A revolução que a internet promove nas relações sociais afetará radicalmente as trocas de informações e conhecimentos. Como a pegadogia está lidando com estas mudanças? De que modo se dispõe a lidar com modos de aprender e ferramentas que estão se tornando universais?
(02/08/2008)
O que é pedagógico? Não sou educador. Logo, não estou habilitado para falar sobre pedagogia. Por outro lado, quando penso na internet, mais especificamente nas redes sociais que emergem no espaço informacional, ou quando penso em inteligência coletiva, em capital social, em produção de subjetividade, enxergo as possibilidades que a cultura digital vem desvelar. Um impacto que atravessa toda a organização da civilização. E transforma radicalmente todas as áreas do pensamento humano.
A pedagogia também foi atingida. Assim, posso não entender de pedagogia. Mas, com certeza, a internet impacta absurdamente na forma de as pessoas aprenderem e ensinarem.
Neste sentido, parto das idéias que costumamos debater no MetaReciclagem [1]. Principalmente o processo de apropriação da tecnologia social. As redes sociais, sua topologia e conexões, ou aquilo que costumamos chamar de conectazes, em que a impermanência tem ação inequívoca na transformação social. Este processo tem sido inspirador de muitos projetos de inclusão digital no Brasil.
Essa apropriação tem mais a ver com a forma como as pessoas conversam na rede. Pessoas que conversam com outras pessoas. Uns que ensinam os outros. Uns que aprendem com os outros. Numa dinâmica que só é possível quando temos as redes sociais como plataforma pública.
Aprendizado e conhecimento são, como diz Seely Brown, resultados do "entrelaçamento de múltiplas forças: conteúdo, contexto e comunidade". Nas redes sociais, essa ecologia está sempre presente.
Bem, pelo menos para mim esta é a maneira por meio da qual nos alimentamos da conectividade. Aprendo muito navegando pelo conhecimento livre que encontro pelo meu caminho. John Seely Brown diz: "o que sabemos agora que não sabíamos há dez anos? O aprendizado e o conhecimento são resultados do entrelaçamento de múltiplas forças: conteúdo, contexto e comunidade". Nas redes sociais encontramos essa ecologia da aprendizagem.
Minhas dúvidas são reveladas na rede. Nos fóruns, em listas, encontro aquilo que outras pessoas estão fazendo. Pessoas postam dúvidas. Outros postam soluções. As pessoas blogam sobre diversos temas. Já li coisas lindas em blogs. As conversas das multidões hiperconectadas.
Logo, ensinar nessa realidade pressupõe conhecer as entranhas da rede. Pois quando as pessoas estão conectadas elas procuram outras pessoas para conversar. Querem estar no Orkut, bater papo no MSN, buscar aquilo que é relevante para cada um.
Não sei como a pedagogia está lidando com essas novas variáveis. Este é um grande desafio. Entretanto, como afirmei, nada entendo de pedagogia. Mas fui conferir no dicionário, e ele me diz que pedagogia "é a ciência que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo; é o conjunto de métodos que asseguram a adaptação recíproca do conteúdo informativo aos indivíduos que se deseja formar".
E mesmo a ortodoxia dicionarística só explicita o que fazemos na prática: o "desenvolvimento como um todo", a "adaptação recíproca do conteúdo informativo". Ou seja: não entendo de pedagogia, mas entendo desse fuzuê cibernético. E nessa composição estamos prontos para conversar.
Mais:
Hernani Dimantas assina, no Caderno Brasil, a coluna Sociedade em Rede. Edições anteriores:
Diferentes platôs
Nossa sociedade vive em diferentes platôs. São muitas redes que se interconectam. Formam as redes de informação. O que é físico torna-se virtual e, catalisado, retorna ao físico gerando ações interligadas. O desafio é entender a rede como um movimento múltiplo
Sobre conversas e revoluções
Longe das baboseiras impostas como grandes verdades, estamos rompendo paradigmas, modificando a economia e o trabalho, mostrando que, fora do capitalismo selvagem, existe inteligência. Tem gente que acha isso utopia. A nossa utopia! Eu creio, tu crês ser realidade... só por prazer
O paradoxo do real
Somados os percursos, teremos reconstituído uma pluralidade de mundos dentro de um mesmo e único mundo. Ou como escreveu Borges: "... sentia que o mundo é um labirinto, do qual era impossível fugir, pois todos os caminhos, ainda que fingissem ir ao norte ou ao sul, iam realmente a Roma"
A era das trocas par-a-par
Na virada do século, o desenho das redes na internet passou por uma grande transformação. Ao invés da subordinados a um servidor, os computadores e seus usuários passaram a falar uns com os outros. A mudança abriria um leque de possibilidades — inclusive no terreno da Educação
A cultura hacker
Confundidos propositalmente, pelo pensamento conservador, com invasores de rede, hackers somos todos os que agimos para que informações, cultura e conhecimento circulem livremente. E esta ética de cooperação, pós-capitalista, vai transbordando do software livre para toda a sociedade
Em busca da ativação
Desenvolvido desde 2002, método simples e instigante quebra barreiras em relação às redes sociais on-line e cria, em comunidades e instituições, ambientes de colaboração e compartilhamento. Prática revela como é tênue a diferença entre a presença "virtual" e a que se dá "em carne e osso"
Caminhos da revolução digital
Apesar de dominante, o capitalismo não consegue mais sustentar a lógica de acumulação e trabalho. Seus principais alicerces — a economia, a ética burocrática e a cultura de massas — estão em crise. Com a internet florescem, em rede, novas formas de produzir riquezas, diálogos e relações sociais
O desafio do Open Social
Em nova iniciativa supreendente, o Google sugere interconectar as redes sociais como Orkut, Facebook e Ning. Proposta realça sucesso dos sistemas que promovem inteligência coletiva e convida a refletir sobre o papel da individualidade, na era da colaboração e autorias múltiplas
Multidões inteligentes e transformação do mundo
Esquecidas na era industrial, mas renascidas com a internet, as redes sociais desafiam a fusão entre o poder e o saber, permitem que colaboração e generosidade sejam lógicas naturais e podem fazer da emancipação um ato quotidiano
Por trás dos links, as pessoas
Há dois séculos, a ciência descobriu e passou a analisar as redes. Há vinte anos, elas estão revolucionando o jeito de a sociedade se relacionar consigo mesma
[1] Para saber mais sobre MetaReciclagem, visite http://rede.metareciclagem.org/ (site em fase de reorganização
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