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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Obama: "Eles vão dizer que eu não sou parecido com os presidentes nas notas de dólar"



Poderes da fé bandida: racismo no caminho da Casa Branca
Fátima Oliveira

"Eles vão dizer que eu não sou parecido com os presidentes nas notas de dólar"

Em minha família de origem, "quebradeira" era o mesmo que falta de dinheiro. Ao ouvir dizer que Wall Street quebrou, entendi. É falta de senso dizer que a "quebradeira" não chegará aqui. Basta lembrar que o capital volátil é bandoleiro e apátrida, como sentenciou Luís Nassif: "A lógica dos captais voláteis é correr riscos: tentar ganhar na alta e na baixa dos ativos". Mencionei a débâcle de Wall Street porque a intersecção dela com o racismo é a pedra de toque do cenário das eleições presidenciais dos Estados Unidos.


De janeiro para cá, escrevi sete artigos que falam em Obama. Por um motivo elementar: "Ainda que a distância ideológica entre um republicano e um democrata seja zero, com democrata na Casa Branca o mundo é sempre outro". Vaticinei: "muita água pesada vai rolar até novembro", pois "Obama é negro senhor de si (um abuso afro!), com senso de humor, performance de rock star e história de vida fiel aos valores liberais. É o único que arranha o establishment democrata e republicano e abala o status quo racista dos EUA profundo. Dele se espera, a qualquer momento, que diga: "I have a dream" (eu tenho um sonho), como Martin Luther King. Pode virar realidade" ("Obrigada Iowa", 8.1).


Registrei em "Tua raça NÃO morreu, Jim..." (29.1): "Escrevo sob emoção da avalanche do entusiasmo pela vitória de Obama nas primárias da Carolina do Sul que, dentre outros, sepulta o mito de que 'negro não vota em negro'". Em "Obamania & auto-estima de rock star" (19.2), digo que uma amiga se auto-interditou de falar comigo em Obama até novembro, argumentando que "É muito azar se ele ganhar! Logo agora que os EUA estão nas soleiras da recessão". Diziam que Obama não tocaria na questão racial. Eu respondia: pra frente é que se anda. O estilo Obama é "bateu, levou". Não demorou. Pude escrever: "Minha auto-estima se avoluma e cresce. Obama se firma como símbolo negro singular da determinação de luta pelo poder".


Em "Viajar pelo Brasil é como mover-se entre dois planetas" (10.6), constatei: "É simbólico o contexto no qual Obama sagrou-se candidato à Presidência dos EUA. Ao mesmo tempo em que um signo de racismo persistente foi publicado pelo jornal alemão 'Die Tageszeitung': uma foto da Casa Branca sob o título 'A cabana do pai Barack', em alusão ao romance 'A Cabana do Pai Tomás', de Harriet E. B. Stowe, sobre a escravidão no sul dos EUA. Pai Tomás é um estereótipo de escravo submisso. O jornal fez um insulto racista a Obama. A pergunta é: a fé bandida do racismo será extinta?"


Em "Mais um dedo de prosa sobre Obama. Eis a obamania" (17.6), escrevi: "Interessa-me especular a razão pela qual a candidatura Obama reverbera na luta anti-racista contemporânea e na auto-estima de negros em todo o mundo". Em "Eleições 2008: atitude na TV e no ciberespaço podem impulsionar candidaturas" (19.8), discorri sobre a competente e inovadora performance de Obama na Internet.


Hoje registro a bela e difícil jornada do primeiro negro numa final de disputa presidencial nos EUA. Chegue ou não à Casa Branca, ele nos legou a mais completa devassa contemporânea da amplitude e da profundidade da ranhetice criminosa do racismo explícito e implícito, pois estima-se que estão embutidos entre prós-Obama, nas pesquisas, entre 2% a 7% de racistas enrustidos que não sufragarão o nome dele no recesso da cabine eleitoral. Por que? Como disse Obama: "Eles vão dizer que eu não sou parecido com os presidentes nas notas de dólar".



Publicado em: 28/10/2008 no Jornal O Tempo

2 comentários:

Anônimo disse...

A frase de Obama é exemplar. Um ótimo artigo

Abs,
Josilda

Anônimo disse...

Blz este artigo por aqui. É primoroso.


MARIANA RODRIGUES
Além de helicópteros
Há algo mais cortando os ares:
Faceira libélula

Edson Kenji Iura