Meu amigo caboverdiano, Angelo Barbosa, envia-me esta pérola logo pela manhã e aí tem gente que ainda questiona a lei 10639/03. Se ela fosse efetivamente aplicada, vexames como o descrito abaixo poderiam ser evitados.
A África é um continente com 53 países, mais de 800 milhões de pessoas, 2 mil línguas faladas, com diversidades físicas e cultural imensas!
Integrantes do 'Só pra contrariar', aquele grupo que o Alexandre Pires fazia parte, que por sua vez se emocionou em cantar para o Bush, em show recente em Cabo-Verde soltaram a seguinte pérola sete vezes: "Que bom estar aqui com o povo da África do Sul":
A África é um continente com 53 países, mais de 800 milhões de pessoas, 2 mil línguas faladas, com diversidades físicas e cultural imensas!
Integrantes do 'Só pra contrariar', aquele grupo que o Alexandre Pires fazia parte, que por sua vez se emocionou em cantar para o Bush, em show recente em Cabo-Verde soltaram a seguinte pérola sete vezes: "Que bom estar aqui com o povo da África do Sul":
Ao que parece um dos vocalistas do grupo brasileiro Só Para Contrariar, que só para contrariar não entusiasmou por aí além quem esteve no local ou quem assistiu pela televisão, gritou não, uma, nem duas, nem três, mas sim sete vezes, algo parecido com isto: "que bom que é estar aqui com o povo da África do Sul!" Bem que a multidão lá tentava dizer, assobiando e gritando, que isto podia ser África, mas do Sul tinha pouco e de África do Sul não tinha mesmo nada, que passado pouco tempo lá vinha o homem, todo entusiasmado, gritando outra vez "que bom que é estar aqui com o povo da África do Sul!"O episódio não me provocou qualquer espanto. Outro exemplo aconteceu com um taxista carioca que nos levou do hotel para o aeroporto, no Rio de Janeiro, e que, conversa vai conversa vem, quando soube que éramos cabo-verdianos, lá anunciou, todo entusiasmado: "eu tenho uma cunhada, que é cabo-verdiana. Vive lá, no vosso país, no Funchal." Lá tivemos que explicar ao senhor que o Funchal ficava na ilha da Madeira e que esta era um território português, ao contrário de Cabo Verde, país livre e independente desde 1975. Bem, pelo menos este acertou na zona. Madeira e Cabo Verde, fazem ambos parte da chamada Macaronésia.Digo isto esperando não ofender ninguém, mas apenas como resultado da minha experiência pessoal: a ideia que os brasileiros tem de África, em geral, e de Cabo Verde, em particular, é em 99% dos casos (estimativa minha) completamente desfasada da realidade. A forma como se organizam fóruns e mesas redondas intitulados "Portugal - Brasil - África", por exemplo (já participei em vários), como se a África fosse uma entidade estatal, social, cultural, económica e histórica única, mostra como, mesmo nos meios mais informados como os académicos, ainda há muito por fazer para mostrar que não há uma África, mas sim muitas Áfricas (entre as quais, Cabo Verde), e que nem todas são dominadas por leões, cubatas e tambores tocando freneticamente em cerimónias canibais.
(João Branco in Declaração Cafeana, 11/08/2009)
Um comentário:
A discussão é salutar e interessante, porém me deixou um tanto quanto intrigado.
Um dos jornalistas que mais conhece a América (em minha opinião) é o uruguaio Eduardo Galeano. Galeano em dado momento me chama a atenção sobre o fato dos estadunidenses (termo que há bem pouco tempo eu não usava) terem se “apossado” do direito de serem os únicos a serem chamados de americanos. Nós cá de baixo (aliás, quem determinou que o Brasil, por exemplo, fica na parte de baixo do globo?) até somos chamados americanos, mas, desde que venha com o pré-fixo Latino, sem falar que nossos “irmãos” do norte, quando sabem que nós existimos, nos tratam por cucarachas.
O problema dos pagodeiros e do taxista não me espanta, acredito que isso seja um mal em qualquer lugar terreno. Vejam o que aconteceu recentemente no país da Harvard Univ e da Univ Cambrigge:
Jay Leno, apresentador do talk show mais popular da noite, uma vez por semana vai às ruas de Los Angeles em busca da cultura americana.
As entrevistas abrangem todos os assuntos:
“Quem lutou na Guerra de Secessão?”
“França e Inglaterra, responde o entrevistado.”
Os entrevistados não são balconistas sem educação. A maioria tem curso universitário e uma vez por mês, três são escolhidos para uma final no estúdio, com prêmios.
Noutro programa, que está em primeiro lugar no horário nobre, o animador pergunta:
“Por US$25 mil dólares, responda: Budapest é a capital de qual país da Europa?”
“Hmmmm…Pensei que a Europa fosse um país? Não é?”
Moro numa das regiões mais discriminados do planeta, o sertão do Nordeste do Brasil, no Estado de Alagoas, já me surpreendi com muitas aberrações, quando de minhas viagens por alguns estados do meu país, mas uma me deixou, não chateado, mas preocupado, em relação a conhecimentos das pessoas. Estava de visita a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, estado também nordestino, quando entrei numa casa lotérica, e tive que dizer que era alagoano. Quando a atendente me perguntou: “Em que Estado fica?”, e não era de uma forma discriminatória, tanto que ela ficou sem jeito quando respondi, se tratar de um Estado.
O fato de estar intrigado é por achar que qualquer africano, seja do Marrocos, Congo, Cabo Verde ou África do Sul, ao contrário de nós latinos, que ainda não somos, por direito, chamados de americanos, não se sinta tão orgulhoso de ser chamado “simplesmente” de africano.
Sei que seria difícil para qualquer brasileiro ouvir, por exemplo, de um palestrante ou artista num palco, ser chamado de argentino, mas há por trás dessa forma raivosa entre povos, a maioria vizinhos, uma mídia interessada em alimentar o ódio que suscita guerras e gera lucros.
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