Atualizado em 21/09/2008
James Moore, no Huffington Post
Não deixe eles te dizerem que o derretimento econômico é uma confusão complicada. Não é. Nossa crise financeira nacional é facilmente entendível por qualquer pessoa que tenha visto cobiça e hipocrisia. Mas agora testemunhamos as duas em escala profunda e monumental.
Os republicanos conservadores sempre querem que o governo fique longe dos negócios e combatem fiscalização enquanto fazem rios de dinheiro. Quando a cobiça deles, no entanto, os coloca em apuros, são os primeiros a chorar por regras e leis e dinheiro do contribuinte para salvá-los. Obviamente, os republicanos são socialistas. O governo Bush decidiu socializar a dívida das grandes empresas de Wall Street. Os contribuintes não puderam aproveitar dos grandes lucros nos instrumentos financeiros fajutos como derivativos ou papéis do sub-prime, mas nós ganhamos o privilégio de pagar pelas dívidas e falências.
Vamos considerar apenas o dinheiro. O salvamento público da seguradora gigante AIG (que está se tornando um anão) custará 85 bilhões de dólares. De acordo com uma notícia, mais do que o governo Bush gastou no programa Ajuda para Famílias com Crianças durante seus dois mandatos. Esse dinheiro cobriria os gastos de saúde de todos os homens, mulheres e crianças dos Estados Unidos por ao menos seis meses.
Como chegamos a isso?
A resposta também é simples. O nome dele é Phil Gramm. Poucos dias depois que a Suprema Corte fez Bush presidente em 2000, Gramm enfiou uma coisa chamada Ato de Modernização do Commodity Futures na lei do Orçamento. Ninguém sabia que o senador do Texas estava dando aos Estados Unidos uma pílula de veneno de 262 páginas. O Ato do Gramm foi desenhado para manter fiscais federais longe do controle de novas ferramentas financeiras descritas como credit swaps. São instrumentos como hipotecas de sub-prime empacotadas e vendidas.
[Pedro deve à Caixa Econômica 50 mil reais. A dívida dele é garantida através de papéis vendidos no mercado financeiro. Os bancos de investimento ganham rios de dinheiro com as comissões de venda. Pedro fica doente, perde o emprego e deixa de pagar a conta. Os títulos ligados à dívida do Pedro apodrecem. Foi isso o que deu origem à crise nos Estados Unidos. Pedro multiplicado por milhares de compradores de casas. Bilhões de dólares em papéis micados que se espalharam pelo mundo.]
Sob a lei de Gramm, nem a SEC [equivalente americano da Comissão de Valores Mobiliários] nem a Comissão de Vendas de Commodities Futures (CFTC) poderiam examinar as instituições financeiras como fundos de hedge ou bancos de investimento para garantir que tinham os bens necessários para cobrir perdas no mercado.
Não estamos falando de uma besteira qualquer. O mercado para esses instrumentos financeiros que eles esperam que a gentinha não entenda é estimado em 60 trilhões de dólares anualmente, o que equivale a quase quatro vezes o valor que gira em todo o mercado de ações dos Estados Unidos.
E o senador Phil Gramm queria que os bancos de investimento atuassem sem regulamentação. Assim como Alan Greenpan, que apoiou a legislação e agora vai a programas de televisão para falar do horror que está acontecendo. Antes que os lobistas de altos salários acabassem de mostrar os seus cartões-ouro nos corredores do Congresso, todos -- dos fundos de hedge aos bancos -- já estavam brincando com fogo em busca de diversão e lucros.
Gramm não apenas fez de Wall Street uma ilha da fantasia. Ele também enfiou na sua lei um artigo que evitava a regulamentação dos mercados de energia, o que levou ao colapso da Enron. Não houve colapso da casa de Gramm, no entanto, já que a mulher dele, Wendy, que já dirigiu a Comissão de Vendas de Commodities Futures (CFTC) conseguiu um emprego na Enron que rendeu quase dois milhões de dólares para o cofrinho familiar. Por que não? Wendy passou uma regra que manteve o governo distante da fiscalização dos contratos de energia futura da Enron.
Se John McCain se eleger e escolher Phil Gramm como secretário do Tesouro, o que é uma possibilidade, eles poderão conversar sobre os bons velhos tempos em que Gramm estava no Congresso e McCain no Senado e eles participaram da crise dos Savings as Loans [S&L].
[Crise financeira que atingiu instituições de poupança e empréstimos pessoais nos anos 80, em que o governo americano também entrou com dinheiro público].
O escândalo dos S&L, que parece nada comparado com a presente cascata de problemas, também não é difícil de entender. Mas é impossível levar John McCain a sério em nosso atual Armageddon financeiro uma vez que ele esteve envolvido no colapso histórico de 747 instituições de poupança que ocorreu na era de Ronald Reagan. No início dos anos 80, sob um presidente republicano, o Congresso desregulamentou as empresas de S&L da mesma forma que Gramm mais tarde acabaria com as leis para controlar os malfeitores de Wall Street. Os dirigentes das instituições de poupança fizeram lobby até derrubar as regulamentações e em seguida passaram a fazer investimentos de má qualidade.
O cara que endoidou com a liberdade financeira foi Charles Keating, que controlava a Lincoln Savings and Loan da Califórnia. Uma vez que a indústria da S&L tinha conseguido fazer com que o Congresso aumentasse a garantia federal aos depósitos de 40 mil para 100 mil dólares, o investimento irresponsável de pessoas como Keating começou a colocar em risco dinheiro do contribuinte. Keating colocou dinheiro em ações junk e projetos imobiliários duvidosos e por causa disso a direção do Federal Home Loan Bank (FHLBB) começou a pedir regulamentação para limitar esses investimentos diretos, perigosos e especulativos a 10% dos bens totais das empresas de S&L.
Keating não gostou disso; chamou um economista privado de nome Alan Greenspan, que prontamente produziu um estudo dizendo que não havia perigo em investimentos "diretos". Mas isso não convenceu o FHLBB e o escrutinio federal mostrou que a Lincoln Savings and Loan tomava decisões historicamente ruins e uma investigação foi iniciada.
Assim, Keating chamou o senador de seu estado, John McCain.
McCain e outros quatro senadores (conhecidos como o Quinteto de Keating) se encontraram com Edwin Gray, então dirigente do FHLBB. McCain tinha hesitado em comparecer mas teria sido chamado de "fracote" por Keating nos bastidores. A mensagem de Gray e do Quinteto para a FHLBB foi de que deveria tirar as mãos da Lincoln e esfriar a investigação. Gray e a FHLBB não cederam, mas a Lincoln manteve seus negócios até 1989, quando faliu com o resto da indústria de S&L. Os investimentos de mais de 20 mil investidores da terceira idade desapareceram com a falência da Lincoln. Keating passou cinco anos na cadeia.
Charles Keating era amigão de John McCain. Eles se encontraram em 1981 e Keating deu 112 mil dólares para as campanhas de McCain entre 1982 e 1987. Um ano antes do encontro de McCain com os fiscais do FHLBB a mulher de McCain, Cindy e o pai dela, de acordo com o noticiário da época, investiram 360 mil dólares em um dos shopping centers de Keating. O jornal Arizona Republic noticiou que McCain, sua mulher e a babá viajaram nove vezes no avião privado de Keating para as Bahamas, onde ficaram no resort decadente de Cat Cay [pertencente a Keating]. O senador não pagou pelas viagens ao banqueiro até anos depois, quando Keating estava sob investigação.
McCain não foi acusado oficialmente de nada, mas de erro de avaliação. Os republicanos, que lideraram a desregulamentação da indústria de Savings and Loans, adiaram a operação de salvamento até depois da eleição de 1988 para garantir a vitória de George H. W. na disputa pela Casa Branca. O custo da ajuda dos contribuintes às 747 empresas foi calculado em 1,4 trilhão de dólares. Se o salvamento tivesse começado em 1986, em vez de depois da eleição presidencial, o custo teria sido contido em 20 bilhões de dólares.
E agora os republicanos, que inventaram a presente crise e causaram o debacle das Savings and Loans nos anos 80, nos dizem que os mercados precisam de regulamentação. Não, de fato, eles não precisam. Por que os capitalistas republicanos que acreditam no mercado livre não caem fora e deixam o mercado funcionar, permitindo que essas casas de doido sejam esmagadas sob o peso de sua própria estupidez? Quando tudo acabar, teremos gente sã e sóbria para criar leis que garantam que o problema não se repita, isso se sobrevivermos ao caos.
Além disso, quando você estiver dando nosso dinheiro público para os idiotas de Wall Street, guarde um pouco das verdinhas para os desempregados da indústria automobilística e da construção civil que perderam seus empregos, já que você foi muito estúpido para não notar o que Phil Gramm fez e estava convencido de que tudo daria certo, uma vez que os mercados funcionam.
Esses, pois, são os caras -- os republicanos -- que querem o governo por mais quatro anos. John McCain não é apenas um deles. Ele anda nos jatos. Ele recebe doações de campanha. Ele os tem como assessores de campanha. E ele diz que devemos confiar nele.
Ele deve pensar que somos uma nação de bobos da corte.
Talvez a gente seja.
George Bush e o comunismo enrustido
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Porto Alegre (RS) - Em tom de brincadeira, tenho dito que o presidente norte-americano George Bush Jr. é um revolucionário criptocomunista, que quer dizer um comunista enrustido. Pois acabou com o capitalismo sem nunca admitir sequer que era um militante de esquerda. Brincadeiras a parte, mas o sistema capitalista internacional está no momento em uma crise sem precedentes, pelo menos desde 1929. Portanto, há quase oito décadas. Como não sou um economista, fui dar uma olhada no que os economistas que eu respeito estão comentando sobre a crise no capitalismo nos Estados Unidos da América do Norte. Muito embora este tema não seja um assunto só de economistas, mas diz respeito a todos nós que estamos vivos e respiramos debaixo do sol, sempre á bom examinar o que eles têm a dizer. Para a economista Maria da Conceição Tavares, a crise atual é comparável a de 1929 no tamanho e no estrago. Só que os bancos centrais e os tesouros nacionais estão atuando para evitar uma recessão. Então é “uma crise de 29 a conta-gotas”, como diz Conceição. Estoura um, o Tesouro norte-americano socorre. Estoura outro, o Banco central dos EUA socorre. Conceição diz que ninguém sabe onde isso vai parar. Para o Brasil, a economista acha que até pode ajudar a conter a inflação, que andou meio descontrolada, mas que agora já está diminuindo. Outro economista que andei lendo para saber o que ele pensa sobre a crise financeira dos mercados foi Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001 e ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI). Stiglitz usa uma metáfora muito apropriada: ele diz que a atual crise é a "queda do muro de Berlim do capitalismo". Diz ele: "A queda de Wall Street representa para o fundamentalismo do mercado o que a queda do Muro de Berlim representou para o Comunismo". Ele informa que esse modo de organização econômica não funciona mais. Para o Prêmio Nobel nós, os capitalistas estamos nos afogando, segundo ele. Considerando que 30% dos ganhos de capital resultam de lucros financeiros e que esses capitais estão podres, Stiglitz diz que os fundamentos da economia não garante que vamos sair da crise de modo fácil e indolor. Já o economista Paulo Nogueira Batista, o brasileiro que é diretor-executivo do FMI, comenta que este é o crepúsculo dos ídolos do capitalismo. Já quebraram várias instituições no coração do capital: Bear Stearns, Fannie Mae, Freddie Mac, Lehman Brothers, Merrill Lynch e a megaseguradora AIG. E o governo de George Bush teve de desembolsar US$ 1 trilhão para estatizar essas empresas privadas, contrariando tudo o que neoliberalismo sempre pregou, ou seja, que o Estado jamais pode interferir nos negócios privados. Como se vê, para salvar reputações e negócios rentáveis aí pode. Aí o estado tem que exercer o seu paternalismo e salvar os filhos que caíram em desgraças financeiras mesmo que seja por incompetência e má gestão como é o caso recente desses operadores de mercado.
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Será o destino do Lehman aquele da América? EUA: economia sem leme e a cambalear
por Craig Roberts*
Um comentário:
E a cara das "Míriam Leitão" e dos "Sardenberg's" da vida, capachos da política e da receita neoliberal?
Além de tudo, não encontram explicação no mínimo plausível.
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