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terça-feira, 9 de junho de 2009

Obama sobre Israel-Palestina

Sexta, 5 de junho de 2009, 15h18 Atualizada às 15h26

Noam Chomsky*
Dos Estados Undios

Uma manchete da CNN sobre os planos de Obama para seu discurso no Cairo diz: "Obama quer tocar a alma do mundo muçulmano". Talvez a frase capture sua intenção, mas mais significativo é o conteúdo que a postura retórica oculta - ou, mais precisamente, omite.

No caso Israel-Palestina - o discurso não ofereceu nada relevante sobre outros tópicos - Obama incentivou árabes e israelenses a não "apontar dedos" um para o outro e a não "ver este conflito apenas de um lado ou do outro".

O terceiro lado, no entanto, são os Estados Unidos, que têm tido um papel decisivo na manutenção do conflito. Obama não indicou que o papel dos EUA deva mudar ou mesmo ser reavaliado.

Mais uma vez, Obama elogiou a Iniciativa Árabe de Paz, dizendo que os árabes deveriam considerá-la "um começo importante, mas não um fim para suas responsabilidades". Como a administração de Obama deve ver isso?

Obama e seus conselheiros estão cientes de que a Iniciativa reitera o consenso internacional, de longa data, que demanda o acordo com a criação de dois países na fronteira internacional (antes de junho de 1967), talvez com "pequenas e mútuas modificações", para tomar emprestada a linguagem usada pelo governo dos Estados Unidos. A Iniciativa Árabe de Paz convoca os países árabes a normalizarem as relações com Israel no contexto do consenso internacional.

Obama pediu que os países árabes prossigam com a normalização, ignorando cuidadosamente o crucial acordo político, que é sua pré-condição. A Iniciativa não pode ser um "começo" se os EUA continuarem recusando-se a aceitar seus princípios fundamentais, ou mesmo a reconhecê-los.

O que Israel fará em retribuição ao esforço dos países árabes para normalizar as relações? Até agora, a posição mais enérgica enunciada pela administração Obama é a de que Israel deve cumprir a Fase I do Road Map 2003: "Israel deve paralisar todas as atividades de assentamento (inclusive o crescimento natural de assentamentos)".

Foi desprezado no debate sobre os assentamentos o fato de que mesmo se Israel aceitasse a Fase I, isso deixaria no lugar todo o projeto de assentamento que já foi desenvolvido, com apoio-chave dos EUA. Os assentamentos garantem que Israel tomará a terra de valor dentro do "muro de separação" ilegal (incluindo as fontes primárias de água da região), assim como o Vale do Jordão, aprisionando, assim, os palestinos dentro de um território limitado que, além disso, está sendo dividido em cantões pela invasão de assentamentos/infraestrutura que se estendem muito a leste.

Também não foi mencionado que Israel está tomando a Grande Jerusalém, o local de seus principais programas de desenvolvimento atuais, deslocando muitos árabes, de forma que aquilo que restar aos palestinos será separado do centro de sua vida cultural, econômica e sociopolítica.

E esta atividade de assentamento viola a legislação internacional.

Vale lembrar que houve uma quebra no apoio EUA-Israelense que bloqueou o consenso internacional. O Presidente Clinton reconheceu que os termos que havia oferecido nas reuniões fracassadas em Camp David, em 2000, não eram aceitáveis para nenhum palestino e, em dezembro, ele propôs seus "parâmetros," que avançaram em direção a um possível acordo. Ele então anunciou que ambos os lados tinham aceitado os parâmetros, embora com suas reservas.

Os negociadores israelenses e palestinos se reuniram em Taba, no Egito, para resolver as diferenças, e fizeram um progresso considerável. Em sua última coletiva à imprensa, eles anunciaram que uma resolução total poderia ser alcançada em poucos dias. Contudo, Israel cancelou prematuramente as negociações, que não foram formalmente retomadas.

Esta única exceção indica que se um presidente americano tiver a intenção de tolerar um acordo diplomático significativo, é provável que este seja alcançado.

A administração Bush I foi um pouco além das palavras na objeção a projetos israelenses de assentamentos ilegais, a saber, ao negar-lhes apoio econômico dos EUA. Em contraste, as autoridades da administração Obama afirmaram que tais medidas "não estão sob discussão" e que quaisquer pressões sobre Israel para que cumpra os termos do Road Map serão, "em grande parte, simbólicas", como noticiou o New York Times.

Nos bastidores da viagem ao Oriente Médio está a meta da administração Obama, claramente enunciada pelo Senador John Kerry, Presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, de forjar uma aliança entre Israel e os países árabes "moderados" contra o Irã. Tal aliança serviria como uma salvaguarda para a dominação dos EUA sobre as regiões vitais de produção de energia.

(O termo "moderado", aliás, nada tem a ver com o caráter do país, mas mostra sua intenção de cumprir as demandas dos EUA).

Os serviços sem paralelo que Israel oferece às agências de inteligência e militares dos EUA, assim como à indústria de alta tecnologia, permitem certa liberdade para desafiar as ordens vindas de Washington - embora com o risco de ofender seu patrocinador. O extremismo do atual governo israelense tem sido controlado por elementos mais sérios.

Caso Israel vá muito longe, na verdade isso poderia irromper uma confrontação da política entre EUA e Israel do tipo que muitos comentadores percebem hoje - até agora, com pouca base factual, no discurso do Cairo ou em outro lugar. A previsão para a política dos EUA na área Israel-Palestina provavelmente apresentará mais do mesmo.


Noam Chomsky é professor emérito de lingüística e filosofia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts. Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate. O texto traduzido foi publicado no portal Terra

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