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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A PAULICÉIA NÃO É TÃO “AL DENTE” ASSIM

Resenha do livro Bexiga, um bairro afro-latino (Ed. Annablume, 2008), do jornalista Márcio Sampaio de Castro

Por Nei Lopes em seu blog

Terça-feira, Janeiro 13, 2009




O “Bexiga”, oficialmente “Bela Vista”, é um bairro central da cidade de São Paulo. Famoso por suas cantinas italianas, pela gastronomia escandalosa, que chega até as celebrações da padroeira, Nossa Senhora Aquiropita (de “aquiropeto”, ícone bizantino, “que não foi feito por mãos humanas”), a região virou símbolo da italianidade na Terra da Garoa. Mas, segundo o recém-lançado livro Bexiga, um bairro afro-latino (Ed. Annablume, 2008), do jornalista Márcio Sampaio de Castro, não é totalmente assim que tocam os bandolins.

Em seu surpreendente livro, Márcio, um afrodescendente que nasceu e foi criado lá, revela que, no início do século 20, a cidade de São Paulo sofreu o mesmo tipo de intervenção “eugenística”, europeizante e embranquecedora que o Rio de Janeiro. Assim, foram demolidos os cortiços na região da Sé, bem como foi “transferida” a Igreja do Rosário, que abrigava a Irmandade dos Homens Pretos, com o povo negro sendo empurrado para localidades mais distantes do centro.

Nas três primeiras décadas daquele século, os negros oriundos do interior vão procurar, obviamente, moradias próximas das oportunidades de trabalho. É assim que surge, por exemplo, o território negro da Barra Funda, onde se localizava o terminal de carga da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. E que se consolida o do Bexiga (que já tivera, inclusive, em suas proximidades, um quilombo), pela proximidade das mansões senhoriais da Avenida Paulista, carentes da mão-de-obra subalterna.

Saindo um pouco do livro de Márcio Sampaio de Castro e dando uma olhada no célebre texto de Roger Bastide sobre a “macumba paulista”, vamos ver que, nas décadas de 1940 e 1950, na capital paulista, o distrito da Bela Vista (Bexiga), juntamente com o de Santa Cecília eram os que mostravam o “curandeirismo preto e o baixo-espiritismo” com maior índice de desenvolvimento; e isto pelo fato de que, nessas regiões, o número de “brasileiros de cor” atingia a “porcentagem mais elevada” (Bastide, Estudos afro-brasileiros, Ed. Perspectiva, 1972, pág. 206). E mais: ano passado, numa edição focada no Dia da Consciência Negra, a revista Brasileiros também falava do Bexiga, ressaltando a Pastoral do Negro na igreja da Aquiropita; o trabalho do padre Toninho, que já é o segundo pároco afro-descendente naquele importante templo católico; da missa da Mãe negra, ao final da qual é servida uma grande feijoada (como nos banquetes festivos dos finais dos candomblés tradicionais); e na presença, mesmo, do povo de candomblé nessas celebrações do Bexiga.

Vale a pena dar uma olhada no livro. Que nos chegou aqui no Lote não sabemos por que via (o autor? a editora?). Só sabemos que foi muito bem chegado. Como foi o dia em que conhecemos, na Vila Mariana (levados pela magistral cantora afro-italiana Fabiana Cozza), o Pasquale, dono de uma conhecida casa de massas que leva o seu nome e que, apesar do sotaque carregado, usa chapéu de aba curta, chinelo charlote e versa num partido-alto como um Tantinho, um Renatinho, um Dudu. Com pimenta e sem farofa. Al sugo.

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