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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ingrid Betancourt libertada

Ela

seiva de lágrimas
salva da selva a mulher.
[na alma, a liberdade]

Eliana Mora, 02/07/2008



Vivemos tempos impressionantes. Em março de 2008 vários comentaristas acreditavam que a libertação de Ingrid Betancourt (que vinha sendo negociada há muito tempo) estava arruinada devido as incursões de Uribe ao território equatoriano que deflagrou uma crise diplomática na América Latina.

Hoje ela é libertada em uma operação que, baseando-se nas primeiras notícias divulgadas, parece-nos uma cena montada dos estúdios de Hollywood.

Nas ruas de Bogotá e em muitos outras cidades colombianas o povo comemorou. No Brasil, até mesmo os poetas se emocionaram e deixam seus registros, como a poeta carioca, Eliana Mora, cujo poema é a epígrafe desta postagem.

Bem, comemoremos, nem sempre temos motivos tão nobres para festejar e a liberdade deve ser celebrada
.

Depois, seria bom refletirmos sobre como ficará a política colombiana e suas relações com a América Latina: Ingrid abandonará a política ou será peça chave nas negociações para o desarmamento das Farcs? Como se relacionará com os demais presidentes que fazem oposição a Uribe, especialmente Chavez e Correa?

Na longa entrevista que assisti, logo após a sua chegada em Bogotá, ela agradeceu não apenas ao Exército Colombiano e a Uribe, mas a Chaves, aos dois últimos presidentes franceses (o ex-presidente Jacques Chirac e o atual Nicolas Sarkozy) e a Correia.

Como lidará com a milícia de extrema-direita que alimenta a violência interna na Colômbia? Havia rumores em relação à sua saúde, eles procedem? Acompanhemos.



Colômbia anuncia libertação de Ingrid Betancourt

O Exército colombiano anunciou nesta quarta-feira (2) o resgate de Ingrid Betancourt, três estadunidenses e 11 militares que estavam em poder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Os nomes dos 15 reféns resgatados são:

Ingrid Betancourt
Keith Stansell
Thomas Howen
Mark Gonsalvez
Juan Carlos Bermeo
Raimundo Malagón
José Ricardo Marulanda
William Pérez
Erasmo Romero
José Miguel Arteaga
Armando Florez
Julio Buitrago
Armando Castellanos
Vianey Rodríguez
John Jairo Duran


Betancourt, de nacionalidade franco-colombiana, era prisioneira da guerrilha colombiana desde 2002, quando fazia campanha como candidata à Presidência do país.

Os três estadunidenses foram presos em fevereiro de 2003, quando realizavam uma missão aérea do chamado Plano Colômbia nas selvas de Caquetá, ao sul do país.

O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, declarou que os quatro ex-prisioneiros estão em estado de saúde razoavelmente bom.

O resgate foi realizado em uma zona de floresta do departamento de Guaviare, no sudoeste da Colômbia, de acordo com Santos.

"Seguiremos trabalhando na libertação dos demais seqüestrados. Fazemos um chamado aos atuais líderes das Farc para que não matem, liberem os outros seqüestrados e não sacrifiquem seus homens", declarou o ministro, em coletiva na sede do Ministério da Defesa, em Bogotá.

O governo colombiano afirma que a operação de resgate dos 15 reféns das Farc conseguiu enganar a guerrilha ao infiltrar agentes das Forças Armadas colombianas na cúpula do grupo. De acordo com comunicado do Ministério de Relações Exteriores da Colômbia, os infiltrados estavam no grupo de soldados comandado pelo guerrilheiro Cesar.

O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, afirmou que os agentes convenceram o guerrilheiro a reunir os reféns -que estavam separados em três grupos- para levá-los a outra área.

"Esta é uma operação sem precedentes que será lembrada na história por sua audácia e e eficiência", disse Santos. "Quinze pessoas foram resgatadas sem que um tiro fosse disparado", afirmaram as autoridades colombianas. Ainda de acordo com as informações do governo da Colômbia, foi o serviço de inteligência que planejou a entrada de informantes nas Farc.

Os 15 reféns faziam parte de um grupo de 39 seqüestrados que seriam trocados por 500 rebeldes presos na Colômbia. "Como os seqüestrados estavam divididos em três grupos, era preciso reuni-los em um lugar só. Eles seriam levados ao sul do país pelo helicóptero de uma organização humanitária fictícia para, supostamente, ficarem sob as ordens de Alfonso Cano, o novo líder do grupo", disse o ministro.

Ao chegarem ao local, porém, o integrantes das Farc foram surpreendidos por helicópteros do Exército colombiano, que resgataram os 15 presos e os levaram a San José, para então serem transferidos a Tolemaida. O guerrilheiro Cesar e um outro comparsa foram presos pelos soldados colombianos.

Em nota, o governo ainda se mostrou disposto a negociar com os guerrilheiros, caso eles realmente "desejem a paz".

Informações Das agências internacionais
Em Bogotá (Colômbia)

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"Eu acredito que é um sinal de paz para a Colômbia", afirma Betancourt após o resgate

Das agências internacionais
Em Bogotá (Colômbia)
02/07/2008 Atualizado às 20h21

Após ser resgatada junto com um grupo de 14 reféns das Farc, Ingrid Betancourt deu um depoimento a uma rádio do Exército colombiano, reproduzido por diversas rádios locais. "Quero em primeiro lugar dar graças a Deus e aos soldados da Colômbia", disse, acrescentando que a operação militar foi "absolutamente impecável".

"Eu acredito que é um sinal de paz para a Colômbia, que nós podemos encontrar a paz", completou em sua primeira declaração pública após a libertação.

Depois de encontrar os familiares, Betancourt disse aos pés do avião que a trouxe a Bogotá que lutará pela liberdade dos outros seqüestrados. "Como o presidente Nicolas Sarkozy, vamos seguir lutando pela liberdade dos que continuam presos", afirmou. A ex-candidata à presidência acrescentou que se a liberdade não for alcançada pela negociação, deve haver "confiança nas forças militares".

Em seu depoimento à rádio, a ex-refém disse que os agentes infiltrados se disfarçaram tão bem dentro das Farc que usaram até camisetas com a imagem de Ernesto "Che" Guevara: "Eles falavam como guerrilheiros e se vestiam como tais", afirmou Ingrid.

Segundo ela, a operação começou ao amanhecer quando os integrantes das Farc informaram que os reféns seriam transportados para outro local. Para Ingrid, ninguém desconfiava que haveria o resgate e só tomaram consciência do fato quando estavam no ar e um dos supostos guerrilheiros gritou: "somos o Exército da Colômbia e vocês estão livres", conta.


Entrevista Luiz Felipe de Alencastro, professor da Universidade de Paris-Sorbonne, sobre a libertação de Ingrid Betancourt e mais 14 reféns pelas Farc, segundo informações do governo colombiano


Vídeo da AP- Onde general colombiano explica como se deu a libertação de 15 pessoas, entre elas a senadora Ingrid Betancourt e três estadunidenses.

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Atualizado em 05/07/2008


O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Mário Augusto Jakobskind
*



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O episódio da libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das Farc, entre os quais três agentes policiais estadunidenses, vale algumas reflexões, que remetem inclusive à problemática da democratização da mídia. É que depois do anúncio da soltura dos seqüestrados, praticamente cem por cento dos veículos de comunicação repetiram a mesma retórica, com destaque para o “enfraquecimento” do Presidente Hugo Chávez. Ou seja, prevaleceu o esquema do pensamento único de uma só verdade, divulgada pelo governo colombiano.

A versão sobre as circunstâncias da ação, apesar do carnaval relacionado com o esquema gênero Rambo, tem pontos obscuros que não mereceram destaque na mídia. Teria havido algum acordo com as Farc ou o que está sendo informado corresponde exatamente a realidade? Como que um grupo armado em operação permanente desde 1964, por mais enfraquecido que se encontre, como parece neste momento, se deixa enganar tão facilmente pelos rambos com camisas de Che Guevara?

O que fazia o candidato John McCain na Colômbia? Ele estava lá por mera coincidência? Difícil de acreditar. O governo estadunidense diz que não participou diretamente da operação etc e tal. Difícil de acreditar.

Afinal, o carcereiro de Ingrid Betancourt se deixou enredar pelos rambos ou caiu numa armadilha depois que houve o acordo e acabou preso? As agências de notícias tinham informado poucas horas antes da libertação dos reféns que o ex-cônsul francês em Bogotá, Noel Saenz e o diplomata suíço Jean-Pierre Gontard, fizeram um contacto com as Farc para discutir o destino de Betancourt. O noticiário dizia que “um negociador francês e um suíço passaram três dias numa área onde se acredita que operam importantes comandantes, como parte do esforço para a libertação dos reféns que incluem a franco-colombiana Ingrid Betancourt e três estadunidenses”.

O insuspeito jornal conservador Le Fígaro informava que os negociadores tinham se reunido com uma pessoa próxima de Alfonso Cano (o substituto do falecido Manuel Marulanda Vélez, o Tiro Fijo), nas montanhas do sul da Colômbia para, de acordo com “fontes oficiais colombianas”, discutir o destino de Betancourt.

Outro fato que não se deve deixar de mencionar: há cerca de dois meses diziam que Ingrid Betancourt estava mal de saúde, talvez até não resistisse a uma série de doenças que teria contraído no seu cativeiro na selva. Pois bem, ela reapareceu parecendo muito bem de saúde e até bem disposta. Será que somente a alegria de conseguir a liberdade fez com que ela mudasse de fisionomia de uma hora para outra?

Os falcões estão radiantes. Vão insistir com a tese de que a única saída é mesmo a do confronto militar. O Pólo Democrático, o setor da esquerda democrática que se opõe a Uribe, já deixou claro em uma nota que “o êxito da operação – partindo-se do pressuposto de que prevalece a verdade dos Rambos – não pode levar à conclusão de que o resgate militar é o método eficaz e seguro para libertar os seqüestradores, sem risco para a vida e integridade (das vítimas), e que se deve descartar a possibilidade de um acordo humanitário como paliativo às conseqüências do conflito armado enquanto este subsiste”.

É importante conhecer o ponto de vista deste setor neste momento, porque os falcões de todos os rincões vão querer induzir a opinião pública que fora do confronto militar não há mesmo outra saída. Para tanto foram acionados os colunistas de sempre e até mesmo figuras conceituadas do mundo acadêmico.

Desancaram sobre o presidente Hugo Chávez, considerado “enfraquecido” pelo desfecho da operação. Tentaram de todas as formas, com base na mentira ou meias verdades, insinuar, como faz o Departamento de Estado norte-americano, que o presidente venezuelano apóia as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Há poucas semanas, Chávez apelou às Farc no sentido de libertar os seqüestrados sem qualquer condição. Para o presidente venezuelano esta seria uma forma concreta de se avançar nas negociações. O apelo teria sido levado em conta e sinalizou para o início de um acordo que contemplaria a libertação de 41 reféns?

Outra reflexão importante, que foi enfatizada por Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa, entre outros, é o de que a América Latina hoje não comporta mais a luta armada como forma de se chegar ao poder. Em muitos casos a insistência nesta via pode servir de pretexto para a linha dura Uribe-Bush colocar a estratégia belicista em ação.

Em tempo: Informação mais recente divulgada pela rádio pública suíça Romanda, assinala que as Farc teriam recebido quase 20 milhões de dólares para libertar Ingrid Betancourt e os outros 14 reféns. A emissora disse ainda que os Estados Unidos estiveram na “origem da transição” e todo o resto foi uma encenação. Segundo ainda a emissora, a informação tem como base uma "fonte ligada aos acontecimentos, confiável e testada em reiteradas ocasiões nos últimos anos".

Uma outra versão assinala que o pagamento teria sido feito a um guerrilheiro.

O governo francês nega que tenha feito qualquer pagamento.

É possível que muitos outros fatos venham a se tornar públicos mais cedo ou mais tarde. Quem viver verá!

Mário Augusto Jakobskind é jornalista e escritor

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