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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Glauber: "Maranhão 66"serve como o melhor resumo do poder do discurso.

O velho e o novo

Por João Villaverde

Em 1965, José Sarney vencia sua primeira eleição majoritária, alcançando o governo do estado do Maranhão. Naqueles tempos, de revoluções, guerra fria e golpes militares, Sarney representava o "Novo", que volta e meia aparece no cenário político, visando empunhar uma bandeira de confronto contra o "tradicional e arcaico", ocupando um espaço muito bem avaliado pelas sociedades em geral.

Sarney queria ser visto, queria ser conhecido, queria ser pop. Por meio de amigos de amigos contactou Luiz Carlos Barreto, que despontava como um dos maiores produtores de cinema do Brasil que se descobria para as artes. As décadas passadas, 30, 40, 50 e a então década de 60 haviam descoberto gerações e gerações de artistas brasileiros. Pintores, desenhistas, músicos, compositores, dançarinos, cineastas, atores, produtores, jornalistas, polemistas. Luiz Carlos Barreto, o Barretão, ficou encarregado de convocar um amigo para filmar a posse de Sarney.

Chamou Glauber Rocha.

Glauber, em 1966, já era o mais inventivo cineasta do mundo. Já havia dirigido dois filmes, "Barravento" (62) e "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (64). Este último, seguramente, um dos maiores filmes de toda a história do rico cinema brasileiro. Em 1966, Glauber começaria a viver seus primeiros problemas com a ditadura, instaurada no Brasil desde 01 de abril de 1964, 13 dias depois da estréia de Deus e o Diabo nos cinemas. O cineasta baiano era marxista, revolucionário, ligado aos cubanos e aos ideias de guerrilha. O cinema era sua arma. E a ditadura, que começava a endurecer, logo perceberia o problema.

Glauber tinha um projeto em 1966: filmar "Terra em Transe" (67). Mas para isso precisava de dinheiro. Acabou aceitando o pedido de seu amigo Barretão. Pegou sua equipe de cinema novo, no máximo dez pessoas e uma câmera, e foi ao Maranhão. A ideia era filmar outro projeto: o de José Sarney, que tomaria posse no início de 66.

O filme acabou virando curta-metragem. Mas teve pouco espaço. Sarney não gostou da ideia de Glauber de contrapor as imagens de Sarney durante seu discurso com imagens capturadas nas casas da população do estado. Ficava feio, diziam. O argumento de Glauber é que o documentário mostrava justamente a situação que Sarney se propunha a mudar. A situação que ele jurou mudar. Afinal, tinha sido eleito para isso.

O documentário, "Maranhão 66", foi censurado e só foi ser difundido recentemente. Ainda hoje, serve como o melhor resumo do poder do discurso.

Na segunda-feira, José Sarney foi eleito pela terceira vez o presidente do Senado federal, 54 anos depois de vencer as eleições para o governo do Maranhão.


2 comentários:

Anônimo disse...

E, Maria, o que mudou no Maranhao desde entao?

Ler o Mundo História disse...

Pois é... aliás não perca o texto interessante da Dr. Fátima Oliveira, aqui: http://mariafro.wordpress.com/2009/04/21/43-anos-depois-fatima-oliveira-discute-omaranhao-66/