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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Memória 30/04/1981- Atentado no Rio Centro


A pedido do poeta amigo Affonso Romano de Sant'Anna, reproduzo seu belíssimo poema, escrito como ele mesmo informa motivado pelo episódio do Rio Centro:


AMIGOS:

em tempos de " apropriação" e malversação da obra alheia, circula na internet e no youtube uma versão pobre e estropiada do poema meu A IMPLOSÃO DA MENTIRA, publicado originalmente durante a última ditadura militar. Peço aos amigos que contra ataquem em seus blogs, sites e toda forma eletrônica de comunicação divulgando essa verdade textual.

Em tempo: cuidado com os que dizem que a verdade não existe e que é arte qualquer coisa que qualquer um chama de arte. É mais uma mentira a ser ex/implodida.

Grato pela divulgação, ars

A Implosão da Mentira

Affonso Romano de Sant’ Anna



Fragmento 1

Mentiram-me.Mentiram-me ontem

e hoje mentem novamente.Mentem

de corpo e alma, completamente.

E mentem de maneira tão pungente

que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.

Não mentem tristes.Alegremente

mentem. Mentem tão nacional/mente

que acham que mentindo história afora

vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases

falam. E desfilam de tal modo nuas

que mesmo um cego pode ver

a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil

e para alguns é cara e escura.

Mas não se chega à verdade

pela mentira, nem à democracia

pela ditadura.



Fragmento 2

Evidente/mente a crer

nos que me mentem

uma flor nasceu em Hiroshima

e em Auschwitz havia um circo

permanente.

Mentem. Mentem caricatural-

mente.

Mentem como a careca

mente ao pente,

mentem como a dentadura

mente ao dente,

mentem como a carroça

à besta em frente,

mentem como a doença

ao doente,

mentem clara/mente

como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,

como nenhuma lavadeira mente

ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem

com a cara limpa e nas mãos

o sangue quente. Mentem

ardente/mente como um doente

em seus instantes de febre. Mentem

fabulosa/mente como o caçador que quer passar

gato por lebre. E nessa trilha de mentiras

a caça é que caça o caçador

com a armadilha.

E assim cada qual

mente industrial? mente,

mente partidária? mente,

mente incivil? mente,

mente tropical?mente,

mente incontinente?mente,

mente hereditária?mente,

mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente

constróem um país

de mentira

-diária/mente.



Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente

passam a mentira a limpo. E no futuro

mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar

em torno à terra medieval/mente.

Por isto, desta vez, não é Galileu

quem mente.

mas o tribunal que o julga

herege/mente.

Mentem como se Colombo partin-

do do Ocidente para o Oriente

pudesse descobrir de mentira

um continente.

Mentem desde cabral, em calmaria,

viajando pelo avesso, iludindo a corrente

em curso, transformando a história do país

num acidente de percurso.



Fragmento 4

Tanta mentira assim industriada

me faz partir para o deserto

penitente/mente, ou me exilar

com Mozart musical/mente em harpas

e oboés, como um solista vegetal

que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.

mesmo se têm um caçador à sua frente.

Penso nos pássaros

cuja verdade do canto nos toca

matinalmente.

Penso nas flores

cuja verdade das cores escorre no mel

silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente

jorrando luz, embora

tenha a noite pela frente.



Fragmento 5

Página branca onde escrevo. Único espaço

de verdade que me resta. Onde transcrevo

o arroubo, a esperança, e onde tarde

ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira só mesmo um poema

explosivo-conotativo

onde o advérbio e o adjetivo não mentem

ao substantivo

e a rima rebenta a frase

numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva

se não explode pra fora

pra dentro explode

implosiva.


(Poema publicado no JB em 1984, quando do episódio do Rio Centro e em diversas antologias do autor. Está em “ Poesia Reunida” L&PM, v.2)




UM DOCUMENTO HISTÓRICO SOBRE O RIOCENTRO
.

(Eliakim Araújo- Direto da Redação)

Nesta quarta-feira, dia 30 de abril de 2008, o atentado ao Riocentro completou exatos 27 anos. Um tema que foi tabu durante muitos anos, porque envolvia militares do serviço de informação do exército num período em que a imprensa estava tolhida em sua liberdade de informar.

Hoje o atentado é de domínio público, está disponível em dezenas de páginas da internet e a mídia tem ampla liberdade de contar o que realmente aconteceu.

Em poucas palavras, o caso da bomba do Riocentro pode ser assim descrito. Naquele dia 30 de abril, um show comemorava o dia do trablho. Pouco antes das 10 da noite, o show foi interrompido pela explosão de duas bombas: uma no Puma, no estacionamento, e outra no prédio onde estava a casa de força do local. No Puma, estavam dois militares do serviço de informação do Exército, o capitão Wilson Machado, que ficou gravemente ferido e acabou sendo levado a um hospital por Andréa Neves, irmã de Aécio e neta de Tancredo, que apenas assistia ao show, e o sargento Guilherme Rosário, que morreu no local, com os intestinos à mostra, já que a bomba explodiu em seu colo.

A investigação ficou a cargo do Exército que indicou o coronel Luiz Antonio do Prado Ribeiro para chefiar o inquérito policial-militar. Duas semanas depois, entretanto, o coronel Ribeiro se afastou do cargo, alegando motivo de saúde.

Em maio de 2005, numa entrevista ao Fantástico, o Coronel Ribeiro contou emocionado que, à medida que recebia os laudos periciais e interrogava testemunhas, inclusive extra-oficialmente o capitão Wilson, ele começou a ter dúvidas e escreveu um documento "informando que, além dessa hipótese do atentado, poderia haver outra, essa outra, de uma ação ilegal dos serviços de informações”.

O Coronel Ribeiro ficou “doente”, por razões óbvias, e em seu lugar entrou o Coronel Job Lorena, cuja investigação concluiu que os militares tinham sido vítimas de um atentado terrorista.

Até aqui, nada de novo. O que quase ninguém sabe é que naquela noite de abril de 1981, uma equipe da TV Globo do Rio chegou ao local antes dos militares. A repórter Leila Cordeiro e o cinegrafista Mauricio tiveram tempo de filmar o carro e ouvir algumas pessoas antes que a área fosse totalmente evacuada.

Abaixo o depoimento de Leila Cordeiro sobre o que ela viu naquela noite e como a matéria foi tratada dentro da Globo:

O atentado no Riocentro

(Depoimento de Leila Cordeiro)


Há vinte e sete anos, no dia 30 de abril de 1981, tive a minha primeira grande experiência como jornalista. Eu trabalhava na Globo, sem horário fixo, já que estava começando. Era meio "pau pra toda obra" como todo iniciante. Ia onde me mandavam, sem hora pra começar e muito menos pra acabar. E foi assim que fui parar no Riocentro, na véspera do dia do trabalhador. Já havia terminado, oficialmente o meu horário como repórter, quando um telefonema da redação me convocou para estar a postos porque uma "kombi" da Globo iria me buscar para cobrir um "acontecimento inesperado" no estacionamento do Riocentro. Era tarde. Mais ou menos dez da noite. Já estava deitada, pronta pra dormir. Pulei rápido da cama e ainda sonolenta vesti-me com a primeira roupa que encontrei, até porque o carro da Globo chegou em seguida ao telefonema. Quando estacionamos no Riocentro senti algo estranho no ar, apesar de não ver nenhuma movimentação. Vimos que havia fumaça num determinado lugar do estacionamento e fomos até lá. Quando chegamos ao local, vimos em primeira mão, um carro esportivo "Puma" destruído com uma pessoa lá dentro também completamente destroçada.Era sangue por todo lado. O cinegrafista e eu não entendemos nada. Não sabíamos sequer porque estávamos ali. Aliás, naquele momento ninguém sabia. Nem a chefia de reportagem da Globo. Mas isso logo se resolveu. Em poucos minutos carros oficiais da polícia , do exército e dos bombeiros chegaram cercando toda a área. Nos empurraram para fora e começaram a perguntar o que tínhamos visto. Logo em seguida chegaram repórteres de vários jornais e cada um correu para o seu lado para apurar os acontecimentos. Naquele dia, eu sabia que estava aprendendo algo mais... Fiquei cobrindo o fato até o dia seguinte quando chegou outra equipe de reportagem para me render. Dali fui direto para a redação da Globo, onde fiquei à disposição dos editores e da direção para escrever o texto e ajudar na edição. Não vi e não posso afirmar, mas soube que representantes do alto escalão do exército estiveram nos andares poderosos do Jardim Botânico para acompanhar as informações. O que posso dizer é que tive que mudar o texto umas três vezes e quase "testemunhar"o que vi no estacionamento.


Leia, neste blog, outras postagens relacionadas à temática da ditadura militar no Brasil e América Latina:
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25 de Abril de 1974- Censura 'Tanto Mar" Chico Buarque
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