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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Centenário de Solano Trindade e outros temas esquecidos


Tempos atrás eu trouxe para vocês a beleza da crítica de Gato Preto, é um trabalho que tem de ser conhecido.

Agora, trago um banho de cultura periférica do qual não temos acesso ao ler os grandes jornais. Neles
, só sabemos que a periferia é lugar de crimes bárbaros, aprendemos que lá é o 'reduto das drogas' e de desmandos de toda a ordem, como se a periferia fosse um corpo estranho da Nação dos que vivem no asfalto (o é, porque os que vivem no asfalto insistem em ignorá-la).

Mas embora os reforços dos estereótipos sejam a tônica na grande mídia (que raramente concede voz à periferia), ela nunca deixou de poetar, cantar, dançar, criar, produzir, fazer história.

É de poesia que fala o artigo que destaco ao final de minha postagem: da poesia do pernambucano Solano Trindade, também protagonista importante da história do movimento negro do século XX.


Retrato de Solano Trindade, 1969
(1908, Recife, PE - 1974, Rio de Janeiro, RJ)
Madalena Schwartz
Acervo Museu Afro Brasil

Eu aposto que você não sabia que o autor da belíssima música 'Mulher barriguda', gravada na década de 1970 pelos Secos e Molhados, é de autoria de Solano Trindade. Minha aposta vem da imensa desinformação que também se espalha pela rede (vi até site que diz que a letra é da Pity!)

Antes de deixá-los com a leitura do texto de Eleilson Leite, destaco alguns de meus poemas prediletos de Solano:

Mulher barriguda
(musicado por João Ricardo dos Secos e Molhados)

Mulher barriguda
Que vai ter menino
Qual é o destino
Que ele vai ter
Que será ele
Quando crescer...

Haverá ‘inda guerra?
Tomara que não
Mulher barriguda
Tomara que não...


Muleque

Muleque, muleque
quem te deu este beiço
assim tão grandão?

Teus cabelos
de pimenta do reino?

Teu nariz
essa coisa achatada?

Muleque, muleque
quem te fez assim?

Eu penso, muleque
que foi o amor...


Gravata Colorida

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...


Agora, aproveitem o exercício contra-hegemônico de Eleilson Leite que dá voz e vez aqueles 'que não saíram na foto', como diria Galeano.


CULTURA PERIFÉRICA

"Meu bairro era pobre, mas ficava bem bonito metido num luar"

Mídia tradicional multiplica referências a Machado e a Rosa, rendendo-lhes homenagens previsíveis e banais. Coluna destaca outro centenário: o de Solano Trindade. Poeta, dramaturgo, ator e artista plástico, ele cantou a dignidade, as lutas, amores e dores dos negros e dos que vivem do trabalho

Eleilson Leite

(08/07/2008)

O mundo das letras está em ebulição. Começou nesta semana a Festa Literária de Paraty (FLIP). Vivemos também o advento da 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, programada para agosto, na qual será entregue o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, que completa sua 50ª edição, em 2008. Permeiam estes eventos duas outras efemérides que estão sendo super festejas pela grande mídia. Trata-se dos 100 anos da morte de Machado de Assis e o centenário do nascimento de João Guimarães Rosa. Dois grandes escritores que merecem todas as homenagens, mas certamente há um exagero na badalação.

É impressionante como a mídia e toda a indústria cultural vivem de consagrar o consagrado, para usar uma expressão da filósofa Marilena Chauí. Nos cadernos de cultura dos principais jornais de São Paulo só se vê as mesmas pautas. É Guimarães Rosa pra cá, Machado de Assis pra lá. Há até um revezamento. Os dois jornais de maior circulação não falam do mesmo autor no mesmo dia. Não sei se é preguiça intelectual ou se a mídia é mesmo, como já disseram muitos críticos gabaritados, uma reprodutora de releases das grandes editoras, gravadoras e demais corporações do mundo da cultura.

Vou, então, no espaço desta coluna, fazer um exercício de contra-hegemonia. Vamos falar de um outro centenário que as elites desconhecem ou desprezam. Quero falar do poeta Solano Trindade, que nasceu em Recife, no dia 24 de julho de 1908, e faleceu a 19 de novembro de 1974 no Rio de Janeiro, cidade onde morreram Machado de Assis e Guimarães Rosa. Um homem simples que viveu e morreu humildemente e que cantou a simplicidade, a dignidade e a luta da mulher e do homem negros: seus valores, amores, dores e conquistas.

Multifacetado, Solano foi, além de poeta, pintor, escultor, ator, teatrólogo, folclorista, agitador cultural e ativista político. Passou os 66 anos que a vida lhe destinou de forma intensa, produzindo uma arte marcante, de grande vigor estético. Solano veio ao mundo, como ele mesmo disse, para cumprir uma missão:

Irei em busca da paz
do alimento e do abrigo
para quem trabalha
e assim cumprirei
a minha missão de poeta
.


Em 1936, Solano fundou, junto com outros companheiros, a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro, na cidade do Recife. Foi nessa época que publicou seus primeiros poemas. Os recifenses têm muito orgulho de seu poeta. Numa calçada do Pátio São Pedro, no centro, há uma estátua de Solano em tamanho natural. Foi também nesses anos de intensa militância que ele casou-se com Maria Margarida. Com ela, viveu por 25 anos e teve quatro filhos, sendo a primogênita — Raquel Trindade, artista plástica, dançarina e poeta — a grande guardiã do legado cultural de Solano. Raquel fundou o teatro que leva o nome de seu pai na cidade de Embu das Artes, município na região metropolitana de São Paulo para onde Solano mudou-se em 1961, e de onde só saiu no início dos anos 70 para se tratar no Rio de Janeiro, cidade em que veio a falecer.

Inquieto, Solano Trindade deixou sua cidade natal em 1940. Passou por Belo Horizonte e Pelotas, no Rio Grande do Sul. Voltou à capital pernambucana e de lá partiu definitivamente em 1942, indo buscar morada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, então Estado da Guanabara. Foi um período de grande produção artística. Vendeu seus primeiros quadros e publicou sua obra seminal em 1944: Poemas D’uma Vida Simples. Fundou o Teatro Popular Brasileiro em 1950. Apresentou-se na Europa em 1955. Viveu uma fase muito voltada ao teatro, participando de grandes espetáculos como ator e também produtor. Passou a vir a São Paulo com freqüência e por aqui fixou residência no final da década de 1950. Tempos de mudanças. Separara-se de Margarida e casa-se com Dione. Conhece a Cidade de Embu por meio do artista Assis e muda-se para lá, ajudando a transformar o nome deste município em Embu das Artes, em virtude da intensa agitação cultural que lidera, criando inclusive a famosa Feira do Embu, que há mais de quarenta anos faz desta cidade um ponto turístico dos mais interessantes de São Paulo.

E é no Embu das Artes que os cem anos do nascimento de Solano Trindade serão comemorados com todas as honras e loas que a data merece. Foi lá que começaram os festejos do centenário, em julho do ano passado, com a inauguração de uma estátua feita pelo escultor Jofe dos Santos. Para lá vão convergir todas as lembranças do grande poeta. Há uma intensa programação que começou nesta sexta-feira, dia 4 e segue até o dia 27. Vai ter festival gastronômico, saraus nas feiras livres e praças, shows — entre eles, o espetáculo Cantando Solano Trindade, Meu Avô, do músico Vitor da Trindade. Nos dias 25 e 26, vai rolar uma maratona imperdível de shows, tendo entre outras atrações Fabiana Cozza, Osvaldinho da Cuíca e Z’África Brasil. No encerramento, haverá muita cultura tradicional, com atrações como Folia de Reis Gonçalves, Congada de São Bernardo, Tropeiros da Serra, entre outros. Será uma grande festa e a programação completa pode ser vista no site da Prefeitura. Imperdível!

Solano Trindade publicou em vida outros dois livros: Seis Tempos de Poesia (1958) e Cantares ao Meu Povo (1961). Todas essas obras encontram-se fora de catálogo. Mas a Editora Nova Alexandria nos brindou com dois lançamentos, que ajudam a cobrir essa lacuna. Lançou, em 25 de junho, Poemas Antológicos, com excelente seleção e introdução de Zenir Campos dos Reis. Foi lá que obtive boa parte das informações utilizadas neste texto. São 110 poemas agrupados em quatro capítulos: Vida, nossa Vida; Deuses e Raízes; Amor à Flor da Pele e Resistência e Luta. A obra é ilustrada com belíssimas pinturas de Raque Trindade.

Solano escolheu amar o povo tendo a arte como credo, a poesia como liturgia e o teatro como templo. Não será em Paraty que a gente vai encontrar sua poesia. Nem na Bienal do Livro de São Paulo

Li toda a antologia em duas noites. Não costumo ler poesia assim, com avidez de quem lê prosa. Costumo degustar lentamente. Mas com Solano não dá. Ele nos convoca com urgência:

Poetas despertai enquanto é tempo
Antes que a poesia do mundo vá-se embora.

Ele nos arrebata com versos de grande vigor literário:

A madrugada é fria
e chove tanto
que a água a bater no barro
parece pranto
de mulher parida
num mau parto
.

Ele também nos contagia:

Hoje estou exuberante
estou poroso de poesia
como liberto
recém-saído da cadeia
eu canto.


Solano nos faz ler como ele gostava de ler:

Eu gosto de ler gostando
gozando a poesia
como se ela fosse
uma boa camarada
dessas que beijam a gente
gostando de ser beijada.


Não dá pra resistir à poesia de Solano Trindade. E a Editora Nova Alexandria, que já havia publicado, em 2006, uma seleção do autor, chamada Canto Negro, também se lembrou das crianças. Publicou para os pequenos o famoso poema Tem Gente Com Fome. A obra, de 24 páginas, foi lindamente ilustrada por Murilo Silva e Cíntia Viana. Este poema, certamente o mais conhecido da lavra de Solano Trindade foi musicado pelo Secos e Molhados, grupo que no seu disco de estréia em 1974 já havia gravado o poema Mulher Barriguda. A música entraria no segundo, e último, disco do grupo no ano seguinte , não fosse o fato de a censura tê-la barrado. Anos depois, Ney Matogrosso, em carreira solo, gravou a canção.

Solano Trindade, que se converteu ao protestantismo na década de 1940, chegando a ser diácono, abandonou a igreja e foi para o Partido Comunista em nome de Deus. É isso mesmo. A decisão foi tomada ao refletir sobre um trecho do Evangelho de João que diz assim: “se tu não amas a quem vês, como pode amar a Deus, a quem não vê?” Quem conta essa história e tantas outras é Rachel Trindade no lindo filme Imagens de Uma Vida Simples do jovem cineasta, ativista e poeta da periferia da Zona Sul de São Paulo, Daniel Fagundes, em colaboração com Fernando Solidade Soares e Diego Soares, os três do Núcleo de Comunicação Alternativa (NCA). Neste documentário é possível tomar contato com toda a trajetória artística e política de Solano Trindade e seu legado para a cultura brasileira. Vale a pena assistir a esse filme, que pode ser encontrado no acervo do NCA no Cedeca Interlagos e também no Centro de Mídia Juvenil da ONG Ação Educativa.

Solano escolheu amar o povo tendo a arte como credo, a poesia como liturgia e o teatro como templo. Não será em Paraty que a gente vai encontrar sua poesia. Nem na Bienal do Livro de São Paulo ela terá destaque. Tampouco os suplementos literários da grande imprensa irão lembrá-lo. Solano era um homem da periferia:

Meu bairro era pobre
mas ficava bem bonito
metido num luar

E é nas quebradas que ele será reverenciado. No Sarau da Cooperifa, Solano é sempre declamado. Quem for a Embu das Artes irá se esbaldar com a arte do grande poeta negro do século 20. O artista que apenas queria cantar o amor:

Quando um amor no peito morre
Outro amor no peito nasce
Coração de poeta é terra boa
Para plantar o amor.

Mais

Ação educativa: www.acaoeducativa.org
Editora Nova Alexandria: www.novaalexandria.com.br
Prefeitura de Embu das Artes: www.embu.sp.gov.br

Eleilson Leite é colunista do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique. Edições anteriores da coluna:

Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar
Escola Pernambucana de Circo organiza, em festa, seu centro de arte-educação. Ao invés de adotar postura "profissionalizante", iniciativa busca emancipar. Por isso, aposta na qualidade artística, técnica e cultural de seu trabalho, e foge do conceito de "arte para pobre”

Plano Nacional de Cultura: realidade ou ficção?
Ministério lança documento ousado, que estabelece, pela primeira vez, política cultural para o país. Dúvida: a iniciativa será capaz de driblar a falta de recursos e a cegueira histórica do Estado em relação à produção simbólica? Coluna convida os leitores a debate e mobilização sobre o tema

Semeando asas na quebrada paulistana
De como a trupe teatral Pombas Urbanas, criada por um peruano, chegou a mudar o nome do Brasil, trocou os palcos pelas ruas, sofreu a perda trágica de seu criador mas reviveu, animada pela gente forte da periferia — para onde regressou e de onde não pretende se afastar

Humildade, dignidade e proceder
Agenda da Periferia completa um ano de publicação. Como diria Sergio Vaz, não praticamos jornalismo — "jogamos futebol de várzea no papel". Fazê-la é exercício de persistência, crença e doação. O maior sinal de êxito é o respeito que o projeto adquriu no movimento cultural das quebradas

A revolução cultural dos motoboys
Um evento em São Paulo, um site inusitado e dois filmes ajudam a revelar a vida e cultura destes personagens de nossas metrópoles. Sempre oprimidos, por vezes violentos, eles vivem quase todos na periferia, são a própria metáfora do caos urbano e estão construindo uma cultura peculiar

Manos e Minas no horário nobre
Estréia na TV Cultura programa que aborda cena cultural da periferia com criatividade, sem espetacularização e a partir do olhar dos artistas do subúrbio. Iniciativa lembra o histórico Fábrica do Som, mas revela que universo social da juventunde já não é dominado pelos brancos, nem pela classe média

Pequenas revoluções
Em São Paulo, mais de cem projetos culturais passam a ter financiamento público, por meio do VAI. Quase sempre propostos por jovens, e a partir das quebradas, eles revelam as raízes e o amadurecimento rápido da arte nas periferias. Também indicam uma interessante preferência pela literatura

A periferia na Virada e a virada da periferia
Em São Paulo, a arte vibrante das quebradas dribla o preconceito e aparece com força num dos maiores eventos culturais do país. Roteiro para o hip-hop, rap, DJs, bambas, rodas de samba, rock, punk e festivais independentes. Idéias para que uma iniciativa inovadora perdure e supere limites

Retratos da São Paulo indígena
Em torno de 1.500 guaranis, reunidos em quatro aldeias, habitam a maior cidade do país. A grande maioria dos que defendem os povos indígenas, na metrópole, jamais teve contato com eles. Estão na perferia, que vêem como lugar sagrado

Cultura, consciência e transformação
A cada dia fica mais claro que a produção simbólica articula comunidades, produz movimento, desperta rebeldias e inventa futuros. Mas a relação entre cultura e transformação social é muito mais profunda que a vã filosofia dos que se apressam a "politizar as rodas de samba"...

É tudo nosso!
Quase ausente em É tudo Verdade, audiovisual produzido nas periferias brasileiras reúne obras densas, criativas e inovadoras. Festival alternativo exibe, em São Paulo, parte destes filmes e vídeos, que já começam a ser recolhidos num acervo específico

Arte de rua, democracia e protesto
São Paulo saúda, a partir de 27/3, o grafite. Surgido nos anos 70, e adotado pela periferia no rastro do movimento hip-hop, ele tornou-se parte da paisagem e da vida cultural da cidade. As celebrações terão colorido, humor e barulho: contra a prefeitura, que resolveu reprimir os grafiteiros

As festas deles e as nossas
Num texto preconceituoso, jornal de São Paulo "denuncia" agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo

Arte independente também se produz
Às margens da represa de Guarapiranga, Varal Cultural é grande mostra de arte da metrópole. Organizado todos os meses, revela rapaziada que é crítica, autogestionária, cooperativista e solidária — mas acredita em seu trabalho e não aceita receber migalhas por ele

Nas quebradas, toca Raul
Um bairro da Zona Sul de São Paulo vive a 1ª Mostra Cultural Arte dos Hippies. Na periferia, a pregação do amor e liberdade faz sentido. É lá que Raul Seixas continua bombando em shows imaginários, animando coros regados a vinho barato nas portas do metrô, evocando memórias e tramando futuros

No mundo da cultura, o centro está em toda parte
Estamos dispostos a discutir a cultura dos subúrbios; indagar se ela, além de afirmação política, está produzindo inovações estéticas. Mas não aceitamos fazê-lo a partir de uma visão hierarquizada de cultura: popular-erudita, alta-baixa. Alguns espetáculos em cartaz ajudam a abrir o bom debate

Do tambor ao toca-discos
No momento de maior prestígio dos DJs, evento hip-hop comandado por Erry-G resgata o elo entre as pick-ups, a batida Dub da Jamaica e a percussão africana. Apresentação ressalta importância dos discos de vinil e a luta para manter única fábrica brasileira que os produz

Pirapora, onde pulsa o samba paulista
Aqui, romeiros e sambistas, devotos e profanos lançaram sementes para o carnaval de rua, num fenômeno que entusiasmou Mário de Andrade. Aqui, o samba dos mestres (como Osvaldinho da Cuíca) vibra, e animará quatro dias de folia. Aqui, a 45 minutos do centro da metrópole

São Paulo, 454: a periferia toma conta
Em vez de voltar ao Mercadão, conheça este ano, na festa da cidade, Espaço Maloca, Biblioteca Suburbano Convicto, Buteco do Timaia. Delicie-se no Panelafro, Saboeiro, Bar do Binho. Ignorada pela mídia, a parte de Sampa onde estão 63% dos habitantes é um mundo cultural rico, diverso e vibrante

2007: a profecia se fez como previsto
Há uma década, os Racionais lançavam Sobrevivendo no Inferno, seu CD-Manifesto. O rap vale mais que uma metralhadora. Os quatro pretos periféricos demarcaram um território, mostrando que as quebradas são capazes de inverter o jogo, e o ácido da poesia pode corroer o sistema

No meio de uma gente tão modesta
Milhares de pessoas reúnem-se todas as semanas nas quebradas, em torno das rodas de samba. Filho da dor, mas pai do prazer, o ritmo é o manto simbólico que anima as comunidades a valorizar o que são, multiplica pertencimentos e sugere ser livre como uma pipa nos céus da perifa

A dor e a delícia de ser negro
Dia da Consciência Negra desencadeia, em São Paulo, semana completa de manifestações artísticas. Nosso roteiro destaca parte da programação, que se repete em muitas outras cidades e volta a realçar emergência, diversidade e brilho da cultura periférica

Onde mora a poesia
Invariavelmente realizados em botecos, os saraus da periferia são despojados de requintes. Mas são muito rigorosos quanto aos rituais de pertencimento e ao acolhimento. Enganam-se aqueles que vêem esses encontros como algo furtivo e desprovido de rigores

O biscoito fino das quebradas
Semana de Arte Moderna da Periferia começa dia 4/11, em São Paulo. Programa desmente estereótipos que reduzem favela a violência, e revela produção cultural refinada, não-panfletária, capaz questionar a injustiça com a arma aguda da criação

A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza

Vem aí Semana de Arte Moderna da Periferia. Iniciativa recupera radicalidade de 1922 e da Tropicália, mas afirma, além disso, Brasil que já não se espelha nas elites, nem aceita ser subalterno a elas. Diplô abre coluna quinzenal sobre cultura periférica

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