No segundo artigo há um questionamento do professor italiano, Sérgio Noja Noseda, especialista em estudos islâmicos de que os textos sagrados trazem instruções para o uso da burca e xador.
Na coleção História em projetos tanto nos volumes de 5ª série/6º ano como no de 8ª série/9º ano esta problematização está presente.
A Mulher e o Véu no Islão
Por Yasmin Anukit*
* Yasmin Anukit, da "icarabe", e o artigo foi publicado na Revista Islâmica Portuguesa Al Furqán, nº. 147, de Outº. / Novº. 2005.
professor Sérgio Noja Noseda, autoridade de referência internacional em estudos sobre o Alcorão, afirma categoricamente que a origem do xador e da burca, que escondem o rosto e o corpo da mulher, não tem base nos textos. O livro sagrado dos muçulmanos traz como preceito que homens e mulheres devem cobrir a nudez total, o que já era uma atitude muito comum nos países árabes na época de Maomé. Noseda fundamenta-se na sura ou capítulo 24, o da Luz, versículos 31 e 32, que citamos da tradução brasileira de Mansour Challita.
No versículo 31, “O profeta recomenda aos crentes que baixem os olhos e preservem o pudor; é mais correto para eles. Deus observa o que fazem”. Para as mulheres, no versículo 32, “O profeta diz que baixem o olhar e preservem o pudor e não exibam seus adornos, além do que aparece necessariamente. E que abaixem o seu véu sobre os seios e não exibam seus adornos senão aos seus maridos ou pais ou sogros ou filhos, enteados, irmãos... e às crianças que nada sabem da nudez das mulheres”.
Nesses versículos, Maomé admoesta a cobrir algumas partes do corpo, porque quer mudar os costumes dos árabes, entre os quais a nudez parecia bastante usual. Aonde chegava o Alcorão, as pessoas começavam a se vestir. Assim aconteceu na Arábia e em outros países, como Etiópia, Índia e na África, em que a nudez era natural. A atitude de Maomé é compreensível e, no Alcorão, além de preceitos religiosos, foram incluídos instruções e comportamentos práticos e concretos da vida, o que encontramos também no Antigo Testamento e nos Vedas.
Ao longo dos tempos, neófitos mais entusiastas ou outros mestres do islã transferiram, para o plano religioso, o que era um fato cultural ou de defesa para as pessoas que viviam nas areias do deserto, tornando o xador e a burca sinais visíveis de um sistema religioso e familiar bem fechado. Em outros lugares, como a Índia, as mulheres islâmicas não usam o xador. No Ocidente e em países onde há religiões diferentes, o xador tornou-se um sinal de pertença ao Islã.
Muçulmanas com xador na Argélia |
Na sura n.º 33 vers. n.º 59, Maomé dita:
“Recomenda a tua esposa e a tua filha e às mulheres dos crentes que apertem seus véus em volta delas: é mais provável que sejam assim reconhecidas, evitando ser molestadas.
Deus perdoa e é misericordioso”. Portanto, o véu é um costume das mulheres islâmicas, mas não necessariamente um preceito religioso.
O véu e a cruz
A questão do véu, na França, e da cruz, na Itália, que parece uma polêmica sobre a liberdade religiosa, pode envolver outros aspectos mais profundos. Na França, há centenas de moças islâmicas que se apresentam na escola com o seu xador, sem ter nem causar problemas, assim como na Itália existem centenas de estudantes islâmicos que freqüentam as escolas e universidades estatais onde, pela constituição, está pregado um pequeno crucifixo.
Em setembro do ano passado, duas irmãs francesas voltaram às aulas não somente com seu xador, mas vestindo a burca, roupa que veste as mulheres da cabeça aos pés deixando só pequenas frestas para os olhos e boca, causando um impacto na diretoria da escola e a sucessiva repulsa nacional. Os defensores da laicidade do país reclamaram uma lei que proíba, em todo e qualquer edifício público, sinais religiosos ostensivos, como a burca e o véu, visto que, na França, nem o crucifixo ostensivo não existe mais em nome da laicidade.
Atrás, porém, desses gestos de intolerância e fundamentalismo religioso, parece existir um plano. De fato, o pai das duas estudantes francesas é um advogado agnóstico de origem judaica que estimulou as filhas a fazerem a provocação, a fim de demonstrar que existe intolerância em relação ao islã. Na Itália, o pai das duas crianças que questionou a presença do crucifixo nas salas é um recém convertido ao islã. Em ambos os casos, foram feitos apelos à lei da laicidade dos órgãos públicos, passando por cima de milhares de anos de cultura cristã.
Os dois atos, porém, não tiveram grande ressonância mundial, visto que outros casos acontecem em lugares de menor importância e nem aparecem na mídia. Por isso, parece que atrás desses dois fatos, existe um desejo de demonstrar a intolerância européia e/ou de tentar islamizar a sociedade. A denúncia é feita pelo professor Olivier Clement, teólogo ortodoxo e profundo conhecedor do islã.
Islã modelo Ramadã
Clement lançou, recentemente, um alerta em que denuncia que as “provocações são feitas intencionalmente pelos recém-convertidos muçulmanos, que usam casos extremos para demonstrar a intolerância da sociedade européia”, e afirma que não existe fundamentalismo dos franceses contra os islâmicos e vice-versa. Todavia, confirma a expansão de uma nova ideologia, cujo mentor é Tariq Ramadã, jovem intelectual islâmico, professor, filho de Hassam Al Banna, fundador do movimento islâmico fundamentalista dos Irmãos Muçulmanos, aos quais se atribui a assassinato de Anuar Sadat.
Muçulmanas com xador em Jerusalém |
Tariq não prepara atentados, declara-se um tolerante nos meios de comunicação europeus e propõe um islã reformista e globalizante. Sua mensagem quer destacar, a partir das fontes islâmicas, uma vocação universal do islã, que tomaria o lugar dos valores da civilização cristã, e a idéia de que a identidade muçulmana é a fonte da verdadeira universalidade. Ele constata que o fulcro dos movimentos históricos, nos dias de hoje, é o eixo Europa- América do Norte, enquanto os países muçulmanos estariam relegados à periferia da civilização, apesar da superioridade numérica e do surgimento de intelectuais islâmicos no mundo.
Prega a necessidade de remodelar o mundo, substituir os modelos judaicos e cristãos que já – segundo ele – estão desaparecendo. Para Tariq, o islã poderá preencher o vazio que atingirá o Ocidente cristão, porque “a Alcorão completa e melhora as mensagens que o precederam”. Chega também a dizer que as grandes personalidades ocidentais que marcaram o mundo, como Tereza de Calcutá, Abbé Pierre, Dom Helder Câmara, foram exceções que demonstram que todos os melhores homens são implicitamente “muçulmanos”. Portanto, o objetivo de Tariq não é “modernizar o islã, mas islamizar a modernidade ocidental”.
O que fazer? Se na Itália parece que permanece o problema de imigração dos muçulmanos, na França esse protesto perturba diretamente a laicidade, da qual os franceses tanto se orgulham. Preocupa e ainda não está definido qual rumo seguir: é cada vez maior o número de imigrantes muçulmanos, muitos dos quais já são cidadãos franceses, com plenos direitos.
Alguns sugerem que uma exclusão total dos símbolos muçulmanos seria a prova clara de uma profunda islamofobia da sociedade francesa, mas uma permissão criaria uma cadeia de protestos contra a laicidade da França e, talvez, a formação de uma França leiga e outra muçulmana. De outro lado, a partir de agora, será necessário conviver pacificamente com as diferentes religiões e culturas e, portanto, é necessário que o cristianismo se aprofunde e se esclareça, para se tornar capaz de acolher a todos, sem perder a si mesmo.
Sérgio Noja Noseda, professor italiano, presidente da Fundação Noseda de Estudos Islâmicos. Artigo originalmente publicado em Revista Mundo Missão.
E já que entramos no tema duas curiosidades linguísticas:
• Alcorão ou Corão
• Burqa e xador
Vejamos a grafia do primeiro nome, pois ele não está dicionarizado e por isso temos encontrado três formas diferentes: burqa, burka e burca. O problema é que não existe verdadeira correspondência entre certos sons ou fonemas da língua árabe e o nosso alfabeto; assim, o c não traduz o som original, o k não faz parte do nosso alfabeto e a seqüência q + a é esdrúxula em português; apesar disso, fico com burqa, pois ainda é a grafia que mais se aproxima da pronúncia árabe.
A diferença entre uma e outra vestimenta usada pelas mulheres ao sair de casa em alguns países muçulmanos é a seguinte:
- a burqa cobre a mulher da cabeça aos pés, comportando apenas uma pequena tela na altura dos olhos e do nariz para permitir que pelo menos ela não sufoque e saiba onde pisa;
- o xador cobre o corpo todo mas deixa parte do rosto à mostra, entre as sobrancelhas e a boca.
2 comentários:
Adorei o que li. era realmente o que queria saber.Agora só me restam duas dúvidas: Quando as mulheres optam por usar a burqa ou o xador? O uso delas tem alguma coisa haver com heranças do hinduismo? Obrigada
Que a paz de Deus esteja com você.
Eu estava pesquisando na net e encontrei o seu blog. Devo confessar que em parte gostei deste artigo, que possui sim acertos, mas também possui erros.
O primeiro deles, todas as citações do Alcorão estão erradas.
Em primeiro lugar, não é o Profeta Muhammad (saws) quem diz, no Alcorão, mas sim Deus em primeira pessoa, instruindo o Profeta (saws).
Em segundo lugar, Sura 24 (An Nur - A Surata da Luz) ayas 31 e 32:
31 - Dize às fiéis que recatem os seus olhares, conservem os seus pudores e não mostrem os seus atrativos, além dos que (normalmente) aparecem; que cubram o colo com seus véus e não mostrem os seus atrativos, a não ser os seus esposos, seus pais, seus sogros, seus filhos, seus enteados, seus irmãos, seus sobrinhos, às mulheres suas servas, seus criados isentas das necessidades sexuais, ou às crianças que não discernem a nudez das mulheres; que não agitem os seus pés, para que não chamem à atenção sobre seus atrativos ocultos. Ó fiéis, voltai-vos todos, arrependidos, a Deus, a fim de que vos salveis!
32. Casai os celibatários, dentre vós, e também os virtuosos, dentre vossos servos e servas. Se forem pobres, Deus os enriquecerá com Sua graça, porque é Munificente, Sapientíssimo."
(http://www.islam.com.br/quoran/traducao/index.htm)
As outras citações do Alcorão também estão erradas.
Nós munaqabat (muçulmanas que usam chador e niqab) escolhemos nos cobrir como marca de nossa religião, distinção por ser religiosa, por amor e submissão a Allah Subhana wa Taala, e também porque muitas de nós desejam seguir o exemplo das esposas do Profeta (Allah esteja satisfeito com todas elas), e das sahabias, as primeiras muçulmanas.
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