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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O imaginário de nossa imprensa sobre os povos indígenas

Para a nossa imprensa indígenas não são brasileiros

(Bruno Calixto do Pós-texto)

Recentemente escrevi algumas pautas sobre questão indígena. As últimas foram “Quase 200 terras indígenas aguardam demarcação” e “Índios sofrem com atendimento precário à saúde“. Diferente de quando estive em Altamira, dessa vez as fontes principais dos textos não foram os índios, mas procuramos especialistas sobre o quadro geral da situação, a respeito de saúde e da demarcação das terras, e tentamos fazer um texto mais amplo e contextualizado.

Uma coisa que me impressionou bastante enquanto pesquisava para a matéria foi o descaso com que nós - jornalistas - tratamos os índios. Para começar, sequer respeitamos o direito deles se denominarem. O Manual de Redação e Estilo dos jornais recomendam expressamente que os nomes indígenas sejam aportuguesados e concordem em número. Assim, ao invés de falarmos em Yanomami, falamos em ianomâmis.

Os sertanistas e antropólogos que grafaram o nome Yanomami (ou o nome de qualquer outra etnia) pela primeira vez tinham um motivo em usar o Y (a pronúncia), e um motivo em não usar o plural (o termo já representa o coletivo). Então por que a recomendação em aportuguesar? Sei que parece preciosismo querer manter o termo, mas acredito que isso diz muito sobre como encaramos os povos indígenas no Brasil.

Antes da Constituição de 88, da Funai, enfim, antes de se falarem em direitos dos índios, existia no Brasil o SPI (Serviço de Proteção ao Índio). O SPI tinha uma política clara em relação aos povos tradicionais: integrar. O índio, enquanto índio, não era considerado brasileiro. Ele devia abandonar seus hábitos, formas de organização, usos e costumes para poder se considerar brasileiro.

A Constituição acabou com isso, e reconheceu o direito do índio ser índio, manter sua língua e costumes. Nossa lei permite que os povos indígenas mantenham sua identidade étnica, sendo ao mesmo tempo índios e brasileiros.

Será que, ao aportuguesar os nomes indígenas, não estamos reproduzindo a forma de pensar do velho SPI? Pelo o que podemos acompanhar do tratamento da imprensa na questão indígena, parece que sim. O índio, ao lutar politicamente pelos seus direitos (como no caso de Raposa Serra do Sol), é visto como um estranho tentando tomar terras e recursos que na verdade seriam dos “brasileiros”. Eles são os outros, os estrangeiros, o perigo à soberania nacional. Mas na verdade o que eles querem, ao lutar politicamente, é serem reconhecidos como brasileiros, e que possam desfrutar dos direitos que têm como brasileiros, mas sem que para isso precisem abandonar sua própria identidade.

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