Fé e tecnologia em Dubai

Quando estava elaborando o projeto pedagógico da coleção História em Projetos, chamava-me a atenção a ausência de um olhar mais problematizador para o mundo islâmico, hindu, para o Oriente, a África e a América Latina na abordagem destas temáticas em muitas coleções didáticas.

Boa parte das coleções que analisei sequer tinham capítulos dedicados ao império Chinês durante a Antiguidade. Nenhuma referência sobre as inúmeras culturas que se formaram em território indiano, assim como não havia nada sobre o hinduismo, budismo e, quando havia alguma menção ao Islã as representações eram carregadas de estereótipos.

Ao elaborar a proposta pedagógica da coleção tinha como objetivo não reforçar uma abordagem etnocêntrica, especialmente euro-ocidental que, infelizmente, ainda direciona a produção dos materiais didáticos de história no Brasil. A meu ver, nossos estudantes têm o direito de conhecer a história latino-americana, africana e asiática sem reducionismos e sem reforçar estereótipos. Creio que com acesso a outros valores culturais, sem juízos de valor, eles poderão ser educados para respeitar diferenças e entender que em nosso mundo, tão vasto mundo, cabem muitas diferenças.

Hoje lendo uma pequena crônica, nascida do olhar atento de um jornalista brasileiro sobre as cenas que ele observou no aeroporto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, percebi que minhas questões eram bastante pertinentes e ressoam em outras mentes.

A pequena crônica e as imagens que ele produziu podem ser usadas em sala de aula como um bom ponto de partida para vários capítulos trabalhados ao longo do volume de 5a série (6º ano).
Eu discordo dele quanto ao título dado à matéria. Não acho que a tecnologia se descola da fé. Creio que nesses países onde o 'futuro' tecnológico já chegou as religiões milenares ou seculares convivem muito bem com o mundo tecnológico, cada qual no seu canto.

No Brasil, poderíamos, inclusive, aprender com os praticantes das religiões orientais: não há por que uma muçulmana de burca ou xador não usar um caixa eletrônico bancário. Complicado é determinadas igrejas fazer proselitismo religioso e propagar a intolerância por meio das mídias eletrônicas ou seus membros (com bastante representatividade no Congresso) quererem barrar pesquisas com células embrionárias no STF.

Confiram o olhar de Azenha sobre o Oriente que se cruza em Dubai:

No século XXI, tecnologia se descola da fé
Luiz Carlos Azenha (01/07/2008)

NAIROBI - Submeto a vocês algumas fotos que fiz no aeroporto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, quando eu estava a caminho da África.

Fiquei realmente impressionado com o que vi e com o que imagino será o mundo no século vinte e um, com a ascensão de países como a China e a Índia, sem falar na Indonésia e na Malásia.

Será o século da Ásia.

Fica mais fácil entender, agora, o motivo pelo qual a Igreja Católica - ou pelo menos a hierarquia dela, no Vaticano - está na defensiva.

Este não será um século apenas dos cristãos, mas também e principalmente dos budistas, dos muçulmanos e dos hindus.

Um dos aspectos mais intrigantes do que vem por aí diz respeito ao casamento da fé com a tecnologia.

No século vinte imaginamos que a Ciência daria conta de jogar a fé para escanteio.

Não aconteceu.

E duvido que vá acontecer agora.

O que vi no aeroporto de Dubai mostra claramente o descolamento entre fé e tecnologia.

Mulheres muçulmanas xiitas (sic), com as vestes tradicionais dos fundamentalistas, (sic) andavam com suas malas no saguão, antes de embarcar nos jatos de última geração da companhia dos Emirados Árabes Unidos.

Uma delas sentou-se bem perto de onde eu estava. Só dava para ver os olhos dela através de uma fresta. Estava acompanhada. Sentado ao lado dela o rapaz abriu um laptop da Apple e entrou na internet, usando uma conexão wireless.

E eu fiquei de olho naquela cena bizarra: lado a lado, o século 12 com o 21.

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