Publicado em 2007 pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República o livro Direito à verdade e à memória: comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos pode ser baixado aqui.
É um relatório de fôlego do trabalho de pesquisa de onze anos feito pela Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, traz uma síntese sobre a repressão durante a ditadura militar, com a biografia dos mortos e desaparecidos políticos. Conhecer essas páginas sombrias de nossa história é preciso para que nunca mais elas venham a ser escritas, para que o respeito aos Direitos Humanos seja uma realidade concreta em nosso país.
Vale a pena ler o artigo do jornalista Urariano Mota, quando do lançamento desta importante publicação. Destacamos um pequeno trecho:
(...)
"Maria Auxiliadora Lara Barcellos (1945-1976)
Maria das Dores atirou-se nos
trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim... tinha sido
presa 7 anos antes, Nunca mais conseguiu se recuperar plenamente das profundas
marcas psíquicas deixadas pelas sevícias e violências de todo tipo a que foi
submetida. Durante o exílio registrou num texto... 'Foram intermináveis dias de
Sodoma. Me pisaram, cuspiram, me despedaçaram em mil cacos. Me violentaram nos
cantos mais íntimos. Foi um tempo sem sorrisos. Um tempo de esgares, de gritos
sufocados, de grito no escuro'....(...)
Como vêem, difícil é manter a serenidade, a frieza, um ar
apolíneo, razoável, sensato, diante desse mundo que se encontra submerso, mas
jamais superado, morto, vencido. Eu, que não sabia como começar, confesso que
também não sei como pôr fim a estas linhas. Eu havia escrito antes notas,
reflexões, coisas digamos mais sociológicas, dignas de tese, que iludem toda a
gente, que pode nos tomar como um ser culto, inteligente, sábio, espirituoso.
Basta de falsidade, porque" - Teu nome completo é Mário Alves de Souza Vieira?
-
Vocês já sabem.
- Você é o secretário-geral do comitê central do PCBR?
-
Vocês já sabem.
- Será que você vai dar uma de herói? ...Horas de espancamentos com cassetetes de borracha,
pau-de-arara, choques elétricos, afogamentos. Mário recusou dar a mínima
informação e, naquela vivência da agonia, ainda extravasou o temperamento
através de respostas desafiadoras e sarcásticas. Impotentes para quebrar a
vontade de um homem de físico débil, os algozes o empalaram usando um cassetete
de madeira com estrias de aço. A perfuração dos intestinos e, provavelmente, da
úlcera duodenal, que suportava há anos, deve ter provocado hemorragia interna".É terrível que a importância de um livro, que a importância da palavra escrita, se dê em relatos tão cruéis. Mas a realidade não se escolhe.
Quem toca nesse livro, toca em destinos."
Trecho do artigo "Direito à memória da ditadura", setembro de 2007, de Urariano Mota, escritor, jornalista pernambucano, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance Os corações futuristas, cujo cenário é o período da ditadura Médici.
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