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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O encontro de Santiago

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Mauro Santayana (do Jornal do Brasil)

15/09/2008

Convocados pelo Chile reunem-se, na tarde de hoje, em Santiago, os países sul-americanos, para discutir a crise boliviana. O Brasil, em conseqüência das suas dimensões políticas, terá grande responsabilidade nas decisões da Unasul. Para isso, o presidente Lula conta com a habilidade e a tradição de coerência do Itamaraty. O peso do Chile é também destacado. Em conseqüência de uma guerra, entre 1879 e 1883, a Bolívia perdeu para o Chile grande parte de seu território, até o litoral, no Pacífico, e, o Peru, parcela de seu espaço meridional, na disputa pelas riquezas minerais do deserto de Atacama e do guano da costa.

A Bolívia e o Paraguai são os dois únicos países mediterrâneos da América do Sul, o que lhes traz desvantagem do ponto de vista econômico – mas são países estratégicos do ponto de vista geopolítico. O Paraguai tem bom acesso fluvial ao Atlântico, pelo Rio da Prata. A Bolívia depende basicamente de duas ferrovias, Santa Cruz de la Sierra–Corumbá, com acesso a Santos, e a de La Paz a Arica, no litoral chileno, ambas construídas como concessão, com os acordos com o Brasil (na Questão do Acre) e com o Chile, depois da guerra perdida.

Até a segunda metade do século passado, o eixo da economia boliviana estava na cordilheira, com a extração mineral, principalmente de estanho. Os trabalhadores das minas, sob a poderosa Central Obrera Boliviana, comandada por Juan Lechin, com sua mobilização permanente, exerciam papel estabilizador no país, como árbitros nas disputas políticas. As terras baixas estavam abandonadas. Mesmo entre os indígenas havia a diferença entre os nativos do Altiplano, com sua cultura incaica, e os guaranis e outros grupos das selvas do sopé da Cordilheira. O potencial econômico da região oriental era o da indústria extrativa no Nordeste da Bolívia (seringais e castanhais) e o Sudeste, com as jazidas de petróleo e gás, cobiçadas pela Shell e pela Standard Oil. As duas empresas (a primeira anglo-holandesa e a outra, norte-americana) provocaram a Guerra do Chaco com o Paraguai, nos anos 30 – também perdida pelos bolivianos. Essas jazidas começaram a ser exploradas mais tarde, por empresas multinacionais – e pela Petrobras.

O aumento da demanda e dos preços de produtos agrícolas, nos últimos anos, e as novas tecnologias de produção, estimularam a exploração capitalista das terras baixas da Bolívia, adquiridas a preços insignificantes pelos estrangeiros. Nestas três últimas décadas, sua ocupação por empresários do agronegócio (muitos deles brasileiros, americanos e croatas) promoveu, ao mesmo tempo, a concentração da propriedade, a expulsão dos índios e dos pequenos agricultores, o surgimento de burguesia branca, racista e – como mostram os últimos fatos – de caráter neonazista.

Os países do continente, que irão reunir-se hoje em Santiago, sabem que é preciso cortar logo essa tentativa de balcanização, incentivada pelos norte-americanos, que ameaça nossas repúblicas (a Venezuela, entre outras). A Bolívia deve somar os recursos do Altiplano aos das terras baixas, para sobreviver como nação. Não pode ser dividida. Aceitar o precedente é contar com movimentos separatistas em todos os países, com as áreas mais ricas tentando livrar-se de suas responsabilidades nacionais com as regiões mais pobres. No Brasil temos, há algum tempo, movimento separatista nos Estados meridionais, sob o lema de O Sul é o meu país. Manter as fronteiras históricas da América do Sul é garantir a paz.

É também chegada a hora de dizer a Washington que o continente está disposto a assumir identidade comum diante do mundo, e a não permitir a velha política de intriga de uns países contra os outros, fomentada pelos estranhos. Os governos de Morales e de Chávez podem não agradar a muitos. Mas todos os vizinhos lhes devem respeitar a legitimidade, posto que confirmada nas urnas, em eleições limpas, acompanhadas por observadores internacionais.

O pretexto dos separatistas, ao reclamar os impostos do petróleo, é improcedente. Depois da nacionalização promovida por Morales, a parcela dos recursos tributários sobre o petróleo, destinada aos departamentos, cresceu 300%. Desse dinheiro, Morales quer utilizar 30% para subsídio de US$ 20 a US$ 26 mensais a centenas de milhares de idosos pobres, muitos deles da própria região – o que os "autonomistas" consideram um esbulho.

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