Alguém já disse que é no passado que se encontram as respostas para os dilemas do presente e as agruras do futuro. Assim, torna-se da maior importância o conhecimento da base política original dos principais líderes israelenses de ontem e hoje. Muito se fala em sionismo, às vezes até se lembra de Thedor Herzl, entretanto, do ponto de vista concreto e objetivo, houve um ativista do sionismo que merece ser recordado e compreendido como o sustentáculo teórico do presente Estado de Israel - Vladimir Jabotinsky. Embora a sua presença e atuação tenham sido fundamentais para a criação de Israel, durante muito tempo, tempo em que perdurou a hegemonia política de um grupo sionista oposto à algumas de suas idéias, foi esquecido. Mas, hoje, saber quem foi e o que pensou Jabotinsky é uma das básicas condições para se compreender a política e a função de Israel na geopolítica do imperialismo. O presente post é a transcrição de um trecho de uma matéria do conhecido jornalista argentino, Roberto Bardini. (Pedro Ayres, no blog Crônicas e Críticas da América Latina*).
Pode-se ser judeu e fascista? Um recorrido rápido pela agitada vida do ucraniano Vladimir Jabotinsky, nascido em Odessa em 1880 e falecido em Nova Iorque em 1940, talvez responda a esta pergunta. Jornalista, escritor, orador, poliglota, soldado e dirigente político, também foi, dependendo de por onde se olhe, combatente pela pátria ou terrorista.
Menahem Begin e Itschak Shamir, que chegariam a ser primeiros ministros de Israel, foram na juventude seguidores de Jabotinsky. Il Duce Benito Mussolini o considerava um dos seus e o chamava de “cidadão fascista”. O trabalhista David Ben Gurion, fundador do Estado Judeu em 1948, o comparou com o Führer e o apelidou de “Vladimir Hitler”.
Grupos sionistas desfilando em Varsóvia em 1938
Uma Idéia Fixa
Ao finalizar a guerra, em 1918, Jabotinsky se estabeleceu com sua esposa e filhos na Palestina, já então sob controle da Inglaterra. Em 1920, o descontentamento árabe pelos festejos de Pessach - uma das datas sagradas judias na qual se comemora a saída dos hebreus do Egito - derivou em violentos protestos de rua. Jabotinsky organizou uma represália contra os nativos, e não lhe tremeu a mão na hora de apertar o gatilho. Os britânicos o prenderam e julgaram por posse ilegal de armas. Sentenciado a quinze anos de prisão, foi posto em liberdade alguns meses mais tarde.
Quando, em 1923, os ingleses adjudicaram terras na Transjordânia aos palestinos, Jabotinsky propõs uma “revisão” das relações entre o movimento sionista e o Reino Unido. Os objetivos – tão agressivos como quase todas as decisões que tomou em sua vida e as ações que promoveu - incluíam a restauração da Legião Judaica e a chegada massiva de até 40 mil judeus por ano à Palestina.
Em 1925, Jabotinsky anunciou o estabelecimento da Aliança de Sionistas Revisionistas, com escritórios em París, e a criação do Betar, movimento juvenil nacional-sionista. Passa os anos seguintes dando conferências e colaborando em dezenas de publicações para promover mundialmente a sua causa. Predica que a atividade econômica do sionismo deveria se concentrar na economia privada, para financiar a imigração massiva para a Palestina. Retorna a Jerusalém em 1928, onde se torna gerente de uma companhia de seguros e edita um jornal.
Em 1930, enquanto se encontra viajando, as autoridades inglesas lhe proibiram o retorno à Palestina. Desde então, e até a sua morte, Jabotinsky fomentou o nacional-sionismo em vários países.
Quando o Duce assumiu em 1922, Jabotinsky lhe fez chegar uma mensagem por um enviado especial. Dois anos depois, um representante oficial do Partido Fascista Italiano visitou a Palestina para estabelecer relações com os seguidores do dirigente judeu.
A agência de notícias fascista, Avanti Moderno, aplaudiu a celebração do Congresso dos Sionistas Revisionistas em 1935, pelo apoio que este movimento brindou à Itália durante a campanha na Etiópia. Nesse ano, Mussolini comentou ao Rabino de Roma: “As condições necessárias para o êxito do movimento sionista são possuir um Estado judeu, com uma bandeira judia e língua judia. Há uma pessoa que conhece isto muito bem e é o cidadão fascista Jabotinsky”.
O certo é que a perseguição de judeus não figura entre as prioridades de Mussolini. O Duce teve várias amantes, entre elas duas judias: Angelica Balabanov e Margherita Sarafatti. A primeira, quando militou no socialismo; a segunda, logo após assumir o poder. Além disso, cinco judeus –entre eles César Sarafatti, irmão de Margherita – participaram na fundação dos “Fasci de Combattimento” em 1919.
Mussolini, um ex-socialista que recebeu de seu pai o nome de Benito em homenagem ao político liberal mexicano Benito Juárez (1806-1872), só assinou leis anti-semitas em 1938. Então já estava há treze anos no poder, e a Itália começava a transformar-se num Estado satélite da Alemanha. Até esse momento, a comunidade judaica italiana conviveu tranqüilamente com o fascismo.
“Foi um dos líderes sionistas mais brilhantes e fanáticos da historia. Ninguém lhe foi indiferente: todos o amaram ou o odiaram. Inimigo mortal do socialismo, foi o seu crítico mais feroz quando o sionismo socialista conquistou a hegemonia do sionismo mundial. [...] Por volta de 1930, o partido de Jabotinsky, chamado revisionista, começou a assemelhar-se muito aos movimentos fascistas da Europa, e Ben Gurión chegou a chamar seu líder de ‘Vladimir Hitler’. O ideal de Jabotinsky, tal como ele mesmo o descreveu, era o de uma sociedade monolítica, de homens todos iguais e todos obedientes até a morte, capazes de atuar em uníssono” (Mundo Judío, Lumen/Mairena, Buenos Aires, 1984).
“Atire e Deixe de Conversa Fiada”
Quando em 1936 uma comissão britânica recomendou a partilha da Palestina entre um Estado árabe e outro judeu, Jabotinsky rejeitou a proposta e ordenou incrementar os ataques contra os ingleses e os nativos árabes. No ano seguinte se transformou no comandante do “Irgun”, grupo paramilitar clandestino dos revisionistas. “Maldita é toda a guerra, mas se não quiseres matar um inocente, morrerás. E se não queres morrer, atira e deixa de conversa fiada”, escreveu em julho de 1939.
Benoît Ducarme anotou em “Israel, Likud e o sonho sionista”:
“A primeira etapa da evolução do ‘revisionismo’ sionista é a da constituição da Nova Organização Sionista, fundada em 1935, de cujo seio surgiram dois grupos armados que, substancialmente, não diferiam politicamente em muito: o Irgun e o Grupo Stern. A diferença estava na forma de combater a presença britânica na Palestina [...]. Era necessário acabar com os britânicos ou dialogar com eles?
A direção do Irgun, sob o comando de [Menachem] Beguin, era partidária de uma revolta imediata contra os britânicos. [...] A cúpula do grupo Stern pretendia provocar a revolta inclusive antes de concluído o conflito mundial. De fato, dita organização fez propostas a Mussolini no final dos anos trinta. Segundo os planos que se discutiram, os nacional-sionistas deveriam aliar-se com a Itália para acabar com os ingleses na Palestina, fundar um Estado hebreu de caráter corporativo satélite do Eixo, e colocar os lugares santos de Jerusalém à disposição do Vaticano. Estas propostas não puderam se concretizar, assim como o oferecimento feito a Hitler de recrutar 40 mil soldados judeus procedentes da Europa Oriental para enfrentar os britânicos na Palestina. Hitler preferiu apostar na carta árabe”.
Hotel Rei David destruído por bombas do Irgún em 1946
Quatro Dólares e um Cachimbo
Cinco anos antes, o líder nacional-sionista tinha redigido o seu testamento. Nele solicitava que o seu cadáver fosse trasladado a Israel “apenas por ordem do governo judeu que será estabelecido”. Em 1965, seus restos foram levados e sepultados no Monte Herzl, em Jerusalém. Em 1977, os herdeiros políticos de Vladimir “Zeev” Jabotinsky chegaram ao poder em Israel com Menachem Begin e uma aliança de partidos “revisionistas” chamada Likud. Em “Mundo Judío”, Daniel Muchnik afirmou que Begin seguramente passará à historia como “o primeiro chefe de governo judeu e fascista”.
ROBERTO BARDINI - Bambu Press - 28/07/2006
Texto traduzido pelo PazAgoraBr e publicado no blog do jornalista Pedro Ayres.
Um aviso aos leitores desavisados que forem acusar o Pedro Ayres de anti-semita, saibam que ele é judeu.
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Documento transcrito do Vi o mundo
The Iron Wall: (We and the Arabs)
(1923)*
O muro de ferro: nós e os árabes
Vladimir Jabotinsky, um dos muitos ideólogos do sionismo
Depois da introdução posso ir ao ponto. Que os árabes da Terra de Israel pretendem chegar voluntariamente a um acordo voluntário conosco está além de toda a esperança e os sonhos do presente e do futuro próximo. A convicção pessoal que expresso categoricamente não é resultado de uma tentativa de desestimular a facção moderada dos sionistas mas, ao contrário, é uma tentativa de evitar que eles se sintam desestimulados. Além daqueles que são "cegos" desde a infância, todos os sionistas moderados já entenderam que não há qualquer esperança de obter um acordo com os árabes da Terra de Israel de que a Palestina vai se tornar um país de maioria judaica.
Todo leitor tem uma idéia da história de outros países que foram colonizados. Sugiro que ele rememore. Mesmo que ele tente lembrar-se de um só caso em que o país foi colonizado com o consentimento daqueles que nasceram lá ele não vai conseguir. Os habitantes (não importa se civilizados ou selvagens) sempre partiram para uma luta teimosa. Além disso, a forma de ação do colonizador nunca importou. Os espanhóis que conquistaram o México e o Peru, ou nossos próprios ancestrais nos dias de Joshua ben Nun se comportaram, poderíamos dizer, como saqueadores. Mas os "grandes exploradores", os ingleses, escoceses e holandeses que foram os pioneiros de fato na América do Norte tinham um alto padrão ético: não só pretendiam deixar os peles vermelhas em paz mas tinham pena até mesmo das moscas; pessoas que em toda a sua sinceridade e inocência acreditavam que aquelas florestas virgens e planícies amplas eram suficientes tanto abrigar o homem branco e o pele vermelha. Mas os nativos resistiram tanto aos colonizadores bárbaros quanto aos civilizados com o mesmo grau de crueldade.
Outro ponto que nunca afetou o comportamento dos nativos é se existia ou não a suspeita de que os colonizadores pretendiam remover os habitantes de suas terras. As vastas áreas dos Estados Unidos nunca contiveram mais de um ou dois milhões de indígenas. Os nativos lutaram com os colonizadores brancos não por medo de que seriam expropriados, mas pelo fato de que nunca houve em qualquer lugar um nativo em qualquer tempo que aceitou a colonização alheia de seu país. Qualquer povo nativo -- tanto faz ser civilizado ou selvagem -- vê seu país como seu lar, do qual será sempre o chefe. Ele nunca vai permitir voluntariamente não só um novo chefe, nem mesmo um parceiro. E assim é com os árabes. Os negociadores em nosso meio tentam nos convencer de que os árabes são algum tipo de tolos que podem ser enganados por uma versão mais amenas de nossos objetivos, ou uma tribo de adoradores do dinheiro que vai abandonar seu lugar de nascença na Palestina por vantagens culturais ou econômicas. Eu rejeito claramente essa avaliação dos árabes palestinos. Culturamente eles estão 500 anos atrasados em relação a nós, espiritualmente não têm nossa resistência ou força de vontade, mas são apenas essas as diferenças. Podemos falar o quanto quisermos sobre nossas boas intenções; mas eles entendem tanto quanto nós que elas não são boas para eles. Eles olham para a Palestina com o mesmo amor instintivo e fervor verdadeiros com os quais os aztecas olhavam para o México ou os sioux para as planícies. Pensar que os árabes vão voluntariamente consentir com a realização do Sionismo em troca de benefícios culturais e econômicos é infantil. Essa fantasia de nossos "arabistas" resulta de algum tipo de desprezo pelo povo árabe, de algum tipo de visão infundada de que eles estão prontos a serem comprados, a trocar a pátria por uma rede ferroviária.
É uma visão sem qualquer base. Os árabes individualmente podem até ser comprados mas isso não singifica que todos os árabes de Eretz Israel estão prontos a vender o patriotismo que nem os moradores da Papua comerciam. Todo povo nativo vai resistir aos colonizadores enquanto tiverem a esperança de se livrar do perigo da colonização estrangeira.
É o que os árabes na Palestina estão fazendo e o que vão continuar fazendo enquanto houver uma centelha de esperança de que conseguirão evitar a transformação da "Palestina" em "Terra de Israel".
Alguns de nós acreditávamos que tinha havido um engano, que os árabes se opunham a nós por não entender nossas intenções, que se demonstrássemos como nossas aspirações são modestas e limitadas eles nos esticariam os braços em paz. Isso também é uma falácia e já foi provado mais de uma vez. Só preciso relembrar de um incidente. Três anos atrás, durante uma visita aqui, Sokolow fez um grande discurso sobre esse "engano", demonstrando que os árabes estavam errados ao supor que pretendíamos tomar a propriedade deles ou expulsá-los do país, ou reprimí-los. Não era isso. Nem queríamos um estado judeu. Tudo o que queríamos era uma regime representativo na Liga das Nações. Uma resposta ao discurso foi publicada no jornal árabe Al Carmel cujo conteúdo vou citar de memória, estou certo de que refletindo a realidade.
Nossos grandes sionistas estão desnecessariamente perturbados, o autor escreveu. Não há qualquer engano. O que Sokolow fala do sionismo é verdadeiro. Os árabes já sabem disso. Obviamente que os sionistas hoje nem podem sonhar em expulsar ou reprimir os árabes, nem mesmo em um estado judeu. Claramente nesse período eles estão interessados só em uma coisa -- que os árabes não interfiram com a imigração judaica. Além disso, os sionistas prometem controlar a imigração de acordo com a capacidade de absorção da economia. Mas os árabes não têm ilusões.
O editor do jornal chegou a dizer que a capacidade de absorção do Eretz Israel é grande e que é possível trazer um grande número de juseus sem afetar os árabes. "E é isso o que os sionistas querem e que os árabes não querem. Desse jeito os judeus, aos poucos, vão se tornar a maioria de fato, um estado judeu será formado e o destino da minoria árabe vai depender da boa vontade dos judeus. Mas não foram os próprios judeus que nos disseram como é 'prazeroso' ser minoria? Não existe engano. Os sionistas querem uma coisa -- liberdade de imigração -- e imigração judaica é o que não queremos".
A lógica empregada por esse editor é tão simples e clara que deveria ser decorada e fazer parte essencial de nossa noção da questão árabe. Não é importante se citamos Herzl ou Herbert Samuel para justificar nossas atividades. A colonização em si tem a sua própria explicação, integral e inescapável, e é entendida por todo árabe e todo judeu que tenha juízo. A colonização só pode ter um objetivo. Para os árabes palestinos esse objetivo é inadmissível. É a natureza das coisas. Mudar essa natureza é impossível.
Um plano que parece atrair muitos sionistas funciona assim: é impossível obter apoio para o sionismo dos árabes palestinos, então precisa ser obtido dos árabes da Síria, Iraque, Arábia Saudita e talvez Egito. Mesmo que fosse possível, não mudaria a situação básica. Não mudaria a postura dos árabes da terra de Isarel em relação a nós. Setenta anos atrás, a unificação da Itália foi obtida, com a retenção pela Áustria de Trent e Trieste. Mas os habitantes destas cidades não só não aceitaram a situação, mas lutaram com redobrado vigor contra a Áustria. Se fosse possível (e eu duvido) discutir a Palestina com os árabes de Bagdá ou Meca como se fosse uma terra desprezível, imaterial, ainda assim para os palestinos a Palestina continuaria sendo o seu lugar de nascimento, o centro e base de sua existência nacional. Seria necessário assim mesmo fazer a colonização contra a vontade dos árabes palestinos, sob as mesmas condições existentes agora.
Mas um acordo com os árabes de fora da Terra de Israel também é uma ilusão. Para os nacionalistas em Bagdá, Meca e Damasco concordar com uma contribuição tão expressiva (concordar em abrir mão da preservação do caráter árabe de um país localizado no centro de sua futura "federação") teríamos que oferecer a eles algo tão valioso quanto. Podemos oferecer apenas duas coisas: dinheiro ou assistência política ou ambos. Mas não podemos oferecer. Quanto a dinheiro, é ridículo pensar que poderíamos financiar o desenvolvimento do Iraque ou da Arábia Saudita, quando não temos o suficiente nem para a Terra de Israel. Dez vezes mais ilusório é dar assistência política. O nacionalismo árabe tem o mesmo objetivo que o nacionalismo italiano de antes de 1870 e do nacionalismo polonês de antes de 1918: unidade e independência. Essas aspirações significam a erradicação de todo traço de influência britânica no Egito e Iraque, a expulsão dos italianos da Líbia, a remoção do domínio francês da Síria, Tunísia, Argélia e Marrocos. Para nós apoiarmos tal movimento seria suicídio e traição. Não podemos falar em remover os britânicos do Canal de Suez e do Golfo Pérsico ou da eliminação dos governos francês e italianos de territórios árabes. Esse jogo duplo nunca poderia ser considerado.
E assim concluímos que não podemos prometer qualquer coisa para os árabes da Terra de Israel ou dos outros países árabes. O acordo voluntário deles está fora de questão. Assim, aqueles que acham que o acordo com os nativos é uma condição essencial para o sionismo devem dizer "não" e deixar o sionismo. A colonização sionista, mesmo a mais restrita, deve ser suspensa ou levada adiante apesar de resistência da população nativa. Esse colonização, assim, só pode continuar e ser desenvolvida sob a proteção de uma força independente da população local -- uma parede de ferro que a população nativa não pode romper. Essa é nossa política diante dos árabes. Formulá-la de qualquer outra forma seria hipocrisia.
Não só tem de ser assim, será assim a gente admita ou não. O que a declaração de Balfour ou o Mandato significam para nós? O fato de que um poder desinteressado se comprometeu a criar as condições de segurança para impedir que a população local interfira com nosso esforço.
Todos nós, sem exceção, pedem que esse poder cumpra estritamente as suas obrigações. Nesse sentido, não há diferenças significativas entre os nossos "militaristas" e nossos "vegetarianos". Um prefere um muro de ferro de baionetas judias, outro propõe um muro de ferro de baionetas britânicas, o terceiro propõe um acordo com Bagdá, e parece satisfeito com as baionetas de Bagdá -- um gosto estranho e arriscado, mas nós aplaudimos, noite e dia, o muro de ferro. Nós destruiríamos nossa causa se proclamassemos a necessidade de um acordo, e enchessemos a cabeças dos Mandatários com a crença de que não precisamos de um muro de ferro, mas conversas sem fim. Tal proclamação só pode nos prejudicar. Sendo assim é nosso dever sagrado expor essa conversa e provar que é uma ilusão.
Duas afirmações breves: em primeiro lugar, se alguém disser que este ponto-de-vista é imoral, eu respondo: não é verdade; ou o sionismo é moral e justo ou é imoral e injusto. Mas essa é uma questão da qual deveríamos ter tratado antes de nos tornarmos sionistas. E já obtivemos uma reposta e ela é afirmativa.
Sustentamos que o sionismo é moral e justo. E já que é moral e justo, a justiça tem de ser feita, não importa se Joseph, Simon, Ivan ou Achmet concordam ou não.
Não há outra moralidade.
Isso não significa que qualquer tipo de acordo é impossível, só um acordo voluntário é impossível. Enquanto houver uma centelha de esperança de que eles podem se livrar de nós, eles não vão vender essa esperança, não por palavras doces ou saborosas, já que não são um bando mas uma nação, talvez um pouco abatida, mas ainda viva. Um povo vivo só faz enormes concessões em questões tão primordiais quando não tiver mais esperança. Só quando não houver uma só abertura no muro de ferro, só assim os grupos extremos perdem poder e a influência se transfere para grupos moderados. Só então esses grupos moderados virão até nós para concessões mútuas. E só então os moderados vão oferecer sugestões de acordo em questões práticas como a garantia contra expulsão, ou igualdade, ou autonomia nacional.
Estou otimista de que eles receberão garantias satisfatórias e de que os dois povos, como bons vizinhos, podem viver em paz. Mas o único caminho para tal acordo é o muro de ferro, ou seja, reforçar o governo da Palestina sem qualquer influência árabe, ou seja, um com o qual os árabes vão lutar. Em outras palavras, para nós o caminho para um acordo no futuro é a rejeição absoluta de qualquer tentativa de acordo agora.
*Publicado em russo com o título O Zheleznoi Stene, em Rassvyet, 4 de Novembro de 1923
Publicado em inglês no Jewish Herald (África do Sul), 26 de Novembro de 1937
6 comentários:
Excelente artigo que joga uma luz sobre o porque de se ter chegado a dramática situação atual na Palestina.
Como judia, sempre separei o judaísmo, que é a religião dos meus antepassados e minha, do sionismo,que só tem prejudicado os judeus na Palestina e em todo o mundo.Sendo apenas,a meu ver,um ato político de características centralizadoras e fascistas.
Penso que o Estado de Israel é uma sinistra invenção dos europeus e americanos que não queriam devolver os bens e riquezas confiscados pelos nazistas das famílias judias, nem indenizá-las, fazendo a justa reparação.
Um abraço pelo seu excelente blog.
Ruth
Li agora mesmo um artigo do próprio Jabotinsky,claramente um perfeito fascista,postado no blog do Azenha.
E agora lendo essa excelente análise sobre o referido sionista pude entender o quanto é grave a situação dos palestinos e como é terrível e macabra a ideologia sionista que orienta o governo de Israel.
Os judeus que apoiam as ações do Estado de Israel talvez ainda não tenham se dado conta que estão caindo numa terrível e perigosa armadilha.Que o estudo da história os ajude a refletir e a mudar radicalmente de rumo! Ou serão vítimados pela própria barbaridade e irracionalidade que estão praticando.
Flávio Gueiros
Muito boa matéria,que ajuda a entender bem o que é o sionismo e o mal que representa para palestinos e judeus e para toda a humanidade.
Esse conflito,quer me parecer, pode levar a uma guerra generalizada no mundo,com o seu início centralizado no Oriente Médio,onde já se encontram declaradamente em guerra Irak e Afeganistão.
Parabéns pelo seu blog.
Regina Célia
EXCELENTE trabalho!!!
Estou levando.
Beijo
Tita
Bom...
Achei um bom artigo, porém encontrei dois erros:
Primeiro que o BETAR foi criado em 1923.
E segundo que Jabotinsky, era monista, isto é, tinha só um ideal e esse era a criação do estado judeu. Então ele não era simplesmente inimigo mortal do socialismo, e sim contra qualquer outro ideal que atrapalhasse a criação do estado de Israel.
Jabotinsky dizia: devemos estabelecer claramente um objetivo, já que naqueles momentos " ter dois ideais era um absurdo menos que possuir dois deuses".
Os betarim(componentes do BETAR) declararam que o seu único ideal é a criação imediata do estado judeu, para o qual dexariam de lado ideais secundários que somente atrasavam a concretização do ideal supremo.
PS:
+ Jabotinsky foi socialista na sua juventude.
+ Ele falava russo, inglês, francês, italiano, espanhol e ainda aprendeu latim e grego antigo alem do hebraico.
+ Era jornalista, e escrevia para jornais do de vários países.
Para a postagem anônima do dia 30/01 (desculpe não me referir ao seu nome, mas vc não assinou), solicitei auxílio ao jornalista Pedro Ayres, publico abaixo a resposta dele que espero que contribua para o debate:
Caríssima Conceição
Li o comentário e notei algo bem interessante. Quando o anônimo faz questão de "lembrar" o aspecto socialista do juvenil Jabotinski, uma afirmação como qualquer outra, pois, no início do século XX, já era bem acentuada a sua participação em organizações de direita e a sua devotada raiva aos membros do PCR. O fato de mais tarde orientar o seu talento político para a consolidação do Sionismo dentro e fora da Rússsia não o tornou diferente, apenas fez com que os seus ideais direitistas e capitalistas, como uma forte inclínação fascista, tivessem um rumo bem específico. Como eram muito fortes os embates políticos e pessoais no seio da comunidade paramilitar que era o movimento sionista, a maioria de alguns testemunhos indica que Jabotinski tinha uma visão de tomada do poder bem ao estílo dos fascistas italianos. Assim, como foi forçado a um exílio por seus próprios "companheiros"de empreitada, divulga-se apenas o que a propaganda sionista quer - Jabotinski, quase um déspota esclarecido, um socialista idealista e quase um "gênio" tal as suas aptidões para o domínio de línguas. algo que é bem comum entre os russos. Foi assim que entendi o comentário. E sobre Betar, é verdade, foi em 1923 se organizou esse grupo da juventude sionista revisionista, creio que no texto "Jabotinski e o fascismo judeu" deve ter havido algum equívoco, pois, o autor não estabeleceu nenhum outra data. Apenas mostrou algumas similitudes entre os betarin com os camisas pardas e camisas negras.
Beijocas
Pedro
PS: Durante muito tempo a maioria das organizações de esquerda acreditavam que Jabotinski e os kibutzin eram de orientação socialista. Um fenômeno da propaganda que chegou até a dár certos tons avermelhados ao Partido Trabalhista de Israel (o do Shimon Peres).
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