AMIGOS:
em tempos de " apropriação" e malversação da obra alheia, circula na internet e no youtube uma versão pobre e estropiada do poema meu A IMPLOSÃO DA MENTIRA, publicado originalmente durante a última ditadura militar. Peço aos amigos que contra ataquem em seus blogs, sites e toda forma eletrônica de comunicação divulgando essa verdade textual.
Em tempo: cuidado com os que dizem que a verdade não existe e que é arte qualquer coisa que qualquer um chama de arte. É mais uma mentira a ser ex/implodida.
Grato pela divulgação, ars
Fragmento 1
Mentiram-me.Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes.Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Fragmento 2
Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constróem um país
de mentira
-diária/mente.
Fragmento 3
Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partin-
do do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.
Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.
Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.
Fragmento 5
Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.
E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.
(Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em diversas antologias do autor. Está em “ Poesia Reunida” L&PM, v.2)
UM DOCUMENTO HISTÓRICO SOBRE O RIOCENTRO | |
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(Eliakim Araújo- Direto da Redação) Nesta quarta-feira, dia 30 de abril de 2008, o atentado ao Riocentro completou exatos 27 anos. Um tema que foi tabu durante muitos anos, porque envolvia militares do serviço de informação do exército num período em que a imprensa estava tolhida em sua liberdade de informar. Abaixo o depoimento de Leila Cordeiro sobre o que ela viu naquela noite e como a matéria foi tratada dentro da Globo: |
O atentado no Riocentro
Há vinte e sete anos, no dia 30 de abril de 1981, tive a minha primeira grande experiência como jornalista. Eu trabalhava na Globo, sem horário fixo, já que estava começando. Era meio "pau pra toda obra" como todo iniciante. Ia onde me mandavam, sem hora pra começar e muito menos pra acabar. E foi assim que fui parar no Riocentro, na véspera do dia do trabalhador. Já havia terminado, oficialmente o meu horário como repórter, quando um telefonema da redação me convocou para estar a postos porque uma "kombi" da Globo iria me buscar para cobrir um "acontecimento inesperado" no estacionamento do Riocentro. Era tarde. Mais ou menos dez da noite. Já estava deitada, pronta pra dormir. Pulei rápido da cama e ainda sonolenta vesti-me com a primeira roupa que encontrei, até porque o carro da Globo chegou em seguida ao telefonema. Quando estacionamos no Riocentro senti algo estranho no ar, apesar de não ver nenhuma movimentação. Vimos que havia fumaça num determinado lugar do estacionamento e fomos até lá. Quando chegamos ao local, vimos em primeira mão, um carro esportivo "Puma" destruído com uma pessoa lá dentro também completamente destroçada.Era sangue por todo lado. O cinegrafista e eu não entendemos nada. Não sabíamos sequer porque estávamos ali. Aliás, naquele momento ninguém sabia. Nem a chefia de reportagem da Globo. Mas isso logo se resolveu. Em poucos minutos carros oficiais da polícia , do exército e dos bombeiros chegaram cercando toda a área. Nos empurraram para fora e começaram a perguntar o que tínhamos visto. Logo em seguida chegaram repórteres de vários jornais e cada um correu para o seu lado para apurar os acontecimentos. Naquele dia, eu sabia que estava aprendendo algo mais... Fiquei cobrindo o fato até o dia seguinte quando chegou outra equipe de reportagem para me render. Dali fui direto para a redação da Globo, onde fiquei à disposição dos editores e da direção para escrever o texto e ajudar na edição. Não vi e não posso afirmar, mas soube que representantes do alto escalão do exército estiveram nos andares poderosos do Jardim Botânico para acompanhar as informações. O que posso dizer é que tive que mudar o texto umas três vezes e quase "testemunhar"o que vi no estacionamento.
Terra à vista, a vista e a prazo
1968-2008: 40 anos de AI-5
25 de Abril de 1974- Censura 'Tanto Mar" Chico Buarque
Memória e história: ditadura militar
Argentina: Mães da Praça de Maio
1964, alguns documentos
Repressão e ditadura militar: foi um tempo sem sorrisos
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