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quinta-feira, 9 de julho de 2009

MR. PRESIDENT JOHN MCCAIN, O OFICIAL E O PARALELO

por Laerte Braga

Não é só Honduras que tem um governo constitucional e um governo paralelo por força de realidades golpistas. Os Estados Unidos também. Barack Obama venceu o senador John McCain nas eleições do ano passado. Venceu no voto popular e no Colégio Eleitoral. Diferente de George Bush, que perdeu em 2000 no voto popular e venceu no Colégio Eleitoral numa fraude bisonha, mas que norte-americanos engoliram goela abaixo para não “fraturar” a democracia do país.

Onde fraude impede fratura não sei, mas lá ficou assim.

Obama tomou posse, anunciou ao mundo uma nova era e transformou o governo do seu país num espetáculo itinerante. Primeiro presidente supostamente negro, de origem humilde, criado por muçulmanos e com uma estrela de primeira grandeza em seu ministério, a secretária de Estado Hillary Clinton, sua adversária no partido Democrata.

É o governo oficial.

McCain voltou ao Senado e juntou os cacos do governo Bush, principalmente Dick Chaney, o ex-vice-presidente, figura principal dos anos de terror republicano e montou o governo paralelo.

É que comanda os EUA.

O golpe militar em Honduras foi pensado, planejado e desfechado por militares hondurenhos a soldo de empresários de seu país associados a empresários norte-americanos, tudo por baixo dos panos da CIA e das articulações de Chaney e McCain.

Chamam isso de patriotismo. De defesa da democracia. São os “negócios”.

O governo oficial condenou o golpe, Obama falou em volta do presidente deposto Manuel Zelaya e tudo ficou do mesmo tamanho.

O governo paralelo de McCain convidou os golpistas a enviarem uma delegação a seu país, promoveu encontro com políticos, empresários e na prática, no paralelo, legitimou o golpe.

Não importa que Obama tenha se recusado a receber os “patriotas”. O golpe já estava consumado.

Hillary Clinton, mais na real, percebeu toda a movimentação, a impotência do governo oficial para enfrentar os golpistas sem “fraturar” a tal democracia norte-americana e foi logo propondo um acordo em que parece que a legalidade fica salva, mas a prática golpista permanece.

O governo paralelo está governando os EUA. O governo oficial ainda não achou o caminho ou a chave da porta do país. E conta, de quebra, com o vice-presidente Joe Binden para o meio de campo, coisa assim do tipo “os caras não vão engolir isso, é melhor assim ou assado”.

Nessa confusão toda, vão assando Obama.


A solução de acordo agradaria a generais hondurenhos que não admitem o “desprestígio” de voltar atrás no golpe e contam com generais norte-americanos como aliados. Honduras já foi conhecida como “porta aviões” dos EUA. Há uma base com 500 soldados norte-americanos e forte armamento.

Obama não tem controle sobre os generais de seu país. McCain sabe como tratá-los, é considerado herói da guerra do Vietnã, exatamente a que perderam de forma clara e definitiva.

As ofensas racistas do “chanceler” do governo golpista ao presidente oficial dos EUA e que valeram hoje protestos oficias do governo de Obama, refletem o pensamento das elites de ambos os países. O mesmo embaixador que encaminhou o protesto, foi o artífice do golpe.

A primeira decisão de Obama ainda não foi tomada. Se é negro de fato, ou só de cor da pele e se assim o for, aí é branco.

“El negrito” não é da lavra do “chanceler”. É a forma como o governo paralelo de McCain enxerga e trata Obama. É como se referem ao presidente oficial os que detêm o poder real nos EUA.

Toda a virulência da linguagem do presidente golpista de Honduras, Roberto Michelletti, deriva daí. Ele e seu grupo, empresários hondurenhos ligados a empresários norte-americanos, enfrentam Barack Obama sem qualquer receio ou constrangimento, pois sabem que têm o apoio, mais que isso, o estímulo do governo paralelo de McCain.

Dick Chaney continua sendo o principal formulador das reais políticas dos EUA.

O golpe militar em Honduras é só um teste para aventuras maiores. Brasil, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, El Salvador, Cuba, Equador, todas as antigas colônias latino-americanas.

Não há exagero em dizer que o governo paralelo de McCain é como um esquadrão da morte em dimensão mundial. Aviões não tripulados atacaram um acampamento no Paquistão e mataram 45 pessoas. Segundo eles “insurgentes”. Segundo o governo do Paquistão -- que é aliado dos norte-americanos -- um ataque desnecessário, que revolta a população, viola a soberania do país e inflama o povo contra o governo e o leva a proteger “insurgentes”.

O grande problema de Barack Obama é que eles quebraram o país, mas deixaram a bomba em suas mãos. Se explodir a culpa é dele. Eles voltam, saem do paralelo (diferente de clandestinidade, pois agem à luz do dia). E muito pior que isso. O que parecia ser uma nova era, volta a ser um túnel tenebroso e sem perspectivas de saídas. Tem quem acredite nessas histórias de mocinho acabando com bandido versão Hollywood. Sempre sabemos quem é bandido ou qual é o mocinho em se tratando dos EUA.

Para os latino-americanos a alternativa é a luta. A organização popular. A resistência. Sabendo de antemão que o grosso de seus militares -- que em tese seriam a garantia da soberania e da integridade territorial -- são controlados à distância por Washington, pelos porões de Washington. Vide o caso do general brasileiro Augusto Heleno, ex-comandante militar da Amazônia e hoje garoto propaganda da VALE. Cumpre o ofício em palestras “patrióticas” Brasil afora.


O que está acontecendo em Honduras é bem mais que Honduras. Permanece intocada, muito bem guardada, a grande teia golpista que comandou as ditaduras militares na América Latina no século passado.

E levam de lambuja a mídia dominada, comprada e vendendo a idéia do colonizador. Yes, Barra da Tijuca. Yes, FIESP/DASLU. Yes, José Serra. Essa estranha cunha criada pelo neoliberalismo e que chamam de classe média achando que New York e a Broadway estão ali, é só virar a esquina. Ou apertar o controle remoto e ligar o aparelho de tevê.

Yes Tegucigalpa.

Tudo termina em Hollywood, ou, se for no Brasil, acaba no programa do Faustão. E congêneres.

Não deixe de tomar o remédio mágico do grande irmão, a pílula que nos transforma em consumidores desvairados no estrito cumprimento do dever. É servida diariamente em doses maciças no JORNAL NACIONAL. Ou qualquer veículo da grande mídia.

No mais, já está à disposição de todos na rede mundial de computadores o encontro de Elvis Presley e Michael Jackson no céu.

O governo paralelo de McCain é capaz de prodígios inimagináveis.

O governo oficial de Obama é de brincadeira. Para inglês ver. Se é que inglês enxerga alguma coisa desde Margareth Thatcher. Ou na versão de um tucano brasileiro, de plantão no assalto aos cofres públicos na cidade mineira de Juiz de Fora, prefeito, “a Inglaterra acabou depois que acabaram com o fog. Perdeu a graça”.

De tudo fica a lição da luta popular. De lutadores invencíveis. Em qualquer circunstância. Como naqueles filmes de ficção (nem tanto), em que humanos lutam com andróides.

Navegar é isso. Acaba sendo viver. E assim a luta não pára.

Eles também aprenderam isso e vão aprender mais, bem mais. Vão aprender que não têm a liberdade na palma da mão, não podem fechar os punhos e prendê-la. O povo de Honduras está mostrando isso.

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