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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Manipulação de imagens, manipulação da memória

Manipulação de fotografias com objetivos políticos tem longa história, uma das mais clássicas são as fotos manipuladas a mando de Stálin para apagar da memória e da história seus inimigos políticos como Trotsky e outros, observe:




Na primeira fotografia original temos Lenin e Trotsky na Praça Vermelha celebrando juntos o segundo aniversário da revolução (1919). Depois, a foto “retocada” para publicação (em 1967) de um livro sobre Lenin. O “retocado” foi Trotsky e outros presentes, enviados para as brumas da falta de memória.

Aqui mais um inimigo político desaparece no retoque:











Trata-se de Nikolai Yezhov que foi apagado da foto onde aparecia ao lado de Stalin, após o primeiro ter sido executado a mando do segundo em 1940. Ironicamente foi substituído pelas águas do canal Moscovo-Volga: Nicolai tinha sido o comissário responsável pelo transporte fluvial.



Nesta, Trostky que, na fotografia original, estava de pé ao lado do palanque onde Lenin discursava também sofreu apagão no período stalinista:










Na foto original de 1820, Lenin em frente ao Teatro Bolshoi em Moscovo discursa às tropas revolucuionárias. Trotsky, que no governo comunista era responsável pela área militar, acompanha-o em posição de destaque (de pé, junto ao palanque). Esta imagem tornou-se um símbolo da Rússia revolucionária, mas a sua utilização em muitas publicações de grande tiragem foi “filtrada” para extrair Trotsky desse símbolo.


Infelizmente a manipulação da memória e da história não está restrita aos tempos ditatoriais stalinistas, nos cinco anos de conflito após a invasão estadunidense em território iraquiano alguns jornais estadunidenses manipularam fotografias, no atual conflito que ocorre no Tibet, estudantes chineses denunciam manipulações de imagens: a Veja anda se superando na produção de imagens manipuladas e agora é a vez de IstoÉ:

8 DE ABRIL DE 2008 - 20h22

Para proteger Serra, 'IstoÉ' manipula foto de manifestação

A revista IstoÉ desta semana mostra - para poucos - que a campanha eleitoral já começou e de que lado está. Para proteger o PSDB e o governador de São Paulo, José Serra, a publicação, contrariando todas as regras do jornalismo, apagou a inscrição ''Fora Serra'' de uma foto feita durante um protesto do MST e do MAB contra a privatização da Cesp.

Por Marcelo Netto Rodrigues e Renato Godoy de Toledo, no Brasil de Fato



Versão na IstoÉ (à esq.) omitiu o ''Fora Serra'' da foto original

Mais que isso, o resultado visual inverte o significado da imagem que traz uma placa de trânsito ''Pare'', como se quem devessem parar fossem os movimentos, e não as privatizações.

A adulteração de uma foto - passível de processo pelo detentor de seus direitos autorais, no caso a Folha de S.Paulo - é plenamente possível hoje em dia com o uso de um programa para tratamento de imagens, como o Photoshop por exemplo, mas é prática condenada no meio jornalístico. O fato escancara o poder de influência camuflada que os meios de comunicação de massa tem para atuar como o que vem sendo chamado de ''Partido da Mídia'' (PM).

A foto adulterada, de autoria do fotógrafo Cristiano Machado, ilustra a matéria '' O MST contra o desenvolvimento'' e mostra integrantes de movimentos sociais bloqueando a rodovia Arlindo Bétio, que liga São Paulo a Mato Grosso do Sul e Paraná, em protesto contra a privatização da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), no dia 24 de março.

A legenda diz ''A exemplo do que ocorreu em São Paulo, em protesto contra a privatização da Cesp, os sem-terra prometem parar estradas em todo o país nos próximos dias''.

A reportagem assinada por Octávio Costa e Sérgio Pardellas criminaliza os movimentos sociais sustentando que ''os sem-terra ameaçam empresas e investimentos que geram empregos e qualidade de vida'', sem mencionar que a Aracruz Celulose, a Monsanto, a Cargill, a Bunge e a Vale - citadas pela matéria como exemplos de empresas prejudicadas - respondem a acusações de destruição do meio ambiente, desrespeito aos direitos de povos tradicionais, como quilombolas e indígenas, e exploração de trabalhadores.

A matéria tenta desautorizar o MST como um ator político que vá além da luta pela reforma agrária. Diz que ''desde 2006, o MST lidera ataques à globalização, ao neoliberalismo e às privatizações - algo que nada tem a ver com a sua luta original''.

Nada é por acaso

A editora Três, que publica a revista IstoÉ, é controlada pelo acionista majoritário do banco Opportunity, Daniel Dantas. O banqueiro tem ligações com fundos de pensões, além de uma participação ativa no processo de privatizações de estatais sobretudo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2007, Dantas superou a concorrência da Rede Record e comprou 51% das ações da editora Três, que estava à beira da falência.

O banqueiro tem uma trajetória de proximidade com outros partidos de direita como o DEM, sobretudo com o falecido político baiano Antonio Carlos Magalhães. Também foi sócio do publicitário tucano Nizan Guanaes. Por diversas vezes, foi alvo de investigações e respondeu a crimes como espionagem e formação de quadrilha. Quando estava à frente da Brasil Telecom, foi acusado de contratar a empresa Kroll para espionar a Telecom Itália.


publicado em 09/04/2008

atualizado em 10/04/2008

A Folha rafirmou hoje (10/04/2008) que a IstoÉ manipulou a fotografia

Revista "IstoÉ" faz adulteração em imagem comprada da Folha

DA REPORTAGEM LOCAL

A revista "IstoÉ", publicação da Editora Três, adulterou uma fotografia adquirida da Folha. A imagem foi publicada pela revista na edição do final de semana, ao lado da reportagem "O MST contra o desenvolvimento".

A revista apagou digitalmente a expressão "Fora Serra", referência ao governador José Serra (PSDB-SP). A frase aparecia, na foto original, pichada numa placa de trânsito por integrantes do MST na rodovia Arlindo Bétio, que liga SP a MS e PR. Eles participavam de um ato contra a privatização da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo).

Em e-mail enviado ontem à Folhapress, agência de notícias do Grupo Folha, o editor-executivo da agência IstoÉ, César Itiberê, confirmou a adulteração e pediu desculpas. "Houve realmente manipulação por photoshop [programa de computador] da imagem dos sem-terra, com intenção absolutamente estética." Ele afirmou, por telefone, que "não houve nenhuma ordem [superior], nenhuma orientação política, nenhum dolo. Houve um mal-entendido".

O jornalista Mello tem outra hipótese para essa manipulação

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