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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Poesia em tempos de crise


Luiz Antonio Cintra
08/10/2008

Iniciamos com Brecht a publicação de uma série dedicada à poesia. Vale lembrar que no momento em que o mundo “assiste à crise”, a turma da bufunfa, responsável pela crise, trata de encontrar uma “saída”. Armado de 750 bilhões, Henry Paulson, o chefe do Tesouro, convocou ex-funcionários de Wall Street para a tarefa de “arrumar a casa”. George W. confia que aos poucos as coisas “voltarão ao seu lugar”. Ao presidente do BC brasileiro, como sempre, resta concordar.

No início do século 20, Brecht tomou conhecimento de como as coisas são arranjadas em Wall Street. Em seguida, investiu sua energia no sentido de encontrar um “novo lugar” para si e para as coisas do mundo. Agora, só nos resta torcer para que Paulson & Cia. encontrem uma solução? Melhor ler Brecht antes de responder.

ANOS ATRÁS
Bertolt Brecht *

Anos atrás, quando ao estudar os procedimentos da Bolsa de Trigo de Chicago

Compreendi subitamente como eles administravam o trigo do mundo

E ao mesmo tempo não compreendi e abaixei o livro

Logo percebi: você

Deparou com coisa ruim.


Não havia irritação em mim, e não era a injustiça

Que me apavorava, apenas o pensamento

“Assim como eles fazem não pode ser” me tocou inteiramente.


Essa gente, eu percebi, vive do dano

Que causa aos outros, não do benefício.

Esta é uma situação, percebi, que somente pelo crime

Pode ser mantida, porque é muito ruim para a maioria.

Desse modo toda grande

Proeza da razão, invenção ou descoberta

Levará somente a uma miséria ainda maior.


Coisas assim e semelhantes pensei no momento

Distante de ódio ou lamento, ao abaixar o livro

Com a descrição do Mercado e da Bolsa de Trigo de Chicago.


Muito esforço e muito desassossego

Me esperavam.



*“BERTOLT BRECHT – POEMAS 1913-1956”, Seleção e Tradução de Paulo César de Souza, Editora 34)

2 comentários:

Anônimo disse...

Já tinham inventado a "commodity" naquele tempo. Eu nem sabia.

Ler o Mundo História disse...

Pois é, já dizia o sábio Brecht: "Essa gente, eu percebi, vive do dano
Que causa aos outros, não do benefício."

São bem antigas as comodities, dêem a elas o nome que derem, quanto às bolsas de valores podemos encontrá-las bem antes de Brecht eu arriscaria dizer que são irmãs dos bancos.
abraços