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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"As ações dos EUA falam mais alto que suas palavras"

Aiatolá Ali-Akbar Hashemi-Rafsanjani, Iran-2009:


O Aiatolá Ali-Akbar Hashemi-Rafsanjani, em entrevista exclusiva a Press TV, fala sobre a Revolução Islâmica do Iran, sobre a questão nuclear, sobre as próximas eleições e sobre o futuro das relações EUA-Iran.

Por mais de 30 anos, o Aiatolá Rafsanjani esteve na linha de frente da política iraniana. Foi deputado-portavoz do Parlamento (Majlis)[1] iraniano de 1980 a 1989. E foi presidente do Iran de 1989 a 1997. Atualmente, é Líder da Assembléia dos Anciãos e do "Expediency Council"[2] do Iran.

Press TV: Gostaríamos de saber o que o senhor pensa sobre por que os iranianos optaram por uma Revolução Islâmica, em vez de tentarem reformar o sistema monárquico anterior, do Xá.

Rafsanjani: Bem, o movimento popular no Iran começou porque o povo exigia reformas. Por algum tempo, só se falou de reformas, mas o regime do Xá manteve-se surdo. Em vez de ouvir as críticas, recorreu à violência e foi-se tornando cada vez mais tirânico. Assim chegamos à conclusão de que a crítica não funcionaria e que o problema estava no próprio regime.

Press TV: Como se sabe, tem havido muita hostilidade entre Teeran e Washington. Do seu ponto de vista, que passos são necessários para melhorar o relacionamento e o que levou à situação atual? Parece-lhe possível, hoje, consertar essas relações?

Rafsanjani: Depois da vitória da Revolução, por mais que os EUA tenham tido participação ativa no que o Xá fez, não nos interessa nenhum confronto com os EUA. Os conselheiros norte-americanos que viviam aqui jamais foram expulsos. Partiram porque decidiram partir.

A embaixada dos EUA permaneceu em pleno funcionamento em Teeran, mas, aos poucos, a embaixada foi sendo convertida num centro de atividade anti-revolucionária. Tantas fizeram que o povo, afinal, se enfureceu.

Os EUA fizeram campanha militar em Tabas, outro fato que, outra vez, enfureceu o povo. Pouco depois disso, tentaram um golpe; o golpe Nojeh (11/7/1980)[3] foi orquestrado pelos norte-americanos. Investigamos tudo e há indícios eloquentes do envolvimento dos EUA.

Depois, fomos arrastados à guerra. Os EUA apoiaram Saddam, quando atacou o Iran. Os EUA sempre apoiaram o regime de Saddam Hussein.

Se se combinam todos esses fatores, e se se considera o ressentimento popular em relação às políticas norte-americanas antes da Revolução, não é difícil entender por que as relações chegaram ao ponto em que estão.

Por exemplo, se os EUA agissem conforme nossos acordos anteriores, de Haia, teriam contribuído para melhorar, não para azedar cada vez mais, nossas relações.

Press TV: Há alguma possibilidade de acertar as diferenças que separam Iran e EUA? O que deve ser feito?

Rafsanjani: Quando fui presidente, anunciei que, se os EUA demonstrassem boa-vontade e concluíssemos que queriam trabalhar como aliados, sem qualquer fantasia de colonizar o Iran, haveria possibilidade de negociação.

Por exemplo: o Iran tem fundos que foram (e assim permanecem até hoje) ilegalmente congelados nos EUA. Se liberarem o nosso dinheiro, será evidência clara de que estão seriamente empenhados em melhorar as relações conosco. Tomaremos o descongelamentos daqueles fundos como gesto de boa-vontade e abriremos negociações. Mas até agora ainda não há qualquer sinal nessa direção.

Todos que ocuparam a presidência depois de mim disseram a mesma coisa: se o EUA manifestarem boa-vontade em relação ao Iran, estaremos abertos a conversações.

Press TV: Há alguma abertura hoje? O senhor acredita que a posse do presidente Barack Obama faz aumentar a possibilidade de melhores relações?

Rafsanjani: Tem-se falado muito sobre isso e o presidente Obama tem usado vocabulário diferente do presidente Bush. Isso posto, também é verdade que não recebemos, até hoje, nenhum novo sinal claro dos norte-americanos. Os funcionários iranianos estão à espera, para saber o que o presidente Obama fará, na prática, e se há verdadeira boa-vontade. Ações sempre falam mais alto que palavras.

Press TV: Analisando em retrospectiva os 30 últimos anos, vê-se que a República Islâmica avançou muito. Gostaria que o senhor comentasse, por favor, o que o senhor mais lastima, desses anos; e o que considera a principal realização, desde a Revolução?

Rafsanjani: São conquistas todos os objetivos que lutamos para alcançar e alcançamos. Por exemplo, a revolução visava a tornar o Iran independente, porque não queríamos continuar a depender de países estrangeiros.

Os europeus e outros países ocidentais sempre controlaram o Iran. Um dos objetivos da Revolução foi pôr fim à interferência estrangeira e tornar o Iran independente. Não esqueçamos que, sob o regime tirânico de Pahlavi, o povo reivindicava o direito de eleger representantes – exigência que a Revolução Islâmica também encampou.

O fato de os iranianos serem crentes da religião islâmica também teve muito a ver com o sucesso da Revolução Islâmica. Os iranianos queriam que se implantasse a lei Islâmica. Nisso, os iranianos não mudaram nem de opinião nem de ideais.

Depois da Revolução, tentamos dar traços de governo islâmico ao governo iraniano. Não se pode aprovar nenhuma lei que contrarie a lei islâmica. E fizemos o melhor possível para reconstruir o país, de modo a aumentar nossa independência em relação a nações estrangeiras.

Alcançamos sucessos importantes no campo científico e tecnológico e aumentamos os índices educacionais. Reconstruímos a infra-estrutura do país e revolucionamos nossa indústria de defesa. Na minha opinião, são conquistas muito importantes.

Contudo, embora nosso sistema de governo tenha sido bem-sucedido, houve coisas que não deveríamos ter feito. Acontece sempre, em todos os governos, porque as coisas nunca são simples.

Tenho certeza de que também temos nossa quota de erros e de que não alcançamos plenamente todas as nossas metas. Ainda há muito trabalho a ser feito. Há também o problema do embargo, que tornou mais lento o progresso em algumas áreas.

Essa Revolução é vitoriosa e prosperou. Em 30 anos, não se afastou do caminho original e manteve-se fiel aos ideais originais.

Press TV: E quanto ao status econômico dos iranianos. Como o senhor vê as reformas econômicas do presidente Ahmadinejad?

Rafsanjani: Nossa principal questão hoje é enfrentar a questão econômica e reformar o sistema de subsídios, que não é eficiente na forma que tem hoje.

Por exemplo, o subsídio ao combustível e à energia não é o que deve ser, porque os ricos têm-se beneficiado mais com o tipo de subsídio que há, do que os pobres. Parte importante da população não está recebendo subsídios, que são necessários e são direito dos iranianos. Essa é uma das questões que estão em discussão no Majlis [Parlamento].

O Majlis ocupa-se atualmente com o orçamento, o plano de reforma econômica e as políticas gerais do quinto plano de desenvolvimento apresentado pelos legisladores ao "Expediency Council". Estamos trabalhando no quinto plano de desenvolvimento econômico, que nos ajudará a alcançar todas as nossas metas.

Press TV: Gostaria de pensar um pouco sobre as eleições presidenciais aqui na República Islâmica. O que o senhor pensa sobre as próximas eleições? O senhor tem candidato ou grupo preferencial?

Rafsanjani: Não. Não tenho opinião específica sobre nenhum dos candidatos já conhecidos ou que apareçam. Estou esperando que a lista completa e final de candidatos seja oficialmente anunciada, para decidir em quem votar.

O mais importante para mim é que as eleições sejam organizadas e feitas de modo a assegurar que o maior número possível de eleitores manifestem seu voto. Esperamos que muitos acorram às cabines de votação e votem.

Press TV: Quais os principais desafios que a República Islâmica enfrenta hoje?

Rafsanjani: A questão nuclear é importante questão internacional em que o Iran está envolvido e também envolve os EUA. Também é preocupante a presença de exércitos estrangeiros no Iraque, Afeganistão, na região do Golfo Persa e ao norte do Iran.

Num nível doméstico, há a questão dos subsídios, que ainda não está resolvida e continua a criar sérios problemas para nossa economia.

A maior parte da economia iraniana ainda é estatal, e é preciso começar a agir para separar o Estado da atividade econômica e direcionar a economia iraniana na direção da privatização.

Press TV: O senhor acaba de mencionar a questão nuclear, como um dos desafios. O quanto o Iran está disposto a mostrar-se flexível, se os EUA condicionarem a reaproximação com o Iran ao fim de todo o programa nuclear iraniano? A República Islâmica está disposta a ceder, na questão nuclear?

Rafsanjani: Estamos completamente preparados para cooperar, nos termos da legislação e das normas internacionais. O Iran é membro da agência nuclear internacional (International Atomic Energy Agency, IAEA), cujas regras são muito claras. Todos os países membros da IAEA têm direito de construir tecnologia nuclear para fins pacíficos. Evidentemente, a filiação à IAEA proíbe todos os membros de desenvolverem programas nucleares para fins militares – disposição com a qual o Iran concorda e acordo que subscrevemos integralmente.

Ao mesmo tempo, esperamos que a IAEA coopere e trabalhe conosco em tudo que tenha a ver com a questão nuclear. Essa é a única reivindicação que o Iran fez e continua a fazer.

Mas, sim, há países que têm tentado nos enganar. Repetem que seria perigoso desenvolver a tecnologia de enriquecimento [do urânio]. Não podemos aceitar esse tipo de restrição. Buscar recursos tecnológicos para o enriquecimento de urânio é direito assegurado a todos os Estados-membros da IAEA, nos termos da legislação e das normas internacionais. [NAT/AR/SME/HGH]



[1] Sobre isso, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Majlis_of_Iran: O Majlis do Iran, lit. "Assembléia Islâmica Consultiva", também chamada de "Parlamento Iraniano", é o corpo nacional legislativo do Iran. Há hoje no Majlis 290 representantes, 20 a mais, depois da eleição de 18/2/2000. Atualmente, o líder do Parlamento é Ali Larijani.

[2] Sobre isso, ver http://www.iranonline.com/iran/iran-info/Government/Expediency.html: O "Expediency Discernment Council of the System (EDCS)" foi criado em 6/2/1988, por decisão do Aiatolá Ruhollah Khomeini, com a função de conciliar divergências que surjam entre a Assembléia Islâmica Consultiva e o Conselho dos Guardiães (ou dos Sábios, ou dos Anciãos – e encontram-se todas essas traduções)."

[3] Sobre o golpe Nojeh, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Nojeh_Coup: "Golpe tentado por um grupo de oficiais e soldados da infantaria, força aérea, exército e serviço secreto, sob a liderança de um ex-ministro do Xá, Shapour Bakhtiar, que operava do exílio, em Bagdá, desde que a Revolução Islâmica, com Khomeini, tomou o poder no Iran. Investigações posteriores comprovaram que Zbigniew Brzezinski, conselheiro de segurança nacional do governo Carter, de 1977 a 1981, encontrava-se regularmente com os golpistas."


10/2/2009, Marzieh Hashemi, Press TV, Teeran - http://www.presstv.ir/detail.aspx?id=85294&sectionid=3510302


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