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domingo, 25 de janeiro de 2009

It really is a new day?


Em Karachi, simpatizantes do partido islâmico Jamaat-e-Islami protestam contra os ataques estadunidenses em região do Paquistão próxima ao Afeganistão, encarados como "primeiro presente" de Obama ao país. Milhares de paquistaneses foram às ruas contra os ataques que mataram 22 pessoas no dia 23/1. Foto: Rehan


Enquanto isso, em Gaza....
Mulher palestina observa a destruição de casas em Jebaliya, no norte da Faixa de Gaza. Organizações internacionais e as Nações Unidas disseram que a prioridade no momento é buscar um acordo que abra Gaza para ações humanitárias e reconstrução da região Anja Niedringhaus/AP


Até aqui, Obama continua errando, no caso de Gaza... [e no Afeganistão]

Robert Fisk: The Independent, UK, 22/1/2009



Teria sido útil se Obama tivesse tido coragem para falar sobre o que todos falam, no Oriente Médio. Não, ninguém no OM fala sobre a retirada dos EUA, do Iraque. Sobre isso, já sabem. Todos esperavam o início do fim de Guantanamo, e a provável nomeação de George Mitchell, como enviado especial ao OM, foi apenas o mínimo que esperavam que acontecesse. Claro, Obama falou de "inocentes massacrados", mas não dos "inocentes massacrados" nos quais os árabes pensam, dia e noite.

Ontem, Obama telefonou a Máhmude Abbas. Talvez suponha que tenha conversado com o líder dos palestinos. Não. Todos os árabes sabem, exceto talvez o próprio Abbas, que Abbas é chefe de um governo fantasma, um já quase cadáver, mantido vivo à custa de transfusões de sangue que lhe chegam como apoio internacional e sob a forma da "parceria plena" que Obama aparentemente lhe ofereceu, e não se sabe o que significaria "plena". E ninguém se surpreendeu com o telefonema protocolar, para os israelenses.

Mas, para o povo do OM, a ausência da palavra "Gaza" – de fato, também da palavra "Israel" – foi como uma sombra tétrica sobre o discurso de posse de Obama. Será que não está preocupado? Está com medo?

Será que o jovem escrevedor de discursos de Obama não sabe que falar sobre direitos dos negros – muitos pais de negros podem não ter trabalhado em restaurantes há 60 anos – só faria chamar a atenção sobre o destino de um povo que só há três anos obteve o direito de votar, mas, então, imediatamente, o mesmo povo passou a ser castigado porque votou no candidato errado? Nem foi o caso do elefante na loja de porcelanas. O problema é a horrível pilha de cadáveres amontoados no chão da loja de porcelanas.

É fácil, sim, ser cínico. A retórica árabe tem alguma semelhança com os clichês de Obama: "trabalho duro e honestidade, coragem e respeito às regras do jogo... lealdade e patriotismo".

Mas por maior que seja a distância que o novo presidente queira interpor entre ele e o governo vicioso que está substituindo, o 11/9 paira como nuvem sobre New York. Obama teve de relembrar "a coragem dos bombeiros que subiram escadas tomadas de fumaça".

De fato, para os árabes, ouvir que "nossa nação está em guerra contra uma distante rede de violência e ódio" foi como ouvir a voz de Bush; a única referência a "terror", a palavra do eterno medo em Bush e nos israelenses, foi preocupante sinal de que a Casa Branca ainda não captou a mensagem. E mais uma vez, agora Obama, falando sobre os grupos islâmicos como se fosse o Taliban quem estivesse "massacrando inocentes" mas "não nos derrotará".

Quanto, no discurso, aos que são corruptos e cuja "silenciosa oposição", presumivelmente o governo iraniano, a maioria dos árabes leu aí referência a práticas habituais do presidente Hosni Mubarak do Egito (o qual, é claro, também recebeu telefonema de Obama, ontem), do rei Abdullah da Arábia Saudita e de outros autocratas e degoladores que se supõe que sejam amigos dos EUA no Oriente Médio.

Hanan Ashrawi[1] foi quem mais acertou. As mudanças no Oriente Médio – justiça para os palestinos; segurança para os palestinos tanto quanto para os israelenses, e fim da construção ilegal de colônias ilegais pra judeus e só judeus, em terra árabe; fim de toda a violência, não só da modalidade 'árabe' – têm de vir logo, "imediatas", como disse ela, já. Se a nomeação do gentil George Mitchell visava a responder a essas exigências, o discurso de posse (no máximo, discurso nota B-), nem isso fez.

A amigável mensagem aos muçulmanos, "um novo caminho, baseado nos interesses mútuos e em mútuo respeito", simplesmente não tomou conhecimento das fotos da chacina de Gaza que o mundo está vendo com vergonha e horror. Sim, os árabes e muitas outras nações muçulmanas e, é claro, quase todo o mundo, podem festejar que o horrendo Bush foi-se. Guantanamo, também, parece estar-se indo. Mas os torturadores que torturaram por ordem de Bush e de Rumsfeld serão punidos? Ou serão silenciosamente promovidos para cargos nos quais não se use água para torturar nem se dispam as pessoas nem se ouçam gemidos humanos?

Sim, sim, dê-se uma chance ao homem. É possível que George Mitchell reúna-se com o Hamás – ele é homem capaz de tentar esse encontro –, mas o que dirão os fracassados de sempre, como Denis Ross e Rahm Emanuel e, de fato, Robert Gates e Hillary Clinton?

O discurso de posse de Obama foi mais sermão que discurso de posse. Até os palestinenses em Damasco ouviram, gritante, a ausência de duas palavras: Palestina e Israel. Palavras escaldantes, num dia gelado em Washington. Obama ainda nem vestiu as luvas.

[1] Sobre ela, ver: Wikipédia Hanan Ashrawi

Um comentário:

Carlinhos Medeiros disse...

Eu avisei aqui, só não pensei que fosse tão rápido.http://bodegacultural.blogspot.com/2009/01/esperana-de-bano.html