Bem-vindo/a ao blog da coleção de História nota 10 no PNLD-2008 e Prêmio Jabuti 2008.

Bem-vindos, professores!
Este é o nosso espaço para promover o diálogo entre as autoras da coleção HISTÓRIA EM PROJETOS e os professores que apostam no nosso trabalho.
É também um espaço reservado para a expressão dos professores que desejam publicizar suas produções e projetos desenvolvidos em sala de aula.
Clique aqui, conheça nossos objetivos e saiba como contribuir.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Bolsa de valores: volumes 6ª série/7º ano; 8ª série/9º ano

No Volume de 6ª série/7º ano, Unidade 2 "O mundo moderno em formação no continente europeu", especialmente, nos capítulos 7 e 9 são abordados aspectos da economia moderna, dialogando com o renascimento econômico e cultural da Europa Ocidental e ainda com o mercantilismo e a revolução comercial. O surgimento da Bolsa de Valores dá-se nesse contexto e ela é ainda estrela factual nas temáticas da Grande Crise de 29 no século XX (cap 7 "Como era a vida durante o período entre as duas guerras mundiais", Unidade 2, volume de 8ª série/9º ano) e está na crista da onda nós noticiários econômicos assustados com a crise imobiliária nos EUA.


Trouxemos a vocês um artigo interdisciplinar para discutir a temática, apreciem, vale a pena:

A Bolsa de Valores literária

Moacyr Scliar (escritor, médico e professor universitário).
Portal O Brasil que Lê. Artigo publicado em 23 jan. 2008.


De onde vem a expressão Bolsa de Valores? Para alguns historiadores, aorigem está no desenho de uma bolsa (ou de três bolsas) na fachada de umacasa da cidade de Bruges, onde, no século 13, mercadores se reuniam parafazer negócios. Ou aludiria ao estabelecimento de uma família da mesmacidade que, desde o século 13, fazia câmbio de moedas: Van der Beurse ouBeurs ou Börse. Ao contrário dos palácios e castelos aristocráticos, era umlugar democrático, sem preconceitos, como dizia a inscrição ali afixada: Adusum mercatorum cuius gentis ac linguae (Para uso dos mercadores de qualquernação ou idioma).

No século 16, o centro do mercado financeiro deslocou-se para a Holanda. Eaí os produtos do Novo Mundo, sobretudo açúcar e tabaco, passam a ser objetode negociação (e de especulação). A primeira Bolsa de Valores digna dessenome surgiu em Amsterdã, em 1602. A data é importante: estamos falando nocomeço da modernidade, inaugurada sob o signo do capitalismo comercial efinanceiro. Na verdade, a bolsa é o próprio símbolo da economia de mercado.Um símbolo até certo ponto desconcertante, como o mostrava, já em 1688, olivro Confusión de confusiones, de Joseph Penso de la Vega, a primeira obrasobre mercado acionário.

De la Vega, que era marrano (judeu convertido pela Inquisição), descreve abolsa como um lugar maluco, em que os negócios são selados por apertos demão, alternados com gritos, insultos, empurrões, e governado por crendices esuperstições: um negociante chamado Christoph Kurz, intrigado com asviolentas variações dos preços, chegou à conclusão que resultavam dainfluência dos astros. Desistiu dos negócios e dedicou-se à astrologia, naqual fez grande sucesso.

A bolsa não mudou muito, como a gente constata quando vemos na tevê ou emfilmes cenas de um pregão. Ali estão vários senhores (o sexo masculinopredomina absolutamente), alguns vestindo uma espécie de uniforme, gritandoe fazendo sinais, o que não parece muito compatível com a racionalidade queesperamos (mas talvez isto seja um wishful thinking, um pensamento desejoso)da economia moderna.

Existe a Bolsa de Valores financeiros e existe também uma Bolsa de Valoresliterários (e artísticos, e culturais), igualmente sujeita a oscilações e aimprevistos. A cotação de autores, gêneros e obras sobe ou desce, independentemente de qualquer pregão, embora ele possa existir: leilões deobras hoje não são raros, com as editoras disputando escritores da moda. Nomomento, e por razões óbvias, o Oriente Médio está na crista da onda; qualquer texto que tenha Cabul no título vende automaticamente. Umaconstatação melancólica, sobretudo para latino-americanos, que já ocuparamessa posição de destaque, quando do boom da literatura do continente.

Em 1970, fiz uma viagem para a Europa e era com emoção que via, nas vitrinesdas livrarias, as obras de García Márquez, de Vargas Llosa, de Cortázar. Eraa época do realismo mágico, estilo literário em que as histórias maisfantásticas eram narradas como se tivessem acontecido na realidade. Era naverdade um tipo de literatura engajada, não a literatura do realismosocialista (Jorge Amado em sua primeira fase), àquela altura já superado,mas a literatura que representava um protesto contra as ditaduras vigentesem quase todos os países da América Latina.

Hoje em dia, nem mesmo García Márquez, a quem o realismo mágico deu o Nobel, pratica esse estilo; ele é simplesmente realista. Também foi superado oregionalismo, que era de origem rural e que sumiu no processo de urbanizaçãoacelerada, e ainda o exotismo sempre associado a Terceiro Mundo. Mas essa éa regra, como a gente constata quando percorre a lista dos prêmios Nobel deliteratura. A maioria dos nomes resistiu aos pregões do tempo, mas quem, anão ser pesquisadores e leitores dedicados, lembra de Carl Gustaf Verner vonHeidenstam (prêmio Nobel de 1916), Carl Spitteler (1919), Johannes VilhelmJensen (1944)? Notem: isso não é uma queixa, é uma constatação. Aliteratura, como a vida, tem de se renovar. E não precisa, para isso,esperar pelo anúncio da cotação de ações.

Nenhum comentário: