir para um conhecimento maior deste grande escritor brasileiro, pode renovar os olhares com que se olham os sempre delicados laços que enlaçam literatura e sociedade, história e literatura, literatura e política e similares binômios que tentam dar conta do que, na página literária, fica entre seu aquém e seu além.<br /><br />Diante do exposto, constata-se a necessidade de formulação de orientações mais específicas às escolas da Educação Básica e aos sistemas de ensino na implementação da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos."<br /><br />OK, o texto do MEC mereceria surra com vara de marmelo de tia Nastácia; "olhares com que se olham" e "laços que enlaçam" são de amargar. Mas vejamos o voto da relatora Nilma Lino Gomes:<br />"Nos termos deste parecer, à vista do disposto no Parecer CNE/CP nº 3/2004 e na Resolução CNE/CP nº 1/2004, é essencial considerar o papel da escola no processo deeducação e (re)educação das (e para as) relações raciais, a fim de superar o racismo, adiscriminação e o preconceito racial. A despeito do importante caráter literário da obra de Monteiro Lobato, o qual não se pode negar, é necessário considerar que somos sujeitos da nossa própria época, porém, ao mesmo tempo, somos responsáveis pelos desdobramentos e efeitos das opções e orientações políticas, pedagógicas e literárias assumidas no contexto em que vivemos.<br /><br />Nesse sentido, a literatura em sintonia com o mundo não está fora dos conflitos, das tensões e das hierarquias sociais e raciais nas quais o trato à diversidade se realiza. São situações que estão presentes nos textos literários, pois estes fazem parte da vida real. A ficção não se constrói em um espaço social vazio."<br /><br />Em resumo, um pesquisador sensibilizado pela luta anti-racista denunciou o livro como contrário ás diretrizes estabelecidas pelos professores para o livro didático, os especialisats do MEC analisaram a denúncia e tiveram de admitir que a obra tem elementos racistas e concluíram que, do jeito que está, não deve constar da lista de distribuição, a menos que tenha uma orientação ao professor e aos pequenos leitores, mostrando que lá em 1933 havia mais racismo no Brasil e que não se deve tomar como padrão de conduta e valor o tipo de referência depreciativa que Lobato faz a negros.<br /><br />Quem ainda discorda disso, tente, só por alguns minutos, imaginar-se negro, com um filho negro, ouvindo na escola seus herois personagens dizerem que bonito mesmo é só louro de olhos azuis e cabelos cacheados, e que os negros podem até ter uma bela sintonia com a sabedoria popular, mas a ciência está com a branca Dona Benta e seus netos brancos. Ah, e aqueles grossos lábios negros que você tem não são bem lábios, são beiços. Como os do gado.<br /><br />A leitura de Lobato não fará de ninguém um racista. Mas seu racismo lido sem crítica em sala de aula não seria nada educativo.<br /><br />(P.S. NO Globo, um "especialista" em Lobato reclama: "na época dele er diferente; estão lendo o Lobato com olhos de 2010". É, compadre, são esses os olhos das crianças que recebem os livros didáticos distribuídos pelo MEC. Abra o seu)</div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-32014086611266712022010-10-26T15:29:00.002-02:002010-10-26T15:33:34.083-02:00Carlos Latuff: Apelo em favor do MIS- Campinas<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >O cartunista Carlos Latuff fez o vídeo abaixo, um apelo público em favor do Museu da Imagem e do Som de Campinas (SP) cujo acervo de preciosas obras da música brasileira e internacional pode se perder por falta de investimentos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Visite o site do MIS, conheça seu trabalho e apoie esta iniciativa em favor da cultura brasileira: www.miscampinas.com.br</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Jx2OnSrqod4?fs=1&hl=pt_BR&color1=0xcc2550&color2=0xe87a9f"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/Jx2OnSrqod4?fs=1&hl=pt_BR&color1=0xcc2550&color2=0xe87a9f" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-26087677707650897102010-10-14T00:45:00.001-03:002010-10-14T00:48:24.963-03:00Luis Nassif: A psicologia de massa do fascismo à brasileira<div style="text-align: justify;">Por Luis Nassif, em seu <a href="http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-psicologia-de-massa-do-fascismo-a-brasileira">blog</a><br />qua, 13/10/2010 - 23:15<br /><br />Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.<br /><br />O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial<br /><br />Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.<br /><br />Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.<br /><br />Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.<br /><br />À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.<br /><br />Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.<br /><br />Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.<br /><br />O fascismo à brasileira<br /><br />Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.<br /><br />Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.<br /><br />Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.<br /><br />Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.<br /><br />Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.<br /><br />Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.<br /><br />No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.<br /><br />A construção do ódio<br /><br />Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.<br /><br />Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.<br /><br />Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.<br /><br />Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.<br /><br />Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar. </div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-69260542730270966342010-09-26T01:06:00.003-03:002010-09-26T01:09:43.523-03:00A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA<div style="text-align: justify;">por Leonardo Boff<br /><br />Sou profundamente a favor da liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o silêncio obsequiosopelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o Brasil Nunca Mais onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.<br /><br />Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.<br /><br />Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como famiglia mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.<br /><br />Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.<br /><br />Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.<br /><br />Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16).<br /><br />Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.<br /><br />Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de fazedores de cabeça do povo. Quando Lula afirmou que a opinião pública somos nós, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.<br /><br />O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.<br /><br />Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.<br /><br />O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.<br /><br />O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.<br /><br />Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.<br /><br />*teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra e nestas eleições declarou voto à Marina Silva<br />Este artigo foi reproduzido do Blog do Jornalista Rodrigo Vianna, <a style="font-weight: bold;" href="http://rodrigovianna.com.br">O Escrevinhador</a><br /></div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7772700792271595123.post-19463728363019301822010-09-19T23:34:00.002-03:002010-09-19T23:41:24.940-03:00André Singer: A história e seus ardisELEIÇÕES<br /><br />A história e seus ardis: O lulismo posto à prova em 2010<br />Por André Singer via <a href="https://docs.google.com/document/edit?id=1aJGYNmP7N2xT0cGlPpud9bQhnf1bjiiu9bqamMcalGY&hl=pt_BR&authkey=COqw1osH#">google docs</a><br /><br />RESUMO<br /><div style="text-align: justify;">André Singer aplica às eleições de 2010 sua tese do "realinhamento" do eleitorado brasileiro, caracterizado pela adesão das classes baixas ao "lulismo" (por verem em Lula a possibilidade de ascensão social sem confronto) e pelo afastamento da classe média tradicionalmente petista, após o escândalo do mensalão.</div><br /><br /><div style="text-align: justify;">CONTA-SE QUE CERTA VEZ o engenheiro Leonel Brizola teria levado o metalúrgico Lula ao túmulo de Getúlio Vargas em São Borja (RS). Lá chegando, o gaúcho pôs-se a conversar com o ex-presidente. Depois de algumas palavras introdutórias, apresentou o líder do PT ao homem que liderou a Revolução de 1930: "Doutor Getúlio, este é o Lula", disse, ou algo parecido. Em seguida, pediu que Lula cumprimentasse o morto. Não se sabe a reação do petista.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Será que algum dos personagens do encontro pressentiu que, naquela hora, estavam sendo reatados fios interrompidos da história brasileira? Desconfio que não.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os tempos eram de furiosa desmontagem neoliberal da herança populista dos anos 1940/50. Mesmo aliados, em 1998 PT e PDT -praticamente tudo o que restava de esquerda eleitoralmente relevante- perderiam para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. O consulado tucano parecia destinado a durar pelo menos 20 anos e trazer em definitivo o neoliberalismo para o Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BRECHA</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Foi por uma brecha imprevista, aberta pelo aumento do desemprego no segundo mandato de FHC, que Lula encontrou o caminho para a Presidência da República. Para aproveitá-la, fez substanciais concessões ao capital, pois a ameaça de radicalização teria afastado o eleitorado de baixíssima renda, o qual deseja que as mudanças se deem sem ameaça à ordem.1</div><div style="text-align: justify;">Apesar da pacificação conquistada com a "Carta ao Povo Brasileiro" ter sido suficiente para vencer, o subproletariado não aderiu em bloco. Havia mais apoio entre os que tinham renda familiar acima de cinco salários mínimos do que entre os que ganhavam menos do que isso, como, aliás, sempre acontecera desde 1989. Ainda que as diferenças pudessem ser pequenas, elas expressavam a persistente desconfiança do "povão" em relação ao radicalismo do PT.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois de 2002, tudo iria mudar. A vitória levaria ao poder talvez o mais varguista dos sucessores do dr. Getúlio. Não em aspectos superficiais, pois nestes são expressivas as diferenças entre o latifundiário do Sul e o retirante do Nordeste. Tampouco no sentido de arbitrar, desde o alto, o interesse de inúmeras frações de classe, fazendo um governo que atende do banqueiro ao morador de rua. Dadas as condições, todos os presidentes tentam o mesmo milagre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que há de especificamente varguista é a ligação com setores populares antes desarticulados. Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BURGUESIA EM CALMA</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas em 1º de janeiro de 2003 ninguém poderia prever o enredo urdido pela história. Para manter em calma a burguesia, o mandato inicial de Lula, como se recorda, foi marcado pela condução conservadora nos três principais itens da macroeconomia: altos superavits primários, juros elevados e câmbio flutuante. Na aparência, o governo seguia o rumo de FHC e seria levado à impopularidade pelas mesmas boas razões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De fato, 2003 foi um ano recessivo e causou desconforto nos setores progressistas. Ao final, parte da esquerda deixou o PT para formar o PSOL. Mesmo com a retomada econômica no horizonte de 2004, Brizola deve ter morrido em desacordo com Lula, por ter transigido com o adversário.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ocorre que, de maneira discreta, outro tripé de medidas punha em marcha um aumento do consumo popular, na contramão da ortodoxia. No final de 2003, dois programas, aparentemente marginais, foram lançados sem estardalhaço: o Bolsa Família e o crédito consignado. Um era visto como mera junção das iniciativas de FHC. O segundo, como paliativo para os altíssimos juros praticados pelo Banco Central.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2004, o salário mínimo começa a se recuperar, movimento acelerado em 2005. Comendo o mingau pela borda, os três aportes juntos começaram a surtir um efeito tão poderoso quanto subestimado: o mercado interno de massa se mexia, apesar do conservadorismo macroeconômico.</div><div style="text-align: justify;">Nas pequenas localidades do interior nordestino, na vasta região amazônica, nos lugares onde a aposentadoria representava o único meio de vida, havia um verdadeiro espetáculo de crescimento, o qual passava despercebido para os "formadores de opinião".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PASSO DECISIVO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando sobrevém a tempestade do "mensalão" em 2005 -e, despertado do sono eterno pela reedição do cerco midiático de que fora vítima meio século antes no Catete, o espectro do dr. Getúlio começa a rondar o Planalto-, já estavam dadas as condições para o passo decisivo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 3 de agosto -sempre agosto-, em Garanhuns (PE), perante milhares de camponeses pobres da região em que nascera, Lula desafiou os que lhe moviam a guerra de notícias: "Se eu for [candidato], com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até então, a ligação entre Lula e os setores populares era virtual. Chegara ao topo cavalgando uma onda de insatisfação puxada pela classe média. Optou por não confrontar os donos do dinheiro. Perdeu parte da esquerda. Na margem, acionou mecanismos quase invisíveis de ajuda aos mais necessitados, cujo efeito ninguém conhecia bem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Foi só então que, empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PLACAS TECTÔNICAS</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os setores mais sensíveis da oposição perceberam que fora dada a ignição a uma fagulha de alta potência e decidiram recuar. A hipótese de impedimento foi arquivada, para decepção dos que não haviam entendido que placas tectônicas do Brasil profundo estavam em movimento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 25 de agosto, um dia depois do aniversário do suicídio de Vargas, Lula podia declarar perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que a página fora virada: "Nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez o João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência". Uma onda vinda de baixo sustentava a bonomia presidencial.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Lula que emerge nos braços do povo, depois da crise, depende menos do beneplácito do capital. Daí a entrada de Dilma Rousseff e Guido Mantega em postos estratégicos, o que mudou aspectos relevantes da política macroeconômica. Os investimentos públicos, contidos por uma execução orçamentária contracionista, foram descongelados no final de 2005. O salário mínimo tem um aumento real de 14% em 2006.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">POLARIZAÇÃO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para o público informado, a constatação do que ocorrera ainda demoraria a chegar. Foi preciso atingir o segundo turno de 2006 para que ficasse claro que o povo tinha tomado partido, ainda que em certos ambientes de classe média "ninguém" votasse em Lula.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A distribuição dos votos por renda mostra a intensa polarização social por ocasião do pleito de 2006. Pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora, do ponto de vista quantitativo, a mudança relevante tenha se dado em 2002, o que define o período é o duplo movimento de afastamento da classe média e aproximação dos mais pobres. Por isso, o mais correto é pensar que o realinhamento começa em 2002, mas só adquire a feição definitiva em 2006. Como, por sinal, aconteceu com Roosevelt entre 1932 e 1936.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SEGUNDO MANDATO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assentado sobre uma correlação de forças com menor pendência para o capital, o segundo mandato permitirá a Lula maior desenvoltura. Com o lançamento do PAC, fruto de um orçamento menos engessado, aumentam as obras públicas, as quais vão absorver mão de obra, além de induzir ao investimento privado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2007, foi gerado 1,6 milhão de empregos, 30% a mais do que no ano anterior. A recuperação do salário mínimo é acelerada, com aumento real de 31% de 2007 a 2010, contra 19% no primeiro mandato, conforme estimativa de um dos diretores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)2. A geração de emprego e renda explica os 70% de aprovação do governo desde então.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nem mesmo a derrubada da CPMF, com a qual a burguesia mostrou os dentes no final de 2007, reduziu o ritmo dos projetos governamentais. A transferência de renda continuou a crescer. Foi só ao encontrar a parede do tsunami financeiro, no último trimestre de 2008, que se interrompeu o ciclo ascendente de produção e consumo. Teria chegado, então, segundo alguns, a hora da verdade. Com as exportações em baixa, o lulismo iria definhar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">COMPRAR SEM MEDO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas o lulismo já contava com um mercado interno de massa ativado, capaz de contrabalançar o impacto da crise no comércio exterior. A ideia, difundida pelo presidente, de que a população podia comprar sem medo de quebrar, ajudou a conter o que poderia ser um choque recessivo e a relançar a economia em tempo curto e velocidade alta.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além da desoneração fiscal estratégica, como a do IPI sobre os automóveis e os eletrodomésticos da linha branca, o papel dos bancos públicos -em particular o do BNDES- na sustentação das empresas aumentou a capacidade do Estado para conduzir a economia. Numa manobra que lembra a de Vargas na Segunda Guerra, Lula utilizou a situação externa para impulsionar a produção local.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Surge uma camada de empresários -Eike Batista parece ser figura emblemática, como notava dias atrás um economista-, dispostos a seguir as orientações do governo. A principal delas é puxar o crescimento por meio de grandes obras, como as de Itaboraí -o novel polo petroquímico no Estado do Rio-, as de Suape (PE) e de Belo Monte, na Amazônia. Cada uma delas alavancará regiões inteiras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por fim, a aliança entre a burguesia e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PROJETO PLURICLASSISTA</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A candidatura Dilma representa o arco que o lulismo construiu. A ex-ministra, por sua biografia, é talhada para levar adiante um projeto nacional pluriclassista. O fato de ter sido do PDT até pouco tempo atrás não é casual. A mãe do PAC tem uma visão dos setores estratégicos em que a burguesia terá que investir, com o BNDES.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O povo lulista, que deseja distribuição da renda sem radicalização política, já dá sinais de que o alinhamento fechado em 2006 está em vigor. Em duas semanas de propaganda eleitoral na TV, Dilma subiu 9 pontos percentuais e Serra caiu 5. À medida que os mais pobres adquirem a informação de que ela é a candidata de Lula, o perfil do seu eleitorado se aproxima do que foi o de Lula em 2006. Ou seja, o voto em Dilma cresce conforme cai a renda, a escolaridade e a prosperidade regional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A classe média tradicional, em que pese aprovar o governo, continuará a votar na oposição, como demonstram a dianteira de Serra em Curitiba e o virtual empate em São Paulo, municípios em que o peso numérico das camadas intermediárias é significativo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Parte delas, sobretudo entre os jovens universitários, deverá optar por Marina Silva. Isso explica por que os que têm renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos dão 12 pontos percentuais de vantagem para a soma de Serra e Marina sobre Dilma na pesquisa Datafolha concluída em 3/9.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O problema da oposição é que esse segmento reúne apenas 14% do eleitorado, de acordo com a amostra utilizada pelo Datafolha, enquanto os mais pobres (até dois salários mínimos de renda familiar mensal) são 48% do eleitorado. Nesse segmento, Dilma possui uma diferença de 22 pontos percentuais sobre Serra e Marina somados! Se vier a ganhar no primeiro turno, será graças ao apoio, sobretudo, dos eleitores de baixíssima renda, como ocorreu com Lula na eleição passada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">REALINHAMENTO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A feição popular da provável vitória de Dilma confirma, assim, a hipótese que sugerimos no ano passado a respeito da novidade que emergiu em 2006. Se estivermos certos, por um bom tempo o PSDB precisará aprender a falar a linguagem do lulismo para ter chances eleitorais. Não se trata de mexicanização, mas de realinhamento, o qual significa menos a vitória reiterada de um mesmo grupo e mais a definição de uma agenda que decorre do vínculo entre certas camadas e partidos ou candidatos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando um governo põe em marcha mecanismos de ascensão social como os que se deram no New Deal, e como estamos a assistir hoje no Brasil, determina o andamento da política por um longo período. Num primeiro momento, trata-se da adesão dos setores beneficiados aos partidos envolvidos na mudança -o Partido Democrata nos EUA, o PT no Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o passar do tempo e as oscilações da conjuntura, os aderentes menos entusiastas podem votar em outro partido, mesmo sem romper o alinhamento inicial. Foi o que aconteceu com as vitórias do republicano Eisenhower (1952 e 1956) e dos democratas Kennedy (1960) e Johnson (1964).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas para isso a oposição não pode ser extremada, como bem o percebeu a hábil Marina Silva. Até certa altura da sua campanha, José Serra igualmente trilhou esse caminho. Foi a fase em que propôs cortar juros e duplicar a abrangência do Bolsa Família.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois, tragado pela lógica do escândalo, retornou ao caminho udenista da denúncia moral, que só garante os votos de classe média -o que, no Brasil, não ganha eleição. Convém lembrar que no ciclo dominado pelo alinhamento varguista, a UDN só conseguiu vencer com um candidato: Jânio Quadros, que falava a linguagem populista. Fora disso, resta o golpe, sombra da qual estamos livres.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">DURAÇÃO</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Qual será a duração do ciclo aberto em 2002, completado em 2006, e, aparentemente, a ser confirmado em 2010? O realinhamento abrange, por definição, um período longo. O último que vivemos, dominado pelo oposicionismo do MDB/PMDB, durou 12 anos (1974-86) e foi sepultado, quem sabe antes do tempo, pelo fracasso em controlar a inflação. A resposta para o atual momento também deve contemplar a economia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por isso, as condições de manter, pelo menos, o ritmo de crescimento médio alcançado no segundo mandato de Lula, algo como 4,5% de elevação anual do PIB, estarão no centro das preocupações do novo presidente. Sem ele, as premissas do lulismo ficam ameaçadas. Recados criptografados sobre a necessidade de reduzir a rapidez do crescimento e de fazer um ajuste fiscal duro já apareceram na imprensa, dirigidos a Dilma, provável vencedora.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O capital financeiro -apelidado na mídia de "os mercados"- vai lhe cobrar o tradicional pedágio de quem ainda não "provou" ser confiável. Caso os reclamos de pisar no freio não sejam atendidos, sempre haverá o recurso de o BC -cuja direção deverá continuar com alguém como Henrique Meirelles, senão o próprio- aumentar os juros. O aumento real do salário mínimo no primeiro ano de governo, que dependerá da presidente, pois o PIB ficou estagnado em 2009, será outro teste relevante.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">CABO DE GUERRA Convém notar que, no segundo mandato de Lula, ainda que de modo relutante, o BC foi obrigado a trabalhar com juros mais baixos. Mas o cabo de guerra será reiniciado no dia 3 de janeiro de 2011. Com os jogadores em posse de um estoque de fichas renovados pela eleição, uns apostarão em uma recuperação do espaço perdido, outros numa aceleração do caminho trilhado no segundo mandato.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O PMDB, elevado à posição de sócio importante da vitória, atribuiu-se, na campanha, o papel de interlocutor com o empresariado. O PT, possivelmente fortalecido por uma bancada maior, deverá, pela lógica, fazer-lhe o contraponto do ângulo popular. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro, servirá de termômetro para o balanço das respectivas forças.</div><div style="text-align: justify;">O futuro do lulismo dependerá de continuar incorporando, com salários melhores, os pobres ao mundo do trabalho formal. Em torno desse ponto é que se darão os principais conflitos e se definirá a extensão do ciclo. Alguns analistas da oposição alertam para a proximidade de um índice de emprego que começará a encarecer a mão de obra e gerar inflação. Como mostra Stiglitz,3 é a conversa habitual dos conservadores para brecar a expansão econômica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por fim, não se deve esquecer que uma palavra decisiva sobre esses embates virá de São Bernardo, onde residirá o ex-presidente, bem mais perto da capital do que foi, no passado, São Borja.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aguardam-se os conselhos de Vargas e Brizola, dos quais poderemos tomar conhecimento naquelas mensagens psicografadas por Elio Gaspari.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Notas</div><div style="text-align: justify;">1. Ver André Singer. "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", "Novos Estudos", 85, nov 2009. Link para o artigo em folha.com/ilustríssima</div><div style="text-align: justify;">2. Ver João Sicsú. "Dois Projetos em Disputa". "Teoria e Debate", 88, mai/jun 2010.</div><div style="text-align: justify;">3. Ver Joseph Stiglitz, "Os Exuberantes Anos 90", Companhia das Letras, 2003.</div>éhttp://www.blogger.com/profile/05780400412321032007noreply@blogger.com0