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sábado, 22 de maio de 2010

Israel está apagando os palestinos do mapa

Se Israel apóia a solução dos dois estados, pode começar pelo redesenho dos mapas oficiais que ignoram as fronteiras internacionalmente reconhecidas e a maioria das cidades palestinas. Uma olhada no mais recente material de divulgação do Ministério de Turismo de Israel dá uma resposta forte. O material do governo em 2009 elimina qualquer presença palestina. O ministro do Turismo, Stas Misezhnikov, é um quadro da direita radical do partido Yisrael Beiteinu, liderado pelo ministro de relações exteriores Avigdor Leiberman. O ministério apagou completamente a Cisjordânia e as áreas palestinas de seus materiais de divulgação. O artigo é de Daoud Kuttab.

Agora que as negociações entre israelenses e palestinos recomeçam, os palestinos estão determinados a começar enfrentando a questão das fronteiras, antes de recuar para discutir o estabelecimento sobre um estado palestino. Uma vez alcançado um acordo sobre as fronteiras, tudo leva a crer que ficará mais claro quem tem o direito de decidir se a construção dos assentamentos continua ou não.

Naturalmente, toda essa conversa tem um ponto central. Enquanto fronteiras exatas forem objeto de negociação, fica difícil começar a conversar, à medida que um dos lados insiste em antecipar uma solução fixa. E, pior, a maioria dos mapas mais recentes publicados unilateralmente pelo governo anexa a Palestina a Israel enquanto ignora a existência de várias comunidades palestinas.

É muito difícil aceitar o argumento de Israel, de que se trata de uma questão meramente simbólica. Símbolos importam e, no impedimento da realização de um estado palestino, Israel tem lhes dado plena atenção.

Durante anos foram os palestinos que se confrontaram com suas próprias questões simbólicas, seja no estatuto da Autoridade Nacional Palestina ou nos mapas dos livros escolares palestinos. Israel e seus propagandistas usam os mapas palestinos para questionar o reconhecimento palestino de Israel. Os palestinos são questionados por que em alguns mapas palestinos falta a demarcação da Cisjordânia e por que cidades israelenses como Tel Aviv desapareceram desses mapas enquanto a vizinha Jaffa é mencionada.

No passado, os palestinos respondiam frequentemente com o questionamento das fronteiras de Israel. Elas incluiriam ou não Jerusalém? Os israelenses de fato aceitam o estado palestino vizinho ao mesmo tempo em que exigem o reconhecimento pelos palestinos do estado de Israel?

Ainda assim, a despeito da retórica, eles silenciosamente mudaram bastante e seguiram os conselhos de seus amigos internacionais de fazer mudanças nos mapas e em especial nos livros escolares.

Desde 1994 a Autoridade Nacional Palestina revisou os antigos textos didáticos, levando Nathan Brown, professor de Ciência Política na George Washington University a publicar um autêntico estudo livrando a Autoridade Palestina das acusações de que representava a geografia regional de maneira errada.

“Os novos livros contam a história de um ponto de vista palestino, mas não visam a apagar Israel, deslegitimá-lo ou substituí-lo por um 'estado Palestino'”, escreveu Brown.

“Cada livro contém um prólogo descrevendo a Cisjordânia e Gaza como 'duas partes da terra natal'; os mapas mostram algum embaraço mas às vezes indicam a linha de 1967 e algumas outras medidas que permitem indicar fronteiras; a esse respeito eles realmente estão mais avançados do que os mapas israelenses. Os livros evitam tratar Israel detalhadamente mas de fato o mencionam pelo seu nome”.

A despeito dessas mudanças, a questão continua a assombrar os palestinos internacionalmente. De acordo com Brown, quase todas as acusações recentes estão vinculadas a uma única organização, o Centro de Monitoramento do Impacto da Paz, uma ONG pró-israelense. O grupo, diz Brown, se fundamenta “na desinformação e nos relatórios tendenciosos que apóiam seus chamados de incitação”. Há alguns anos o Congresso dos Estados Unidos também fez um estudo e chegou a uma conclusão similar.

Essas investigações conclusivas deveriam pôr um fim às acusações, mas poucos têm questionado o óbvio. Qual a posição israelense sobre os palestinos e como os mapas israelenses demarcam o território palestino?

Uma olhada no mais recente material de divulgação do ministério do turismo israelense dá uma resposta forte. O material do governo em 2009 elimina qualquer presença palestina.

O ministro do turismo, Stas Misezhnikov, é um quadro da direita radical do partido Yisrael Beiteinu, liderado pelo ministro de relações exteriores Avigdor Leiberman. Sob essa liderança extremista, o ministério apagou completamente a Cisjordânia e as áreas palestinas de seus materiais de divulgação. A região dos palestinos é retratada sem quaisquer fronteiras ou demarcações. Todos os mapas usados na campanha publicitária (disponível online em http://www.goisrael.com) omitem as áreas e as cidades palestinas.

Agora que as negociações começam, será que chegou o momento de Israel substituir a conversa vazia pela ação? E será que chegou a hora de a comunidade internacional fazer a simples exigência de que Israel pare de ignorar os palestinos e a Palestina, ao menos nos seus mapas oficiais?

Daoud Kuttab é um jornalista palestino premiado e ex-professor da cátedra Ferris de Jornalismo na Universidade Princeton. Ele vive entre Jerusalém e Aman.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Carta Maior

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, a questão é interessante. No mapa de Israel, a Cisjordânia é denominada "Deserto da Judéia" ("Judean Desert"), e as colinas de Golã (da Síria) são mostradas como parte do território israelense... Não haverá paz enquanto não houver idéia de paz.