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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Rodrigo Vianna faz uma boa análise sobre o quadro político da Venezuela pós-referendo

DIRETO DE CARACAS, UM BALANÇO DOS NÚMEROS:
CHAVEZ VENCEU, MAS OPOSIÇÃO FICOU MAIS FORTE

Rodrigo vianna (em seu blog: O Escrevinhador)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009 às 09:52

Este e um país onde a política está nas ruas. Com suas camisas vermelhas, e sua mania de fazer discurso, falando alto - mesmo que o público seja de uma ou duas pessoas, numa esquina qualquer do centro da cidade - os chavistas seguem comemorando a vitória em Caracas.

A Praça Bolívar é o território preferido deles. Lembra um pouco a Cinelândia no Rio, na época de Brizola, com barracas cheias de panfletos, fotografias de Che Guavara e Simon Bolivar.

Gente simples, que vem dos “barrios” mais pobres, anda por ali com um sorriso orgulhoso nos lábios, dizendo: “si, mi comandante se queda” (sim, meu comandante vai permanecer no poder).

Nas TVs privadas e nas páginas dos maiores diários de Caracas, a oposição tenta reduzir o impacto da vitória de Hugo Chavez:

- “o chavismo encolheu, o ‘sim’ teve um milhão de votos a menos do que Chavez obteve na eleição presidencial de 2006”, dizem (esse é um fato inquestionável, um número verdadeiro);

- “o processo eleitoral foi dominado por vícios”, estampa um dos jornais de oposição na primeira página (esse não é um fato; houve problemas pontuais, mas observadores internacionais e os líderes mais conseqüentes da oposição atestaram que o processo transcorreu de forma limpa e organizada).

Dessa forma, misturando fatos verdadeiros com afirmações mentirosas, a oposição terá mais dificuldades em se consolidar. Seguir afirmando que Chavez é um líder antidemocrático, e que na Venezuela impera um regime autoritário, é algo que não encontra respaldo nos fatos.

Desde que Chavez chegou ao poder, em 98, houve 15 consultas populares: eleições, plebiscitos, referendos. Tudo se resolve no voto. A oposição tem liberdade de atuar, tanta liberdade que - em 2002 – tentou derrubar o presidente com um golpe que teve amplo apoio da mídia privada.


Chavez já olha pra 2012: ele segue forte, mas perdeu eleitores

A Venezuela é uma democracia. Chavez é um líder popular. Desalojou do poder grupos que usavam a renda do petróleo em favor de uma parcela ínfima da população. A Venezuela, com Chavez, eliminou o analfabetismo, investiu pesado em Saúde, criou programas sociais bem-estruturados, levando o Estado para perto do povo (são as “missiones”, ou “Barrio Adentro”, como eles dizem aqui). Esses são fatos concretos.

Mas os chavistas parecem não enxergar (ou não querer enxergar) outro fato concreto: o eleitorado que apóia o presidente, realmente, encolheu.


Oposição não tem um líder para enfrentar Chavez, mas tem muitos votos

Vamos aos números.

1) Em 2006, Chavez obteve mais de 7 milhões de votos quando se reelegeu presidente. A oposição (com Manuel Rosales) obteve pouco mais de 4 milhões.

2) Embalado pela vitória, em 2007, Chavez tentou aprovar uma ampla reforma constitucional, incluindo a possibilidade de reeleições irrestritas e também mudaças na estrutura econômica do país para oficializar a construção do socialismo: perdeu. A oposição obteve 4,3 milhões dos votos. O chavismo teve 4,1 milhões. Ou seja, em 2007, a oposição continuou do mesmo tamanho, mas o chavismo perdeu 3 milhões de votos – gente que nem saiu de casa pra votar.

3) Agora, em 2009, o objetivo de Chavez era recuperar esses 3 milhões de eleitores, a meta era atingir 7 milhões de votos novamente. Não conseguiu. O “sim” obteve 6,3 milhões – um milhão a menos do que na reeleição de Chavez em 2006. Parte dos antigos eleitores chavistas migrou para oposição (ao que parece, definitivamente): o “não” teve 5,2 milhões de votos, um milhão a mais que em 2006 e 2007.

Quais os motivos pra isso? O sociólogo Ernesto Lander - um ex-simpatizante de Chavez, hoje crítico do governo – diz que as administrações locais do PSUV são ruins. “Falta capacidade de gestão”, ele me disse.

De fato, vi muito lixo nas ruas – tanto agora, como em 2007, quando também acompanhei o referendo em Caracas. E a criminalidade avança nos grandes centros.

No domingo, conversei com Lucia, uma eleitora do bairro popular de Petare. Ela disse que na última eleição local (em 2008) votou na oposição, ajudando a eleger um “alcaide” (prefeito) antichavista: “o pessoal do Chavez não cuidou das ruas, não recolheu o lixo”. Mas, no referendo de domingo, cravou “sim”: “sou chavista, estou com o presidente, mas os políticos precisam trabalhar”. Ou seja, parte do eleitorado pode flutuar, a depender da conjuntura e das administrações locais.

Minha impressão pessoal é de que Chavez gastou muita energia nos últimos 10 anos, com tantas consultas, tantos discursos, tanto combate verbal. Agora, precisa fazer seus partidários trabalharem firme nos governos locais. Do contrário, em 2012, pode ter dificuldades.

A oposição conquistou 45% dos votos domingo. Não é pouco. Esse votos não vieram só da classe média enraivecida, elitista e golpista. Amplos setores populares – especialmente na Grande Caracas – votaram com a oposição. Isso é fato.

O que facilita a vida do presidente é que não há, na oposição, um nome que unifique tantos setores , hoje desarticulados. Mas, até 2012, há tempo pela frente.

A crise econômica mundial e a queda do preço do petróleo jogam contra Chavez.

A favor dele, joga a história recente, em que o presidente soube se colocar - com discursos, mas também com fatos e programas concretos - ao lado dos setores até então marginalizados na sociedade venezuelana.

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