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sábado, 8 de março de 2008

8 de março as mulheres ainda estão longe da igualdade


8 de março é o dia Internacional da mulher. Todos os dias deveriam ser dias de indígenas, negros, crianças, idosos, mulheres e homens operários e camponeses que lutam para sobreviver com dignidade.

Os movimentos sociais ao longo de suas lutas e para rememorá-las e reafirmá-las foram criando marcos comemorativos e reflexivos. O dia Internacional da mulher é um deles.

O 8 de março é uma data que está relacionada às lutas operárias. Segundo reza a tradição, foi nesse dia e mês, no ano de 1857, durante as manifestações de operárias por melhores condições de trabalho, como: redução de jornada para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário); equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho, que 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos na primeira greve nos EUA liderada unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Asfixiadas, dentro de um local em chamas, as tecelãs morreram carbonizadas.

Entretanto, a pesquisadora Eva Blay discorda desta versão:

Dia Internacional da Mulher: fatos e mitos

O dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, é constantemente associado a uma proposta da líder comunista alemã Clara Zetkin, feita em 1910, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, ocorrido em Copenhague, para lembrar operárias mortas num incêndio que teria ocorrido em Nova York, em 1857. Segundo a socióloga Eva Alterman Blay, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e coordenadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações de Gênero (Nemge), "o acidente de 1857 não aconteceu" e, durante o Congresso, a líder comunista propôs um Dia Internacional da Mulher, porém, sem definir uma data precisa para as comemorações. "O dia 8 de março baseia-se em fatos históricos diferentes daqueles que são freqüentemente repetidos sem uma consulta adequada", afirma.
De acordo com Eva Blay, o incêndio relacionado ao Dia Internacional da Mulher é o que ocorreu no dia 25 de março de 1911, nos EUA, na Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo), uma fábrica têxtil que ocupava o oitavo, o nono e o décimo andar de um prédio. A Triangle empregava 600 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, com idade entre 13 e 23 anos. Fugindo do fogo, parte dos trabalhadores conseguiu alcançar as escadas descendo para a rua ou subindo no telhado. Outros desceram pelo elevador. Mas a fumaça e o fogo se expandiram, e muitos trabalhadores pularam das janelas para a morte. Algumas mulheres morreram nas próprias máquinas. Houve 146 vítimas fatais, sendo 125 mulheres e 21 homens. No funeral coletivo ocorrido dia 05 de abril compareceram cerca de 100 mil pessoas.
No local do incêndio está construída uma parte da Universidade de Nova York, onde consta a inscrição: "Neste lugar, em 25 de março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle. Deste martírio resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação do trabalho que ajudaram a tornar as condições de trabalho as melhores do mundo."
Segundo Eva Blay, é muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da comemoração do Dia Internacional da Mulher pela luta por elas travada. Mas o processo de instituição de uma data comemorativa já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há alguns tempo, e foi confirmado com a proposta de Clara Zetkin em 1910.
"O dia 08 de março passou a ser comemorado mais intensamente na década de 60, após o fortalecimento do movimento feminista, quando também passaram a ser discutidos problemas da sexualidade, da liberdade ao corpo, do casamento e dos jovens", relata. Embora não se conheça com precisão por que o dia 8 de março foi escolhido, o fato é que ele se consagrou ao longo do século XX.(...)"

Os pesquisadores estão de acordo em relação à 1910: durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada naquele ano na Dinamarca, a famosa ativista pelos direitos femininos, Clara Zetkin, propôs um Dia Internacional da Mulher. Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa. A partir daí, essa data começou a ser comemorada no mundo inteiro. Entretanto, só em 1977, a ONU (Organização das Nações Unidas) oficializou a data. De todo modo, o 8 de março nos remete ao foco na nossa luta por um mundo mais igualitário e melhor para todos, homens e mulheres.

Hoje, muitas mulheres no mundo todo conseguiram muitos avanços, no Brasil, por exemplo, ela têm mais estudos que os homens, lutam por equiparação social, estão presentes nas pesquisas científicas de ponta, casam-se com homens mais jovens, quebrando uma série de tabus sociais.

Mas nem tudo são vitórias. Muitas mulheres de baixa renda são vítimas em clínicas de aborto clandestinas, muitas estão expostas à violência doméstica. Fora daqui, em alguns lugares socialmente permeados pela violência, as mulheres são vítimas dos abusos da guerra, da ausência do Estado de Direito, são estupradas, é negada a elas a dignidade humana.
Que nos próximos 8 de março não precisemos mais falar desses enormes problemas que afetam milhões de mulheres no mundo. Que possamos, finalmente, rememorar as lutas e festejar as conquistas e que dados como o que constam no artigo a seguir sofram profundas transformações para que a efetiva igualdade se estabeleça.

Igualdade entre gêneros está distante, mais ainda para as afro-descendentes

Julia Dietrich (juliadietrich@aprendiz.org.br)


Entre as mulheres negras, a proporção de mortalidade materna é quase sete vezes maior do que entre as brancas. Na Região Norte do país, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 73% das trabalhadoras infantis são afro-descendentes. Três milhões de domésticas ganham até um salário mínimo. Todas elas mulheres e 90% delas negras. Menos de 15% do poder executivo brasileiro é composto por mulheres e, entre elas, são pouquíssimas as afro-descendentes.

Dia 8 de março. Mais um ano de luta das mulheres e mais um ano para refletir sobre a contínua exclusão de 14 milhões de pessoas, número este que representa a população feminina afro-descendente no país.

Em todas as áreas é sensível a diferença salarial entre homens e mulheres e, em especial, entre elas e mulheres negras. Segundo as informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a proporção de mulheres em condições insalubres de trabalho é 13% maior que a dos homens, e a de mulheres negras é 23% maior que a dos homens brancos. Segundo pesquisa divulgada hoje pelo IBGE, uma trabalhadora brasileira recebe em média R$ 956,80 por mês por uma jornada de 40 horas semanais. O valor representa 71,3% do que um homem recebe pelo mesmo trabalho.

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Brasil, 21% das mulheres negras são empregadas domésticas. Dessas, apenas 23% estão registradas. Em contrapartida, 30% das 12,5% mulheres brancas que são empregadas domésticas têm carteira de trabalho assinada.

Como uma das muitas bandeiras de luta do movimento das mulheres negras, uma das fundadoras da organização não-governamental Criola, instituição que visa a inserção de mulheres negras como agentes de transformação, Jurema Wernek, acredita que é preciso reconhecer que existe um apartheid violento no Brasil. Tal processo faz com que a imensa maioria das afro-descendentes não tenham acesso às riquezas geradas por elas próprias.

"É preciso confrontar também as bases do sistema econômico-financeiro que se apóia na super-exploração da mão-de-obra das mulheres negras, para gerar riquezas astronômicas para a população branca. Lutar por direitos e salários iguais também permitirá fazermos a diferença", reitera.

Acesso

A grande dificuldade das afro-descendentes na conquista de boas posições no mercado de trabalho não impediu, porém, que por meio de batalhas constantes, algumas chegassem ao poder executivo nacional. Hoje, as mulheres afro-descendentes representam cerca de 10% do quadro dos ministérios brasileiros.

Porém, ao mesmo tempo em que as mulheres negras ascendem socialmente e nas escalas de poder, aumentam as dificuldades, especialmente por causa do pouco espaço e a conseqüente concorrência. "As pessoas afro-descendentes construíram esse país e, assim como qualquer outro ser humano, podem padecer de erros e dificuldades. O problema é que a própria eleição passa pela idéia de que é um favor e não um direito do afro-descendente participar dos espaços de poder", explica a professora de História Africana da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Patrícia Santos Sherman. "Por outro lado, a pessoa negra que chega a esses espaços se sente como se tivesse que ser mais exemplar que os outros. É uma vida extremamente desconfortável", complementa.

Ela, que foi aprovada em concurso e trabalhou como professora na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conta que sempre sofreu muitos preconceitos por parte daqueles que a encontravam nos campi. "Várias vezes vinham e perguntavam se eu era funcionária do técnico administrativo. Não que haja algum problema com isso, mas nenhum deles reconhecia a possibilidade de uma mulher negra ser professora universitária", conta, ressaltando que não sofre preconceitos por parte dos colegas professores.

Para ampliar o acesso das mulheres negras ao poder, a coordenadora da Criola, Jurema, explica que no campo do ativismo é preciso maior articulação e atuação política, ampliação da capacidade de formulação, negociação e monitoramento de propostas e medidas de superação dos enormes entraves econômicos para o exercício da ação política. "Já para as instâncias de poder, é preciso medidas de ação afirmativa e outras que inibam o racismo, o sexismo e a lesbofobia institucionais", avança, reconhecendo, porém que as cotas são apenas uma das inúmeras ações necessárias.

Saúde

A falta de condições dignas de trabalho, de acesso ao poder e a manutenção dos círculos de pobreza no país têm inúmeras conseqüências para a saúde da mulher de baixa renda e maiores ainda para as mulheres negras de classes sociais mais baixas. Como exemplo desse cenário, está o fato de que duas vezes mais mulheres negras (46,27%) do que mulheres brancas jamais fizeram um exame de mama, se tornando assim vítimas potenciais de tumores não detectados.

Dada a desigualdade no atendimento da saúde, as mulheres negras sofrem com uma maior incidência de miomas uterinos, hipertensão, diabetes tipo II, anemia e câncer de colo de útero, sendo que este último é causado especialmente pelo papiloma vírus humano (HPV). A ferida uterina causada pelo HPV leva até dez anos para se transformar em tumor maligno, mas como a mulher negra tem menor acesso aos exames ginecológicos, ela se torna a principal vítima da doença.

Quando o assunto é Aids, a situação das mulheres, principalmente negras, também é grave e só piora. Na década de 1980, constatava-se uma mulher a cada 28 homens infectados. Hoje, a cada 1,4 homens infectados há uma mulher. Segundo pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, 76% dos formulários de óbito por Aids preenchidos eram mulheres, sendo que 49% eram negras.

Por essas e outras causas, embora tenha melhorado nos últimos anos, a expectativa de vida da mulher negra é oito meses menor que a da branca. "É preciso enfrentar o racismo e seus efeitos. É preciso realizar campanhas de prevenção com linguagem adequada, mecanismos específicos de acesso aos serviços de atenção básica, como papanicolau e mamografia. Por isso, as mulheres negras devem integrar os conselhos de saúde, tanto nacional quanto local, distrital e em cada posto e hospital", explica Jurema.

Patrícia que teve vários miomas, emocionada, não esconde seu sofrimento. "Fui a sete ginecologistas, acompanhada de meu ex-marido. Seis deles afirmaram que eu deveria aproveitar a cirurgia e tirar meu útero", conta, explicando que foi vítima de racismo por parte dos doutores que sugeriam, de forma camuflada, a histerectomia (retirada do útero). "Eles, em nenhum momento, se preocuparam se eu gostaria de ser mãe. É a idéia de que uma negra não precisa ser mãe porque vai colocar mais um negro no mundo", conta.

Direitos

Segundo o 4º parágrafo do 3º artigo da Constituição Brasileira, "constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". E, segundo o 1º parágrafo do artigo 5º desta mesma Carta, "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações".

"Assim, a mudança social que almejamos se realiza no confronto em diferentes níveis: o ideológico, de políticas públicas e da sociedade. O desenvolvimento de políticas públicas adequadas às necessidades e direitos das mulheres negras é um viés fundamental a que temos nos dedicado mais intensamente nos dias atuais. Mas sem abrir mão do confronto ideológico. Como exemplo está a criação e aprovação de um eixo de trabalho específico de Enfrentamento do Racismo, Sexismo e Lesbofobia ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, proposto e aprovado na II Conferência Nacional pelas ativistas negras presentes. Este eixo reforça a perspectiva de que todas as políticas a serem desenvolvidas devem ter, além de metas gerais para todas as mulheres, metas específicas para as negras e índias", conclui Jurema.


Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado pela referência a respeito de blogs que seus alunos deveriam ler para tentar compreender melhor o que a mídia faz! ;)

Escrevi um post recente sobre a manipulação das capas de revistas, com um exemplo muito sério da Época. Creio que possa ser útil nessa proposta pedagógica de vocês.

Além disso, sugiro que digitem a palavra midiatização no campo de busca do meu blog para encontrar os artigos que escrevi para a disciplina Mídia e Sociedade no Mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em São Leopoldo, Grande Porto Alegre.

É um resumo de muitos textos que li e de vários comentários do professor Antônio Fausto Neto e de vários colegas a respeito do tema, que é de interesse geral, ainda mais no ensino de História.

[]'s,
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