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sexta-feira, 13 de março de 2009

Lobby de Israel detonou Freeman

Do Vi o Mundo

Lobby de Israel-EUA detonou Freeman, indicado por Obama (e carta de Freeman)

Robert Dreyfuss, 13/3/2009, The Nation


A renúncia de Chas Freeman, do cargo de chefe do Conselho Nacional de Inteligência [National Intelligence Council], depois de duas semanas de ataques violentíssimos contra ele, pelo coro do lobby sionista norte-americano é uma ferida aberta no governo de Obama.

Como escrevi semana passada, quando começou a campanha contra Freeman, se Barack Obama não consegue manter-se em pé à frente de gente como Marty Peretz, Jonathan Chait, Steve Rosen e outros assemelhados, e se a Casa Branca não consegue defender um nome indicado em área crucial da inteligência, quando seu indicado é selvagemente atacado pelos tubarões republicanos que farejaram sangue na água, não sei como esperar que Obama mantenha-se em pé frente a Bibi Netanyahu e Avigdor Lieberman, ainda mais radical, quando discordarem de Obama em assuntos de políticas para o Oriente Médio.

É triste e preocupante.

Espere-se muito júbilo nas páginas de The New Republic, National Review, The Weekly Standard, no canal Fox News, nos corredores do American Enterprise Institute, no AIPAC, em toda a direita e nos blogs dos neocons.

Unidos no esquartejamento de Freeman estiveram (não sejamos hipócritas) os judeus linha-dura do Congresso Democrático, entre os quais o senador Charles Schumer de New York, o deputado Steve Israel (é, o nome dele é "Israel") de New York e, é claro, aquele ex-Democrata, Joe Lieberman – todos na fila do gargarejo para aplaudir o esquartejamento, ao lado do AIPAC.

O The Post, hoje cedo, comentando a oposição ao nome de Freeman manifestada por sete membros Republicanos da Comissão do Senado para Assuntos de Inteligência, citou Freeman, em 2007: "A brutal opressão dos palestinos pela ocupação israelense parece não ter fim. (...) A identificação dos EUA com Israel tornou-se total."

Aparentemente, todos devem saber só disso – e de mais nada.

Há cerca de quatro anos, entrevistei Freeman sobre a desastrosa indicação de Porter Goss para o cargo de diretor da CIA, ali posto pelo ex-presidente Bush como leão de chácara político numa agência da qual se deve esperar que informe ao poder a verdade dos fatos. Goss, Freeman disse-me então, foi mandado a Langley para "impor um modo de ver a CIA que os analistas e agentes da CIA simplesmente rejeitam, por não ter qualquer base na realidade." E Freeman prosseguiu. "É um ditador. Acabaremos por fazer da CIA uma agência ainda mais direitista, ainda mais conservadora e ainda mais incapaz de formar especialistas capazes de ter idéias novas, com competência para discordar e propor soluções originais."

Acho que agora todos estamos vendo que tampouco há lugar, hoje, para quem tenha competência para discordar e propor ideias novas, também na comunidade de inteligência.

No fim da tarde de 3ª-feira, Freeman distribuiu à imprensa a seguinte carta:

"A todos que me apoiaram e dirigiram-me palavras de encorajamento durante a discussão das duas últimas semanas, dedico-lhes minha gratidão e o meu respeito.

Agora, já terão tomado conhecimento, pelo Diretor dos Serviços Nacionais de Inteligência dos EUA, Dennis Blair, que desisti de aceitar o cargo para o qual havia sido indicado e que já aceitara, de chefe do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA.

Cheguei à conclusão que a guerra de distorções criminosas sobre eventos do meu passado não cessaria nem depois de eu estar empossado. A decisão de me agredir e destruir minha reputação e credibilidade continuaria, talvez ainda mais feroz. Não me parece que o Conselho Nacional de Inteligência possa funcionar com eficácia, se o titular estiver ininterruptamente sob ataque de gente inescrupulosa, obcecadamente associada às ideias de uma facção política de uma nação estrangeira. Aceitei o convite para chefiar o Conselho Nacional de Inteligência dos EUA para fortalecê-lo e preservá-lo contra a politização, não para pô-lo a serviço de um grupo de interesses, determinado a controlá-lo mediante os recursos e formulações de uma campanha sórdida de difamação.

Como sabem todos os que me conhecem, tenho desfrutado muito bem a vida desde que me aposentei das funções de governo. Nada estava mais longe dos meus planos do que voltar ao serviço público.

Quando o Almirante Blair convidou-me a chefiar o Conselho Nacional de Inteligência, respondi que "entendia que eu estava sendo convidado a oferecer minha liberdade de falar, meu lazer, a maior parte dos meus ganhos, que me teria de submeter à colonoscopia mental de um detector de mentiras, que teria de aceitar voltar a sair para trabalhar horas incontáveis; e que teria de aceitar uma ração diária de desaforos políticos". Acrescentei que, isso dito, provavelmente ainda simplificara muito as dificuldades da missão para a qual estava sendo convidado.

Sei que ninguém é indispensável e não sou exceção. Precisei de semanas de reflexão para concluir que, dadas as circunstâncias sem precedentes, espantosamente difíceis, que nosso país enfrenta em casa e em terras distantes, não me restava alternativa senão aceitar a convocação de voltar ao serviço público. Agora, me retiro novamente de todas as posições e atividades nas quais então me engajei. Considero agora a possibilidade auspiciosa de voltar a vida privada, livre das obrigações que assumira.

Não sou tão pouco modesto a ponto de crer que essa polêmica tenha a ver comigo, mais do que com questões de política pública. Essas questões têm pouco a ver com o Conselho Nacional de Segurança e nada têm a ver com o que supus que pudesse oferecer, como contribuição, à qualidade das análises a serem apresentadas ao presidente Obama e ao seu governo.

Mesmo assim, entristece-me que a polêmica e o modo como o vitríolo usado pelos que se dedicam a manter a polêmica mostrem tão claramente o triste estado em que sobrevive hoje a sociedade civil norte-americana.

É evidente que nós, americanos, já não somos capazes de manter uma discussão pública a sério, nem podemos exercitar qualquer juízo independente sobre temas importantes para nosso país e para nossos aliados e amigos.

As calúnias que se publicaram contra mim e a trilha de e-mails facilmente rastreável mostram conclusivamente que há um poderoso lobby em atividade, determinado a evitar que se ventile qualquer opinião diferente da sua – sobretudo se tiver algo a ver com tendências e eventos no Oriente Médio.

As táticas do lobby de Israel atingem o fundo da falta de decência e de honra, e incluem a tentativa de assassinar minha reputação, citações de frases distorcidas, deliberada fraude em informações sobre meu currículo, mentiras, informações inventadas, em todos os casos sem qualquer respeito à verdade.

O lobby de Israel visa a controlar todo o processo político, mediante o controle do exercício de veto à indicação de servidores do governo dos EUA cujas opiniões não coincidam com os interesses do lobby; a substituir a correção política por opiniões parciais; e a cancelar toda e qualquer possibilidade de os norte-americanos e o governo dos EUA decidirem o que não interesse ao lobby.

Há especial ironia em eu ter sido acusado de manifestar viés de opinião, em relação a opiniões de governos e sociedades estrangeiras, por um grupo tão claramente decidido a impor aos EUA que aceite as políticas de um governo estrangeiro – nesse caso, do governo de Israel.

Creio que a incapacidade do público norte-americano para discutir – e do governo, para considerar – qualquer política alternativa para o Oriente Médio, e que se oponha ao grupo reinante hoje na política de Israel, deixa livre o terreno para que aquele mesmo grupo adote e defenda políticas que, de fato, ameaçam até a existência do Estado de Israel.

É proibido, nos EUA, para seja quem for, declarar isso. E não poder declará-lo não é tragédia apenas para os israelenses e seus vizinhos no Oriente Médio. Esse impedimento causa dano crescente à segurança nacional dos EUA.

A agitação inadmissível que se seguiu ao vazamento da notícia de que eu fora convidado levará a pensar que o governo Obama não consegue tomar decisões autônomas sobre o Oriente Médio e questões correlatas. Lamento que minha disposição de servir ao governo Obama tenha terminado por lançar dúvidas sobre a habilidade do próprio governo dos EUA considerar – e nem falo da capacidade para decidir – as políticas que mais bem atendam aos interesses dos EUA, do que atendam aos interesses de um lobby dedicado a impor aos EUA o desejo e os interesses de um governo estrangeiro.

No julgamento da opinião pública, diferente das cortes legais, o acusado é culpado até que prove a própria inocência. Os meus discursos dos quais se extraíram, distorcidos, os trechos que o lobby israelense fez publicar estão disponíveis para leitura dos que se interessem por conhecer a verdade. A injustiça das acusações feitas contra mim foi óbvia para os que tenham mente aberta. Os que trabalharam para me desmoralizar não estão interessados em qualquer tipo de discussão ou contra-argumentação que eu ou qualquer outro possamos oferecer.

Insisto, para os registros: Jamais procurei ou aceitei pagamento de qualquer governo estrangeiro, incluídos Arábia Saudita ou China, por qualquer tipo de serviço, nem jamais falei em defesa dos interesses de algum governo estrangeiro, em seu nome ou em nome de suas políticas. Jamais servi como lobbyista de qualquer grupo do governo dos EUA, nem em causas externas nem em causas domésticas. Sou homem que se defende só e, voltando agora à vida privada – com muito prazer – volto a ser completamente senhor de mim mesmo. Continuarei a falar como me pareça de deva falar, sobre questões que tenham a ver comigo e com os demais cidadãos dos EUA.

Mantenho integrais respeito e confiança no presidente Obama e no Diretor Blair. Nosso país enfrenta desafios terríveis em casa e em terras distantes. Como todos os norte-americanos patriotas, continuarei a pedir a Deus que nosso presidente consiga nos levar a superar todos esses desafios."

Tradução de Caia Fittipaldi

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