BELÉM 2009
Movimentos sociais e governo discutem agenda comum para FSM
Representantes dos movimentos sociais e do governo estadual reúnem-se em Belém para discutir a agenda do Fórum Social Mundial 2009. Crise econômica mundial e as mudanças climáticas no planeta devem ser dois dos temas principais do evento. Para Célia Regina Neves, do Conselho Nacional de Seringueiros, Pará vive "um momento ímpar na construção da democracia".
Clarissa Pont
BELÉM - O próximo Fórum Social Mundial, em Belém, pretende ser um evento dos movimentos sociais que celebre a diversidade e discuta temas fundamentais como a crise econômica mundial e as mudanças climáticas. Para pensar alternativas a estas questões e discutir uma agenda local comum, o governo do Estado esteve reunido esta semana com representantes dos movimentos sociais. O encontro reuniu mais de 170 pessoas representando cerca de 60 entidades de todo o Estado do Pará.
Uma das mais belas casas de Belém, a antiga casa do Governador do Estado na esquina das ruas Magalhães Barata e Três de Maio, foi palco do encontro entre o Governo do Pará e movimentos como o Sindicato dos Urbanistas, Fórum de Moradia, Movimentos de Rádios Comunitárias, Fórum Paraense de Cultura, União Nacional dos Estudantes, Central Única dos Trabalhadores e Sociedade de Defesa dos Direito Humanos. Ali estão reunidos teatro, produtos culturais regionais, comidas típicas, galeria de arte, um orquidário e o antigo vagão de trem do governador que foi transformada em uma sorveteria regional. Ali circularam os mais de 200 participantes que acompanharam desde cedo mesas e debates.
Claudio Puty, chefe da Casa Civil, destacou a importância do canal de diálogo entre governo e movimentos sociais representado pelo encontro. “Nós pensamos que é fundamental reforçar as organizações daqueles que independentemente de governo tem algo a dizer, criticar e debater. Então esse espaço se afirma como de um diálogo qualificado com os movimentos sociais organizados”, disse durante a mesa de abertura “Governo Popular no Estado do Pará: Balanço e Perspectivas”. Puty ainda ressaltou a recente crise do capitalismo, representada pela quebra do setor imobiliário nos Estados Unidos. “Eu acredito que essa crise não vai chegar ao Brasil com tanta força, mas obviamente vamos enfrentar períodos mais difíceis”, afirmou o secretário.
Durante o debate, o governo foi elogiado pela abertura de um canal de diálogo inédito com a população. “Esse encontro é de fundamental importância para todos os movimentos sociais do Pará, mas a gente quer que essas demandas se efetivem. O Governo Ana Júlia entende a importância desse diálogo, mesmo que muitos movimentos sociais vejam aí contradições que precisam ser superadas”, avaliou Érico Albuquerque, secretário geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.
“Na minha avaliação, esse não é um momento para falar bem ou mal do governo. É um momento de dialogar com o Governo, até porque é a primeira vez que a gente é chamado para a conversa. O movimento de rádios comunitárias conquistou avanços desde o início deste mandato, enquanto companheiros chegaram a perder a vida nos anteriores governos tucanos”, contou Francisco Canuto, militante do Movimento de Rádios Comunitárias.
Célia Regina Neves, liderança do Conselho Nacional de Seringueiros, considera que o Pará vive “um momento ímpar na construção da democracia”. Ela vem da Região do Salgado, costa paraense, “local que também ajudou a eleger o atual governo. Aliás, mais de 40% dos votos que elegeram Ana Júlia vieram da minha comunidade. Agora, estamos conquistando um marco legal dos povos extrativistas da floresta, temos a demarcação territorial marítima para realizar nosso trabalho”.
O diretor da Agência Carta Maior, Joaquim Palhares também esteve presente no evento e saudou o governo pelo encontro e “o interesse e a grandeza do movimento social em vir a esse espaço fazer a pressão necessária para a construção da democracia”. Palhares apontou a atuação da mídia como um dos pontos fundamentais da crise do capitalismo e ressaltou a necessidade de pautar na mídia os interesses dos movimentos sociais. “A Carta Maior está à inteira disposição para repercutir todo o debate que vocês tenham interesse”, anunciou.
A pautas como estas, somam-se a questão da reforma agrária, da regularização fundiária e dos assentamentos estaduais. A criminalização dos movimentos sociais, que cada vez mais parece ser um problema que se repete em diversos estados brasileiros, foi ponto recorrente entre as falas do encontro. Para o Governo, é justamente o coletivo de movimentos sociais o grande responsável pela legitimidade do FSM.
“Nós estabelecemos esta relação porque essa era uma vontade política. Isso aqui faz parte de um dos instrumentos de controle social, porque é isso que garante a sociedade controlar os serviços públicos. A participação popular é um processo que nós vamos aperfeiçoando. Todos aqui percebem que estamos fazendo um elemento de disputa na sociedade, uma disputa de modelo de desenvolvimento, de controle social. Por conta deste diálogo podemos estar orgulhosos por, no primeiro ano de mandato, sairmos do triste título de campeão de morte no campo para o campeão nacional de diminuição de morte no campo”, sublinhou a Governadora Ana Júlia Carepa.
Breve histórico do FSM
O século 21 mal tinha começado quando foi realizada a primeira edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre (RS), entre os dias 25 e 30 de janeiro de 2001, com a presença de cerca de 20 mil pessoas. A idéia era apresentar um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado na cidade de Davos, Suíça, num contexto de fortalecimento dos movimentos sociais. Desde 2001, outros seis encontros internacionais foram feitos. Em 2002 e 2003, ainda na capital gaúcha. A edição de 2004 foi realizada em Mumbai, na Índia. A seguinte foi em 2005, novamente em Porto Alegre. Em 2006, Caracas, na Venezuela. Em 2007 foi a vez de Nairóbi, capital do Quênia, sediar o Fórum.
Este ano, as organizações que integram o FSM decidiram não realizar uma edição centralizada em um local específico, mas sim promover debates e manifestações em várias regiões do mundo. Agora, em janeiro de 2009, Belém receberá o movimento altermundista no momento em que o modelo de Davos, em relação ao qual o FSM surgiu como contraponto em 2001, se esfarela em uma crise de graves proporções.
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