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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Os donos do poder estão incomodados, já não suportam mais tantos governos independentes no hemisfério

Fernando Lugo, o insuportável

A recente denúncia feita pelo presidente paraguaio Fernando Lugo, sobre uma comprovada reunião conspiratória, põe em debate uma novidade dos tempos atuais. Os donos do poder estão incomodados, já não suportam mais tantos governos independentes no hemisfério.

Por Modesto Emilio Guerrero, para o Página 12*

Fernando Lugo

Para conspirar contra o presidente Hugo Chávez demoraram três anos – seu mandato havia começado em 2 de março de 1999. Logo tentaram contra Evo Morales, cujo governo se iniciou em 26 de janeiro de 2006 – lá o intervalo foi de dez meses. O equatoriano Rafael Correa, que começou seu mandato em 15 de março de 2007, teve que esperar nove meses para se inteirar da primeira tentativa de conspiração.


Chavez, Correa e Evo

Três anos, dez meses, nove meses. Ao sacerdote terceiro-mundista Fernando Lugo, presidente eleito pelo povo do Paraguai, deram apenas três semanas.


A iniciativa não significa que são inevitáveis conspirações militares e nada mais. Isso é muito simples. Trata-se de um plano dinâmico e calculado, no qual elas são parte de um menu que inclui sinuosos trâmites diplomáticos, pressões financeiras, ofertas de investimentos, pactos semi-secretos de Tratado de Livre-Comércio e tudo aquilo que possa conduzir a uma reorganização de seu poder hemisférico. Nesse propósito cabem o enfraquecimento de governos, como o provocado na Argentina recentemente ou derrotas eleitorais ao estilo da Nicarágua, em 1989. Henry Kissinger, que entende bem de conspirações, define esse processo como "uma estratégia de múltiplos efeitos adaptada à globalização".


O que acontece no Paraguai revela seu grau de fragilidade como Estado-Nação capitalista, o protótipo do protagonismo mafioso plantado nas estruturas políticas, militares e sociais do país. A dimensão da impunidade é o estímulo para desafiar o novo governo desde o primeiro dia. Estão aproveitando a ausência de um poderoso movimento social e político que defenda Lugo. Em 1995, quando entrevistei Lino Oviedo em Montevidéu, entendi essa condição com essa resposta: "É que em nosso país as coisas estão feitas de tal maneira que nada se move sem que o saibamos". Reveladora frase, que de todas as maneiras não pôde evitar a mudança que acaba de iniciar Fernando Lugo. Então a tarefa é desestabilizá-lo.


Na Venezuela, tiveram que esperar até que Chávez falasse das "leis de aprofundamento da revolução", em setembro de 2001, pois estas falavam no direito social da terra, na recuperação do petróleo, da PSDVA e outras coisas muito feias para a elite. Nos três anos prévios, a tarefa foi tentar comprá-lo, corrompê-lo e agradá-lo. Recordo da reveladora declaração de Pedro Carmona em uma entrevista que fiz em junho de 1999, antes dele ser "Pedro, o Breve". "Este homem que faça o que bem quiser com sua Constituição Bolivariana e seus discursos incendiários, desde que não queira tocar o petróleo e tumultuar este país". Esse sentido de poder de classe conduziu o golpe de 11 de abril de 2002.

Kirscher, Evo, Lula e Chavez

Com Evo, a situação que levou à primeira conspiração de novembro de 2006 começou seis meses antes, no mesmíssimo dia 1º de maio em que os hidrocarbonetos foram nacionalizados. Não-somente foi a resposta das multinacionais afetadas, começando pela Petrobras, mas também o susto dos chefes de Santa Cruz e os outros estados com reservas de gás: entenderam que estavam a ponto de perder seu controle sobre esses recursos. Cinco meses depois, já andavam reunindo-se com agentes da embaixada dos Estados Unidos, buscando aliados nas Forças Armadas, na igreja, junto à Usaid, à Cia e outros órgãos.


Quanto a Correa, os ataques começaram no Parlamento opositor que quase lhe fez perder quatro ministros no primeiro ano. O movimento cresceu com a resolução presidencial de acabar com a base norte-americano de Manta em 2009 e por sua vontade de pertencer ao "socialismo do século 21", como Chávez.


A incrível lembrança de mais de 300 golpes sofridos pela América Latina no século 20 não faz reviver a frase reveladora segundo a qual a história não suporta o vácuo. Ou se avança ou se retrocede.


* Modesto Emilio Guerrero, venezuelano, é escritor e jornalista.


Tradução: Fernando Damasceno

9 DE SETEMBRO DE 2008 - 15h18

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