Bem-vindo/a ao blog da coleção de História nota 10 no PNLD-2008 e Prêmio Jabuti 2008.

Bem-vindos, professores!
Este é o nosso espaço para promover o diálogo entre as autoras da coleção HISTÓRIA EM PROJETOS e os professores que apostam no nosso trabalho.
É também um espaço reservado para a expressão dos professores que desejam publicizar suas produções e projetos desenvolvidos em sala de aula.
Clique aqui, conheça nossos objetivos e saiba como contribuir.

domingo, 19 de outubro de 2008

VOTO E PRECONCEITOS

Mauricio Dias
Nem só os peixes morrem pela boca. Os candidatos também. É o que pode acontecer com Marta Suplicy, em São Paulo, e com Fernando Gabeira, no Rio de Janeiro. Qual seria o impacto negativo nas duas candidaturas a partir de episódios de manifestação explícita de preconceito, tanto da candidata petista quanto do candidato verde, com grande repercussão na mídia?

Marta explorou a força do preconceito homofóbico dos paulistanos. Lançou no ar insinuações sobre aspectos da vida íntima do seu adversário, Gilberto Kassab.

Gabeira tropeçou no próprio preconceito social. Durante a campanha, ele abriu a guarda ao falar em um celular sobre a vereadora tucana Lucinha: “É analfabeta política. Tem visão suburbana e precária”.

A frase foi parar nos jornais. Lucinha é líder comunitária com trânsito entre os eleitores da populosa zona oeste carioca. Campeã de votos no Rio, obteve 68 mil, dos quais mais de 50 mil nesse reduto eleitoral dela.

Gabeira tentou se retratar. A emenda piorou o soneto. O fato prevaleceu sobre a versão do candidato. E pode ter contribuído para paralisar a “onda Gabeira” que cresceu na reta final do 1º turno. Na segunda-feira 13, Gabeira posou com Lucinha para os fotógrafos. Aparentemente, a paz com a vereadora foi selada. Quanto aos corações suburbanos ainda não se sabe se a paz foi aceita.

O preconceito não é incomum na história das eleições brasileiras.

Em 1998, dez anos atrás, a milenar Igreja Católica ainda distribuía notas com restrições impostas a candidatos que contrariavam preconceitos e princípios da fé religiosa. É o que se pode ver no panfleto Candidatos Que Não Merecem o Voto dos Católicos, guardado nos arquivos do deputado udenista Álvaro Valle (1934/2000), em poder do CPDOC da Fundação Getulio Vargas, no Rio. Candidatos a favor da união civil de homossexuais, do aborto, por exemplo, entravam no índice de proibição.

Registre-se que os padres, em geral, não eram bem-sucedidos. Ao contrário, uma frase atribuída ao brigadeiro Eduardo Gomes (1896/1981) pode ter decretado a derrota dele. Em 1945, quando disputou a Presidência da República, ele teria dito em algum momento da campanha: “Não preciso do voto dos marmiteiros”.

Os anais políticos sugerem duas considerações. A frase contribuiu para a derrota de Eduardo Gomes, mas ela teria sido criada pelo empresário Hugo Borghi, adversário do brigadeiro. Se assim foi, prevaleceu a versão sobre o fato.

O fato, a frase de Gabeira, e a versão, a frase de Eduardo Gomes, têm o mesmo timbre elitista e, coincidentemente, encarnam em tempos diferentes ídolos políticos da classe média urbana.

A eleição presidencial de 1989, a primeira após a ditadura militar, também foi marcada por um episódio que mexeu com preconceitos dos eleitores. Foi a primeira derrota de Lula. O oponente do operário candidato do PT era Fernando Collor de Mello, um rebento político da ditadura.

Durante o horário eleitoral, Collor apresentou Miriam Cordeiro ao País, com estardalhaço. A soldo de Collor, ela acusou Lula, com quem teve uma relação amorosa, de tentar induzi-la ao aborto de uma filha dos dois.

A imprensa brasileira, que, contra Lula, sempre usa medida diferente da medida rotineira, repicou a história com grande destaque. Miriam Cordeiro virou tema do Jornal Nacional.

Os eleitores das classes média e alta costumam descarregar seus votos contra quem desafia seu falso moralismo ou desperta sua doutrina autoritária. Por sua vez, os eleitores mais pobres desprezam naturalmente candidatos que manifestam publicamente seus preconceitos sociais. O campo é fértil.

FONTE: Carta Capital, 17/10/2008

Nenhum comentário: