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sábado, 28 de fevereiro de 2009

O temporário e o precário

Por Gabriel Perissé em 17/2/2009

Fonte: Boletim Mineiro de História

O clima na rede pública de ensino do estado de São Paulo estava ruim no segundo semestre de 2008. Começou pior em 2009. A famosa "provinha" de que tanto se tem falado poderá nos ajudar a entender o que está acontecendo... ou o que não está acontecendo!
"Provinha" não é tratamento afetivo. O diminutivo decorre do que tem de mesquinha aos olhos de muitos professores. Essa "prova de habilitação" (seu nome oficial) estava prevista pela Resolução 69/2008, da Secretaria de Educação, como parte importante na classificação dos chamados "professores temporários" da rede estadual. Vale lembrar: dos 230 mil docentes da rede, 100 mil são temporários, isto é, não-concursados.

A temporariedade desse vínculo é de no máximo 12 meses. Temporariedade que se une à precariedade. A cada ano letivo, esses 100 mil recomeçam do zero, precisam "pegar" aulas, ou "sobras" de aulas, em escolas diferentes. Um professor ACT (Admitido em Caráter Temporário) pode dar três aulas numa escola, quatro em outra, duas em outra. Não há continuidade. Não há segurança. Problemático exigir compromisso e entusiasmo dos docentes numa situação dessas, que beira a indecência.

Sonho da terceirização?

A premissa com que a Secretaria de Educação trabalha é que boa parte dos professores concursados está acomodada, não produz, não colabora, e que muitos dos temporários já atrapalharam por demasiado tempo... A "provinha" poderia atrair novos talentos, sangue novo para a rede. A avaliação foi obrigatória para os 100 mil professores ACT e para quem estivesse interessado em ingressar na carreira... sempre temporariamente, sempre precariamente. O número de novos inscritos impressiona (mas não muito): outros 114 mil professores prestaram o exame no dia 17 de dezembro de 2008.

No último dia 10 de fevereiro, saíram os resultados. Dos 214 mil professores, apenas 111 acertaram todas as questões, e 3 mil receberam nota zero. Desses 3 mil, metade já atuava na rede. Cerca de 45 mil professores, dos 100 mil temporários que lecionaram em 2008, seriam substituídos por outros, com notas melhores. Foi quando a Apeoesp (Sindicato dos Professores de São Paulo) entrou na Justiça. A "provinha", por enquanto, está sob suspeita por uma série de razões: desorganização em sua aplicação, vazamento de gabarito, erros na divulgação dos resultados.

Essa prova, também ela preparada e aplicada de modo apressado e precário, adia uma decisão que caberia ao governo de São Paulo já ter tomado. Parece que a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e o governador José Serra não querem tão cedo novas e melhores contratações. Permanecem no temporário. Não abrem inscrições para novo concurso. (Sonham talvez com a terceirização dos professores, delegando a alguma empresa a tarefa de selecionar e contratar?)

O "emergencial" virou "rotina"

Parece, igualmente, que a mídia começa a perceber outras dimensões do problema, ocultadas pelo discurso oficial do PSDB paulista, há 13 anos no governo. Em entrevista à Folha de S.Paulo, no dia 13 de fevereiro, a professora Maria Isabel de Almeida, da Faculdade de Educação da USP, explica com toda a clareza:

"Lá pelos anos 1970, chamava-se o professor temporário de `precário´. Mudou o nome, mas a precariedade ficou. [...] Desapareceu a figura do professor `da´ escola estadual, aquele profissional que conhecia todos os alunos, acompanhava-os ao longo dos anos, sabia identificar os irmãos e familiares, a vizinhança, participava daquela comunidade. A rotatividade anual faz com que o professor esteja sempre na situação de `forasteiro´. [...] Isso gera uma situação de esgarçamento da relação do professor com sua carreira. Professores mais bem formados não são atraídos para dar aulas; a classe média foge. Essas dezenas de milhares de vagas temporárias, portanto, serão preenchidas por indivíduos das classes populares sem outra opção profissional, como uma alternativa ao desemprego. [...] A tal prova conseguiria apenas classificar a fina flor do lúmpen-professorado. Alguém acredita que isso resolveria o drama de professores mal preparados, fragilizados, desmotivados?"


Manter 100 mil professores em caráter temporário não ajudará a melhorar o nível da educação em São Paulo. E olha que a maioria desses profissionais, apesar das precárias condições de trabalho, faz o melhor possível. Novos temporários não salvarão o sistema, que haverá de esmagá-los depois, como tem esmagado os antigos. Ana Aranha, na revista Época (nº 561), põe o dedo na chaga: "O que era para ser emergencial – enquanto não se faziam concursos para aumentar o quadro de professores – acabou virando rotina." Não há política educacional que se mantenha em pé.

"Defeitos em demasia"

No final da entrevista da Folha, indica-se que as provas aplicadas aos professores temporários estão no site da Folha Online. A elas voltaremos.
Por ora, vale a pena frisar que a entrevista da profª. Maria Isabel contrasta com o editorial que a mesma Folha publicara dois dias antes, em 11 de fevereiro. Um contraste, no entanto, menos forte, se lermos com atenção:

"O contingente dos nota-zero representa só 1,5% do universo de 100 mil temporários – necessários para completar o quadro, dada a carência de profissionais concursados –, num corpo docente de 230 mil. Trata-se, porém, da famigerada ponta do iceberg: estimativa preliminar indica que 50% não obtiveram nem nota cinco. Poucos acreditam que a situação entre os 130 mil concursados seja muito melhor.
Tal retrato medonho da educação no estado mais desenvolvido do país motivou nova queda-de-braço entre a Secretaria da Educação, que mal ou bem busca enfrentar a questão da qualidade no ensino, e o sindicato dos professores (Apeoesp), sempre pronto à mais retrógrada defesa dos interesses menores da corporação. Uma tragédia de erros.
Estudantes e suas famílias saem perdendo, para variar. O único efeito da avaliação dos temporários até agora foi o adiamento das aulas, pois uma liminar obtida pela Apeoesp suspendeu os efeitos da prova, que tinha defeitos em demasia, registre-se."

Esse tímido "mal ou bem" em referência à gestão da Secretária da Educação e admitir que houve "defeitos em demasia" já são um bom sinal. São outras pontas de outros icebergs a investigar.

Direito a escolher duas disciplinas

Até mesmo Gilberto Dimenstein, não obstante sua conhecida visão da educação, poderá nos ajudar a contextualizar a "provinha". Os trechos abaixo são da matéria "Repitam a escola e os políticos. Não o aluno", de 15 de fevereiro:

"Pela primeira vez o país teve uma noção mais precisa sobre a qualidade dos profissionais que estão em sala de aula, depois de revelado o resultado do teste inusitado aplicado entre 214 mil professores paulistas. Aproximadamente 40% tirou nota abaixo de cinco, ou seja, 96 mil professores, dos quais metade não chegou à nota três.
[...] Políticas públicas mudam ao sabor dos prefeitos e governadores ou de seus secretários. O que vimos, na semana passada, é que o despreparo é maior do que imaginávamos. Perceba que estamos falando aqui do Estado mais rico do país.
[...] Puxando o fio a partir da prova, em que, segundo as listas, 3.500 tiraram zero e apenas 111 (0,05%), a nota máxima, vemos a cadeia de vulnerabilidades. Já que dar aula em escola pública, especialmente nas grandes cidades e regiões metropolitanas e, mais especialmente ainda em suas periferias, não é exatamente das atividades mais atrativas — existe uma dificuldade imensa de atrair talentos. Todo o resto é apenas conseqüência, a começar dos cursos para formação de docentes."

Já se vê que a precariedade do ensino paulista só se explicará com uma análise mais ampla. Testes de múltipla escolha são insuficientes. E lançar-se, o governo, numa briga contra o sindicato aumentará o abismo que separa os docentes e seus "patrões".
Cada prova era composta por 25 questões. Somente ingressaria ou continuaria na rede como ACT quem participasse da avaliação. A prova baseou-se na Proposta Curricular do Estado (para Ensino Fundamental Ciclo II e Ensino Médio), implantada pela Secretaria em 2008. Cada participante tinha direito a escolher até duas disciplinas. Eu escolheria Língua Portuguesa e História.

Erro de concordância

Em que medida acertar essas questões demonstra que estou apto a ser professor temporário? O que a prova exige do docente, em termos de conhecimento, cultura, criatividade e experiência?
Eis a questão número 3 da prova de História:

"A perspectiva de processo de ensino-aprendizagem adotada pela Proposta Curricular de História do Estado de São Paulo permite afirmar que:
a) A missão de formar cidadãos compete direta e exclusivamente ao (à) professor (a) de História e à escola, em seu conjunto.
b) O docente de História deve acolher disputas ideológicas no âmbito de suas aulas, não sendo descartada a doutrinação como mecanismo de ensino.
c) O foco principal do processo educacional é o `ensinar´, já que o `aprender´ é da responsabilidade do aluno, em primeiro lugar, e da família, em segundo.
d) No ensino de História, a leitura e a pesquisa em livros, inclusive o didático, são facultativas, uma vez que a curiosidade sobre o passado, por si só, atrai o interesse dos estudantes.
e) O ensino de História convoca a bagagem cultural do aluno, volta-se para o estudo e análise de documentos, estimula a pesquisa no livro didático e em outras fontes, bem como a leitura."

E então, qual a resposta certa? Bastaria ter lido a Proposta Curricular correspondente, e perdoar a quem cometeu o pequeno erro de concordância:

"Sobre a missão de formar cidadãos, convém lembrar que essa missão não compete, direta e exclusivamente, ao(à) professor(a) de História e nem à escola, em seu conjunto, já que as bases dessa formação são trazidas à sala de aula pelos alunos, armazenadas nos espaços sociais que eles freqüentam, em especial a família. É claro que os docentes, inclusive os de História, devem participar de maneira ativa do processo de percepção e formação dos valores constituintes da cidadania, mas isso não significa que deva (sic) abdicar de suas funções de docência, deixando de ensinar sua disciplina e produzir conhecimento sobre ela."

Quem é bom e quem é ruim

Convém lembrar: a resposta a está descartada de antemão. O professor de História deve pensar duas vezes antes de querer "doutrinar" seus alunos (o que descarta também a resposta b). Sobram três possibilidades. A resposta c, mal redigida (de propósito?) deixa margem a algumas dúvidas. A família deve "aprender"? Seja descartada também. A resposta d não faz sentido, embora, na prática, leitura e pesquisa se tornem muitas vezes facultativas!
Resta-nos a letra e. Uma resposta padronizada, simplificada, doutrinadora, que poderia valer para qualquer outra disciplina: Língua Portuguesa, Filosofia, Matemática, Física, Sociologia...
No Estado de S. Paulo, dia 11 de fevereiro, a secretária de Educação escreveu:

"É claro que o professor é protagonista em todo esse processo. É fundamental valorizar o educador, a pessoa que dia-a-dia dedica-se ao ensino. Mas é preciso separar os bons dos ruins. O aluno vem primeiro."

A "provinha" julgará quem é bom e quem é ruim. O ruim, provavelmente, está em sintonia com a Apeoesp, e certamente é aquele tipo de professor que não gosta de aplicar testes de múltipla escolha (ou de única escolha, na verdade!). Tal professor deve ser lançado fora.

Um ótimo lugar para roubar

O curioso, para não perder de vista a Proposta Curricular, é que, num dado momento do texto, os mentores do ensino estadual condenam o maniqueísmo praticado pelos "outros":

"Não se pode esquecer que a produção de conhecimentos exige compromissos de ordem cultural, social e política, o que impede qualquer chance de neutralidade, complicando um pouco mais as coisas para o professor de História. [...] Entretanto, nada disso significa que as aulas de História devam transformar-se em espaço para exercício de militância partidária ou de raciocínio limitado à oposição estreita e maniqueísta entre bons e maus."

O papel da Secretaria da Educação, mais do que aventurar-se em preparar provinhas ou provões, é regularizar quanto antes a situação dos temporários e tornar menos precária a situação dos professores. Poderia inspirar-se, por exemplo, numa ação pequena, mas significativa, que o Distrito Federal e o governo do Rio de Janeiro adotaram neste começo de ano: adquirir microfones a serem usados pelos docentes em sala de aula. Dar voz aos professores, se realmente eles são protagonistas.

Ou então devemos assumir esse tal de maniqueísmo, "na boa", e separar todos os ruins dos bons! Torcer por uma Lei da Responsabilidade Educacional que analise o que fazem ou deixam de fazer pela educação políticos eleitos para "administrar e zelar pelo bem comum", conforme nos explica Gustavo Ioschpe. Aliás, o economista Ioschpe (mesmo com todo o maniqueísmo que costuma exercitar contra os professores), talvez esteja começando a compreender o que acontece na educação pública brasileira:

"Se o político for desonesto, a educação será um ótimo lugar para tirar dinheiro: não só concentra uma parte grande do orçamento (no mínimo 25%) como ainda é cheia de transferências do governo federal. Tem uma grande vantagem: se o sujeito rouba da saúde e faltam remédios ou médicos, a população chia; se rouba dos transportes e faltam ônibus, os eleitores reclamam; se rouba da educação e os alunos não aprendem, ninguém se importa" (revista Veja, edição 2100).

O PAPEL SUJO DA FOLHA DE SP

Por Uraniano Mota do Direto da Redação

Recife (PE) - Em 17 de fevereiro, ao publicar o editorial Limites a Chávez, a Folha de São Paulo nem imaginava o ciclone imenso que provocou. É que lá no texto ela escreveu “...Mas, se as chamadas ‘ditabrandas’ - caso do Brasil entre 1964 e 1985 - partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça...”, de passagem, como se nada fosse, substituindo Ditadura por Ditabranda. E fez mais: ao receber mensagens dos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria de Mesquita Benevides, que protestaram contra o insulto à memória histórica, a Folha de São Paulo assim respondeu:

“...Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”.

Para quê? Essa qualificação, de indignação cínica e mentirosa, aplicada às palavras de dois intelectuais honrados, provocou o gancho, acordou as forças de todo o mundo culto e democrata do Brasil. Com 2.381 assinaturas, lideradas pelo crítico literário Antonio Cândido (2.381 às 16 horas deste 25.2.2009), corre um abaixo-assinado de protesto, que pode ser acessado em http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/signatures-1.html

Então começaram a voltar à tona histórias e História, do passado da Folha de São Paulo, que contavam, relatavam o seu mais que apoio, a sua participação nos crimes da ditadura militar. Das histórias, todas com dolorosos depoimentos de humanidade e denúncia, a da jornalista Rose Nogueira mais chama atenção, pelo caráter particular da sua posição no tempo. Rose era funcionária do jornal, repórter da Folha, quando foi presa em 1969. No entanto, ela descobriu 27 anos depois que foi punida

“não apenas pela polícia toda-poderosa, pela justiça militar. Ao buscar nos arquivos da Folha de S. Paulo a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Deops, incomunicável, 'abandonei' meu emprego de repórter do jornal. Escrito a mão, no alto: ABANDONO. E uma observação oficial: Dispensada de acordo com o artigo 482 – letra 'i' da CLT abandono de emprego'. Por que essa data, 9 de dezembro? Ela coincide exatamente com esse período mais negro, já que eles me 'esqueceram´por um mês na cela'. Todos sabiam que eu estava lá. Isso era – e continua sendo – ilegal em relação às leis trabalhistas e a qualquer outra lei, mesmo na ditadura dos decretos secretos. Além do mais, nesse período, se estivesse trabalhando, eu estaria em licença-maternidade" (Do seu artigo "Em corte seco", no livro "Tiradentes um presídio da ditadura", coord. Alípio Freire, Izaías Almada e J.A. de Granville-Ponce – Scipione Cultural – 1997).

E lembrou mais a jornalista, no mesmo texto:

“Cacá nasceu em 30 de setembro, no Hospital 9 de julho, em São Paulo. Fórceps. Uma cirurgia por rotura da parede da bexiga e uma sonda me obrigaram a ficar mais de vinte dias internada. Quando a polícia chegou, o bebê tinha 33 dias e estávamos em casa havia mais de uma semana....

O leite que eu tirava do seio ainda insistia em vazar e minha blusa cheirava a azedo. A febre aparecia todo dia. O leite me fazia pensar que, enquanto estivesse ali, brotando, eu estaria ligada ao meu filho. Dias depois veio o diminutivo do dia me buscar para depoimento. Empurrava-me pela escada, enquanto gritava: ‘Vai, miss Brasil! Sobe essa escada logo, sobe!’ Miss Brasil era o nome de uma vaca leiteira que havia sido premiada. E na sala para onde me levou, o ‘inho’ chamava os outros: ‘Olha a miss Brasil, pessoal! Tá cheia de leite! É a vaca terrorista!’ “.

Ela nunca mais pôde ter outro filho, em conseqüência das torturas. A parte boa da história é que Rose Nogueira continua exercendo a profissão de jornalista. Ela deu a volta por cima, trabalha em televisão, e continua a ser útil para o seu filho e para outros filhos do mundo. Apesar do jornal-patrão, apesar do título de Miss Brasil em 1969.

(Email do colunista: urarianoms@uol.com.br)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

POR QUE A FOLHA NÃO PUBLICA CARTAS DE IVAN SEIXAS? VEJA O QUE ELE CONTA SOBRE A “DITABRANDA”

Por Rodrigo Vianna em seu blog: O Escrevinhador

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009 às 14:15

Ivan Seixas tinha 16 anos quando foi preso pela ditadura, ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas. No dia 16 de abril de 1971, os dois foram levados para o DOI-CODI/OBAN, em São Paulo, e barbaramente torturados.

Ivan ficou indignado quando leu o editorial da “Folha de S. Paulo”, definindo a ditadura brasileira como “ditabranda”. Falei há pouco com ele por telefone: “É muita arrogância dos Frias, ainda mais com os pés de barro que eles têm. Os Frias não têm direito de pontificar sobre a ditadura, até porque colaboraram com a ditadura”.


Ivan foi torturado pelo regime que tinha (e tem) apoio do jornal de Otavinho

Ivan Seixas mandou duas cartas para a Redação da “Folha”, protestando. Nenhuma das duas foi publicada. Escreveu, também, para o Ombudsman. Nada.

Nesta última, fez referência ao passado nebuloso do grupo “Folha”, jornal que “empregava carros para nos capturar e entregar para sessões de interrogatórios, como sofremos eu e meu pai. Ninguém me contou, eu vi carro da “Folha” na porta da OBAN/DOI-CODI.”

Ivan sabe do que está falando quando diz que a “Folha” tem pés de barro nesse tema.

Na madrugada do dia 17 de abril de 1971, poucas horas após a prisão dele e do pai, policiais a serviço da “ditabranda” tiraram Ivan da prisão para um “passeio” por São Paulo. Tomaram o caminho do Parque do Estado, uma área de mata fechada, próxima ao Jardim Zoológico. Lá, o jovem (algemado e desarmado) foi ameaçado várias vezes de fuzilamento. Os policiais - polidos como só acontecia na “ditabranda” brasileira - dispararam várias vezes bem ao lado da cabeça de Ivan. Ele fechava os olhos e tinha certeza que morreria: tortura terrível. Mas, deixaram-no vivo, pra contar a história.

No caminho para o Parque do Estado, os funcionários da “ditabranda” pararam numa padaria, na antiga Estrada do Cursino. Desceram pra tomar café, deixando Ivan no “chiqueirinho” da viatura. Foi de lá que Ivan conseguiu observar a manchete da “Folha da Tarde” (jornal do grupo Frias), estampada na banca bem ao lado da padaria: o jornal anunciava a morte do pai dele, Joaquim.

Prestem bem atenção: a “Folha da Tarde” do dia 17 trazia manchete com a morte de Joaquim – que teria ocorrido dia 16. Só que, ao voltar de seu “passeio” com os policiais, Ivan encontrou o pai vivo e consciente, nas dependências do DOI-CODI. Joaquim só morreria – sob tortura – no próprio dia 17


Joaquim Seixas, morto e torturado: vejam como era branda a ditadura apoiada pelos Frias

Ou seja, o jornal da família Frias já sabia que Joaquim estava marcado pra morrer, e “adiantou” a notícia em um dia. Detalhe banal.

A historiadora Beatriz Kushnir publicou um livro em que conta essa e outras histórias mostrando os vínculos estreitos da família Frias com a ditadura. http://www.viomundo.com.br/opiniao/unidade-caes-de-guarda-fala-da-midia-e-de-jornalistas-que-colaboraram-com-a-ditadura-militar/

Ivan está se movimentando para que o livro de Beatriz seja relançado este ano, em São Paulo. O ato serviria também como desagravo às vítimas da ditadura, e como protesto contra a família Frias, que quer reescrever a história recente do Brasil.

O velho Frias, antes de ter jornal, se dedicava a criar galinhas. Não tinha pretensões intelectuais.

Frias Filho – o Otavinho – acha que é um pensador. Devia criar galinhas.

Pensando bem, melhor não. Deixem os bons granjeiros fazerem o serviço deles honestamente...

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Prezado Senhor

Enviei o email abaixo e não obtive resposta. Ao contrário, vi desaparecer das páginas do seu jornal qualquer referência ao assunto DITADURA VERSUS DITABRANDA, e nem mesmo o ombusdman se dignou a me dar alguma resposta.

Com certeza não esperava que o senhor fizesse agora alguma sugestão do que os algozes da DITADURA (repito, DITADURA - para que não haja dúvidas) deveriam fazer de acordo com seu refinado gosto, ou conforme os critérios do seu infográfico que mede a intensidade de ditaduras. Para ajudar VS, visto que a foto do cadáver de meu pai não lhe pareceu suficiente para sua opinião abalizada, envio agora a de outros dois militantes políticos, igualmente assassinados por sua DITABRANDA, que nós, democratas, continuamos a chamar de DITADURA mesmo.

As três fotos são: meu pai, o mecânico Joaquim Alencar de Seixas, o arquiteto Antônio Benetazzo e o operário químico Virgílio Gomes da Silva.

Observe as fotos anexas e reflita. Apenas isso.

Em seguida, mostre aos seus pares de redação: Clóvis Rossi, Eliane Cantanhede, Kennedy Alencar, Nelson de Sá, Mônica Bergamo e Gilberto Dimenstein, entre outros. Pergunte-lhes o que têm a dizer a respeito do assunto. Depois, peça-lhes que enviem suas opiniões para o meu endereço eletrônico (...) Certamente, eles devem ter algo a acrescentar a este debate. O Fernando Barros e Silva já se manifestou. Mas foi obrigado a concordar com sua tese de retaliação e grosserias contra os professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória de Mesquita Benevides. Provavelmente com medo de perder o emprego.Senhor, sua democracia é bem curiosa. Frente à condenação pública, suspende e proíbe o debate. Não permite que o ombusdman exerça seu papel - e este se acomoda, enquanto o senhor corta as cartas ao Painel do Leitor, tal qual a dona Solange Hernandes fazia nos áureos tempos do seu pai e do seu jornal cedido ao pessoal da OBAN-DOI/CODI. Ou seja, o senhor cuida de seus funcionários como seu pai cuidava de suas galinhas.

Como o senhor há de supor, vou enviar este email para o maior número possível de amigos. Mandarei, inclusive, para a Doutora Beatriz Kushnir, que conhece bem esse assunto.

Espero que, desta vez, o senhor tenha a dignidade de autorizar aos seus subordinados, a publicação da minha carta.

Democraticamente,

Ivan Akselrud de Seixas

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INSULTOS AOS DEMOCRATAS

Senhor editor

Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que teriam sido até brandos com os inimigos. Vocês chegam até a cunhar o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como DITADURA. Hoje vi a redação insultar o professor Fábio Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Uma dessas irmãs sofreu uma violência sexual por parte dos agentes da DITABRANDA de vocês. Eu fiquei preso por longos 6 anos.

Diante disso, convém perguntar: O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras de vocês da redação da Folha.Saudações democráticas.

Ivan Akselrud de Seixas

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Caro Carlos Eduardo

Há um tempo atrás te escrevi para protestar contra a postura e as mentiras da Folha contra as indenizações aos ex-presos políticos e, uma segunda vez, contra o comportamento preconceituoso contra a Senadora Marina Silva.

Volto a te escrever, mas não é para protestar. Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que foram até brandos com os inimigos. Cunham até o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como ditadura. Hoje vi a redação insultar o professor Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

Te escrevo para te lembrar que eu te disse que a foha tomava o perigoso rumo de defe3sa dos torturadores e de ataques às suas vitimas e você me dizia o contrário.

Vou escrever uma carta à redação, mas te coloco antes disso a mesma pergunta que farei a eles. Tenho a certeza que não publicarão o que escreverei, mas mesmo assim cumpro meu dever democrático. A pergunta é a seguinte:
A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Eu fiquei preso por longos 6 anos.
O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?

Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras da redação da Folha. Aliás, a mesma Folha que emprestava carros para nos capturar e entregar para as sessões de interrogatórios como sofremos eu e meu ´pai. Ninguém me contou, eu vi carro da Folha na porta da OBAN-DOI/CODI.

Saudações democráticas.

Ivan Seixas

"Nunca houve censura"

Por Delton Unglaub

em Canal da Imprensa, sem data

Líbero Badaró chegou ao Brasil pregando a liberdade de expressão, mas partiu com uma bala no peito dizendo: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade". Um funcionário do Judiciário imperial foi acusado como mandante do crime, mas como sempre acontece no Brasil, foi absolvido por falta de provas. Há especulações que a ordem poderia ser do próprio imperador dom Pedro I.

Quase um século e meio depois, a família Frias também reclamava pela liberdade de expressão: "Não há causa que justifique assaltos, assassínios e seqüestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade". Entretanto, nesta história, ocorreu o contrário: o jornalista estava do lado do repressor e quem o ameaçava era o reprimido.

No dia 21 de setembro de 1971, a Ação Libertadora Nacional (ALN) incendiou camionetes da Folha que eram utilizadas para entregar jornais. Os responsáveis queriam matar o dono do jornal, Octavio Frias de Oliveira. Ele respondeu ao atentado publicando um editorial - incensurável - na primeira página do dia seguinte.

Apesar da resposta firme, o empresário tomou medidas de segurança. Mudou-se com a família para a sede do jornal. Carlos Caldeira - seu sócio - construiu um apartamento no oitavo andar. Agentes de segurança sugeriram que a família Frias se isolasse. Os vidros de seu apartamento foram vedados e os filhos aprenderam a usar armas.

Com o atentado, a ALN queria mostrar sua revolta contra a Folha da Tarde. Na época, a Folha da Tarde publicava constantemente manchetes como: "Lamarca, o louco, é o último chefe do terror". Com títulos como este, o atentado não deve ter sido surpresa.

No livro Notícias do Planalto, Mario Sergio Conti revela que "até o final de 1968 as organizações terroristas de esquerda destacaram alguns de seus militantes jornalistas para trabalhar na Folha da Tarde", e no "início dos anos 70 foi a vez de policiais dos órgãos de informação da ditadura se assenhorearem do jornal."

Conti ainda revela que houveram inúmeras notícias fraudulentas publicadas pela Folha da Tarde. O jornal noticiava a morte de "terroristas" em situações imaginárias - provavelmente por "jornalistas" formados na escola de Jornalismo do regime. Um exemplo foi o militante Joaquim Seixas, que em 16 de abril de 1970 estava preso, mas "morto" nas páginas da Folha. Agora poderia ser torturado à vontade até, realmente, morrer. Uma ferramenta bastante útil, aparentemente.

No editorial, Frias se indignava e se atemorizava com as ameaças.

"Os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta. Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve. E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social-realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama. [...] Um país, enfim, de onde a subversão -que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da imprensa, que reflete os sentimentos deste. Essa mesma imprensa que os remanescentes do terror querem golpear."
(Editorial: Banditismo - publicado em 22 de setembro de 1971; Octavio Frias de Oliveira).

Realmente o "pior cego é aquele que não quer ver". E Frias não via que o lado que defendia agia, senão igual, pior. Tudo para alcançar seus objetivos.

Em defesa própria

Otavio Frias Filho, ainda na universidade, ouviu histórias sobre o envolvimento da empresa da família com os órgãos de repressão política. Numa destas conversas - de pai para filho - perguntou ao pai qual era a verdade. Naturalmente, o pai, "herói", respondeu que se houvesse uma colaboração, ele saberia: "Nunca me pediram isso", garantiu.

"A Folha de S. Paulo nunca foi censurada. Até emprestou uma C-14 [carro tipo perua, usado na distribuição do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]", afirma o também italiano - assim como Badaró - Mino Carta. Para Carta, quem sofreu com a censura foram apenas O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde que tiveram de substituir artigos proibidos por poemas de Camões e receitas de bolo.

Na visão executiva da Folha, sua atuação no regime militar passou por diferentes fases. "No contexto da polarização da época, que dividia o País, a Folha aprovou a deposição do presidente Goulart. Esteve sob censura, entre 1969 e 1983, quando a supressão das liberdades públicas atingiu seu ponto máximo. A partir de 1974, o jornal foi uma das principais vozes a reivindicar a democratização do País", defendeu-se o veículo.

Não existem provas consistentes de que houve colaboração do grupo Folha com os órgãos repressores. No regime militar, o capitalismo não foi exatamente incentivado. O fato é que para sobreviver e prosperar neste período a opinião deveria ser volúvel. O grupo era, e é, uma empresa comercial que prosperou durante a ditadura porque não foi contra o poder vigente.

Ao contrário de outros veículos, a Folha não se fixou a uma ideologia. O que moveu este grupo foi o puro e simples capitalismo. A rentabilidade era a prioridade. Ou seja, quando se deparou em uma situação de represália, a Folha de S. Paulo parafraseou Badaró dizendo: "Morre um ideal, mas compra-se a liberdade."

A dica é do Vi o mundo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ESQUERDA

Por José Saramago

Temos razão, a razão que assiste a quem propõe que se construa um mundo melhor antes que seja demasiado tarde, porém, ou não sabemos transmitir às pessoas o que é substantivo nas nossas ideias, ou chocamos com um muro de desconfianças, de preconceitos ideológicos ou de classe que, se não conseguem paralisar-nos completamente, acabam, no pior dos casos, por suscitar em muitos de nós dúvidas, perplexidades, essas sim paralisadoras. Se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco. Sejamos mais conscientes e orgulhemo-nos do nosso papel na História. Há casos em que a humildade não é boa conselheira. Que se pronuncie bem alto a palavra Esquerda. Para que se ouça e para que conste.

Escrevi estas reflexões para um folheto eleitoral de Esquerda Unida de Euzkadi, mas escrevi-as pensando também na esquerda do meu país, na esquerda em geral. Que, apesar do que está passando no mundo, continua sem levantar a cabeça. Como se não tivesse razão.
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

LEITURAS DA FOLHA: A "ditabranda" e a culpa de Fidel

Por Gilson Caroni Filho em 23/2/2009 no Observatório da Imprensa

Faltando três dias para o início do carnaval, a Folha de S. Paulo inverteu o rito de inversão. Tirou a fantasia de "fiscal republicana", longamente confeccionada ao longo dos anos 1980, e partiu para o desfile sem disfarces, disposta a contar suas origens, histórias e personagens.

Com o editorial (ou seria um samba-enredo?) "Limites a Chávez" (17/2/2009), o jornal acompanha o pensamento do ex-publisher Octávio Frias de Oliveira (1912-2007), mostra o inconformismo com a nova institucionalidade latino-americana e reverencia os generais-presidentes da ditadura com quem manteve laços estreitos. Dessa vez, os carnavalescos da Barão de Limeira deixaram claro que o apreço pela democracia tem limites. E eles são bem mais estreitos do que supunham os otimistas.

Ecoando o sentimento da grande imprensa latino-americana, o editorial deplora mais uma vitória do presidente venezuelano em eleições internas e afirma que "o rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República, estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem.".

É um raciocínio tortuoso esse. É como se, uma vez desenhada a tela institucional das elites, o regime político aceitável só pudesse existir como moldura para uma realidade pretérita. Não é apenas contra Chávez que a Folha se volta, mas contra qualquer possibilidade de incorporações de novos atores sociais à política. Algo fundamental quando o que se objetiva é dar maior densidade à democracia. Reinventar o ordenamento jurídico-político, respeitando os procedimentos constitucionais, é coisa recente na América Latina.

Os termos, bem como as idéias, estão fora do lugar. Empregam-se categorias como caudilhismo, bonapartismo e até mesmo ditador, fora de contexto histórico preciso, sem qualquer rigor conceitual. É o caso de indagarmos se a Venezuela bolivariana não dispõe de um Estado com organização flexível que, assegurando a vontade popular, preserve igualdade de possibilidades e liberdade? Talvez, ali, verifique-se, em plenitude, a idéia do Estado democrático como transformador da realidade. E é precisamente isso que deve ser exorcizado pelos editorialistas de plantão: a concepção de que a democracia implica um Estado fomentador da participação pública.

Os membros do conselho editorial da Folha sabem da inexistência de presos políticos em Caracas. Não têm notícias de perseguição e assassinatos de lideranças da oposição. Não ignoram a presença de uma forte mídia privada que continua defendendo os interesses das elites banidas do poder pelas urnas, mas batem na mesma tecla do "autoritarismo chavista". O que chamam de antidemocrático, no final das contas, é o emprego da ordem legal como instrumento de reestruturação social.

Como parte integrante das classes dominantes, os conglomerados privados na área de comunicação, e seus prestimosos funcionários, não têm qualquer pudor em manejar torneios verbais de ocultamento e prestidigitação da realidade.

Alinhamento com a repressão

Voltemos ao editorial. O trecho em destaque vai além de um canhestro exercício de política comparada. Revela motivações bem mais profundas e significativas. "Mas, se as chamadas `ditabrandas´ - caso do Brasil entre 1964 e 1985 - partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso".

Ao comparar o movimento político liderado por Chávez com a ditadura militar brasileira, a Folha não incorre em equívoco de um "articulista desavisado". Assume editorialmente a defesa dos golpistas de Pindorama. O neologismo "ditabranda" é usado pelos filhos de quem nunca negou apoio ao terrorismo de Estado. Pelo contrário, o empréstimo de peruas C-14 do jornal para transporte de presos mostra total alinhamento dos Frias com centros de torturas e seus comandantes mais conhecidos.

Em 1969, com o lançamento da Operação Bandeirantes (OBAN), antecedente dos DOI-Codi, a estrutura de terror estava praticamente montada. Financiada por setores do grande empresariado, a OBAN tinha a tarefa, definida após anos de discussão, em órgãos como a Escola Superior de Guerra, de centralizar toda a operação repressiva do Estado. Não lhe faltou apoio logístico da Folha da Tarde.

A "ditabranda" teve duas constituições e não respeitou nenhuma delas. O que prevalecia era uma lógica militar que devia obediência aos regulamentos internos de quartéis e aos altos comandantes do regime. Suas "ditabrandas" formas de convencimento incluíam torturas de vários tipos: espancamentos, telefones (tapas simultâneos nos dois ouvidos), corredor polonês (fila dupla de espancadores), pau-de-arara, choque elétrico, afogamentos, entre tantas outras "técnicas".

Em documento publicado pelo Congresso Nacional, conforme registrou a revista Retrato do Brasil, em 1984, havia uma "Relação parcial sobre brasileiros mortos após 64", dando conta de 197 casos até 1979, 147 dos quais só no período Médici, exatamente quando a Folha mais colaborou com o regime. Quantos mortos e torturados foram transportados por suas "ditabrandas" peruas?

Ditadômetro covarde

Como os carros alegóricos já estavam na rua, os leitores que questionaram o editorial conheceram a ira do carnavalesco. O enredo de vilezas não acabou no editorial. A ele sobreveio a ridícula "Nota da Redação" de 19/2, com o "ditadômetro"; seguida da torpe e covarde, porque oculta no anonimato da "Redação", agressão a Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato.

Com a ligeireza dos passistas de porões, a Folha se justifica com a mesma explicação dada ao personagem Anna de la Mesa, no magistral filme de Julie Gavras: A culpa é de Fidel. E não se fala mais nisso.

Ver José Serra na presidência foi um sonho não realizado pelo patriarca da família Frias. Seus filhos não poupam esforços para realizá-lo. Seria interessante saber o que pensa de tudo isso o atual governador de São Paulo. Afinal, ele foi presidente da UNE, militou na Ação Popular (AP) e, com o golpe militar, viveu no exílio até 1978. Tido por muitos como um quadro "progressista" do PSDB, deveria tecer alguma consideração sobre a "ditabranda" do jornal que o apóia. No mínimo esclareceria o que vem a ser a "progressividade do tucanato".

"DITABRANDA" NA FOLHA: Direita, volver!

Por Luiz Antonio Magalhães em 23/2/2009, no Observatório da Imprensa

Há males que vêm para o bem, lembra o dito popular. No último dia 17 de fevereiro, em Editorial contra o presidente venezuelano Hugo Chávez, a Folha de S. Paulo qualificou, assim como quem não quer nada, en passant, de "ditabranda" o regime militar que vigorou no Brasil entre 1964 a 1985.

Para que não reste nenhuma dúvida sobre o que foi escrito na Folha, vai a seguir a transcrição do trecho que vem provocando tanta polêmica:

"Mas, se as chamadas ‘ditabrandas’ -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso."

Para começo de conversa, causa espécie que o jornal escreva "as chamadas ‘ditabrandas’" quando não há notícia de que alguém tivesse, antes da Folha, a idéia de jerico de qualificar o regime militar de tal forma. Este observador fez uma busca no Google e constatou que a pesquisa retorna apenas as referências à polêmica iniciada pela Folha. Ninguém antes qualificou a ditadura brasileira de "ditabranda".

Aliás, a busca no Google já vem carregada de ironia, pois antes da primeira indicação de link, o buscador pergunta: "você quis dizer dieta branda?" Como bem sabem os iniciados, toda vez que alguém erra a digitação da palavra, o Google cuida de corrigir ou sugerir o nome correto. Ditabranda, portanto, é coisa lá da rua Barão de Limeira mesmo. Dieta branda teria sido realmente mais feliz.

Mas até aqui, é justo dizer, a direção da Folha e seus editorialistas têm todo o direito de achar que os militares pegaram leve. É uma questão de gosto e escolha, provavelmente o assinante do Estadão jamais leria tamanho despautério, ainda que o jornal se posicione de maneira muito mais conservadora do que a Folha em várias questões. A razão para isto é simples: O Estado de S. Paulo sofreu bem mais com a censura e sabe o quão duro foi o dito governo. De toda maneira, o diário da família Frias não precisa se envergonhar em qualificar de ditabranda o regime em questão, da mesma maneira que a turma da Abril não só pensa que pegaram leve como anda saudosa de um novo período semelhante, especialmente para tirar essa gente barbuda e mal educada que insiste em permanecer altamente popular em meio à maior crise do capitalismo.

Nota da Redação: jornal muda de rumo

Não foi no editorial, portanto, que a Folha perdeu a mão. Nos dias que se seguiram à publicação daquela jóia do pensamento que emerge no nono andar do belo prédio do jornal, os leitores naturalmente reclamaram, enviando cartas indignadas à redação. O Painel do Leitor publicou algumas nos dias 18 e 19, mas foi no dia 20 de fevereiro que o jornal mostrou a sua verdadeira cara. Depois de uma sequência de cartas de leitores, apareceram duas de "figurões", seguidas por uma inacreditável resposta da Redação, como segue abaixo.

"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!" MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana." FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP)

Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa.

É preciso ler com calma a tal Nota da Redação. Que a Folha respeite a opinião dos leitores é o mínimo que se pode esperar. Imagine o grau de arrogância, que já não é baixo, se não respeitasse... Mas o que realmente choca neste caso é a Redação classificar de "obviamente cínica e mentirosa" a indignação de Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides, como se para que os dois se indignassem com a barbeiragem do jornal fosse necessária a indignação prévia com Fidel Castro.

Este observador aprendeu com seu avô, pioneiro do ensino de Filosofia na Universidade de São Paulo, que o fiofó nada tem a ver com as calças. Ou, como diria outro filósofo, este da esfera futebolística, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Comparato e Benevides não têm "autorização" da Folha para se indignarem, precisam antes bradar que não gostam de Fidel e seus amigos e, principalmente, que Cuba é uma DI-TA-DU-RA. Ou será que se os eméritos professores também qualificarem o regime cubano de "ditabranda" a Folha já deixaria de considerar "cínica e mentirosa" a indignação dos dois?

O pior de tudo realmente não foi o editorial, bem lamentável, mas a Nota da Redação de 20/2. Pior, sim, porque todo foca que passou uma semana em qualquer redação do país sabe que uma nota dessas não é publicada sem a anuência da direção do jornal. Por mais que o editor do Painel do Leitor vista a camisa do jornal, ele não tem autonomia para chamar Fábio Konder Comparato de cínico e Maria Victoria Benevides de mentirosa. A nota veio de cima, o que só reforça a ideia de que também o editorial foi cuidadosamente pensado para que o jornal emitisse o juízo de valor que tem, hoje, sobre a ditadura brasileira.

Não será surpresa se a Folha roubar Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi da Veja. A esta altura, é bem provável, inclusive, que ambos já tenham sido sondados. E, ironia das ironias, não demora muito para o leitorado paulista de esquerda migrar para o Estadão. Há mesmo males que vem para o bem: nível de azia na leitura será bem menor...

PS em 22/02: O ombudsman da Folha, em sua coluna semana publicada no domingo (22/02), parece concordar com este observador. Evidentemente, Carlos Eduardo Lins e Silva foi mais ameno na forma, mas não deixou de assinalar o despropósito da Nota da Redação do jornal, conforme se pode ver abaixo:

Duas opiniões que mobilizam muitos leitores

Já me referi aqui ao escopo do trabalho do ombudsman, que não abarca as opiniões publicadas pelo jornal, em editoriais, colunas ou artigos.

O ombudsman se atém aos aspectos técnicos, factuais, comprováveis, verificáveis. Opinião é como religião, time de futebol, convicção ideológica: cada um tem a sua e nenhuma é melhor que outra.

Mas, talvez porque, como ensinava Spencer, a opinião é determinada em última análise pelos sentimentos, não pelo intelecto, ela mobiliza manifestação de muitos leitores.

Esta semana, duas motivaram pelo menos 115 mensagens. Sem entrar no seu mérito opinativo, vou tratar de ambas.

Um post de blog do Folha Online trazia no título as palavras vadias e vagabundas acima de foto em que apareciam Marta Suplicy e Dilma Rousseff. Pareceu-me uma insinuação de mau gosto e insultuosa.

Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no "Painel do Leitor". Resposta da Redação a duas delas na sexta foge do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores.

Ainda sobre a 'ditabranda' e o cinismo revisionista da Folha de São Paulo

Reproduzo na íntegra o texto do professor Idelber Avelar do Biscoito fino e a massa, porque creio que cidadãos brasileiros e, especialmente, os professores de História devem se posicionar, contra o revisionismo cínico e desrespeitoso d Folha de são Paulo. Tortura nunca mais! Ditadura, nunca mais!

Leia também a este respeito: Folha afirma em editorial que no Brasil não houve ditadura, mas ditabranda.



Folha de São Paulo, cínica e mentirosa. Todo o apoio a Fabio Konder e Maria Victoria Benevides
segunda-feira, 23 de fevereiro 2009
Por Idelber Avelar

Convenhamos que de ser “cínica e mentirosa” a Folha de São Paulo entende. Mas ela nunca, sejamos justos, havia nomeado dois profissionais, professores de currículo infinitamente superior ao de qualquer um dos membros de seu Conselho Editorial, para uma injúria gratuita. Com a agressão a Fabio Konder Comparato e Maria Victoria de Mesquita Benevides, o jornal já conhecido como Façamos Serra Presidente chegou a um novo limite, um mais recente e enlameado piso. Pouca coisa o diferencia do lamaçal de publicações como a Veja. Neste episódio, o mais urgente, acredito, é assinar a petição em defesa dos Professores e de protesto contra a injúria. A petição é encabeçada pelo maior crítico literário brasileiro, o Mestre Antonio Candido.

O já infame editorial da Folha, além de insultante à memória das vítimas da ditadura militar brasileira e comprometido com a ocultação da história colaboracionista do próprio jornal, fazia exatamente o contrário do que deve fazer o jornalismo: ele desinformava, contava uma mentira. Qualquer bom professor de história do primeiro grau sabe que não há nenhuma tradição bibliográfica de uso do termo “ditabranda” para designar o regime militar brasileiro, a ditadura de 1964-1985. Aos escrever as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985, o jornal simplesmete mentia aos leitores. Não “errava” ou “tinha um ponto de vista diferente”. Mentia, pois a ditadura brasileira não é “chamada” de ditabranda por ninguém. Não era, pelo menos, até o dia 17 passado.

Se tivessem, para compensar os livros que não leram, utilizado por dois minutos a internet que tanto temem, os membros do Conselho Editorial da Folha teriam descoberto que o termo “ditabranda” vem do espanhol e foi usado para caracterizar o regime que precedeu a República Espanhola dos anos 30. Depois, na Argentina, a ditadura de Onganía (1966-70) chegou a ser chamada de “ditabranda”, a princípio por falta de notícias sobre a extensão de seus crimes, e depois ironicamente, para acentuar os horrores da outra ditadura que se seguiria (1976-83).

O termo não tem qualquer história bibliográfica no Brasil para designar o período 1964-85, e é curioso que um jornal suspeito de ceder seus automóveis para a repressão, colaboracionista até a medula na divulgação das versões mentirosas dos assassinatos cometidos pelo regime, venha fingir que a ditadura brasileira tenha sido chamada de “ditabranda” -- e, para completar, chame de “cínicos e mentirosos” dois professores com os currículos de Fabio Konder e Maria Benevides, pelo simples fato de eles não aceitarem a chantagem da falsa comparabilidade entre o regime cubano e os regimes militares da América do Sul com os quais a Folha colaborou.

Por uma postura de opinião – abalizada por vastas obras, diga-se –, intelectuais são chamados de “cínicos e mentirosos”, sem direito de resposta, por um jornal de tiragem de 300 mil exemplares, cuja história colaboracionista é vastamente conhecida. Não é o máximo? São esses os lacaios que vêm nos falar de “liberdade de imprensa” todas as vezes em que são questionados. São esses os lambe-botas que vêm posar de “linchados” quando sua cumplicidade com os poderosos é desvelada. São esses os que falam de “apurar notícias” e até hoje não nos disseram quais são os jornalistas que recebem dinheiro de Daniel Dantas e se a lista que circula por aí – com Noblat, Fernando Rodrigues, Miriam Leitão – é verdadeira ou falsa.

Onde estão os jornalistas que se indignaram tanto e chamaram de "linchadores" os dois blogs que fizeram posts sobre as peroratas racistas da correspondente da Globo, agora que um jornal de 300 mil leitores chama de “cínicos e mentirosos”, por uma opinião política, dois professores com as histórias de Fabio Konder e Maria Victoria Benevides?

O mais cretino, o mais absurdamente revoltante dessa história, o mais fundamental que passou até agora sem menção, é que se você tomar os currículos de todos os jornalistas funcionários do Globo, da Folha, da Veja e do Estadão – eu disse se você tomar todos eles em conjunto --, você não chega a algo remotamente comparável ao currículo de Fabio Konder Comparato. Não adianta o Pedro Dória honestamente matutar de lá pra cá se ele não entender essa premissa básica que deve estar sobre a mesa para o início da conversa: o paupérrimo, o assombrosamente rasteiro nível intelectual da grande mídia brasileira. Além de mentirosos, venais e pouco transparentes, são fraquíssimos.

Não percebem, por exemplo, que é vergonhoso o maior jornal brasileiro não saber de onde vem o termo “ditabranda”.

Com o insulto a Fábio Konder e Maria Benevides, o portal UOL perdeu de vez minha assinatura. O Biscoito entra em fase de apoio radical a qualquer ridicularização, boicote, ataque verbal, protesto, charges, manifestação ou sabotagem não violenta dirigida contra os Frias, os Marinho, os Civita e suas corjas de servidores. Cada assinatura que eles percam, cada desmoralização que sofram, cada restinho de credibilidade que escoe pelo ralo, é mais um tijolinho no prédio da democracia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Documentário: A Escola das Américas

Documentário “Escola das Américas”, dirigido por John Smilhula


A partir de entrevistas com diversas autoridades, o cineasta Smilhula revela o funcionamento do centro de treinamento, por onde passaram mais de 62 mil oficiais militares latino-americanos, entre os quais torturadores que violaram direitos humanos em países como Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.

O filme conta a história desse centro de especialização de técnicas de tortura, desde sua criação no Panamá, em 1946, até a transferência, em 1977, para o Fort Benning, na Geórgia, onde recebeu a denominação de Instituto de Cooperação para a Segurança Hemisférica.


O documentário traz também comentários de Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Michael Parenti e outros, sobre a política externa americana na América do Sul e América Latina, abordando a militarização, globalização, segurança nacional e o chamado terrorismo internacional.

Apresenta depoimentos pessoais de vítimas da violência e da repressão na América Latina e levanta questões e preocupações referentes aos verdadeiros objetivos da política externa americana na América do Sul e Latina.

Co-produzido por Andrés Thomas Conteris que por mais de 25 anos viaja através das Américas do Sul e Central em luta pela proteção de Direitos Humanos na região e contra as estratégias americanas de desestabilização política da região. Em Janeiro de 2005, recebeu o prêmio de Direitos Humanos pelas organizações de Honduras pelo seu trabalho denunciando o envolvimento de oficiais e políticos americanos nos esquadrões da morte em Honduras.

Em 2007, Conteris compareceu a Reunião do Senado americano para protestar contra a confirmação de John Negroponte como vice-Secretário de Estado. John Negroponte era no referido período Vice-Secretário de Estado, o segundo no comando de Condoleezza Rice no Departamento de Estado ds EUA. Seu cargo anterior no governo Bush havia sido o de Diretor de Inteligência Americana.

A participação de Negroponte na América do Sul e Central está diretamente ligada as atividades dos esquadrões do chamado Projeto Condor, responsável pelo assassinato de centenas de participantes de movimentos de esquerda na região. Também ligado a Escola da Américas, onde são treinados paramilitares envolvidos na tortura e assassinato de dissidentes. Recentemente a Escola das Amíricas mudou seu nome para “The Western Hemisphere Institute for Security Cooperation”.

Contribuição de Telma Alencar (Canadá).

Fonte Blog Controvérsias e Tita Ferreira

Leia também no site da Tita: Brasileiros graduados em tortura pela Escola da Américas

sábado, 21 de fevereiro de 2009

FOLHA AFIRMA EM EDITORIAL: NO BRASIL NÃO HOUVE DITADURA MAS “DITABRANDA”

ABI, intelectuais, leitores e blogueiros criticam duramente posicionamento do jornal.

por Conceição Lemes*

Em editorial publicado na terça-feira, 17 de fevereiro, criticando a vitória do presidente Hugo Chavéz no referendo, a Folha de S. Paulo classificou a ditadura militar brasileira (1964 a 1985) como “ditabranda”

Está no quarto parágrafo:


Mas, se as chamadas "ditabrandas" -- caso do Brasil entre 1964 e 1985 -- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente.“Branda para quem, cara pálida?” questionou ontem cedo Cristóvão Feil, blog Diário Gauche no post Jornal serrista diz que não houve ditadura, mas ditabranda
Cristóvão Feil argumenta:

1) Quando o próprio Departamento de Estado dos EUA e vários jornais conservadores norte-americanos consideram e reconhecem o caráter popular-democrático dos processos em curso na Venezuela, Bolívia e Equador, o jornal tucano-serrista Folha de S. Paulo – o mesmo que emprestava veículos da sua frota para operações inconfessadas dos órgãos de repressão da ditadura civil-militar de 1964-85 – continua insistindo com a sua cruzada contra Hugo Chávez e outros governantes sul-americanos que estão cortando os laços do Estado com as oligarquias locais.

2) Como se não bastasse, criou um neologismo infame para reconceituar a ditadura brasileira que golpeou Goulart em 1964. Segundo a Folha, nós experimentamos uma “ditabranda”, e alinha motivos de ficção para por de pé esse re-conceito mole e insustentável.

3) Para o jornal da família Frias deve ter sido mesmo uma situação branda, já que se pode imaginar as contrapartidas que o regime de repressão e arbítrio deve ter concedido ao grupo Folha, antes de 1964, editores de um obscuro diário da cidade de São Paulo.

ABI CRITICA DURAMENTE A FOLHA

Mais à tarde, a Associação Brasileira de Imprensa deixou de lado a passividade dos últimos tempos e criticou duramente o posicionamento do jornal. Em entrevista ao Comunique-se, Maurício Azêdo, presidente da ABI, diz que, em sua opinião, a Folha, num só parágrafo, alinha uma série de "equívocos de caráter político e histórico".

"Ao dizer que é uma ‘ditabranda', o jornal esquece, por certo, das mortes ocorridas durante a ditadura. Esquece dos milhares que tiveram seus direitos políticos cassados, que tiveram que se exilar, sem contar os torturados nas masmorras da ditadura. É lamentável que se proceda a uma revisão histórica dessa natureza. O que era negativo passa a ser positivo, dando absolvição àqueles que violaram os direitos constitucionais e cometeram crimes, como o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do Doi-Codi", diz Azêdo.

O presidente da ABI lembra também que o direito ao habeas-corpus foi suspenso durante o regime militar: "Dizer que houve acesso à Justiça é uma falsidade de caráter histórico que deveria causar vergonha à Folha de S. Paulo”. Procurados pelo Comunique-se, o diretor de redação da Folha, Otávio Frias Filho, e o ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, não retornaram os telefonemas até o fechamento da matéria.

“UM TAPA NA CARA DA HISTÓRIA DA NAÇÃO”

Na verdade, o primeiro a repelir publicamente o posicionamento da Folha foi o leitor Sérgio Pinheiro Lopes (São Paulo, SP). Em carta publicada no dia 19 de fevereiro, ele afirma:

"Golpe de Estado dado por militares derrubando um governo eleito democraticamente, cassação de representantes eleitos pelo povo, fechamento do Congresso, cancelamento de eleições, cassação e exílio de professores universitários, suspensão do instituto do habeas corpus, tortura e morte de dezenas, quiçá de centenas, de opositores que não se opunham ao regime pelas armas (Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho, por exemplo) e tantos outros muitos desmandos e violações do Estado de Direito.

Li no editorial da Folha de hoje que isso consta entre "as chamadas ditabrandas -- caso do Brasil entre 1964 e 1985" (sic). Termo este que jamais havia visto ser usado.
A partir de que ponto uma "ditabranda", um neologismo detestável e inverídico, vira o que de fato é? Quantos mortos, quantos desaparecidos e quantos expatriados são necessários para uma "ditabranda" ser chamada de ditadura? O que acontece com este jornal? É a "novilíngua"? Lamentável, mas profundamente lamentável mesmo, especialmente para quem viveu e enterrou seus mortos naqueles anos de chumbo.
É um tapa na cara da história da nação e uma vergonha para este diário."

A Nota da Redação da Folha: “Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional”.

COMPARATO E BENEVIDES CHAMADOS DE CÍNICOS E MENTIROSOS

Ontem, no Painel, mais repúdios de leitores.

MAURICIO CIDADE BROGGIATO (Rio Grande, RS), diz:
"Lamentável o uso da palavra "ditabranda" no editorial "Limites a Chávez" (Opinião, 17/2) e vergonhosa a Nota da Redação à manifestação do leitor Sérgio Pinheiro Lopes ("Painel do Leitor", ontem). Quer dizer que a violência política e institucional da ditadura brasileira foi em nível "comparativamente baixo'? Que palhaçada é essa? Quanto de violência é admissível? No grande "Julgamento em Nuremberg" (1961), o personagem de Spencer Tracy diz ao juiz nazista que alegava que não sabia que o horror havia atingido o nível que atingira: "Isso aconteceu quando você condenou à morte o primeiro homem que você sabia que era inocente". A Folha deveria ter vergonha em relativizar a violência. Será que não é por isso que ela se manifesta de forma cada vez maior nos estádios, nas universidades e nas ruas?"

LUIZ SERENINI PRADO (Goiânia, GO), afirma:

"Inacreditável. A Redação da Folha inventou um ditadômetro, que mede o grau de violência de um período de exceção. Funciona assim: se o redator foi ou teve vítimas envolvidas, será ditadura; se o contrário, será ditabranda. Nos dois casos, todos nós seremos burros."

MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP), horroriza-se:

"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -- que horror!"

FÁBIO KONDER COMPARATO, professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP), vai fundo:

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."

Nota da Redação: “A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”.

A Folha não consegue conviver com o contraditório? Incomoda ver que leitores como Sérgio Pinheiro Lopes, Maurício Cidade Broggiato e Luiz Seredini Prado pensam com as próprias cabeças, não se rendendo a uma possível tentativa de reescrever a história do Brasil e do jornal?

Quanto aos professores Fábio Comparato e Maria Victória Benevides, por que tanta indelicadeza com eles? Será por que obrigaram o jornal enxergar no espelho uma cara que não querem ver? Ou por que, de repente, fizeram a Folha de S.Paulo se relembrar dos tempos em que colaborava com ditadura militar, e sua frota de veículos ficava à disposição do DEOPS?

*Conceição Lemes é jornalista investigativa, especialista em saúde, com trabalhos importantes sobre o fumo, células-tronco, aids, e anemia falciforme. Recentemente tem produzido matérias de denúncia e esclarecimentos sobre a relação entre a indústria do amianto e câncer.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Estados Unidos aumentará prisão no Afeganistão

Do Vermelho.org

20 DE FEVEREIRO DE 2009 - 09h38

As forças armadas dos Estados Unidos estão próximas de completar a expansão da prisão da base aérea de Bagram, no Afeganistão, onde estão detidas 600 pessoas, denominadas "combatentes inimigos" pelas tropas de ocupação do país. O custo da expansão é calculado em US$ 60 milhões.


A quase duplicação da prisão ocorre ao mesmo tempo que o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, prepara uma "redefinição" da posição americana em relação ao uso de Bagram e outras instalações, inclusive o campo de concentração instalado na base ilegal de Guantânamo.


Gates, junto com Eric Holder, o secretário de Justiça dos EUA, foi encarregado de fazer um relatório para determinar o destino dos detidos em instalações americanas.


O presidente americano Barack Obama foi bastante elogiado por ordenar, assim que foi empossado, o fechamento do campo de concentração construído na base americana de Guantânamo, que ocupa ilegalmente o território de Cuba.


Mas com a sua ordem de redirecionar 17 mil militares do Iraque para o Afeganistão, no sentido de reforçar a presença militar no país, a prisão de Bagram parece ser agora mais visível e polêmica.


Rumi Nielson-Green, uma das porta-vozes das forças armadas americanas, disse à rede catariana de televisão al-Jazira que os detidos na prisão de Bagram são "combatentes inimigos fora da lei".


"São indivíduos que foram retirados dos campos de batalha porque são perigosos para nossas forças e nossos parceiros na coalizão", disse ela.


Direitos básicos


A organização Anistia Internacional exigiu que Obama continue rompendo com a "política de detenções ilegais" de seu predecessor, assegurando que "todas as detenções americanas no Afeganistão cumpram com as leis internacionais" e que dê aos detidos acesso aos tribunais americanos para que possam defender-se de suas acusações.


"Uma revisão judicial é uma salvaguarda básica contra abusos e uma proteção contra detenções arbitrárias e secretas, torturas e outros tratamentos nefastos, assim como transferências ilegais de uma país ou governo para outro", insistiu o grupo de defesa dos direitos humanos.


"Na ausência de supervisão judicial, os detidos em Bagram, assim como em Guantânamo, foram submetidos a tais abusos — sendo que até mesmo crianças não foram poupadas", destaca.


A organização afirma que mais de 615 pessoas que estão detidas em Bagram, sem acesso a tribunais ou dispositivos legais, são afeganis e alguns deles estão detidos há anos.


Embora a administração Obama tenha prometido resolver o caso dos pouco mais de 240 detidos em Guantânamo, nada disse sobre o que pretende fazer em Bagram.


John Bates, juiz de uma corte distrital dos EUA que recebeu processos abertos por quatro detidos de Bagram que estão na prisão há anos, deu à administração Obama até esta sexta-feira para "revisar" sua posição sobre o uso da base aérea de Bagram como instalação prisional e se acredita que os detidos ali podem acionar a justiça americana para rever suas prisões.


A administração Bush, anterior a Obama, argumentava que, como "combatentes inimigos", os detidos em Bagram não tinham o direito de acionar a justiça americana, argumento também utilizado em relação aos detidos em Guantânamo.


Mesmo assim, a suprema corte dos EUA determinou, no ano passado, que os prisioneiros de Guantânamo têm o direito de serem julgados pelos tribunais do país, algo que os grupos de direitos humanos querem agora para os detidos da base aérea de Bagram.

Princípio da fase 5 da crise sistémica global: A deslocação geopolítica mundial

por GEAB [*]

Desde Fevereiro de 2006 o LEAP/E2020 estimara que a crise sistémica global desenrolar-se-ia de acordo com quatro grandes fases estruturantes, a saber: desencadeamento, aceleração, impacto e decantação. Este processo descreveu bem os acontecimentos até agora. Mas a partir deste momento a nossa equipe considera que a incapacidade dos dirigentes mundiais em captar o alcance da crise, caracterizada nomeadamente pela sua obstinação desde há mais de um ano em tratar as suas consequências ao invés de atacar radicalmente as suas causas, fará com que a crise sistémica global entre numa quinta fase a partir do 4º trimestre de 2009: a fase da deslocação geopolítica mundial.

De acordo com o LEAP/E2020, esta nova fase da crise será moldada por dois importantes fenómenos que organizam os acontecimentos em duas sequências paralelas, a saber:

A. Dois importantes fenómenos:
1. O desaparecimento do pedestal financeiro (dólares + dívidas) no conjunto do planeta
2. A fragmentação acelerada dos interesses dos principais actores do sistema global e dos grandes conjuntos mundiais

B. Duas sequências paralelas:
1. A decomposição rápida do conjunto do sistema internacional actual
2. A deslocação estratégica de grandes actores globais.

Havíamos esperado que a fase de decantação permitiria aos dirigentes do mundo inteiro extrair as consequências do afundamento do sistema que organiza o planeta desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Infelizmente, nesta etapa, já não é realmente permitido ser optimista quanto a isto [1] . Tanto nos Estados Unidos como na Europa, na China ou no Japão, os dirigentes persistem em actuar como se o sistema global em causa fosse vítima apenas de uma avaria passageira à qual bastaria acrescentar uma certa quantidade de carburantes (liquidezes) e outros ingredientes (baixa de taxas, compras de activos tóxicos, planos de relançamento das indústrias em quase falência,...) para fazer com que a máquina andasse outra vez. Ora, e este é exactamente o sentido da expressão "crise sistémica global" criada pelo LEAP/E2020 em Fevereiro de 2006, o sistema global doravante está inutilizado. É preciso reconstruir um novo ao invés de se obstinar em salvar o que já não pode mais ser salvo.

.

Não sendo a História particularmente paciente, esta quinta fase da crise irá portanto arrancar com este processo de reconstrução mas de maneira brutal, pela deslocação completa do sistema pré-existente. E as duas consequências paralelas, descritas neste GEAB Nº 32, que vão organizar os acontecimentos, prometem ser particularmente trágicas para vários grandes actores mundiais.

Segundo o LEAP/E2020, não resta senão uma pequena fresta para tentar evitar o pior, a saber, os próximos quatro meses, daqui até o Verão de 2009. Muito concretamente, a Cimeira do G20 de Abril de 2009 constitui a última oportunidade para reorientar de maneira construtiva as forças em acção, quer dizer, antes que a sequência cessão de pagamentos do Reino Unido, depois a dos Estados Unidos se ponha em marcha [2] . Sem isto, eles perderão todo o controle sobre os acontecimentos [3] e inclusive, para numerosos dentre eles, nos seus próprios países, enquanto o planeta entrará nesta fase de deslocação geopolítica tal como um "barco à deriva". À saída desta fase de deslocação geopolítica, o mundo arrisca-se a parecer-se mais com a Europa de 1913 do que com o planeta de 2007.

Assim, à força de tentar arcar sobre as suas costas o peso cada vez maior da crise em curso, a maior parte dos Estados afectados, inclusive os mais poderosos, não se deram conta de que estavam em vias de organizar o seu próprio esmagamento sob o peso da História, esquecendo que não eram senão construções humanas, que não sobreviviam senão porque o interesse da maioria ali se encontrava. Neste número 32 do GEAB, o LEAP/E2020 optou portanto por antecipar as consequências desta fase de deslocação geopolítica sobre os Estados Unidos e a UE.

Portanto este é o momento, tanto para as pessoas como para os actores sócio económicos, de se prepararem para enfrentar um período muito difícil que vai ver vastos sectores das nossas sociedades, tais como se as conhece agora, serem fortemente afectados [4] , até mesmo simplesmente desaparecerem provisoriamente ou em certos casos duradouramente. Assim, a ruptura do sistema monetário mundial no decorrer do Verão de 2009 vai não só implicar um afundamento do dólar dos EUA (e do valor de todos os activos denominados em USD), como vai também induzir por contágio psicológico uma perda de confiança generalizada nas moedas fiduciárias. É a tudo isto que se cingem as recomendações deste GEAB Nº 32.

Last but not least, doravante a nossa equipe considera que são as entidades políticas [5] mais monolíticas, as mais "imperiais", que serão mais gravemente abaladas no decurso desta quinta fase da crise. A deslocação geopolítica vai assim aplicar-se a Estados que vão experimentar uma verdadeira deslocação estratégica pondo em causa a sua integridade territorial e o conjunto das suas zonas de influência no mundo. Outros Estados, em consequência, serão projectados brutalmente para fora de situações protegidas para mergulharem em situações de caos regional.

15/Fevereiro/2009

Notas:

(1) Barack Obama, assim como Nicolas Sarkozy ou Gordon Brown, passam o tempo a invocar a dimensão histórica da crise a fim de melhor ocultar a sua incompreensão da sua natureza e tentar livrar-se previamente da responsabilidade pelo fracasso das suas políticas. Quanto aos outros, preferem persuadir-se que tudo isso será ajustado como um problema técnico um pouco mais grave que de costume. E todo este pequeno mundo continua a jogar conforme as regras que conhecem desde décadas, sem perceber que o jogo está em vias de desaparecer debaixo dos seus olhos.
(2) Ver precedentes no GEAB.
(3) De facto, é mesmo provável que o G20 terá dificuldades crescentes para muito simplesmente poder reunir-se, num fundo de "cada um por si".
(4) Fonte: New York Times, 14/02/2009
(5) E isto parece-nos igualmente verdadeiro para as empresas.

Outros comunicados do GEAB:
Crise 31, Crise 30, Crise 29, Crise 28, Crise 27, Crise 26, Crise 25, Crise 24, Crise 23, Crise 22, Crise 21, Crise 20, Crise 19, Crise 18, Crise 17, Agosto 2007, recessão, fevereiro 2007, janeiro 2007, Europa.

[*] Global Europe Anticipation Bulletin.
O original encontra-se em www.leap2020.eu
Este comunicado encontra-se em Resistir Info.
Este e o post anterior é dica da Tita Ferreira