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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A teoria do medo ou um discurso antigo da direita reacionária

02 de novembro de 2009 às 12:13

Wild Tales From the Reactionary Right

Conspiracy, Inc.

por ANTHONY DiMAGGIO, no
Counterpunch

A extensão completa da radicalização do movimento conservador está se tornando aparente depois de nove meses de governo Obama. Crescentemente, os comentaristas reacionários da mídia e muitos dos filiados do Partido Republicano estão levando a direita americana por um caminho perigoso, marcado pela abundância de teorias conspiratórias dirigidas contra o Partido Democrata e os liberais centristas.

Autores proeminentes vem alertando faz tempo sobre a ascensão da direita reacionária ao palco nacional. Thomas Frank lidera essas acusações com seus livros bestsellers como The Wrecking Crew: How Conservatives Rule e What’s the Matter with Kansas: How Conservatives Won the Heart of America. Os alertas de Frank são particularmente interessantes à luz da ascensão das teorias conspiratórias da direita.

Uma teoria conspiratória é definida como um plano secreto de autoridades poderosas para praticar alguma ação que seria rejeitada pelo público se o plano fosse divulgado. Teorias conspiratórias são tremendamente perigosas porque elas abandonam análises institucionais em favor de descrições exóticas do comportamento governamental. Em nenhum outro lugar esse extremismo é visto tão bem quanto no movimento "Verdade do 11 de Setembro". Em sala de aula eu tenho uma resposta padrão para alunos que querem saber sobre as teorias conspiratórias do 11 de setembro. Eu digo que a diferença entre um argumento e uma conspiração é crucial: a existência de provas. Qualquer grande teoria conspiratória requer uma falta completa de provas tangíveis, já que conspirações são por definição armações "secretas" sobre as quais o público não sabe quase nada. Essa falta de provas é mais uma razão para rejeitar essas conspirações como algo desprovido de seriedade e de rigor intelectual.

Muitos conservadores, sem dúvida motivados pelo racismo, pela xenofobia e pelo desprezo pela política multipartidária, usaram essas teorias conspiratórias em tentativas de abalar o governo Obama. Além disso, as teorias conspiratórias agora são um dos meios primários -- talvez o meio primário -- pelo qual os conservadores tentam desacreditar seus oponentes políticos. Uma avaliação das conspirações mais importantes coloca a radicalização do movimento conservador em perspectiva:

A tentativa de Limbaugh de comprar os Rams

Rush Limbaugh [porta-voz da extrema direita estadunidense] foi recentemente excluído da disputa para comprar o time de futebol americano St. Louis Rams. A tentativa de Limbaugh de se tornar parte da NFL [liga estadunidense] causou apreensão nos dirigentes, já que ela é 75% afroamericana e à luz da história de racismo de Limbaugh. Não é difícil de entender porque o público acharia Limbaugh racista considerando seus comentários:

-- "Bem, deixe-me colocar da seguinte forma: a NFL parece sempre um jogo entre os Bloods e os Crips sem usar armas. Pronto, falei". [Nota do Viomundo: Bloods and Crips são duas gangues americanas, cujos integrantes são predominantemente negros].

-- A NAACP deveria ensaiar quebra-quebras. Deveria comprar uma loja de bebidas e praticar assaltos". [Nota do Viomundo: A sigla significa Associação Nacional pelo Desenvolvimento das Pessoas de Cor].

Limbaugh gosta de cantar uma música que tem o nome "Barack, o Negro Mágico" em seu programa de rádio, embora ele se diga fortemente ressentido contra aqueles que concluem que a letra é racista. Ainda assim, acusações de racismo acabaram com o papel de Rush como comentarista da ESPN em 2003 quando ele sugeriu que o jogador Donovan McNabb, do Filadélfia Eagles, não era tudo isso e só mantinha o emprego porque a NFL queria o sucesso de jogadores negros na posição de quarterback.

Os comentários não foram aceitos no mundo do esporte, que imediatamente reconheceu que a tática de Limbaugh de gritar "racismo reverso" é, em si, racista. Presumivelmente, Limbaugh quer nos fazer acreditar que existe alguma conspiração corporativa contra jogadores brancos, apesar do fato de os afroamericanos representarem 19% dos quarterbacks [a posição de lançador, a mais importante do jogo] mas 75% do total de jogadores.

As conspirações de Limbaugh não ficam só nas acusações de racismo reverso. Quando os investidores resolveram excluí-lo do grupo, Limbaugh respondeu que o incidente era um exemplo "dos Estados Unidos de Obama". Naturalmente não há provas de alguma conspiração contra Limbaugh da parte da NFL, nem que Obama ou seus assessores tenham pressionado os investidores a tirar Limbaugh do grupo.

Longe de ser um bastião liberal dos Estados Unidos, a NFL é conhecida como uma liga politicamente conservadora. Os donos de times da NFL, por exemplo, deram duas vezes mais dinheiro em contribuições de campanha a republicanos do que a democratas nas eleições de 2008. A real razão para a rejeição de Limbaugh não tem nada a ver com uma conspiração pró-Obama, mas com o fato de que Limbaugh representa um rosto controverso para uma liga interessada em maximizar lucros e minimizar controvérsias.

É difícil fazer isso servindo a racistas quando a maioria dos jogadores da NFL é de negros. O dirigente da NFL Roger Goddell, por exemplo, explicou que a decisão da liga de rejeitar Limbaugh é resultado de seus comentários "polarizadores" sobre afroamericanos feitos no passado. O diretor executivo dos jogadores, DeMaurice Smith, explicou que a NFL "é melhor quando unifica, dando a todos nós motivo para celebrar, e quando transcende. Nosso esporte faz exatamente isso quando supera divisões e rejeita discriminação e ódio".

Obama o queniano, terrorista muçulmano

A propaganda racista sobre a cidadania de Obama e suas ligações com terrorismo radical persiste. O movimento "birther" [de birth, nascimento] ganhou grande visibilidade pública este ano -- seus membros apareceram em manifestações alegando que Obama não é cidadão dos Estados Unidos e que é um fundamentalista islâmico fanático. A atenção dada pela mídia aos integrantes do movimento conspiratório foram particularmente danosos para a imagem de Obama, como as estatísticas sugerem:

-- Antes das eleições de 2008, quase 80% dos estadunidenses tinham ouvido rumores de que Obama era muçulmano. Um em dez acreditava que Obama era muçulmano, enquanto um em três dizia não saber qual era a crença dele.

-- Em 2009, os conservadores acreditam que Obama é muçulmano 2,5 vezes mais que os democratas. Mais da metade dos republicanos acredita que Obama não é cidadão dos Estados Unidos ou está incerta sobre a cidadania do presidente.

O movimento birther ganhou fôlego em programas da mídia como Lou Dobbs Tonight e na emissora Fox News e recebeu ênfase no Congresso por parte da republicana Michelle Bachmann. O absurdo do movimento birther foi demonstrado diversas vezes, já que os documentos de Obama foram divulgados publicamente pelo estado do Havaí e verificados por grupos apartidários como o Factcheck.org.

Outros ataques contra Obama não dizem explicitamente que ele é muçulmano; eles apenas indiretamente associam Obama ao fundamentalismo islâmico. Essa tática favorita da direita reacionária foi recentemente utilizada por Sean Hannity [apresentador da Fox] que atacou Obama depois que o presidente fez um discurso no Egito sobre os ataques terroristas de 11 de setembro.

Hannity atacou Obama por "dar aos simpatizantes do 11 de setembro uma voz no palco mundial" depois que o presidente disse que "estava consciente de que ainda existe gente que questiona ou mesmo justifica o 11 de setembro. Mas sejamos claros: a al Qaeda matou quase 3 mil pessoas naquele dia. As vítimas eram homens, mulheres e crianças inocentes dos Estados Unidos e de muitas outras nações que não haviam causado dano a qualquer pessoa... Isso não é opinião a ser debatida, mas são fatos com os quais devemos lidar".

Os leitores tem razão se ficaram confusos para entender como Hannity concluiu o que concluiu, considerando as palavras de Obama. Quando alguém enxerga o mundo pelos olhos de um teórico da conspiração, os fatos são maleáveis e existem para ser manipulados com o objetivo de aprofundar preconceitos pré-existentes.

Obama, ACORN e a crise econômica

A organização que John McCain de forma conspiratória atacou como "destruidora da fábrica da democracia" não sai das manchetes da Fox News. O caso mais recente foi no programa de Glenn Beck [apresentador da Fox News] do dia 28 de outubro, na qual a ACORN [Associação de Organizações Comunitárias por Reforma Já] foi acusada por causar o colapso econômico e a recessão de 2008. O poder dos teóricos da conspiração conservadores foi demonstrado plenamente pelos comentários de Beck, reproduzidos abaixo:

"Um ano atrás, tivemos problemas com os bancos, porque as pessoas fizeram muitos empréstimos sem condições. Mas eram as casas e os automóveis pelos quais não podíamos pagar que haviam nos sido prometidos por gente de Washington. 'Não se preocupe, compre tudo. Você pode comprar esta casa. Por que viver numa casa ruim, você deveria viver nessa casa com dois carros, não seria ótimo?'. Quem disse isso? Essas pessoas [o governo] e o povo da ACORN, ok? Eles pressionaram os bancos a fazer empréstimos a gente que não podia pagar por eles, e assim tudo acabou derretendo, já que os bancos disseram às pessoas, 'não, não, essas pessoas não podem pagar suas casas'".

À luz da alegada resistência dos bancos em dar empréstimos, Beck conclui que os protestos dos "interesses especiais" representados pela ACORN foram suficientes para colocar Wall Street de joelhos, forçando os bancos a emprestar para clientes que em outras condições seriam rejeitados.

De novo, os leitores devem ser perdoados se ficarem confusos com a lógica bizarra de Beck. Qualquer pessoa que tiver familiaridade com reformas das políticas públicas sabe que a crise imobiliária de 2008 não foi resultado de alguma conspiração na qual a ACORN e o governo forçaram os bancos a emprestar para clientes ruins. Ao contrário, o governo ficou sem ação ao repelir qualquer restrição legal a empréstimos e repelir a regulamentação sobre emprestadores, enquanto o Congresso repeliu limites às fusões e aquisições bancárias (para mais sobre isso, consulte a derrubada do Glass Steagall Act de 1999) que permitiram associação entre bancos especuladores e bancos engajados em empréstimos menos arriscados.

Essa retirada da regulamentação governamental permitiu ao banqueiros de Wall Street se engajar em empréstimos sub-prime (sem monitoramento do governo sobre os papéis derivativos), que eventualmente contribuiram para o colapso financeiro e a recessão de 2008. Beck, no entanto, prefere culpar a ACORN e não os banqueiros que fizeram fortuna com empréstimos predadores a pobres -- aqueles que realisticamente nunca poderiam pagar a casa própria sem entrada e com taxas de juros flutuantes.

Obama, o Socialista

Provavelmente a teoria conspiratória mais popular é a alegação de que Obama é um socialista no armário. É claramente a mais ofensiva e absurda contra um presidente que liderou o resgate para salvar o capitalismo americano do capitalismo americano. Obama tem prometido reerguer os bancos americanos, as firmas de investimento e a indústria imobiliária de seus próprios investimentos destrutivos e especulativos. Obama deu centenas de bilhões de dólares em dinheiro público e prometeu outro trilhão de dólares em dinheiro para que bancos e financeiras limpem seus balanços dos papéis tóxicos. Nada disso é suficiente para os conservadores, que se penduram no apoio tímido de Obama à "opção pública" na reforma do sistema de saúde como prova de seu socialismo secreto.

Aliás, a opção pública [permitiria ao usuário comprar um plano de saúde organizado pelo governo federal] não tem nada a ver com socialismo, considerando que cobriria apenas aqueles indivíduos não cobertos pela indústria privada de seguros de saúde. A opção pública é tão socialista quanto qualquer outro serviço público que não dá lucro, como a educação pública, as estradas públicas, as forças policiais, os bombeiros e as bibliotecas públicas. Todos esses serviços públicos coexistem com educação, estradas e segurança privadas sem ameaçar as fundações do capitalismo. Ainda assim, esses serviços "socialistas" sempre foram alvo dos conservadores, que preferem negar acesso aos pobres em nome do "direito" ao lucro privado. Não é surpreendente, portanto, quando ouvimos sobre as ameaças "socialistas" contra o cérebro de crianças em bibliotecas públicas, assim como os ataques à "tirania" de organizações que oferecem educação pública aos desvalidos.

Há muitas outras teorias conspiratórias conservadores que podemos citar: os "campos de concentração" da FEMA [a Defesa Civil americana teria 800 campos de prisioneiros prontos para usar nos Estados Unidos] divulgados por Glenn Beck, os "comitês da morte" na reforma do sistema de saúde denunciados por Sarah Palin [vice na chapa republicana derrotada por Barack Obama, Palin sustentou que na reforma seriam instituídos comitês estatais para decidir quais pacientes teriam atendimento e quais poderiam morrer] e a maior de todas -- a alegação de que o Iraque ameaçava os Estados Unidos com a posse de armas de destruição em massa e tinha ligações com a al Qaeda.

Todas as teorias acima tem uma coisa em comum: elas capitalizam na desconfiança do público sobre o governo de maneira a desviar a atenção da análise institucional. Elas são particularmente perigosas ao convencer americanos a atacar fantasmas falsos, ao alegar que a liberdade está sob assalto por conspirações secretas planejadas e implementadas pelo Partido Democrata.

Subscrever a teorias como essas torna o discurso civilizado literalmente impossível, como qualquer pessoa que tenha discutido com um teórico da conspiração de 11 de setembro sabe. Em seu livro "Em Guerra com a Metáfora: Mídia, Propaganda e Racismo na Guerra contra o Terror" [At War With Metaphor: Media, Propaganda, and Racism in the War on Terror], Erin Steuter e Deborah Wills argumentam que a propaganda ajuda a construir inimigos imaginários.

Os autores dizem que a "propaganda não está preocupada em disseminar informação mas em provocar emoção... o intuito da propaganda não é educar mas gerar emoção e dirigir emoção, ferver o sangue para garantir que a emoção pública domine as discussões". É fácil ver como a propaganda coloca em risco o diálogo público à luz das conspirações ideológicas incoerentes que dizem que Obama é socialista, nazista ou terrorista islâmico. Ao empregar propaganda alarmista, os ativistas conservadores promovem o pior dos medos -- completamente divorciado de provas factuais de qualquer tipo.

As análises de Steuter e Will nos ajudam a entender a propaganda das teorias conspiratórias dos conservadores. O Partido Republicano e o movimento conservador tem se movido à direita por décadas e o extremismo que isso causou (muito dele guiado pela religião) é crescentemente relevante nos debates públicos e na retórica vitriólica dirigida contra a aliança democrata que está no poder em Washington.

Jacob Hacker e Paul Pierson analisam como funciona o extremismo em seu trabalho Off Center: The Republican Revolution and the Erosion of American Democracy. Eles relembram aos leitores que os ativistas do Partido Republicano se caracterizam como duas vezes mais crentes que os democratas. Além disso, a guinada à direita dos conservadores aconteceu num ritmo duas vezes maior entre os anos 60 e 2000 do que a dos liberais democratas à esquerda. O liberalismo dos ativistas democratas cresceu mais vagarosamente e declinou significativamente desde o fim dos anos 80 até o período pós-2000. Em outras palavras, os ativistas republicanos se tornaram cada vez mais reacionários em anos recentes, enquanto os democratas se tornaram centristas em sua ideologia. Diante dessa polarização, os teóricos conservadores da conspiração se tornaram cada vez mais proeminentes. Deveríamos considerar isso ao avaliar a qualidade de nossa democracia hoje e no futuro.

Anthony DiMaggio é professor de política na Illinois State University. Ele é autor de Mass Media, Mass Propaganda (2008) e When Media Goes to War (2010). Responde no e-mail adimagg@ilstu.edu

Nota do Viomundo: Na minha primeira análise do recente artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso notei isso. O texto me pareceu ilógico, mas cheio de referências a um poder difuso, obscuro, de bastidores, que teria contaminado o governo e o Estado brasileiros. O próprio presidente Lula seria, na visão de FHC, possível vítima desse "vírus". FHC fala em um subperonismo lulista mas é incapaz de narrar quais são os fatos objetivos que o levaram a concluir pela existência dele. Lula tentou a reeleição, fechou o Congresso, amordaçou a mídia? Como nota o autor do artigo que reproduzi acima, em relação aos Estados Unidos, também notei no novo discurso do ex-presidente. Ele fala à emoção das pessoas, ao preconceito existente contra sindicalistas ou petistas como se fossem vírus corrompedores da democracia brasileira. A adesão de um ex-presidente da República, intelectual de renome, a esse tipo de discurso, diz muito sobre a degradação do ambiente político brasileiro.

Reproduzido de: A lógica bizarra de FHC e as teorias conspiratórias da direita americana

Nota do história em projetos: Azenha fez outro artigo analítico de primeiríssima linha sobre o artigo do sociólogo FHC e analisou com primazia a ilustração de O Globo para o referido artigo. Luis Nassif comentou o episódio aqui e aqui e Rodrigo Vianna fez um post bem humorado a respeito do descabido artigo do ex-presidente.
E na opinião deste autora o caminho traçado por FHC é perigoso, a analogia é descabida, comparar um governo democrático com alguma tendência social ao período de censura, tortura, perseguições políticas, prisões arbitrárias, fechamento de Congresso, AI-5 e afins é esquecer todas as bases da teoria política da sociologia ou praticar má-fé.

Um comentário:

Montana disse...

So Rusky gets punked because he does not fact check (Not the first time)? Wow, what a surprised.

Oh, and when contronted that he was punked, he defended himself by saying “we stand by the fabricated quote because we know Obama thinks it anyway” (Yeah good try to save face, what a loser)

After so many years of mis-labeling and mis-characterizing others he gets smacked down by the NFL “Not For Limbaugh”. Way to go NFL, great job!