Em 1960 0 cineasta paraibano surpreendeu a todos com um documentário forte, duro e crítico sobre a realidade sofrida de uma comunidade remanescente quilombola localizado na Serra do Talhado, PB. Quase 50 anos depois a Serra do Talhado é reconhecida como patrimônio cultural afro-brasileiro, como você pode ver na matéria abaixo. Não perca no Canal Brasil o doc É tudo verdade: Aruanda de Linduarte Noronha.
As fotos são do site do fotógrafo Cássio Murilo que tem belíssima fotos da região
O filme Aruanda, que adotou o Quilombo do Talhado como temática central de seu enredo, é uma película feita em 35mm, em preto e branco, com 20 minutos de duração. Ele foi finalizado em 1960. Dirigido por Linduarte Noronha (ex- professor da UFPB). É, provavelmente, a obra regional de maior reconhecimento nacional e internacional que inaugurou todo um gênero de fazer cinema no Brasil, o chamado Cinema Novo, que aborda temáticas da realidade e regional e mostra o Brasil como ele realmente é. (Carlos Cavalcanti)
As fotos são do site do fotógrafo Cássio Murilo que tem belíssima fotos da região
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Serra do Talhado é reconhecida como patrimônio cultural afro-brasileiro
(11.10.04) Fonte Sebrae
O documentário Aruanda, filmado em 1960 na Serra do Talhado (PB), é considerado revolucionário no cenário da filmografia nacional. Com ele, o cineasta paraibano Linduarte Noronha iniciou as discussões sobre a fuga dos escravos e a existência de quilombolas - remanescentes do Quilombo de Palmares - na Serra do Talhado.
Quase meio século depois, a região do Talhado será reconhecida oficialmente como Quilombo pela Fundação Cultural Palmares, instituição ligada ao Ministério da Cultura que promove a preservação dos valores culturais e socioeconômicos da influência negra na sociedade brasileira.
A Certidão de Reconhecimento ao Quilombo do Talhado será entregue por Bernadete Lopes, diretora da Fundação Palmares, durante a realização do Seminário de Intercâmbio Cultural Afro-Brasileiro, nesta segunda-feira (11).
O seminário faz parte das comemorações da Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira das Irmandades dos Negros Brasileiros. Na ocasião, o Sebrae Paraíba e a Fundação Palmares assinam um Termo de Cooperação Técnica para desenvolver ações de geração de renda e inclusão social na região.
O documento prevê a criação de um Arranjo Produtivo Local, com base no turismo, focado nas potencialidades históricas e culturais da comunidade quilombola da Serra do Talhado, localizada no município de Santa Luzia.
Por meio da cadeia produtiva do turismo, a expectativa é de que se possa reduzir o nível de pobreza da comunidade, a partir de oportunidades de trabalho e circulação de riqueza. Para isso, será necessário capacitar a população local, aumentar a auto-estima dos quilombolas e ainda melhorar a qualidade do artesanato e das manifestações artísticas.
Histórico
Pelo menos dois aspectos motivam a iniciativa de explorar o turismo na comunidade quilombola do Talhado: a necessidade de reduzir o índice de pobreza local e a riqueza do patrimônio cultural e natural até agora inexplorado.
O legado de injustiças e perseguições que marcou a história do negro no Brasil levou a comunidade do Talhado a ficar à margem do progresso econômico e social que, mesmo em pequenas doses, se verificou no Vale do Sabugi, expresso em estradas, abastecimento d'água, educação e saúde públicas, surgimento de alternativas econômicas além da exploração da agricultura de subsistência etc.
Até hoje a cerâmica feita de modo totalmente artesanal (sem uso de qualquer tipo de torno, modelada e estruturada apenas com as mãos) é marca registrada da comunidade.
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O resgate da cidadania no Talhado
Carlos Cavalcanti
(14 de setembro de 2007) Fonte site do Governo do estado da Paraíba
O ex-escravo e madeireiro Zé Bento, quando fundou o Sítio Olho d´Água da Serra do Talhado, em Santana do Sabugi, no século XX, não imaginava que o local iria se transformar no Quilombo Serra do Talhado e, tampouco, acolher "os melhores forrozeiros do mundo. São 10 autênticos trios de forró pé de serra. Lá, no topo da serra árida e quente, a cultura forrozeira passa de pai para filho. É através da música, também, que os quilombolas estão resgatando a sua auto-estima e cidadania", destaca Terezinha Alves da Nóbrega, secretária de Educação do município de Santa Luzia (a 180 Km de João Pessoa).
A sanfona, o zabumba e o triângulo, hoje, fazem parte da rotina da vida dos afro-descendentes do Quilombo Serra do Talhado, que, nos últimos anos, vem se destacando na cena musical, mais especialmente em se tratando de um bom forró-pé-de serra. O quilombo existe desde a fundação da cidade de Santa Luzia, que conta com 138 anos.
"Aliás, segundo frisa Terezinha da Nóbrega, "a base econômica da comunidade quilombola, distante 24 Km da cidade de Santa Luzia, atualmente, são a música e a confecção de artesanato em argila".
Conforme a secretária, existe, atualmente, na comunidade o grupo Aruanda, que já disseminou a cultura do Talhado nos Estados Unidos e pelo Brasil afora". Segundo ela, são cerca de 30 pessoas tocando sanfona, zabumba, triângulo no Talhado. As mulheres mexem com o barro, e os homens com a música", resume ela.
Hoje, sexta-feira, dia 14 (2007), os músicos e as lideranças comunitárias do quilombo, em reunião, discutem a formação de uma cooperativa, entidade, que eles acreditam, dará melhor visibilidade, divulgação e projeção a música produzida na Serra do Talhado.
"Sem sombra de dúvida, o melhor forró que hoje se produz no Brasil é o de Talhado. Temos o Deda, que vem a ser o cantor do grupo Os Três do Nordeste. E o filho do sanfoneiro Luiz Bento, o Robinho, que com 14 anos, toca sanfona e canta muito bem", elogia Terezinha da Nóbrega. "Estamos praticando um bom forró. Acho que é um dos melhores do Brasil", reforça o sanfoneiro Luiz Bento.
O Talhado, que conta com 42 famílias, antes exibia uma comunidade refém de um ciclo econômico cruel e sem perspectivas, que ia do plantio do algodão à produção de um artesanato primitivo.
Zé Bento, que partiu com a família à procura de terras sem fins e sem proprietários, fugindo do sistema escravocrata da época, também não imaginava que um dia o Quilombo do Talhado viesse a ser reconhecido como tal. Ou seja, foi reconhecido em 1º de março de 2004 "e de lá para cá muita coisa aconteceu, porém, a idéia agora é o trabalho de auto-estima e o resgate da cidadania, que tem que ser empreendido no meio da comunidade", diz a secretária.
"Foi feito, sim, o reconhecimento do Quilombo do Talhado pela Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura", esclarece a secretária.
Algumas coisas foram feitas neste sentido, isto é, ações de resgate da auto-estima e da cidadania dos quilombolas, aponta Terezinha da Nóbrega. Recentemente, aconteceu a melhoria do acesso à serra, que conta com pavimentação em alguns trechos e a construção de uma barragem, entre outras ações pontuais que visam resgatar a cidadania dos quilombolas".
"Especificamente, temos alguns benefícios, como o Programa Leite da Paraíba, em parceria com o Governo Federal, a distribuição de cestas básicas, a merenda escolar dobrada. Estamos lutando para incluir mais 150 famílias no programa Bolsa Família. É preciso lembrar que temos uma dívida muito grande com esse povo afrodescendente", recorda Terezinha da Nóbrega.
O próximo passo agora, segundo ela, após o reconhecimento dos quilombos, é a demarcação e a titulação das terras dos quilombolas, que, também, habitam a zona urbana de Santa Luzia, no Bairro São José e na Rua Arlindo Bento, local que abriga um galpão no qual também são expostos os produtos de argila do quilombo, cujos lotes também terão que ser legalizados. E, ainda, o lugarejo conhecido como Pitombeira, que fica situado no município de Várzea.
Ela afirma que "a luta contra a discriminação racial passa necessariamente pelo processo educacional, que tem procurado afirmar a existência da raça, respeitando suas origens, cultura e sua história. Porém, desde a origem do Brasil pouco se discute essa questão", lembra a secretária.
O filme Aruanda, que adotou o Quilombo do Talhado como temática central de seu enredo, é uma película feita em 35mm, em preto e branco, com 20 minutos de duração. Ele foi finalizado em 1960. Dirigido por Linduarte Noronha (ex- professor da UFPB). É, provavelmente, a obra regional de maior reconhecimento nacional e internacional que inaugurou todo um gênero de fazer cinema no Brasil, o chamado Cinema Novo, que aborda temáticas da realidade e regional e mostra o Brasil como ele realmente é.
Santa Luzia, por sua vez, se localiza na microrregião homogênea do Seridó Ocidental Paraibano. Tem clima de Semi-Árido com temperatura média variando entre 25 a 35°C.
O município apresenta uma vegetação de caatinga xerófila, própria do Semi-Árido brasileiro, caracterizado por algumas espécies de ocorrência natural como faveleiras, craibeiras, angicos e cactáceas. Atualmente verifica-se um processo de recomposição natural da cobertura vegetal com predominância de jurema preta por se tratar de uma espécie pioneira. Segundo dados mais recentes do IBGE, a população do município de Santa Luzia é de 14.005 habitantes, com a maioria residindo na zona urbana.
Origem dos quilombos
Na Paraíba, hoje, existem 23 comunidades quilombolas com certificados de reconhecimento. Elas estão distribuídas pelo Estado desde o Litoral até o Alto Sertão. Em Santa Luzia, existem os quilombos rural e o urbano. Após o reconhecimento dessas comunidades, o empenho agora é levar até elas políticas públicas específicas. Ou seja, programas sociais pontuais que, entre outros benefícios, visam resgatar a auto-estima e a cidadania desses afro-descendentes. E, também, a busca da igualdade de direitos. No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais Estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas. Na ocasião em que Pernambuco foi invadida pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de engenho acabaram por abandonar suas terras. Este fato beneficiou a fuga de um grande número de escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas. Esse fato propiciou o crescimento do Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também conhecidos como quilombolas, costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas; situação que incomodava os habitantes.
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