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sábado, 14 de agosto de 2010

Suicídios entre os veteranos de guerra nos EUA

Baixas silenciosas, reproduzido da Carta Capital

Junho foi o mês mais cruel: suicidaram-se 32 soldados, um número superior ao de qualquer mês da guerra do Vietnã. Onze não estavam em atividade e sete dos restantes cumpriam serviço militar no Iraque e/ou Afeganistão. São cifras oficiais. Em 2009, 245 efetivos ceifaram suas próprias vidas e a cifra este ano pode ser superada: 145 se suicidaram no primeiro semestre e 1713 tentaram-no, sem êxito. A taxa é mais alta que a da correspondente [aos suicídios] na população civil dos EUA. O artigo é de Juan Gelman.

Produzem-se em silêncio e segredo entre os efetivos estadunidenses que combatem ou combateram nas guerras que W. Bush lançou e Barack Obama continua. Junho foi o mês mais cruel: suicidaram-se 32 soldados, um número superior ao de qualquer mês da guerra do Vietnã. Onze não estavam em atividade e sete dos restantes cumpriam serviço militar no Iraque e/ou Afeganistão. São cifras oficiais (www.defense.gov, em 15/07/2010). Em 2009 245 efetivos ceifaram suas próprias vidas e a cifra este ano pode ser superada: 145 se suicidaram no primeiro semestre e 1713 tentaram-no, sem êxito. A taxa é mais alta que a da correspondente [aos suicídios] na população civil dos EUA.

O militar Tim Embree testemunhou em 25 de fevereiro, ante a Comissão de Assuntos relativos aos Veteranos da Câmara de Representantes. Declarou em nome dos 180 000 associados de Veteranos Estadunidenses do Iraque e do Afeganistão (IAVA, em sua sigla em inglês), países aos quais foi enviado para combater duas vezes:

“No ano passado mais efetivos tiraram suas próprias vidas do que morreram em combate no Afeganistão – assinalou. A maioria de nós conhece um companheiro que o fez ao regressar para casa e os números não incluem sequer a quem se suicida quando termina seu serviço: estes estão fora do sistema e suas mortes podem ser ignoradas” (www.iava.org, 15-7-10).

Talvez não fossem seres humanos,mas apenas material descartável.

Embree recordou as cifras publicadas pelo semanário Army Times, que divulga notícias do exército e possibilidades de carreira na instituição:

“18 veteranos se suicidam a cada dia e se registra uma média mensal de 950 tentativas de suicídio entre veteranos que recebem do departamento federal correspondente algum tripo de tratamento (www.armytimes.com, 24/04/2010)”.

Trata-se de veteranos de todas as guerras que os EUA desencadeou em terras estrangeiras e padecem, em geral, de PTSD [Post-Traumatic Stress Disorder]. Antes se chamava de neurose de guerra ou fatiga de combate ou choque e ainda outros nomes. O PTSD reúne todos esses sintomas.

A publicação mensal Archives of General Psychiatry divulgou uma pesquisa independente sobre 18 300 soldados examinados depois de terem voltado do Iraque há três meses ou há um ano: de 20 a 30% sofriam de PTSD e uma depressão profunda abatia a 16% (www.archpsyc.amaasn.org, junho de 2010). A dificuldade dos veteranos em se reintegrarem à vida civil, a violência doméstica que protagonizam, os casamentos desfeitos, a drogadicção e os suicídios se explicam. Em fins de 2009, segundo dados do Departamento de Veteranos do governo, mais de 537 mil dos 2,04 milhões que serviram no Iraque e no Afeganistão solicitaram atendimento médico (www.ptsd.va.gov, fevereiro 2010).

A dificuldade se agrava porque regressam a um país com um desemprego cada vez maior. Segundo uma investigação da IAVA, 14,7% dos veteranos são desocupados, índice 5% superior à media nacional (www.iava.org, 2/4/2010). Assim, o número dos que perderam suas casas aumenta. Um informe da Coalizão Nacional dos Sem-Teto [National Coalition for the Homeless] indica que 33% vive nas ruas e que um milhão e meio corre o risco de ficar sem teto devido à pobreza e à falta de amparo do estado (www.nchv.org, setembro de 2009). Estão ausentes dessas cifras os veteranos fisicamente incapacitados de buscar e manter um trabalho.

Kevin e George Lucey, pais de um soldado que tirou a própria vida contaram uma das tantas histórias que os números escondem. Em 22 de junho de 2004 seu filho, Jeff, de 23 anos se jogou do sótão da casa (www.democracynow.org, 8/9/2010). Era cabo do corpo de fuzileiros [mariners] e tinha regressado do Iraque em julho do ano anterior. A mãe relatou que um mês depois de ter começado a participar da invasão enviava cartas para a sua noiva, nas quais dizia das “coisas imorais” que ele estava fazendo. Uma vez em casa, Jeff começou a falar frases desconexas sobre Nasiriya, a cidade a sudeste de Bagdá em que teve lugar a primeira grande batalha dos invasores contra o exército regular iraquiano. Um dia recebeu sua irmã Amy com lágrimas nos olhos, dizendo-lhe que era um assassino. Antes de se suicidar, deixou sobre sua cama as chapas de identificação dos efetivos iraquianos que havia matado, ainda que eles estivessem sem armas. Jeff costumava observá-las com frequência.

Os psiquiatras e psicólogos militares carecem de conhecimentos para enfrentar essas enfermidades. Mark Russel, comandante da Marinha especializado em enfermidades mentais descobriu que 90% do pessoal que cumpre essas funções não tem a formação necessária para atender aos casos de PTSD. Limitam-se a prescrever drogas como Paroxetina, Prozac ou Gabapentina [Neurontin], que acentuam e até produzem os sintomas, e a devolverem os soldados a suas unidades (www.usatoday.com, em 17/1/2007).

Na segunda-feira passada (9/8) o presidente Obama disse ante uma convenção de veteranos incapacitados em Atlanta que seu governo estava tomando os máximos esforços para prevenir o suicídio e outras consequências do PTSD. Para o pai de Jeff, isso é pura hipocrisia.

Tradução: Katarina Peixoto

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