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domingo, 14 de setembro de 2008

Não é a Bolívia, é toda a América Latina que está em jogo

A ação golpista dos EUA na Bolívia

Laerte Braga
13/09/2008

O embaixador dos Estados Unidos na Bolívia Philip Goldberg encontrou-se com o governador da província de Santa Cruz, Ruben Costa, principal líder das manifestações contra o governo do presidente Evo Morales, poucos dias antes do início dos protestos.

Philip Goldberg era o embaixador norte-americano na Sérvia quando da guerra separatista do Kosovo, no governo de Bil Clinton. Seu papel foi decisivo no processo separatista naquela república da antiga Iugoslávia. Tinha a mesma tarefa na Bolívia.

A decisão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de expulsar o embaixador dos EUA na Venezuela, vai além da solidariedade a Evo Morales. A ação golpista dos norte-americanos estende-se ao governo bolivariano de Chávez.

Chávez disse hoje que a eventual deposição por golpe do presidente da Bolívia justifica a luta armada na América do Sul, já que a vontade popular esbarra nos interesses colonialistas dos norte-americanos.

O presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva enviou a Bolívia o seu assessor especial para política externa, Marco Aurélio Garcia e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral do Itamaraty. Os dois viajaram depois que Lula conversou com Evo Morales e recebeu sinal verde para o apoio à ordem constitucional naquele país.

Uma das razões dos ataques às instalações da empresa de petróleo e gás boliviana é a exigência das companhias e empresários que os repasses da exportação de gás continuem a ser feito às elites e não ao programa de assistência aos idosos como definiu o presidente Evo Morales.

Por trás desse fato estão interesses maiores. Derrotadas nas urnas as grandes empresas nacionais e estrangeiras não aceitam que a Bolívia se livre do tacão nazista dos Estados Unidos. Por trás do golpe existem de agentes do MOSSAD, serviço de inteligência do estado terrorista de Israel e do governo da Espanha, aliados incondicionais dos Estados Unidos. Aos agentes do MOSSAD cabem as chamadas tarefas sujas.

No Brasil, o stf soltou nove presos ligados ao PCC. Os criminosos eram acusados de planejar invasões de presídios em São Paulo. Estavam presos há quatro anos e sequer a audiência inicial de interrogatório havia sido feita na justiça. O motivo? O governador do estado José Serra alegava através do seu secretário de Segurança Pública que não havia policiais disponíveis para escoltar os presos.

Fiel ao estilo tucano de mentir em notas oficiais, o governador disse que não havia necessidade de escolta e que o judiciário é o culpado. É ação golpista visando encurralar o governo Lula e evitar avanços. Já perceberam que o presidente dá uma no cravo e outra na ferradura e prefere as políticas de não enfrentar os adversários diretamente.

João XXIII, antepenúltimo papa não fascista da Igreja (os outros dois foram Paulo VI e João Paulo I – Albino Luciani -) justifica a luta armada como recurso válido se esgotados todos os outros para a garantia dos direitos básicos do homem. Está na encíclica MATER ET MAGISTRA (Mãe e Mestra).

No golpe fracassado de 2002 contra Chávez o cardeal primaz da Venezuela participou da ação e da posse do presidente fantoche, Carmona. Em Santa Cruz os sinos repicam a cada ataque de vândalos e pistoleiros fascistas contra instalações públicas no terrorismo das elites. Não aceitam o resultado das urnas.

Philip Goldberg insuflava e apoiava com agentes e recursos financeiros os grupos contrários a Evo Morales e já se desenhava um plano separatista. Um novo país. Foi assim em séculos passados quando os EUA decidiram construir o canal do Panamá. Incentivaram o separatismo e tomaram parte do território colombiano, o que é hoje o Panamá.

Camponeses e indígenas bolivianos resolveram sair às ruas para garantir o governo de Morales (são a maioria esmagadora da população). A rigor há uma guerra de sedição não declarada.

As forças armadas bolivianas devem, em tese, garantir o governo constitucional. Têm larga tradição golpista e alguns setores são ligados ao tráfico de droga (um presidente boliviano, Garcia Meza, coronel do Exército, foi preso no Brasil para onde fugiu depois de provadas suas ligações com o tráfico).

A eventual derrubada de Morales vai mergulhar a Bolívia numa guerra civil e certamente numa ditadura cruel e sanguinária, mas vão ficar preservados os “interesses” dos EUA e dos empresários nacionais e estrangeiros.

No Paraguai já se conspira contra o presidente Fernando Lugo. Lugo tomou posse há dias e anunciou um programa social de longo alcance. Contraria interesses norte-americanos e das elites do país. Lugo foi eleito, como Morales e Chávez, por maioria absoluta de votos dos paraguaios.

A idéia que a América do Sul aprofunde o processo de integração dos países da região e descarte a idéia (não está morta) da ALCA (ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS) proposta pelos EUA, não é tolerada por Washington.

Para que se tenha uma idéia do tamanho dos interesses dos EUA em países sul americanos é só olhar para o Brasil e entender a “mecânica” de exploração do petróleo do pré sal.

Ao contrário do que disse o presidente Lula a PETROBRAS não conseguirá aquecer a indústria brasileira como imaginado. Boa parte dos campos petrolíferos descobertos está em mãos de companhias estrangeiras, a EXXON MOBIL a maior delas e as encomendas de plataformas, equipamentos, etc, podem ser feitas no exterior. A primeira plataforma já está encomenda pela EXXON mesmo, no Japão.

As tentativas do governo Lula de reduzir a presença estrangeira nos chamados leilões de áreas para prospecção esbarrou nos contratos assinados no governo de Fernando Henrique (doação total e absoluta a grossas propinas) e nas pressões do governo dos EUA.

Essa política neoliberal e colonialista vai se estender para além da Venezuela e Bolívia no mesmo nível que agora nesses dois países, à medida que governos nacionais forem capazes de reagir, como reagiram vários e colocarem em risco os “negócios” dos EUA e seus parceiros espalhados pelo mundo.

Isso se aplica a questão da água e aí o Brasil se torna vulnerável em larga escala por conta do aqüífero Guarani, o quinto maior do mundo (reserva subterrânea).

A percepção que os acontecimentos na Bolívia se voltam para toda a América do Sul é questão de sobrevivência de cada um dos países dessa parte do mundo.

Não há a menor perspectiva de futuro se mantidos os privilégios norte-americanos, de empresas e governo na esteira do mundo dito globalizado, mais que nunca “globalitarizado” como definiu o geógrafo brasileiro Milton Santos.

A opção é simples. Ou nos tornamos América Latina, ou continuamos América LATRINA.

Uma especial atenção deve ser dada a posições de chefes militares. Boa parte dos principais comandantes de forças armadas latino-americanas está na folha de pagamento do Pentágono e a expressão patriotismo historicamente tem se prestado a canalhices como foram as ditaduras militares. No Brasil é o caso do general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, com passagem pelo Haiti, onde tropas brasileiras cumprem o papel de polícia opressora dos haitianos.

Atira publicamente para um lado, a soberania nacional e a integridade do território brasileiro, mas quer acertar em outro.

O que acontece na Bolívia é só um trailer de um filme de terror que os povos do Iraque e do Afeganistão conhecem muito bem. Prisões e câmaras de tortura. Seqüestros, assassinatos e toda a sorte de barbáries para garantir empresas e “negócios”. Inclusive o tráfico de drogas. Os EUA sustentam o governo do narcopresidente Álvaro Uribe na Colômbia.

As simpatias da mídia brasileira para as ações das elites bolivianas são regiamente pagas. Empresas como a GLOBO, a RECORDE, o SBT, a BANDEIRANTES, principais redes de tevê do País são controladas por agências de publicidade e essas pelos tais interesses.

Vendem o verde enquanto espalham o sombrio do cinza. Assim são os grandes jornais e revistas.

O que se trava é uma guerra de sobrevivência de países como o Brasil, a guerra agora está na Bolívia, como nações soberanas e independentes.

E sempre em mente que elites, aqui ou acolá, onde queiram, são apátridas e pútridas. No caso da boliviana e da nossa, das sul americanas, servis e dóceis aos “negócios” do terrorismo de mercado dos EUA.

Não é a Bolívia, um país de dimensões territoriais mínimas diante do Brasil. É toda a América Latina que está em jogo.

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É golpe
CLÓVIS ROSSI (da Folha de São Paulo)

SÃO PAULO - O que está em andamento na Bolívia é uma tentativa de golpe contra o presidente Evo Morales. Segue uma linha ideológica e táticas parecidas às que levaram ao golpe no Chile, em 1973, contra o governo de Salvador Allende, tão constitucional e legítimo quanto o de Evo Morales.
Os bloqueios agora adotados nos Departamentos são a cópia de locautes de caminhoneiros que ajudaram a sitiar o governo Allende.Outra semelhança: Allende elegeu-se presidente, em 1970, com pouco mais de um terço dos votos (36%). Mas, três anos depois, sua Unidade Popular saltou para 44%, em pleito legislativo, o que destruiu qualquer expectativa da direita de vencê-lo política ou eleitoralmente.
Foi na marra mesmo, o que deu origem a um dos mais brutais regimes políticos de uma América Latina habituada à brutalidade.
Evo Morales também se elegeu com menos votos do que obteve agora no chamado referendo revogatório, o que demonstra um grau de aprovação popular até surpreendente para as dificuldades que o governo enfrentou desde o primeiro dia, em parte por seus erros e em parte pelo cerco dos adversários.
A luta dos Departamentos pela autonomia, eixo da crise, é também legítima e precede Evo Morales.
Mas passou a ser apenas um biombo para encobrir as verdadeiras intenções, cristalinamente reveladas a Flávia Marreiro, desta Folha, por Jorge Chávez, líder "cívico" de Tarija, um dos Departamentos rebelados contra o governo central: "Se precisar, vai ter sangue. É preciso conter o comunismo e derrubar o governo deste índio infeliz".
Cena mais explícita de hidrofobia e racismo, impossível. Nem o governo nem a oposição no Brasil têm direito ao silêncio, escondendo-se um na não-ingerência em assuntos internos e outra em preconceitos similares.

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