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domingo, 23 de março de 2008

5 mil dólares por segundo é o custo de uma guerra que faz 5 anos

23/03/2008
Guerra do Iraque custa quase US$ 5 mil por segundo
Por Nicholas Kristof (New York Times)

A guerra do Iraque está indo melhor do que o esperado, para variar. A maioria dos críticos, inclusive eu, desdenhou o que estava acontecendo: não prevíamos a melhora na segurança que resultou, em parte, do "avanço" feito no ano passado.

A melhora é real, porém frágil e limitada. Eis aqui o que ela conseguiu: diminuímos o número de mortos para os mesmos índices inaceitáveis que nos assombraram em 2005, e ainda não temos nenhum plano de retirada para os próximos anos - tudo isso por um custo total que cresce quase US$ 5 mil por segundo.

Pior que isso, apesar de o número de mortos ter diminuído, passamos a ter baixas na Flórida e na Califórnia. Os Estados Unidos parecem ter escorregado para dentro de uma recessão; os americanos estão perdendo suas casas, empregos e seguros de saúde; os bancos estão enfrentando problemas - e a guerra do Iraque parece ter agravado todas as aflições domésticas.

"A atual bagunça econômica está bastante relacionada com a guerra do Iraque", diz Joseph Stiglitz, economista ganhador do prêmio Nobel. "No mínimo, a guerra contribuiu para o aumento dos preços do petróleo. Além disso, o dinheiro gasto no Iraque não estimulou a economia tanto quanto teria acontecido se esses mesmos dólares tivessem sido gastos no país. Para cobrir a fraqueza da economia americana, o Fed aprovou um fluxo de liquidez que, aliado a regulamentações frouxas, levou à bolha imobiliária e a um boom do consumo".

Nem todos concordam que a conexão entre o Iraque e os problemas econômicos seja tão forte. Robert Hormats, vice-presidente da Goldman Sachs International e autor de um livro sobre como os Estados Unidos financiam as guerras, argumenta que a Guerra do Iraque é negativa para a economia, mas ainda assim é um fator menor na crise atual.

"Se é uma causa significativa da recessão atual?", pergunta Hormats. "Eu diria que não. Mas o dinheiro poderia ter sido melhor utilizado para fortalecer nossa economia? A resposta é sim."

Apesar das discordâncias, parece haver no mínimo uma ligação modesta entre os gastos no Iraque e as dificuldades econômicas nos EUA. Assim, ao discutir se devemos retirar nossas tropas do Iraque, a questão central deveria ser se a guerra é de fato o melhor lugar para investir US$ 411 milhões por dia do atual orçamento.

Já argumentei que permanecer indefinidamente no Iraque enfraquece nossa segurança nacional por dar poder aos jihadis - assim como sabemos que nossa presença militar na Arábia Saudita nos anos 90 foi, de fato, contraproducente por ter fortalecido o início da Al-Qaeda. Por outro lado, os que apóiam a guerra argumentam que uma retirada do Iraque seria um sinal de fraqueza e deixaria um vácuo de poder que os extremistas iriam preencher, o que é uma preocupação legítima.

Mas se você acredita que permanecer no Iraque faz mais bem do que mal, responda à seguinte questão: essa presença é tão importante que vale o preço de enfraquecer a economia norte-americana?

Com certeza os custos estimados da guerra são variáveis e controversos, em parte por que os US$ 12,5 bilhões por mês que estamos pagando para o Iraque são apenas a entrada. Ainda estaremos pagando indenizações por invalidez para os veteranos da guerra do Iraque daqui a 50 anos.

Em um novo livro, escrito com Linda Bilmes da Universidade de Harvard, Stiglitz calcula que o custo total, incluindo as contas de longo prazo, chega a cerca de US$ 25 bilhões por mês. Isso equivale a US$ 330 por mês para uma família de quatro pessoas.

Um estudo do Congresso feito pelo Comitê Econômico Conjunto descobriu que o valor gasto por dia na guerra do Iraque poderia colocar mais 58 mil crianças no programa Head Start (que ajuda crianças a entrarem na escola) ou fornecer bolsas Pell para que 153 mil alunos cursem a universidade. Ou então, se quiséssemos de verdade investir em segurança, um dia de gastos no Iraque seria capaz de financiar 11 mil agentes de patrulha de fronteira ou 9 mil policiais.

Imagine as possibilidades. Poderíamos contratar mais policiais e patrulheiros de fronteira, expandir o programa Head Start e reabilitar a imagem dos Estados Unidos no mundo financiando uma iniciativa global para reduzir a mortalidade materna, para erradicar a malária ou os vermes de todas as crianças da África.

Tudo isso gastaria menos dinheiro do que um mês de guerra no Iraque.

Além disso, o governo Bush financiou essa guerra de uma forma que enfraquece a nossa segurança nacional - emprestando dinheiro. Cerca de 40% da dívida gigantesca será cobrada pela China e outros países estrangeiros.

"Esta é a primeira grande guerra da história americana em que todos os custos adicionais foram pagos com empréstimos", escreve Hormats. Se os que apóiam a guerra do Iraque acreditam que ela é tão essencial, deveriam então estar dispostos a pagar por ela em parte através de impostos, em vez de empréstimos.

De qualquer forma, agora ou mais tarde, teremos de pagar a conta. Stiglitz calcula que o custo total da guerra possivelmente ficará em torno de US$ 3 trilhões. Para uma família de cinco pessoas como a minha, isso representa uma conta de quase US$ 50 mil.

Não sinto que meu dinheiro esteja sendo bem empregado.

Tradução: Eloise De Vylder


CONTAGEM REGRESSIVA: NÚMERO DE SOLDADOS AMERICANOS MORTOS NO IRAQUE ATINGIRÁ QUATRO MIL

Luiz Carlos Azenha: Atualizado em 22 de março de 2008 às 22:31 | Publicado em 22 de março de 2008 às 21:06

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SÃO PAULO - Nos próximos minutos o número de soldados americanos mortos desde a invasão do Iraque atingirá 4 mil. É simbólico. É o número que interessa aos eleitores e contribuintes americanos. Quatro mil mortos em cinco anos. Mas não parece. Não parece porque o desembarque dos corpos nos Estados Unidos não pode ser filmado. Não parece porque os 30 mil feridos americanos não aparecem feridos em campo de batalha. É raro ver uma foto de um soldado ferido na capa de um jornal americano ou imagens de um fuzileiro naval morto no Iraque em alguma rede nacional de televisão. É atestado de competência do gerenciamento de imagens e da mídia feito pelo Pentágono e pela Casa Branca.

Qual é a diferença essencial entre o Vietnã e o Iraque? É que, durante a guerra do Vietnã, em que 50 mil sodados americanos morreram, o exército americano era de voluntários. Qualquer jovem de mais de 18 anos de idade podia ser convocado. No Iraque, os americanos colocaram um exército profissional. Os jovens são atraídos com promessas de emprego, educação e vários outros benefícios. Além disso, dessa vez a guerra foi terceirizada: bilhões e bilhões de dólares em dinheiro público foram transferidos para empresas privadas ligadas a integrantes do governo Bush que fazem de tudo, de transportar e alimentar os soldados a interrogatórios e serviços de segurança.

Quais as consequências políticas, esperadas ou inesperadas, da invasão e da ocupação?

1) Um governo majoritariamente xiita no Iraque;

2) Fortalecimento do Irã, que com isso projeta o seu poder regional através de aliados na região - do Hezbollah no Líbano ao Hamas nos territórios palestinos;

3) Instabilidade no norte do Iraque, com o aumento da tensão entre curdos e sunitas, que disputam o controle das reservas de petróleo na região; temendo a ascensão dos curdos, a Turquia promoveu sua própria guerra preventiva, com ataques a guerrilheiros no Iraque. A guerrilha do PKK quer reunir os curdos do Iraque, Irã, Turquia e Síria em um país independente;

4) Liberdade absoluta para Israel tomar as medidas que achou necessárias nos territórios palestinos, o que levou o ex-presidente Jimmy Carter a escrever em livro que os israelenses implantaram um regime de apartheid contra os palestinos, com muro e tudo;

5) Transformação do Iraque em campo de treinamento terrorista para o desenvolvimento dos chamadas IEDs, aparatos explosivos improvisados, acionados através de controle remoto ou telefone celular; e para que os Estados Unidos aplicassem novas técnicas de combate à insurgência, envolvendo a guerra psicológica, de informação e social. No Afeganistão, alguns antropólogos agora acompanham as tropas, participando de missões de "resolução de conflito."

Os democratas querem acabar com a guerra, levar as tropas de volta para casa e aplicar parte do dinheiro hoje investido no Iraque na economia doméstica. O orçamento militar não deverá sofrer cortes. Tanto Hillary Clinton quanto Barack Obama prometem manter os gastos militares, só que focados no combate ao terrorismo no Afeganistão.

Os republicanos acham que a vitória no Iraque está ao alcance das mãos. É obvio que os Estados Unidos já venceram, do ponto de vista militar. Mas perderam politicamente. Porém, a turma de Bush mira em interesses econômicos bastante claros: na manutenção de gastos militares que favorecem os amigos e no controle das reservas de petróleo do Iraque.

O republicano John McCain falou em até "um século" de presença americana no Iraque. Falou no modelo da Alemanha e do Japão, países em que até hoje os Estados Unidos mantém bases militares. Ao custo de 4 mil vidas a cada 5 anos, em mais dez anos o número de soldados mortos no Iraque chegaria a 12 mil.

O cálculo de McCain e dos republicanos é de que a população americana estaria disposta a topar esse "sacrifício" em nome de um triunfo completo. A contrapartida seria o acesso americano às maiores reservas de petróleo de qualidade do mundo. Petróleo de primeira, à flor da terra - se comparado com o que a Petrobras retira do mar - e que será essencial para tocar a economia americana pelos próximos 30 anos.

Os democratas parecem apostar na diplomacia com o Irã e a Venezuela para reduzir a pressão sobre o preço do petróleo. Enquanto isso, os Estados Unidos investiriam em energias alternativas.

Porém, as promessas de campanha podem trombar com interesses econômicos essenciais. Ainda hoje operam em território americano usinas de energia tocadas a carvão que são altamente poluentes e já deveriam ter sido aposentadas há duas décadas. Produzem energia baratíssima se comparada às alternativas. Alguém duvida que só serão fechadas quando estiverem no osso?

Em quase tudo um governo do republicano John McCain seria muito parecido com o de um dos dois pré-candidatos democratas - Barack Obama e Hillary Clinton. A diferença fundamental é na questão do Iraque.

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