Por Michael Warschawski, Alternative Information Center (AIC)
16/3/2009
Resultado de recentes eleições nacionais em Israel, os partidos Likud, de Benjamin Netanyahu e Israel Beitaynu, de Avigdor Lieberman, constituíram uma frente de governo de extrema direita. Há um mês, milhões tomaram as ruas para manifestar-se contra o ataque militar a Gaza, e em todos os continentes ouviu-se um mesmo protesto contra a matança de palestinos.
A maioria, em Israel, esquerda e direita, respondeu: "Lutamos pela nossa existência e pouco importa o que pensem os não-judeus. O mundo, afinal, sempre foi anti-semita." Daí em diante, prevaleceu o apoio – ou, pelo menos, a omissão ou as evasivas de sempre – de EUA, Europa e dos Estados árabes, dentre os quais, sobretudo, o Egito.
O governo eleito em Israel consagra a indiferença à lei e às regras do mundo civilizado, aceita e prega comportamento bárbaro, e o Ocidente calou-se. Assim Israel afasta-se deliberadamente de todos, isola-se. Isso exatamente, na semana passada, também EUA e Egito constataram, pela via mais difícil.
O chefe da Inteligência do Egito, General Omar Suleiman, trabalhou muito para construir o caminho para constituir um governo palestino de unidade nacional. Conseguiu fazer parar os foguetes contra o sul de Israel, mas, sobretudo, conseguiu salvar o governo do Fatah na Cisjordânia. Também trabalhou muito para obter a libertação do soldado Gilad Shalit, prisioneiro de guerra, preso pelos palestinos. Pois em Israel, onde todos – de Olmert a Livni –, só pensavam em inventar algum 'novo' governo, ignorou-se completamente o trabalho de Suleiman, o destino de Gilad Shalit e até, de fato, o destino de Máhmude Abbas.
E até para a Turquia, seu mais importante aliado na Região, os líderes israelenses conseguiram criar problemas. Como se o único discurso de Israel fosse "pouco importa o que pensem nossos amigos e nossos inimigos. Fizemos e faremos as coisas à nossa maneira. Quem não gostar... lembre Gaza e o que somos capazes de fazer, quando resolvemos 'enlouquecer' e desrespeitar todas as leis!”
Que ninguém se engane: está em andamento uma política insana, que só atrairá desastre para Israel, e em futuro próximo.
Quando se implanta numa sociedade a ideia de que o mundo está contra ela, e que seu único meio de defesa é o exército e o ataque sem limites, quando nem a oposição em Israel tem forças para dizer "parem imediatamente essa loucura, que disso só nascerá guerra e mais guerra e será o fracasso de anos de tentativas para construir a paz para todos, aqui e em todo o mundo”, pode-se dizer que a contagem regressiva já começou.
É insanidade. É loucura. A loucura do poder parece ter tomado toda a sociedade israelense, e não só a dupla Liberman-Netanyahu, na qual é muito fácil projetar todos os nossos medos.
Se todos os israelenses fossem imbecis, seria o caso de sugerir que lessem sobre o destino dos impérios que acreditaram cegamente na própria capacidade de ser indiferente ao mundo, de sonhar com estabelecer reinos de mil anos, com manter para sempre colônias por ocupação militar. Quem lembra do império francês na África, além dos filhos dos mortos? Quem lembra do império britânico no sul da Ásia? Quem lembra da Indochina francesa?
Rir da Turquia, desmoralizar os serviços de inteligência do Egito, enfurecer o enviado dos EUA por causa de um carregamento de massa (de macarrão. Aconteceu exatamente isso!) para Gaza – todos esses são sinais de que a loucura implantou-se. Os três grandes partidos israelenses (se o Labor Party ainda puder ser dito 'grande partido') são parceiros nessa loucura — e isso, ainda sem considerar que esses partidos receberam a maioria dos votos.
O que mais assusta é haver consenso nacional de apoio à loucura bélica direitista em Israel. Poucas vozes reagiram. E, mesmo essas, só fazem falar sobre "outra Israel", como tantos já fizeram em 1982, na guerra do Líbano e na primeira Intifada.
É claro que há outros israelenses, mas desgraçadamente não há outra Israel, só há uma. E essa Israel é um Estado constituído por governo de criminosos de guerra e pela sociedade que lhe dá apoio e o elege.
Traduzido e enviado via mail por Caia Fittipaldi, o artigo original, em inglês, pode ser encontrado aqui
2 comentários:
Estimada Conceição, peço-lhe que faça uma pequena correção na tradução deste texto para que o mesmo possa expressar melhor o sentido do original. Principalmente no antepenúltimo parágrafo, quando se pergunta se o "Likud" ainda pode ser considerado um grande partido. Na verdade, não se trata do "Likud" e sim do "Labor" (Partido Trabalhista), que acabou ficando em quarto lugar na disputa eleitoral.
Jair, muitíssimo obrigada, já corrigi, a Caia se equivocou, vou avisá-la também.
Um grande abraço
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