Extraído do Site VI O MUNDO
Num mundo socialmente construído, somos nós que construímos o mundo.
Immanuel Wallerstein
Defendi no meu recente livro, The End of The World As We Know It: Social Science for the Twenty-first Century, que o sistema-mundo moderno está se aproximando do seu fim e entrando em uma era de transição para algum sistema histórico novo cujos contornos não conhecemos, nem podemos conhecer antecipadamente, mas cuja estrutura podemos ajudar ativamente a moldar.
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Sobre os motivos subjacentes à ruptura:
A primeira decorre da desruralização do mundo, que está muito avançada e que provavelmente estará completa, em grande medida, nos próximos 25 anos. É um processo que aumenta inexoravelmente o custo do trabalho como percentagem do valor total criado. A segunda é a consequência a longo prazo da externalização de custos, que levou a um esgotamente ecológico. Isto está fazendo subir o custo dos materiais como percentagem do valor total criado. E a terceira é a consequência da democratização do mundo, que levou a exigências de despesas públicas cada vez maiores com educação, cuidados de saúde e garantias de renda vitalícia. Isto agrava os custos da tributação como percentagem do valor total criado. A longo prazo, a combinação desses três fatores deprime estruturalmente os lucros da produção e torna o sistema capitalista desvantajoso para os capitalistas.
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Esta é uma questão moral: qual é a sociedade boa? Mas é também uma questão intelectual: que tipo de sociedade é possível construir? Possível? Levando em conta o quê? Uma suposta psicologia humana? Um certo nivel de tecnologia? Todas as grandes questões das ciências sociais nos últimos dois séculos têm por trás essa questão moral: o que é sociedade boa? Não estamos mais perto do consenso do que estávamos em 1989, 1968, 1914-1918, 1848 ou 1789 - para mencionar apenas alguns dos grandes momentos de divisão no sistema-mundo moderno.
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O fascismo era e é, como ideologia, a rejeição das reivindicações intelectuais e morais em nome dos direitos da força. "Sempre que ouço a palavra cultura puxo o revólver", diziam os líderes nazistas. Ainda há quem tenha revólveres e aja desta maneira. As escolhas históricas não são piqueniques no campo.
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Aqueles que desejam manter hierarquia e privilégios no futuro sistema social histórico que iremos criar têm duas grandes vantagens sobre o resto de nós. Primeiro, têm ao seu dispor uma enorme riqueza, o poder existente e a capacidade de comprar a competência de que necessitam. São inteligentes e sofisticados. E conseguem organizar-se de forma mais ou menos centralizada. Os que preferem que o futuro sistema social histórico que iremos criar seja um sistema relativamente democrático e relativamente igualitário estão em desvantagem em ambos os aspectos. Têm menos riqueza e poder. E não podem comandar estruturas centralizadas. Em consequência, sua única hipótese é transformar uma limitação em uma vantagem. Têm de se apoiar na sua diversidade. [...] Não podemos fugir à necessidade de criar uma família mundial de movimentos anti-sistêmicos que não pode ter uma estrutura hierárquica, ou, de qualquer maneira, deve ter uma estrutura apenas muito reduzida. [...]
O resultado da luta é muito incerto. Mas, em eras de transição, ninguém pode dar-se ao luxo de ficar de fora.
Immanuel Wallerstein, O Declínio do Poder Americano, editora Contraponto.
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